Fwd: Concurso Público (FIL-UnB) - Área: Lógica

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Joao Marcos

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Dec 12, 2022, 9:40:08 AM12/12/22
to Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA
Departamento de Filosofia
Classe: A - Denominação: Adjunto "A" - Nível: 1.
Área de Conhecimento: Lógica

Requisito Básico: Graduação em Filosofia e Doutorado em Filosofia.

QUADRO DOS OBJETOS DE AVALIAÇÃO Itens dos Objetos de Avaliação 01 Métodos de prova e completude 02 Ordinais e cardinais 03 Incompletude e indecidibilidade 04 Definibilidade e interpolação 05 Axiomas de ZFC e hierarquia de von Neumann 06 Teoremas da compacidade e de Löwenheim-Skolem 07 Lógica abstrata: relações de consequência 08 Quantificação e formas prenexas 09 Categorias e construções universais 10 Lógica de segunda ordem e poder expressivo


Mais informações:
http://concursos.unb.br/index.php/efetivo-2022/1888-edital-de-abertura-n-345-2022


Edital de Abertura n. 345/2022

João Ferrari

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Dec 13, 2022, 5:57:15 PM12/13/22
to Joao Marcos, Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA
Olá a todos e todas,

gostaria de saber a opinião de vocês sobre o requisito GRADUAÇÃO em Filosofia para concursos na área.
Graduei em outra área, mas fiz formação complementar em Filosofia, mestrado em Filosofia, e agora faço doutorado em Filosofia. Será que a carga horária cumprida e o conteúdo com que tive contato (e que terei tido, com um eventual posdoc) já não seria suficiente para um concurso? Em concursos para outras áreas não vejo tanto esse requisito de graduação na área. O que vocês acham: é algo que deve continuar, ou eventualmente mudar?

At. te,
João Ferrari.

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LOGICA-L
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Joao Marcos

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Dec 13, 2022, 6:23:24 PM12/13/22
to João Ferrari, Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA
Uma opinião?  Aqui vai: sem a MENOR sombra de dúvida, trata-se é um requisito estúpido e anacrônico, em QUALQUER área do conhecimento.

Joao Marcos

Ricardo Grande

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Dec 13, 2022, 6:27:40 PM12/13/22
to LOGICA-L
Assino embaixo, João. 
E se olharmos para os tópicos do concurso, aí é melhor nem comentar mais, injustificável o requisito. 
Abraços.

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LOGICA-L
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"(...) há animais humanos mentalmente retardados cujos cérebros envergonhariam um chimpanzé".  N. Wiener, 22º Parágrafo do 4º Cap. de Cibernética e Sociedade

  1. Não tenhas certeza absoluta de nada.
  2. Não consideres que valha a pena proceder escondendo evidências, pois as evidências inevitavelmente virão à luz.
  3. Nunca tentes desencorajar o pensamento, pois com certeza tu terás sucesso.
  4. Quando encontrares oposição, mesmo que seja de teu cônjuge ou de tuas crianças, esforça-te para superá-la pelo argumento, e não pela autoridade, pois uma vitória que depende da autoridade é irreal e ilusória.
  5. Não tenhas respeito pela autoridade dos outros, pois há sempre autoridades contrárias a serem achadas.
  6. Não uses o poder para suprimir opiniões que consideres perniciosas, pois as opiniões irão suprimir-te.
  7. Não tenhas medo de possuir opiniões excêntricas, pois todas as opiniões hoje aceitas foram um dia consideradas excêntricas.
  8. Encontra mais prazer em desacordo inteligente do que em concordância passiva, pois, se valorizas a inteligência como deverias, o primeiro será um acordo mais profundo que a segunda.
  9. Seja escrupulosamente verdadeiro, mesmo que a verdade seja inconveniente, pois será mais inconveniente se tentares escondê-la.
  10. Não tenhas inveja daqueles que vivem num paraíso dos tolos, pois apenas um tolo o consideraria um paraíso.    B.  Russell



Walter Carnielli

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Dec 13, 2022, 7:46:02 PM12/13/22
to João Ferrari, Joao Marcos, Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA
Olá João Ferrari,

 é claro que deve mudar !

Isso é uma evidente reserva de mercado-- se fosse o caso de se exigir diploma de graduação em filosofia para fazer  filosofia, ou bacharelado  em matemática para se fazer matemática, etc , Fermat (que era advogado) não teria tido chance, nem Aristóteles que não tinha diploma.
Nem Galileu , que não tinha diploma nem em  astronomia nem em física...

Abraços, 

Walter

João Ferrari

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Dec 14, 2022, 6:44:50 AM12/14/22
to Walter Carnielli, Joao Marcos, Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA
Pois é, tenho a mesmíssima impressão. Sinto que é um tipo de medida muito endógena que visa proteger a classe mas que, por outro lado, coloca obstáculos para uma filosofia mais contemporânea, mais permeável à interdisciplinaridade.
Que consigamos mudar isso um dia!

Abraços,
João F.

Daniel Durante

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Dec 14, 2022, 7:45:59 AM12/14/22
to João Ferrari, Lista Lógica
Oi João,

É mesmo injustificável tal exigência. Sempre brigo, quando temos concursos, para termos o mínimo de exigência de formação possível. Temos conseguido evitar exigir graduação em filosofia aqui no nosso departamento, mas há sempre muitos votos contrários. Deve ter sido o caso nesse concurso. Imagino que os professores da área devem ter sido votos vencidos.

A única justificativa que ouço é: “temos que valorizar os nossos cursos de graduação, a formação filosófica que damos aos nossos alunos”.

Bem, esta é uma justificativa muito ruim. Na verdade, não há como justificar este exigência, porque ela é imoral. Ela viola princípios deontológicos, como o imperativo categórico, viola o utilitarismo ou qualquer abordagem consequencialista minimamente racional. Enfim, é uma posição imoral, a qual constantemente vejo professores de ética defender.

A ÚNICA maneira que nós professores temos para valorizar nosso curso de graduação é DARMOS VALOR A ELE, nos importarmos com ele, prepararmos nossas aulas, respeitarmos nossos alunos e alunas, tratar nossas aulas de graduação como tratamos nossas conferências internacionais e nossas disciplinas como tratamos nossas pesquisas.

Talvez, e aqui eu só especulo, uma outra justificativa, que nunca ouvi, mas que imagino pode estar na cabeça de algumas pessoas que defendem tal exigência, é a de usá-la para fazer (com as próprias mãos) uma espécie de política de ação afirmativa que tentaria remediar diferenças estruturais mais profundas.

Mas, em primeiro lugar, não é claro que graduados em filosofia sejam mais vulneráveis em qualquer sentido do que graduados em outras áreas. E em segundo lugar, os concursos, pelo menos na UFRN, já são obrigados a adequar-se a normas federais de ação afirmativa que, teoricamente, deveriam estar inseridas em uma política mais ampla. Sem falar que impedir um suposto candidato ou candidata mais bem preparado de tornar-se professor do seu departamento é jogar contra as próprias políticas de ação afirmativa. Nós temos muitos estudantes nessa situação que certamente serão melhor atendidos quanto melhor forem seus professores.

Saudações,
Daniel.
-----
Departamento de Filosofia - (UFRN)
http://danieldurante.weebly.com

Joao Marcos

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Dec 14, 2022, 8:05:54 AM12/14/22
to Daniel Durante, João Ferrari, Lista Lógica
On Wed, Dec 14, 2022 at 9:45 AM Daniel Durante wrote:
>
> É mesmo injustificável tal exigência. Sempre brigo, quando temos concursos, para termos o mínimo de exigência de formação possível. Temos conseguido evitar exigir graduação em filosofia aqui no nosso departamento, mas há sempre muitos votos contrários.

Pois é... Esta "reserva de mercado" parece ser mais comum na
Filosofia nacional (basta recordar que, historicamente, até os
*periódicos* nacionais de Filosofia foram tradicionalmente avaliados
em separado dos periódicos internacionais), mas é um problema em
várias outras áreas também --- um problema maior tendo em vista o
desejado estímulo à transdisciplinaridade acadêmica da qual tanto se
fala.

Felizmente, na UFRN, a "reserva" nunca foi preponderante (em caso
contrário, o próprio Daniel não teria entrado no DEFIL, e estaríamos
muito pior do que estamos). Fun facts: No DIMAp / UFRN, _nenhum_ dos
pesquisadores da área de Lógica & Fundamentos da Computação tem
_graduação_ em Ciências da Computação. E eu fui contratado para este
departamento, há 17 anos, com meu título de doutorado em Filosofia.

[]s, Joao Marcos

--
http://sequiturquodlibet.googlepages.com/

João Daniel Dantas

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Dec 14, 2022, 8:21:56 AM12/14/22
to Joao Marcos, Daniel Durante, João Ferrari, Lista Lógica
Me parece que a questão é a completa ausência de temas relacionados a filosofia da lógica em um concurso para um departamento de filosofia. O candidato que domina os 10 temas do concurso não necessariamente sabe sobre como fazer filosofia. Independente da graduação. 

Só para deixar claro, para ser um filósofo obviamente não é necessário que a pessoa possua graduação em filosofia, já existe exemplos na história da filosofia o suficiente disso, mas é preciso saber dominar temas de filosofia, ou ao menos saber como se faz filosofia. Não está claro, ao menos pra mim, que os objetos de avaliação irão cobrar esses temas e suas relações com as suas questões filosóficas, mas parece que há uma falta de balanço entre temas formais e questões filosóficas que lidam com esses temas formais.

