Joao Marcos <
boto...@gmail.com> escreveu:
> Eu próprio _não_ sou capaz de "rankear" em ordem linear 36 periódicos
> (ou mesmo 15, digamos). O que fiz, no meu voto, foi dividi-los em
> apenas cinco categorias com periódicos "em situação de empate", e
> criei uma categoria adicional para os periódicos que a meu ver não se
> encaixam na descrição de "Lógica como foco principal". [...]
>
> Minha sugestão para uma votação futura do mesmo gênero é _criar menos
> caixas para organizar os objetos_.
Se compreendi bem a sua sugestão, não consigo ver como adotá-la sem
sabotar o método condorcet e cair numa votação majoritária simples com
seus conhecidos problemas[1].
Suponha, por exemplo, que a votação consista *apenas* em classificar
cada periódico em extratos A B e C (estilo Qualis) e que a apuração dos
votos seja por maioria simples. Então, seria possível que um periódico
X que recebesse 40% C, 25% B e 35% A terminasse no extrato C, por
maioria simples, embora 60% dos votantes acreditem que X merece, pelo
menos, o extrato B.
Por outro lado, qualquer método essencialmente mais sofisticado do que
maioria simples envolverá inevitavelmente a ordenação preferencial dos
periódicos. Obviamente, a ordenação não precisa ser linear. O método
que você usou está perfeitamente em ordem :-). Porém, não faz sentido
limitar de antemão a granularidade do ordenamento a um conjunto
pré-determinado de categorias, pois podem haver votantes que queiram
fazer distinções mais finas. Quem quiser seguir um modelo tipo Qualis
pode fazer uma simples correspondência 1/A1, 2/A2, 3/B1 etc. e atribuir
o número correspondente de acordo com a classificação que daria ao
periódico, ignorando os demais números. Porém, se um votante crê que um
determinado periódico X é consideravelmente melhor do os outros B1 mas
não o suficiente para ser A2, então basta adequar a correspondência
numérica.
Para ser sincero, eu preferia ter usado um método mais consensual de
apuração, como o método de Borda, em vez de condorcet, mas não consegui
encontrar nenhum serviço razoável de votação eletrônica que oferecesse
esse método de apuração: o "fetiche da maioria" ainda domina o
(in)consciente das pessoas. Fazer o quê...
> Tudo bem, mas isto que você diz sobre "foco mais amplo, ou variado"
> não vale de modo algum para as tradicionalíssimas *Bulletin of the
> Section of Logic* ou *Reports on Mathematical Logic*, por exemplo.
> São periódicos "de Lógica", e ponto final.
Você tem razão. Eu havia me esquecido desses.
> Bem, os periódicos *Matemática Universitária* (confira, em anos
> recentes, os artigos de Samuel e de Rodrigão) e *Boletim da Sociedade
> Paranaense de Matemática* (que publica hoje em dia majoritariamente em
> inglês, e autores estrangeiros) não têm menos chance de publicar
> artigos de Lógica do que, digamos o periódico *O Que Nos Faz Pensar*.
Novamente, você tem razão.
Bem, não há como mudar a lista de periódicos a essa altura do
campeonato, mas ainda assim ficaria muito satisfeito se os colegas
tomassem um tempinho para participar da votação.
Notas:
[1] Aos que, porventura, se interessem por sistemas eleitorais, seguem
breves sugestões bibliográficas:
- Elizabeth Anscombe. On the Frustation of the Majority by Fulfilment of
the Majority's Will. Analysis 36(4): 161-168, 1976 (aperitivo para
despertar o interesse de "filósofos analíticos")
- Michael Dummett. Principles of Electoral Reform. (obra de
conscientização, endereçada ao eleitorado, particularmente britânico;
bom livro introdutório)
- Michael Dummett. Voting Procedures. (avançado, exige certa maturidade
matemática)
- Peter Emerson. Defining Democracy. 2ed. (indispensável para aqueles
que já perderam o encanto pelo "fetiche da maioria")
- Hannu Nurmi. Comparing Voting Systems. (pequena jóia; rigoroso, claro,
abrangente, conciso)
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Hermógenes Oliveira