Abraços,

João Daniel

--
LOGICA-L
Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de Lógica <logi...@dimap.ufrn.br>
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Joao Marcos

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Dec 14, 2022, 9:17:16 AM12/14/22
to João Daniel Dantas, Daniel Durante, João Ferrari, Lista Lógica
> Me parece que a questão é a completa ausência de temas relacionados a filosofia da lógica em um concurso para um departamento de filosofia.

Não sei se dá para dizer que esta é "a questão", nesta thread, mas
certamente é uma _outra questão_ importante, além daquela que foi
levantada por João Ferrari.

Vários anos atrás rolaram algumas conversas aqui interessantes sobre
que temas deveriam fazer parte de um concurso como este. Uma thread
nesta direção, do longínquo ano de 2008, foi esta, na qual
participaram em particular os saudosos amigos Andrea Loparic e Carlos
Gonzalez:
https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/g/logica-l/c/aBuc6Lyg4R0/m/y3OqInfGt6IJ

Teria sido interessante acompanhar a evolução do tema ao longo dos
anos, com a coleta evidencial de programas de concursos que já
ocorreram, no país, para a área de Lógica na Filosofia. (Fiz isso
durante vários anos, e divulguei sempre nesta lista. Depois me
cansei, tendo notado haver pouco interesse na área de Filosofia para
dar continuidade a este diálogo.)

> O candidato que domina os 10 temas do concurso não necessariamente sabe sobre como fazer filosofia. Independente da graduação.

E será que a _graduação_ específica em Filosofia, neste caso,
garantiria que o candidato aprovado "sabe sobre como fazer filosofia"?
(Esta questão particular está claramente relacionada à questão
original desta thread.)

[]s, JM

Cassiano Terra Rodrigues

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Dec 14, 2022, 12:05:49 PM12/14/22
to LOGICA-L, Joao Marcos, dura...@gmail.com, joaov...@gmail.com, Lista Lógica, João Daniel Dantas
Camaradas, bons dias. 
Como se trata de dar opinião,  vou dar a minha, já q sou graduado e pós graduado em filosofia, pela UNICAMP, e tive uma formação pífia em lógica, pois na minha graduação havia 1 único semestre reservado para a disciplina e muito desprezado tanto pelo corpo docente quanto pelo discente. Estou falando da década de 1990, qdo a graduação em filosofia na UNICAMP era recém nascida. Hoje, creio eu, a situação é outra, tanto por parte da carga horária quanto por parte do interesse, e até onde sei muita coisa mudou, não apenas na UNICAMP. da qual podem falar com propriedade quem está lá. 
No entanto, para fazer o advogado do diabo e tentar apresentar um contexto mais amplo, não posso deixar de lembrar q "reservas de mercado" não surgem do nada e não sobrevivem pairando no céu. Relativamente ao concurso da UnB, o edital diz "graduação em filosofia", o que me parece incluir licenciatura e bacharelado, não? Posso estar enganado, não li o edital todo, mas se for realmente isso, a pessoa pode ter bacharelado em matemática, engenharia ou direito e licenciatura em filosofia (ou vice-versa) e estaria apta a prestar o concurso. Se for isso mesmo, não vejo tanto problema na exigência; é restritivo, mas nem tanto. Digo isso pq acho q cabe aqui lembrar q a carreira docente nas universidades brasileiras inclui a docência, apesar de muita gente não gostar disso. E a realidade no Brasil é q há mais cursos de filosofia com professores q são formados em teologia ou direito do q em filosofia (a CAPES, até bem pouco tempo,  reunia as áreas de Teologia e Filosofia, e a separação não mudou a realidade). Isso incapacita os professores a priori? Não creio q seja o caso. Mas é um fato a se pensar q nem Aristóteles, nem Galileo enfrentaram o contexto da profissionalização q hoje é imprescindível. Diploma não é garantia de conhecimento, mas se prescindirmos dos diplomas, então q seja abolida também a estrutura disciplinar, departamental e burocrática q sustenta a universidade como instituição de produção capitalista de conhecimento (lembremos q a "modernização" departamental foi uma imposição do regime militar, severamente criticada à época; hj, é praticamente um dado da natureza, tamanha a falta de questionamento). Não me parece q temos o q por no lugar em nenhum país do mundo e isso nada tem q ver com recusar a interdisciplinaridade; inclusive, eu diria q no atual estágio de capitalização das universidades no mundo, a interdisciplinaridade é um fator desejado para a reprodução do capital. Eu mesmo faço um elogio da interdisciplinaridade e sou a favor de concursos abertos à diferentes áreas, mas é preciso defender a especificidade da formação ao mesmo tempo, não apenas para a pesquisa, mas sobretudo para a docência, pois a interdisciplinaridade no conhecimento vem do aprofundamento específico - é por aprofundar o conhecimento na sua área q alguém busca o de outras, deixem-me dizer assim - é o próprio desenvolvimento das questões q leva à necessidade de recorrer a outros saberes, pois conhecer, pesquisar, filosofar ou fazer ciência são atividades essencialmente comunicativas. No contexto de fragmentação das áreas de conhecimento, a filosofia, coitada, parece q perdeu tanto terreno q até hoje sofre a perda da identidade, mas tb sofre de falta de respeito por parte de outras áreas, q são esquizofrênicas qdo se trata de lidar com a filosofia. Se é possível filosofar em alemão, tupi ou mesmo português, e poetas e até donos de padaria filosofam, ao mesmo tempo filosofia não é qualquer coisa q basta querer fazer para conseguir. A esquizofrenia está aí: ninguém sabe o q é filosofia, mas todo mundo quer filosofar e acha q consegue. Longe de mim dizer quem pode ou não fazer qq coisa, mas entre a intenção e o gesto vai uma distância e não me parece q seja possível muito menos desejável escamotear q para não ficarmos presos ao senso comum é fundamental a sistematização formal do conhecimento (e isso é um direito q as escolas públicas devem garantir aos estudantes, aliás). Ao mesmo tempo, na minha avaliação, o insulamento da área de filosofia no Brasil levou a tal ignorância e descolamento da realidade q resultaram em elitismos vergonhosos; mas mesmo internamente à filosofia o insulamento é terrível, muitos sequer reconhecem a importância de estudar com um mínimo de seriedade algo q não está na sua prateleira elegida (não é de escolhas pessoais q falo, afinal, cada um escolhe a sua área de dedicação por razões psicológicas, qdo a situação o permite). Felizmente, penso, isso está mudando, ainda que talvez de modo muito indutivo. O diploma garante alguma coisa, nesse sentido? Acho q não, ou muito pouco. Mas o diploma, não como documento, mas como resultado de um percurso, é prescindível? Não creio q o seja e acho q poderia ser melhor. 
Perdoem-me o relato pessoal, mas não é por desabafo, é para levar ao ponto q o faço. Na minha graduação, tive péssimos professores formados em qualquer área, simplesmente pq, apesar de contratados e pagos como professores, detestavam lecionar.  Eu tb não gostava tanto assim de ir às aulas, então, não faço condenações pessoais. E gostar de lecionar, é claro, tampouco garante a qualidade da aula. O ponto é o sentido da formação e o compromisso com a formação, q a meu ver deve necessariamente ir além do carreirismo pessoal. Muitos professores ainda hoje não lecionam um único curso sequer em vários anos ou, se conseguem, lecionam apenas na pós-graduação cursos q interessam aos seus orientandos (a UNICAMP era uma bolha elitista, naquela época; basta citar q havia pouquíssimos cursos noturnos e muitos em período integral). Já ouvi de mais de um colega q dar aulas é como um pedágio para fazer pesquisa. Então, pra q serve a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão? Nem vou falar da função social da extensão, ultimamente muito debatida. Mas a continuar essa mentalidade, tanto faz o diploma, pois é muito fácil lecionar a bel-prazer. Falta de compromisso pedagógico e liberdade docente são coisas bem diferentes, e, falando especificamente agora, planejar e executar um curso de lógica que dialogue com a formação em filosofia, da perspectiva da lógica contemporânea, não é fácil e exige muito mais q conhecimento da disciplina, exige tanto formação em lógica e filosofia quanto formação pedagógica. Nesse sentido, é mesmo estranho q nesse edital a filosofia esteja ausente. Mas o q me parece ruim mesmo é a falta de exigência pedagógica, o q fica a critério da banca, no fim das contas. Mas será q o bacharelado basta e isso pode ser relegado ao juízo da banca? Faz sentido, pq, afinal, o último projeto nacional de formação de professores foi de fato o Normal (o Magistério foi um remanejamento para baixo do Normal) e as licenciaturas não dão conta dessa tarefa. 
Eu entendo q a finalidade da pesquisa é a formação do estudante, pois sem isso a própria pesquisa não continua, então acho muito complicado q para concursos de instituições regidas pela indissociabilidade citada baste o diploma de bacharel e a prova didática seja avaliada por pessoas cuja única formação docente é, na maioria das vezes, a própria experiência ou quase isso. Não vejo muito outro jeito, pois de temos de partir do real, mas sem imaginar um futuro diferente fica difícil mudar. 

Saudações, 
cass. 

Aldo Figallo-Orellano

unread,
Dec 14, 2022, 12:18:30 PM12/14/22
to Cassiano Terra Rodrigues, LOGICA-L, Joao Marcos, dura...@gmail.com, joaov...@gmail.com, João Daniel Dantas
Olá a todes!

Esse edital é para um filósofo que trabalha em lógica matemática. De fato não parece exigir nenhum tema de filosofia para a prova. Mas se é requerido que pesquise em lógica matemática e de aulas nesses temas, então ele deveria ser aberto para todo mundo e que ganhe o melhor e pronto. Se a UnB precisa de filósofos, isto deveria estar nos temas a avaliar. 

Abs.

Aldo 


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LOGICA-L
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Daniel Durante

unread,
Dec 14, 2022, 2:42:38 PM12/14/22
to Cassiano Terra Rodrigues, Lista Lógica, Joao Marcos, joaov...@gmail.com, João Daniel Dantas
Oi Cassiano, João Daniel e Colegas,

Concordo com tudo o que você disse, Cassiano, só que eu acho que alguém que tem doutorado em filosofia, escolheu dedicar-se à filosofia, e demonstrou alguma competência, já que obteve o título. Qual a razão, então, de privar essa pessoa da possibilidade de dedicar-se à área que escolheu?

Veja, não podendo fazer inscrição, a pessoa nem consegue a oportunidade de demonstrar sua capacidade. 

Será que é medo de que quem não fez graduação em filosofia não consiga dar aula de graduação em filosofia? Bem, se o medo é esse, a exigência deveria ser licenciatura em qualquer área, e não graduação em filosofia. O curso de bacharelado em filosofia, por exemplo, não cobra essa habilidade de seus alunos.

Isso sem falar que uma das etapas de todos os concursos é dar uma aula em nível de graduação. Quem não sabe, não passa.

Já se o medo é, conforme sugeriu João Daniel, que o candidato com outra graduação não saiba suficientemente filosofia, já que os pontos do concurso são muito especializados em lógica matemática, e o professor vai trabalhar em um departamento de filosofia, então, se o medo é esse, que se mude o programa do concurso e inclua pontos “filosóficos". 

Aquilo que se espera de um candidato deveria estar expresso nos pontos do concurso e não em uma exigência específica de graduação. Não consigo ver nenhuma preocupação legítima que possa ser motivação para essa exigência de graduação na área que não seja melhor atendida mediante uma elaboração criteriosa do programa do concurso.

Saudações,
Daniel.
-----
Departamento de Filosofia - (UFRN)
http://danieldurante.weebly.com

Walter Carnielli

unread,
Dec 14, 2022, 3:24:33 PM12/14/22
to Cassiano Terra Rodrigues, LOGICA-L, Joao Marcos, dura...@gmail.com, joaov...@gmail.com, João Daniel Dantas
Oi Cassiano,

Você escreveu umas 60 ou 70 linhas como advogado do diabo, só que o diabo escorrega no seguinte: 

alguém consegue ter bacharelado em matemática e licenciatura em filosofia, ou vice-versa?

Você  conhece alguém nessa situação fora dos   Estados Unidos,  onde o(a) cara faz o major e o  minor?

Aqui não tem isso , não existe, não conheço ninguém que tenha essa capacidade de fazer bacharelado em alguma coisa e licenciatura em outra em áreas tão diferentes.


De mais a mais, quando essa "reserva de mercado"  fala em graduação, eles estão interessados só em bacharelado.
 Licenciatura para eles é lixo...

Abs

W.

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LOGICA-L
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Cassiano Terra Rodrigues

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Dec 14, 2022, 3:24:55 PM12/14/22
to Daniel Durante, Lista Lógica, Joao Marcos, joaov...@gmail.com, João Daniel Dantas
Camaradas, desculpem a insistência, prometo q não vou me alongar na procrastinação e depois dessa vou parar de encher a paciência de vcs. 
Daniel, concordo com o ponto inicial q vc apresenta: pq privar alguém q fez doutorado na área de prestar o concurso? Bem, isso deveria ser perguntado a quem elaborou o edital e confesso q eu não tenho resposta a essa pergunta, mas não acho q deve ter sido medo ou qq coisa assim. Provavelmente, há alguma razão mais material e mais simples para tanto. De toda forma, todo edital explicita certas expectativas e é direito de quem estabelece as expectativas proceder à avaliação conforme. Então, em se tratando do conceito de universidade e de pesquisa científica q eu acho interessante ter em vista, concordo q poderia haver mais abertura disciplinar, nesse sentido q vc e o Aldo falaram, de dar oportunidade a quem for melhor. 
Agora, discordo de outros pontos. A saber: 
1. Licenciatura em qq área não garante nada. A licenciatura tem q ser na área em q a pessoa vai dar aula. Lembrando q licenciatura é ensino superior e como tal deve prover formação superior específica, não existe metodologia universal para dar aula de tudo, o mais próximo disso q consigo imaginar é livre-docência, o q não tem nada que ver com dar aula em qualquer área e de qualquer coisa (na verdade, acho q concordamos a respeito desse ponto, não leio o q vc escreveu em sentido oposto). 
2. Discordo de que a etapa da prova pedagógica basta para avaliar capacidade docente. Conheço gente q sabe dar aula e não passou na prova didática de algum concurso por não ter se preparado direito, mas conheço muito mais gente q não sabe e parece nem querer saber de dar aula e mesmo assim passou. É justamente esse o problema q eu levantei antes. 
3. O edital da UnB é explícito qto ao q se espera de possíveis candidatos: domínio dos pontos publicados e graduação em filosofia. Não basta só uma coisa ou outra, tem q ter as duas. Os pontos dizem respeito ao teor que se espera que quem passe domine, tendo essa pessoa graduação em filosofia. Não entendo o q há de errado nisso, a formação de hj em dia contempla, a minha não contemplava. Tira oportunidade de muitas pessoas? Sim, tira, mas ao mesmo tempo abre a outras, o que há alguns anos era impensável. Quem não preenche esses requisitos, que não se incomode com esse concurso. 
Realmente, não entendo pq tanto desconforto com relação a um edital q é explícito no q espera dos possíveis candidatos. Parece q leio a defesa da existência de rábulas ou a admissão na carreira por notório saber - a existência abundante de faculdades de direito garante o respeito aos direitos e a concretização da justiça? Claro q não, diploma algum garante e nem por isso é permitido q graduados em qq área advoguem ou prestem concursos públicos na área do direito. 
Saudações, 
cass. 

 
Cassiano Terra Rodrigues
Prof. Dr. de Filosofia - IEF-H-ITA
Rua Tenente Brigadeiro do ar Paulo Victor da Silva, F0-206 
Campus do DCTA
São José dos Campos
São Paulo, Brasil
CEP: 12228-463
Tel. (+55) 12 3305 8438

--
lealdade, humildade, procedimento

Cassiano Terra Rodrigues

unread,
Dec 14, 2022, 3:29:48 PM12/14/22
to Walter Carnielli, LOGICA-L, Joao Marcos, dura...@gmail.com, joaov...@gmail.com, João Daniel Dantas
Walter, especificamente à sua pergunta, conheço vários colegas q têm duas graduações, na filosofia ou qq outra área. Isso sem falar na pós-graduação. 

Abraços, 
cass. 
Cassiano Terra Rodrigues
Prof. Dr. de Filosofia - IEF-H-ITA
Rua Tenente Brigadeiro do ar Paulo Victor da Silva, F0-206 
Campus do DCTA
São José dos Campos
São Paulo, Brasil
CEP: 12228-463
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lealdade, humildade, procedimento

Walter Carnielli

unread,
Dec 14, 2022, 4:04:32 PM12/14/22
to Cassiano Terra Rodrigues, LOGICA-L, Joao Marcos, dura...@gmail.com, joaov...@gmail.com, João Daniel Dantas
Oi Cassiano,

Sim algumas poucas pessoas têm duas graduações, muito poucas.

Outras, inclusive muito dos meus alunos e ex-alunos,  têm graduação em filosofia ou emgenharia e pós-graduação em lógica ou outra coisa assim.

Mas repito e insisto: a tal reserva de mercado não está interessada na pós-graduação, só está interessada no "canudo" do bacharelado!

Então, por exemplo meu ex-aluno Alfredo (permito-me falar sobre ele até para defendê-lo) tem uma ótima graduação em engenharia no ITA e um doutorado em filosofia-- mas  não vai ter chance, sendo que é um dos excelentes lógicos da sua geração. 

Gostaria até de ouvir o pessoal da UnB sobre isso.

Abraços,

Julio Stern

unread,
Dec 14, 2022, 4:31:59 PM12/14/22
to Daniel Durante, Cassiano Terra Rodrigues, Lista Lógica, Joao Marcos, joaov...@gmail.com, João Daniel Dantas
Caros: 
Para mim,  Jardim de infancia, Primario, Ginasio, Colegio e Graduacao,  
pertencem a etapas da (pre-) adolescencia, e nao ha a menor justificativa 
em exigir que, para qq funcao academica, um candidato tenha 
colegio tecnico ou graduacao disto ou daquilo ---  eh ridiculo. 
Quanto a pos-graduacao, pode-se obter excelente formacao em 
Filosofia, e deptos de Filosofia, Matematica, Fisica, Computacao, 
Antropologia, Historia, etc., etc., etc. 
Esta balela de exigir diplominha disto ou daquilo tem que acabar. 
O que interessa eh producao academica,  ponto. 
Tudo de bom, ---Julio Stern 
  

From: logi...@dimap.ufrn.br <logi...@dimap.ufrn.br> on behalf of Daniel Durante <dura...@gmail.com>
Sent: Wednesday, December 14, 2022 7:42 PM
To: Cassiano Terra Rodrigues <cassian...@gmail.com>
Cc: Lista Lógica <logi...@dimap.ufrn.br>; Joao Marcos <boto...@gmail.com>; joaov...@gmail.com <joaov...@gmail.com>; João Daniel Dantas <dantas.j...@gmail.com>
Subject: Re: [Logica-l] Concurso Público (FIL-UnB) - Área: Lógica
 
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LOGICA-L
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Aldo Figallo-Orellano

unread,
Dec 14, 2022, 4:37:48 PM12/14/22
to Julio Stern, Daniel Durante, Cassiano Terra Rodrigues, Lista Lógica, Joao Marcos, joaov...@gmail.com, João Daniel Dantas

Cassiano Terra Rodrigues

unread,
Dec 14, 2022, 5:39:11 PM12/14/22
to Aldo Figallo-Orellano, Julio Stern, Daniel Durante, Lista Lógica, Joao Marcos, joaov...@gmail.com, João Daniel Dantas
Julio, nessa produção, vc inclui tb docência para o jardim da infância e adolescência ou isso é desprezível?  
Se for desprezível, discordo veementemente. Acho q deveria contar e muito nos concursos, ao contrário do habitual.
Abraços, 
cass.

Joao Marcos

unread,
Dec 14, 2022, 7:14:03 PM12/14/22
to Cassiano Terra Rodrigues, LOGICA-L
Cassiano, e demais colegas:

(1) Da importância de se (oferecer e) exigir uma *formação pedagógica*
para os aspirantes a docentes: _outro_ ponto importante a ser
acrescentado à discussão, transversal ao título auferido via curso de
graduação. Imagino que valerá igualmente para todas as áreas de
estudo/ensino?

(2) Do fenômeno de reserva de mercado para a graduação em "Filosofia"
(para proteção adicional contra os bacharéis em Teologia ou em
Direito?): a situação é talvez semelhante ao que ocorre na Matemática,
cujos concursos frequentemente exigem bacharelado em Matemática para
proteção adicional contra os danados dos bacharéis em Física. Ou,
pior, contra os malditos bacharéis em Engenharia.

Qualquer (outro) fenômeno cartorial de caráter tipicamente tupiniquim
deveria ser repudiado sem uma BOA justificativa, escrita com todas as
letrinhas que necessárias forem.

[]s, Joao Marcos
--
http://sequiturquodlibet.googlepages.com/

Julio Stern

unread,
Dec 15, 2022, 4:14:31 AM12/15/22
to Cassiano Terra Rodrigues, Aldo Figallo-Orellano, Daniel Durante, Lista Lógica, Joao Marcos, joaov...@gmail.com, João Daniel Dantas
Caro Cassiano: 
Bom dia. 
Creio que eh Muito importante em um concurso aferir a capacidade do candidato para atuar em funcoes que sejam importantes para a instituicao que o esta potencialmente contratando. 
Em uma universidade, isto inclui, necessariamente,  >>> (P) Pesquisa + (E) Ensino + (X) Extensao. 

Como voce me perguntou especificamente sobre o Ensino, faco a respeito alguns comentarios adicionais. 
Creio que o professor que ministra uma disciplina de graduacao ou pos em uma universidade deva ser capaz orientar seus alunos na area. 
De preferencia, ser capaz de orientar uma tese no assunto ou, ao menos de fornecer boas ideias sobre futuros assuntos de pesquisa, sobre possiveis orientadores de tese, etc. 
Ou seja, ter feito ele mesmo uma disciplina de graduacao no assunto, no Jardim de Infancia, no Colegio Tecnico, ou na Graduacao em Filosofia, pouco ou nada contribui para capacita-lo a ensinar Filosofia em uma universidade. 
  
Esclareco ainda que estes comentarios nada tem de especial em relacao a area de Filosofia. 
Sou Professor Titular do IME-USP , o Instituto de Matematica e Estatistica da USP. 
Tenho Graduacao em Fisica, um Mestrado em Fisica Matematica, outro Mestrado em Engenharia Industrial, um Ph.D. em Pesquisa Operacional, e uma Livre Docencia em Computacao.  ...   
Voce acha que  Pode?   Poderia?   Deveria ser possivel uma carreira assim? 
Na minha carreira, isto nunca foi impedimento. 

As instituicoes onde trabalhei queriam saber da minha capacidade de: 
(P) Produzir Pesquisa de boa qualidade em Algumas de suas areas de interesse (ressalto que Algumas, Nao Todas, pois isto seria impossivel para a maioria dos mortais);  
(E) Ensinar com propriedade -- enquanto pesquisador nestas areas -- disciplinas de interesse na instituicao; 
(X) Fazer ou participar  -- enquanto pesquisador nestas areas -- de Assessorias, Consultorias, ou outras formas relevantes de Extensao. 
Sem falsa modestia, acho que nao as decepcionei, mesmo sem ter diploma ``bem casado''  (que eh o nome de um docinho muito acucarado e enjoativo).   
    
Tudo de bom,  ---Julio 


From: Cassiano Terra Rodrigues <cassian...@gmail.com>
Sent: Wednesday, December 14, 2022 10:38 PM
To: Aldo Figallo-Orellano <aldof...@gmail.com>
Cc: Julio Stern <jms...@hotmail.com>; Daniel Durante <dura...@gmail.com>; Lista Lógica <logi...@dimap.ufrn.br>; Joao Marcos <boto...@gmail.com>; joaov...@gmail.com <joaov...@gmail.com>; João Daniel Dantas <dantas.j...@gmail.com>

Marcos Silva

unread,
Dec 15, 2022, 4:53:26 AM12/15/22
to Julio Stern, Cassiano Terra Rodrigues, Aldo Figallo-Orellano, Daniel Durante, Lista Lógica, Joao Marcos, joaov...@gmail.com, João Daniel Dantas

Car@s colegas,


aqui vão meus dois centavos de contribuição para esta discussão.


Às vezes eu vejo com perplexidade a hegemonia de uma visão liberal e meritocrática da universidade e da pesquisa acadêmica nesta lista.


Me parece legítimo que um departamento de filosofia, e qualquer outro, possa orientar o perfil desejado de um professor de uma universidade pública com algumas exigências de formação, sim. Isto não é reserva de mercado tanto quanto ações afirmativas para pretos não é racismo reverso. 


A gente pode querer assegurar, sim, ter um lógico, ou matemático, com interesse em filosofia num departamento de filosofia e tentar estimular, sim, que um lógico ou matemático procure ter formação em filosofia tb, se quiser trabalhar em um departamento de filosofia.


Um departamento nao pode intervir para prevenir distorções que podem ser muito prejudiciais no medio e longo prazo?  Como, por exemplo, ter um docente num departamento de filosofia por 30 anos sem interesse ou competência em problemas filosóficos? No modelo atual, isto é possível. Alias, voce vê isto em alguns lugares: lógicos ou matemáticos trabalhando em um departamento de filosofia com muito pouco ou nenhum interesse em filosofia.



Não há uma resposta fácil para isto no atual modelo de gestão da academia. Mas a lógica do “que ganhe o melhor e pronto” nao previne isto. Ou “são as publicações que contam”. Isto talvez funcione para alguns países de capitalismo central. Mas para um país periférico como o nosso, cheio de distorções, assimetrias e desequilíbrios de poder e oportunidades, eu não sei. A candidata selecionada simplesmente por produtividade vai ter interesse em conseguir bolsas para os alunos e alunas de filosofia? Vai procurar recursos para a pos de filosofia? Vai se preocupar em ter uma rede de pesquisa e diálogo com a área e com outros departamentos de filosofia?


Eu acho que "ganha quem tem o melhor currículo” ou “quem publica mais” reforça uma visão individualista e meritocrática que sufoca e sufocou as universidades nos últimos anos, está adoecendo muita gente e faz a gente ficar extremamente vulnerável, por exemplo, a ataques de um governo de extrema direita. Além disso, esta visão é muito nociva para discentes periféricos que entram na universidade com muitas deficiências. “Que se contrate quem publica mais” vai perpetuar as distorções com as quais nós, infelizmente, já nos acostumamos. 


Acho importante tentar assegurar que um professor ou professora de um departamento de filosofia possa orientar alunos e alunas com interesse em filosofia, possa fomentar e eventualmente defender, sim, a área de filosofia em um ambiente institucional cada vez mais tecnocrata e hostil às áreas humanas. Vale sempre lembrar que no Brasil, um professor, num departamento de filosofia, além de publicar, também deveria ensinar na filosofia, ter atividade de extensão e projetos na filosofia e ser eventualmente coordenador da graduação e pos de filosofia.


Vale tb pontuar que eu não concordo com a maneira como concursos públicos para professores do nível superior são feitas no Brasil. Eu acho extremamente constrangedor, por exemplo, pela incrível artificialidade, que a gente tenha que fazer uma prova escrita sem consulta por quatro horas de um tema sorteado. Em oito anos de docência na universidade eu nunca tive que fazer algo sequer parecido com isto.


Mas apesar disso, eu realmente acredito que um departamento de filosofia, e qualquer outro, deve poder decidir, sim, exigências mínimas de formação para tentar prevenir estrategicamente distorções possíveis.


Abraços,
Marcos




--
Marcos Silva (UFPE/CNPq)
Philosophy Department
Federal University of Pernambuco, Brazil 
Director of Graduate Studies (PPGFIL/UFPE)
"amar e mudar as coisas me interessa mais"

Joao Marcos

unread,
Dec 15, 2022, 5:25:08 AM12/15/22
to Marcos Silva, Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA
Hummm, esta sua contribuição me pareceu perigosamente próxima da falácia do espantalho, Marcos...  

Você poderia desenvolver melhor o argumento específico que conectaria de forma necessária (ou mesmo suficiente) o *diploma de GRADUAÇÃO na área X* com a existência de *interesse ou competência em problemas da área X* por parte do candidato (eventualmente aprovado pela banca do concurso)?

[]s, João Marcos 

Marcos Silva

unread,
Dec 15, 2022, 5:38:52 AM12/15/22
to Joao Marcos, Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA
On Thu, Dec 15, 2022 at 3:55 PM Joao Marcos <boto...@gmail.com> wrote:
Hummm, esta sua contribuição me pareceu perigosamente próxima da falácia do espantalho, Marcos...  

okay. por quê?
 

Você poderia desenvolver melhor o argumento específico que conectaria de forma necessária (ou mesmo suficiente) o *diploma de GRADUAÇÃO na área X* com a existência de *interesse ou competência em problemas da área X* por parte do candidato (eventualmente aprovado pela banca do concurso)?

JM, acho que estamos falando de política academica e não de metafísica. 

é irreal se exigir condições de necessidade e suficiência para tratar de questões sociais complexas. Me parece claro que não há necessidade e nem suficiência ao se tratar de políticas públicas. Eu acho que este tipo de exigência abstrata e ideal paralisaria, por exemplo, a implementação de ações afirmativas muito importantes.


[]s, João Marcos 

abraços,

Daniel Durante

unread,
Dec 15, 2022, 5:43:51 AM12/15/22
to LOGICA-L, Marcos Silva, Cassiano Terra Rodrigues, aldofigallo, Daniel Durante, Lista Lógica, Joao Marcos, joaov...@gmail.com, João Daniel Dantas, jmstern

Oi Marcos,


Você tem razão. Estou plenamente de acordo com você e nutro as mesmas preocupações. Eu só acho que exigir graduação em um concurso cujo requisito de titulação é doutorado não só tem eficácia zero como instrumento para atender as legítimas demandas que você aponta, como pior, atrapalha. Não é ação afirmativa, não é política de inclusão, é de exclusão.


Saudações,

Daniel.

Joao Marcos

unread,
Dec 15, 2022, 5:44:14 AM12/15/22
to Marcos Silva, Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA
Deixe-me ver se entendo: você está defendendo que a exigência do diploma de GRADUAÇÃO em Filosofia neste concurso específico (ou qualquer outro?) foi introduzida como uma questão de política pública?  Mais ainda, está defendendo que esta seja a única alternativa para a implementação desta medida de política pública particular?  (Obviamente que podemos perguntar se ela é SUFICIENTE para assegurar os objetivos arrolados, certo?)

Abraços, JM

Marcos Silva

unread,
Dec 15, 2022, 6:12:01 AM12/15/22
to Joao Marcos, Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA


On Thu, Dec 15, 2022 at 4:14 PM Joao Marcos <boto...@gmail.com> wrote:

Ola, JM!

Deixe-me ver se entendo: você está defendendo que a exigência do diploma de GRADUAÇÃO em Filosofia neste concurso específico (ou qualquer outro?) foi introduzida como uma questão de política pública? 

nao, não defendi isto. eu estou tentando fazer sentido da exigencia. eu lancei uma hipotese.
mas eu acho, sim, que um edital, especialmente em uma universidade publica, nao é neutro politicamente, nao. Alias, acho que nao deveria ser neutro, nao.
 
Mais ainda, está defendendo que esta seja a única alternativa para a implementação desta medida de política pública particular? 

a "única"?? eu sou wittgensteiniano, nunca falaria algo assim. ;-)
 
(Obviamente que podemos perguntar se ela é SUFICIENTE para assegurar os objetivos arrolados, certo?)

vc sabe melhor que eu, que não há nada óbvio em filosofia, né, João. Eu acho esta sua alegacao de "obviedade" fruto de uma confusão conceitual e metodológica. Basicamente, eu acredito, e nao estou sozinho nisto, que não há suficiencia em se tratando de fazer previsoes sobre relações complexas e dinamicas em dominios sociais, culturais ou biológicos. Nestes dominios, fazer X vai ser suficiente para Y? Não se pode garantir. Exigir suficiencia não é uma boa estratégia aqui. Por exemplo, a açao afirmativa X vai ser suficiente para remediar a injustica Y? Nao se pode dizer. Mas por que exigir suficiencia aqui? Várias outras medidas podem (e devem) ser implementadas conjuntamente.
 

Abraços, JM

Abraço!

Evandro L. Gomes

unread,
Dec 15, 2022, 6:19:01 AM12/15/22
to Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA
Olá colegas,

Essa discussão é muito importante e necessária. No departamento de filosofia da Universidade Estadual de Maringá, há tempos, optamos por um requisito um pouco mais aberto nos concursos que requer como requisito "que o candidato tenha pelo menos uma de suas formações acadêmicas em filosofia", seja graduação ou mestrado ou doutorado. Tivemos poucos concursos na última década, mas tem funcionado.

Abs,
Evandro.

Joao Marcos

unread,
Dec 15, 2022, 6:25:39 AM12/15/22
to Marcos Silva, Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA
Viva, Marcos:

A parte central da discussão que deu origem a esta thread dizia
respeito à necessidade de DIPLOMA EM X para poder SE INSCREVER em um
CONCURSO PARA A ÁREA X. Eu tenho tentado defender, talvez
desastradamente, que *não há* (ou *não deveria haver*) uma
especificidade importante em tomar X=Filosofia ao invés de
X=Matemática. Estou cansado de ver concursos em Matemática buscando
EXCLUIR físicos e engenheiros. Sim, concordo com Daniel que o que
estamos testemunhando aqui se trata de "política de exclusão".

De resto, considero válido, sim, discutir OUTROS argumentos
importantes apresentados aqui, envolvendo a formação pedagógica, a
escolha cuidadosa dos temas a serem cobrados no concurso, a escolha
cuidadosa da banca e a implementação de políticas públicas
afirmativas, dentre outros.

Por fim, sobre Wittgenstein, parece-me justamente um bom exemplo de
alguém que teria problemas para conseguir *se inscrever* nos concursos
ora em tela.

Abraços,
Joao Marcos
--
http://sequiturquodlibet.googlepages.com/

Marcos Silva

unread,
Dec 15, 2022, 6:29:23 AM12/15/22
to Daniel Durante, LOGICA-L, Cassiano Terra Rodrigues, aldofigallo, Joao Marcos, joaov...@gmail.com, João Daniel Dantas, jmstern


On Thu, Dec 15, 2022 at 4:13 PM Daniel Durante <dura...@gmail.com> wrote:

Oi Marcos,


Ola, Daniel!
 

Você tem razão. Estou plenamente de acordo com você e nutro as mesmas preocupações. Eu só acho que exigir graduação em um concurso cujo requisito de titulação é doutorado não só tem eficácia zero como instrumento para atender as legítimas demandas que você aponta, como pior, atrapalha. Não é ação afirmativa, não é política de inclusão, é de exclusão.


Exigir diploma de filosofia para trabalhar com filosofia é uma medida de exclusão?
Eu não sei. Eu acho que não.

De toda forma, acho que uma outra pergunta deveria ser feita também:

Quem ganha com a exclusão da necessidade de um diploma de filosofia para trabalhar em um departamento de filosofia? E quem perde?

A resposta pode indicar relações de poder e algumas injustiças importantes. Afinal, estamos tratando de recursos publicos de algumas décadas tb. 


Saudações,

Daniel.


Abraço!

Marcos Silva

unread,
Dec 15, 2022, 6:35:19 AM12/15/22
to Joao Marcos, Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA
Por fim, sobre Wittgenstein, parece-me justamente um bom exemplo de
alguém que teria problemas para conseguir *se inscrever* nos concursos
ora em tela.

Boa, João! :-)

Wittgenstein era gênio, e, principalmente, milionário. Não precisava pensar nos concursos em tela.

Eu sou um brasileiro preto e periférico, como vários discentes de filosofia nas nossas universidades públicas.
Estou tentando cuidar dos meus. 

Joao Marcos

unread,
Dec 15, 2022, 6:49:27 AM12/15/22
to Marcos Silva, Daniel Durante, LOGICA-L, Cassiano Terra Rodrigues, aldofigallo, joaov...@gmail.com, João Daniel Dantas, jmstern
> Exigir diploma de filosofia para trabalhar com filosofia é uma medida de exclusão?
> Eu não sei. Eu acho que não.

Parece-me relevante lhe pedir para inserir a qualificação "DE
GRADUAÇÃO" entre "diploma" e "em filosofia", para que a discussão
anterior continue sendo justa.

(É fato que eu particularmente defendi ---e outros colegas também
defenderam---- a proposta *inclusiva* segundo a qual o DIPLOMA EM X
não deveria ser *necessário* para CONCORRER a uma vaga na ÁREA X, o
que é algo que vai bem além do requisito acerca do diploma DE
GRADUAÇÃO que deu origem a esta thread.)

> Eu sou um brasileiro preto e periférico, como vários discentes de filosofia nas nossas universidades públicas. Estou tentando cuidar dos meus.

Confesso que não entendi porque não haveria brasileiros pretos e
periféricos que não seriam potencialmente *excluídos* pela exigência
de GRADUAÇÃO EM X, com X=Filosofia... Bacharéis em Direito ou
Teologia, digamos, podem tranquilamente ser brasileiros pretos e
periféricos, certo?

[]s, Joao Marcos

Daniel Durante

unread,
Dec 15, 2022, 8:11:28 AM12/15/22
to LOGICA-L, Marcos Silva, LOGICA-L, Cassiano Terra Rodrigues, aldofigallo, Joao Marcos, joaov...@gmail.com, João Daniel Dantas, jmstern, Daniel Durante
Oi Marcos,

Exigir diploma de filosofia para trabalhar com filosofia é uma medida de exclusão?
Eu não sei. Eu acho que não.
 
Alguém com doutorado em Filosofia ser excluído de poder participar em um concurso para professor universitário em um departamento de Filosofia é, sim, política de exclusão.

De toda forma, acho que uma outra pergunta deveria ser feita também:
Quem ganha com a exclusão da necessidade de um diploma de filosofia para trabalhar em um departamento de filosofia? E quem perde?
A resposta pode indicar relações de poder e algumas injustiças importantes. Afinal, estamos tratando de recursos publicos de algumas décadas tb. 

Quem ganha com a exclusão dessa exclusão? Ganham todos os doutores em filosofia que têm graduação em outras áreas. E eles não são poucos. Trabalho há muitos anos com isso. Ganha o departamento que está oferecendo a vaga, porque terá um universo de possíveis candidatos qualificados maior.

Quem perde com a exclusão dessa exclusão? Perguntando de outra forma, quem ganha com a manutenção dessa exclusão? Ou para usar os seus termos, quais as “relações de poder” que ela ajuda a revelar e combater? Quais as "injustiças importantes” que ela ajuda mitigar?

Eu até consigo imaginar uma enorme lista de metas louváveis e desejáveis que estejam a motivar a adoção dessa exigência de graduação na área. Mas eu tenho convicção de que para a obtenção de cada uma dessas metas, a exigência de graduação na área é um instrumento muito ruim.

Mas convicção não é fé. Um bom exemplo pode me fazer mudar de ideia! 😉

Joao Marcos

unread,
Dec 15, 2022, 8:12:12 AM12/15/22
to Cassiano Terra Rodrigues, Daniel Durante, Lista Lógica, joaov...@gmail.com, João Daniel Dantas
Viva, Cassiano:

Qual foi mesmo a GRADUAÇÃO feita pelo Charles Sanders Peirce?

Considerando alguns dos avanços mais importantes da Lógica no século
XX, pode ser instrutivo olhar para dois exemplos de pessoas "de fora"
(?) que fizeram toda a sua carreira profissional em departamentos de
Filosofia (mas que não poderiam sequer *se candidatar* no típico
concurso brasileiro para a área de Filosofia): Alfred Tarski & Kurt
Gödel. Queremos contratar este tipo de gente?

Abraços, Joao Marcos


PS: Confesso que a discussão sobre diplomas de GRADUAÇÃO sempre me
parece surreal, já que, na academia, "degree" há muitos anos têm sido
universalmente entendido como sinônimo de "PhD degree"... Mas reforço
que sequer me parece obviamente (suficiente ou) necessária a
comprovação de qualquer "degree" para poder *disputar* um bom
concurso.


On Wed, Dec 14, 2022 at 5:24 PM Cassiano Terra Rodrigues
<cassian...@gmail.com> wrote:
>
> Camaradas, desculpem a insistência, prometo q não vou me alongar na procrastinação e depois dessa vou parar de encher a paciência de vcs.
> Daniel, concordo com o ponto inicial q vc apresenta: pq privar alguém q fez doutorado na área de prestar o concurso? Bem, isso deveria ser perguntado a quem elaborou o edital e confesso q eu não tenho resposta a essa pergunta, mas não acho q deve ter sido medo ou qq coisa assim. Provavelmente, há alguma razão mais material e mais simples para tanto. De toda forma, todo edital explicita certas expectativas e é direito de quem estabelece as expectativas proceder à avaliação conforme. Então, em se tratando do conceito de universidade e de pesquisa científica q eu acho interessante ter em vista, concordo q poderia haver mais abertura disciplinar, nesse sentido q vc e o Aldo falaram, de dar oportunidade a quem for melhor.
> Agora, discordo de outros pontos. A saber:
> 1. Licenciatura em qq área não garante nada. A licenciatura tem q ser na área em q a pessoa vai dar aula. Lembrando q licenciatura é ensino superior e como tal deve prover formação superior específica, não existe metodologia universal para dar aula de tudo, o mais próximo disso q consigo imaginar é livre-docência, o q não tem nada que ver com dar aula em qualquer área e de qualquer coisa (na verdade, acho q concordamos a respeito desse ponto, não leio o q vc escreveu em sentido oposto).
> 2. Discordo de que a etapa da prova pedagógica basta para avaliar capacidade docente. Conheço gente q sabe dar aula e não passou na prova didática de algum concurso por não ter se preparado direito, mas conheço muito mais gente q não sabe e parece nem querer saber de dar aula e mesmo assim passou. É justamente esse o problema q eu levantei antes.
> 3. O edital da UnB é explícito qto ao q se espera de possíveis candidatos: domínio dos pontos publicados e graduação em filosofia. Não basta só uma coisa ou outra, tem q ter as duas. Os pontos dizem respeito ao teor que se espera que quem passe domine, tendo essa pessoa graduação em filosofia. Não entendo o q há de errado nisso, a formação de hj em dia contempla, a minha não contemplava. Tira oportunidade de muitas pessoas? Sim, tira, mas ao mesmo tempo abre a outras, o que há alguns anos era impensável. Quem não preenche esses requisitos, que não se incomode com esse concurso.
> Realmente, não entendo pq tanto desconforto com relação a um edital q é explícito no q espera dos possíveis candidatos. Parece q leio a defesa da existência de rábulas ou a admissão na carreira por notório saber - a existência abundante de faculdades de direito garante o respeito aos direitos e a concretização da justiça? Claro q não, diploma algum garante e nem por isso é permitido q graduados em qq área advoguem ou prestem concursos públicos na área do direito.
> Saudações,
> cass.
>
>
> Cassiano Terra Rodrigues
> Prof. Dr. de Filosofia - IEF-H-ITA
>
> Rua Tenente Brigadeiro do ar Paulo Victor da Silva, F0-206
> Campus do DCTA
> São José dos Campos
> São Paulo, Brasil
> CEP: 12228-463
> Tel. (+55) 12 3305 8438

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Cassiano Terra Rodrigues

unread,
Dec 15, 2022, 8:13:36 AM12/15/22
to Joao Marcos, Marcos Silva, Daniel Durante, LOGICA-L, aldofigallo, joaov...@gmail.com, João Daniel Dantas, jmstern
JM, uma questão de entendimento aqui.
Repudiar sem justificativa boa qq fenômeno cartorial ou qq fenômeno cartorial sem justificativa boa deve ser repudiado? Acho q vc quer dizer a 2a, sim? 
Concurso é um fenômeno cartorial, a meu ver.  E o modelo de concursos poderia ser abolido se tivéssemos outro sistema, comissões de busca, talvez. Mas além da nossa burocracia cartorial de herança lusitana, a nossa estrutura jurídica é processual, o que exige um processo como o do concurso (processo ≠ modelo) cuja função é garantir a objetividade, embora saibamos q isso é um ideal mais q uma realidade. No caso de comissões de busca, uma avaliação menos antiquada do percurso formativo e profissional me parece mais favorável e mais fácil de implementar. Além de poder ser, talvez, menos meritocrático, como apontou o Marcos, com quem estou plenamente de acordo nesse ponto, ou ainda tem alguém q acredita nesse papai noel meritocrático universitário aqui?
Relativamente aos diplomas, tenho de confessar q não posso discordar do Julio e já tinha falado isso antes. Mas produção, se entendida em termos quantitativos, tampouco; serve mais pro ego do escritor, q se encanta pela própria linguagem, do q pra contribuição científica de fato. E isso tem várias outras implicações, transversais e diretas, com o ponto aqui. A primeira é dar muita importância ao concurso, pq depois q entra... enfim. Além disso, conheço mais de um colega, alguns amigos, com diploma de X q não fazem absolutamente nada em X, ao contrário, permanecem analfabetos na área em q foram contratados para lecionar e pesquisar, mas mesmo assim lá ficam, não sei se por meritocracia, pelo fenótipo, ter estudado com X ou Y, por participar de algum grupo hegemônico, ser neto ou parente de alguém ou pelo valor mesmo do trabalho, ou até pela dificuldade de demitir alguém na máquina pública brasileira. Mas a área de lógica está cheia desse fenômeno tupiniquim: pessoas com diplomas de doutorado em filosofia por mera contingência de arranjo institucional, pois se diplomaram em departamentos de filosofia tendo feito trabalhos de lógica matemática exata (nem de lógica, simplesmente, reforço, lógica matemática exata). Acho isso, na verdade, ótimo, pois areja a filosofia. Só que também acho difícil encontrar o inverso em departamentos de matemática, se estou errado, quero q me mostrem, pois sou falível, mas eu nunca vi. Tirando uma ou outra exceção, claro, como o falecido Ubi D'Ambrosio, ou o Newton da Costa, exceções q confirmam a regra. Isso sem falar em doutores ultraprodutivos e com diploma mas sem vergonha, mas deixemos isso pra lá por enqto, pq ao menos isso algumas bancas ainda conseguem avaliar. Diante disso, eu me pergunto: será tão ilegítima, descabida e injustificada assim a exigência de graduação em filosofia para um departamento de filosofia? Note-se q no caso específico o departamento de filosofia da UnB não está mal provido de professores de lógica, e os dois q conheço não são graduados apenas em filosofia, o Alexandre tb tem graduação em direito e o Rodrigo é engenheiro e tem 2 doutorados, 1 em matemática e outro em filosofia. É esse o departamento q está fazendo reserva de mercado? Decisões colegiadas frequentemente são bastante complexas e envolvem muitos matizes. Não estou defendendo o departamento de filosofia da UnB de nada, mas tudo isso leva a pensar q na verdade a filosofia - não apenas na UnB - é uma área em q isso q foi chamado aqui de reserva de mercado não faz o menor sentido, pois a quantidade de professores formados em física, matemática, direito, artes, ciências sociais e sei lá mais o quê que leciona em departamentos de filosofia nas universidades brasileiras é bem considerável e eu truco q uma pesquisa empírica vai mostrar q esse fenômeno é menor em outros departamentos. E às vezes por imposição, pois o q outros departamentos refugam, manda lá pra filosofia, pq filosofia não é ciência mesmo, cabe qq coisa.
Diploma algum significa nada, no fim das contas. Mas a impressão q eu tenho é q só na filosofia é q incomoda.
Abraços, 
cass. 


Cassiano Terra Rodrigues
Prof. Dr. de Filosofia - IEF-H-ITA
Rua Tenente Brigadeiro do ar Paulo Victor da Silva, F0-206 
Campus do DCTA
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Tel. (+55) 12 3305 8438

--
lealdade, humildade, procedimento

Joao Marcos

unread,
Dec 15, 2022, 8:31:19 AM12/15/22
to Cassiano Terra Rodrigues, Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA
Seria ótimo poder ter "comissões de busca", Cassiano!  Muito difícil de implementar, contudo, por estas bandas do mundo...
 
Diploma algum significa nada, no fim das contas. Mas a impressão q eu tenho é q só na filosofia é q incomoda.

Como esta briga é antiga, seria interessante se alguns colegas pudessem nos contar aqui sobre as dificuldades criadas por departamentos de Matemática brasileiros para tentar de todas as maneiras evitar contratar gente graduada em Física ou em Engenharia.  Vejo pouca diferença, em termos de "política de exclusão", comparativamente ao caso presentemente em tela, relativo à Filosofia, aparentemente defendido aqui como "excepcional".  E ainda não entendi de que forma o diploma de GRADUAÇÃO consegue ser tão fundamental na definição do perfil de atuação profissional do acadêmico... (até consigo vislumbrar um efeito deste diploma na capacitação *pedagógica*, mas no resto está mesmo difícil ver "what's in a name")

[]s, Joao Marcos

--

Cassiano Terra Rodrigues

unread,
Dec 15, 2022, 8:31:50 AM12/15/22
to Joao Marcos, Daniel Durante, Lista Lógica, joaov...@gmail.com, João Daniel Dantas
JM, meu amigo, 




Qual foi mesmo a GRADUAÇÃO feita pelo Charles Sanders Peirce?

Química, suma cum laude. Foi o primeiro professor de lógica numa universidade moderna, em Johns Hopkins, a 1a dos EUA com um projeto de pesquisa interdisciplinar. Mas foi demitido, por razões pessoais, e sempre quis uma carreira universitária q nunca conseguiu. A principal renda veio do trabalho de astrônomo e geodésico na agência dos EUA q originou a NASA. Um fato correlato interessante: C. S. Peirce orientou Christine Ladd-Franklin enqto foi professor em Johns Hopkins. Ela foi a 1a mulher a fazer a formação em matemática e lógica simbólica, mas por ser mulher, apesar de ter feito tudo o q a universidade exigia para um doutorado, só conseguiu o diploma 40 anos depois. Enqto era estudante, era obrigada a assinar "C. Ladd" nos seus trabalhos para não revelar seu gênero. Qdo Peirce foi demitido, Johns Hopkins se recusou a contratá-la para o lugar dele. 

Considerando alguns dos avanços mais importantes da Lógica no século
XX, pode ser instrutivo olhar para dois exemplos de pessoas "de fora"
(?) que fizeram toda a sua carreira profissional em departamentos de
Filosofia (mas que não poderiam sequer *se candidatar* no típico
concurso brasileiro para a área de Filosofia): Alfred Tarski & Kurt
Gödel.  Queremos contratar este tipo de gente?
Há muitas maneiras de entender "esse tipo de gente". Poderíamos perguntar: sobreviveriam na meritocracia brasileira? Provavelmente sim, se tomarmos os exemplos de branquitude e fenótipo europeu em consideração. Teriam chances na universidade brasileira, como professores-pesquisadores? Talvez sim, talvez não. Nesse concurso da UnB alguém com esse tipo de perfil acadêmico sequer entraria, mas poderia ter entrado nos anteriores ou em outras universidades em q essa exigência não existisse. Agora, se concorresse com algum neto ou ex-orientando de fulano X ou Y, as chances diminuiriam drasticamente, eu diria. 
Abraços, cass.
 


Aldo Figallo-Orellano

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Dec 15, 2022, 8:37:07 AM12/15/22
to Joao Marcos, Cassiano Terra Rodrigues, Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA
Eu me lembro de um concurso na Bahia, Salvador. Que em duas vagas de lógica no departamento de matemática, um dos professores que entrou era bacharelado en Filosofia, mas com pesquisa na área lógica algébrica.




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João Ferrari

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Dec 15, 2022, 8:53:22 AM12/15/22
to Joao Marcos, Cassiano Terra Rodrigues, Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA
Colegas,

tenho entendido que a discussão aqui passa pela possibilidade do diploma de graduação em Filosofia ser capaz de funcionar como uma medida quase que de inclusão, supostamente devido ao perfil do estudante de Filosofia quando comparado ao de outras graduações.

Se a questão for esta, trata-se de algo que merece uma resposta empírica: analisar o perfil socioeconômico e de gênero dos estudantes e ver se a manutenção do requisito de graduação é capaz de assegurar a inserção dessa fração desejada da sociedade na academia. Bom quanto a isso, acho MUITO improvável que o diploma na área seja uma boa medida, e acho que muitas vezes pode até causar mais distorção entre o perfil do depto e o da sociedade brasileira. Por exemplo, a graduação em filosofia na UFMG é o curso com a maior porcentagem de alunos homens - muito mais até que a proporção homens/mulheres no corpo docente -, e se essa regra se mantém em outros lugares, pedir o diploma poderia implicar na exclusão de mulheres nos concursos. Outro exemplo: tive a oportunidade de cursar Física na mesma universidade e notei que o perfil dos alunos lá era muito mais humilde do que na Filosofia, e em Ciências Sociais, a renda familiar dos alunos só perdia para estudantes de medicina (em 2013); assim, não é óbvio que estudantes de humanidades representem a parcela mais humilde da sociedade. Mas para ter certeza, precisariamos de dados concretos. Ocorre que, na ausência desses dados, e na intenção de promover medidas de inclusão, a opção mais racional seria implementar as medidas de inclusão no próprio edital. Acredito que o diploma de graduação em Filosofia é um péssimo 'proxy' para esse tipo de dado.

Quanto a importância da graduação em Filosofia para que o professor contratado tenha interesse em Filosofia: também acho que seja algo a ser resolvido pelas competências pedidas pelo edital (e.g. requisito de expertise em história da filosofia, epistemologia, ontologia, etc.).

Abraços,
João F.

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Julio Stern

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Dec 15, 2022, 8:54:07 AM12/15/22
to Cassiano Terra Rodrigues, Joao Marcos, Marcos Silva, Daniel Durante, LOGICA-L, aldofigallo, joaov...@gmail.com, João Daniel Dantas

[Cassiano] >>>  Relativamente aos diplomas, tenho de confessar q não posso discordar do Julio e já tinha falado isso antes. 
Mas produção, se entendida em termos quantitativos, tampouco; serve mais pro ego do escritor, q se encanta pela própria linguagem, do q pra contribuição científica de fato. E isso tem várias outras implicações, transversais...  

Eu, de minha parte, Concordo ai com o Cassiano. 
Ademais, uma parte fundamental do concurso concerne a avaliacao qualitativa do projeto de pesquisa do candidato, seu Potencial de Interacao com outros membros do departamento, de desenvolver e Colaborar em projetos de interesse da instituicao, etc. 

Tenho visto por ai concursos com "criterios objetivos" que publicam no edital a receita de como fazer uma planilha para avaliar cada quesito. 
Quando convidado para concursos assim, eu me recuso a participar. 
Isto nao quer dizer que indicadores quantitativos nao tenham sua importancia; Na minha opiniao, tem! 
Em suma, o mundo eh nao trivial, e solucoes que trivializam nossas decisoes geralmente fazem mais mal que bem. 
Procedimentos trivializantes levam a emendas piores que os maus sonetos que as motivaram. 

Tudo de bom,  ---Julio Stern 
 
   

From: Cassiano Terra Rodrigues <cassian...@gmail.com>
Sent: Thursday, December 15, 2022 1:13 PM
To: Joao Marcos <boto...@gmail.com>
Cc: Marcos Silva <marcos...@gmail.com>; Daniel Durante <dura...@gmail.com>; LOGICA-L <logi...@dimap.ufrn.br>; aldofigallo <aldof...@gmail.com>; joaov...@gmail.com <joaov...@gmail.com>; João Daniel Dantas <dantas.j...@gmail.com>; jmstern <jms...@hotmail.com>

Subject: Re: [Logica-l] Concurso Público (FIL-UnB) - Área: Lógica

Joao Marcos

unread,
Dec 15, 2022, 8:54:42 AM12/15/22
to Aldo Figallo-Orellano, Cassiano Terra Rodrigues, Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA
> Eu me lembro de um concurso na Bahia, Salvador. Que em duas vagas de lógica no departamento de matemática, um dos professores que entrou era bacharelado en Filosofia, mas com pesquisa na área lógica algébrica.

Quer me parecer que a Filosofia é talvez uma das áreas mais
resistentes à *ampliação de perfis*? A UNICAMP se notabilizou por
fazer lobby, durante muitos anos, para que a string "... ou Lógica e
Filosofia da Ciência" fosse inserida nas exigências de diplomação (a
nível de doutorado) para concursos para a área de "Filosofia". Creio
que a UFBA também fez esta ampliação, mais de uma vez, para poder
conseguir contratar lógicos no departamento de Matemática? Na UFRN o
meu diploma de doutorado em Filosofia foi considerado "área afim" em
um concurso para a área de Computação. Ninguém nunca me perguntou
sobre o meu título de *graduação* --- que, por acaso, é o mesmo do
Newton da Costa.

[]s, JM

Aldo Figallo-Orellano

unread,
Dec 15, 2022, 9:14:19 AM12/15/22
to Joao Marcos, Cassiano Terra Rodrigues, Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA
Eu não sei, mas muitas vezes só pedem titulação de doutor em X área.
Isto permite que os estrangeiros se apresentem, como tem acontecido em muitas universidades Federais do Brasil.
Mas pedir agora o bacharelado isto é mais complicado. Avaliar um título de doutor e um processo mais simples que o de avaliar um título de bacharelado.

Por outro lado, a UFBA já aceita as titulações da Unicamp em filosofia, desde que seja o conteúdo da teses em lógica matemática.

Também na Unicamp no IFCH tiveram é tem lógicos  com formação na matemática.

Marcos Silva

unread,
Dec 15, 2022, 9:57:20 AM12/15/22
to Joao Marcos, Daniel Durante, LOGICA-L, Cassiano Terra Rodrigues, aldofigallo, joaov...@gmail.com, João Daniel Dantas, jmstern
Tranquilamente, Joao? Nao ha nada tranquilo aqui.

eu tava tentando ler aqui todos os emails! Em um mundo ideal com iguais oportunidades talvez a livre disputa seria o melhor.

Mas, no nosso mundo, ha poucos recursos. Cada vez menos em governos que menosprezam cultura, filosofia e ciencias.

Neste discurso de livre disputa e "que os melhores que entrem", quem é periférico é que se f. 
E no atual desenho da universidade brasileira, filosofia é periférica tb.

Quais vao ser os criterios usados para decidir quem tem acesso aos poucos recursos?

O mérito somente? A livre disputa para na tentativa da entrada de um gênio? Eu acho que não deveria. O mérito pelo mérito esconde uma rede de privilégios atras da narrativa do esforço e do talento individuais e justifica que um mesmo grupo, uma minoria, se perpetue na posse destes recursos. Com frequencia, nao surpreendetemente, uma minoria de homens brancos cis.

Estou interessado que nao se conceda mais privilégios para os que já têm muitos privilegios.

Na academia, as areas tecnológicas sao as privilegiadas em editais e na distribuição de recursos. Isto nao é acidental. Isto é um projeto politico.

Eu temo que a defesa da exclusão da exigencia da graduação da filosofia faça parte de um ataque (velado) mais geral a ciencias humanas. A tentativa de desvalorizar a formação de filosofia é um projeto político, mesmo que vcs nao reconheçam isto. E mesmo que ache isto espantalho.

 Eu nao quero que a formação da filosofia se desvalorize. Pelo contrário, filosofia é muito importante para a emancipação de pessoas, para sua autonomia intelectual e para a formação crítica de uma geração de jovens. Que nunca mais votem em candidatos de extrema direita, por exemplo.

Eu nao gostaria de ter um logico ou matematico por trinta anos ou mais, mesmo muito competente, no nosso departamento de filosofia, que nao se interesse por filosofia e que nao  se engaje com discentes de filosofia. Se tivesse que participar da elaboração de um edital hoje para tentar inibir a chance disto acontecer, eu participaria. Nao quero um colega super técnico mas que nao pudesse defender projetos de filosofia, nao dialogasse com filósofos, nao conseguisse bolsas para discentes de filosofia e nao defendesse a graduação em filosofia tb.

Depois de quatro anos de Bolsonaro e Paulo Guedes, confesso que eu tenho mais vontade de ter um Paulo Freire como colega que um Kurt Goedel.

Obrigado pela discussão, JM!

abraço!

Cassiano Terra Rodrigues

unread,
Dec 15, 2022, 10:34:02 AM12/15/22
to Marcos Silva, Joao Marcos, Daniel Durante, LOGICA-L, aldofigallo, joaov...@gmail.com, João Daniel Dantas, jmstern
Camaradas, 

Um departamento com Gödel não me parece problemático. Imaginem, ao contrário, ou Frege ou Peirce ou Whitehead! 
A filosofia é uma das áreas com mais acolhimento de diferenças, principalmente acadêmicas. O caso da Unicamp é exemplar nesse sentido, mas não só. Durante muito tempo a filosofia foi ultra elitizada, mesmo por ser minúscula, mas felizmente tem mudado. E o problema radical do ingresso na universidade no Brasil é no Ensino Médio. Sem enfrentar essa privatização, não tem medida q resolva. Concordo q não é diploma de x ou y q vai melhorar essa exclusão. 
Meu ponto é: pq é ilegítimo ou inconveniente q um departamento defina critérios burocráticos para um concurso q lhe cabe? Podemos discordar ou concordar com esses critérios, mas realmente não entendo pq isso é descabido. Se a exigência aqui é q a filosofia seja o q outras áreas não são, não acho razoável. Nao estou defendendo a excepcionalidade, ao contrário. Se é algo q outros departamentos fazem e isso significa q são mais avançados, problema do departamento q não é como os outros. Um dia o antigo regime cai. Até no Brasil isso há de acontecer, mesmo q eu já tenha morrido. 
Saudações, 
cass.

Joao Marcos

unread,
Dec 15, 2022, 10:38:20 AM12/15/22
to Marcos Silva, LOGICA-L
Opa, Marcos:

Como eu não fiz qualquer pregação da "meritocracia" e segui
consistentemente apegado à questão original sobre a necessidade (tanto
quanto a suficiência, ou mesmo a conveniência) do título de graduação
em Filosofia, vou assumir que a maior parte das coisas que você disse
aqui não foram resposta a coisas que eu tenha escrito.

> Eu nao gostaria de ter um logico ou matematico por trinta anos ou mais, mesmo muito competente, no nosso departamento de filosofia, que nao se interesse por filosofia e que nao se engaje com discentes de filosofia. Se tivesse que participar da elaboração de um edital hoje para tentar inibir a chance disto acontecer, eu participaria. Nao quero um colega super técnico mas que nao pudesse defender projetos de filosofia, nao dialogasse com filósofos, nao conseguisse bolsas para discentes de filosofia e nao defendesse a graduação em filosofia tb.

Já vi muitos editais trabalhados com muito cuidado terminarem com a
contratação de profissionais com perfis medíocres em todos os
sentidos. Devo dizer que rejeito a distinção entre "técnica" e
"filosofia". Como qualquer disciplina acadêmica, a Filosofia é
super-técnica. Aliás, a área de Filosofia Analítica (parabéns pela
sua eleição ao cargo de presidente da Sociedade Brasileira de
Filosofia Analítica) é um bom exemplo de área super-técnica (da
Filosofia).

Concordo, por fim, com tudo que você diz sobre a rede de privilégios
que subsiste em nosso país. No que está ao meu alcance, você pode
contar comigo na desafiante tarefa de fornecer formação lógica básica
(ausente até mesmo em muitos professores "da área de Lógica") e para a
busca de recursos para profissionais da Filosofia ligados à nossa
área.

Abraços,

Joao Marcos

unread,
Dec 15, 2022, 10:40:24 AM12/15/22
to Cassiano Terra Rodrigues, Marcos Silva, Daniel Durante, LOGICA-L, aldofigallo, joaov...@gmail.com, João Daniel Dantas, jmstern
> Meu ponto é: pq é ilegítimo ou inconveniente q um departamento defina critérios burocráticos para um concurso q lhe cabe? Podemos discordar ou concordar com esses critérios, mas realmente não entendo pq isso é descabido.

De minha parte, Cassiano, gostaria de acreditar que os ditos critérios
burocráticos colaborarão para os objetivos do dito concurso. Os
títulos que constam dos diplomas me parecem colaborar muito pouco para
tal coisa.

[]s, Joao Marcos

--
http://sequiturquodlibet.googlepages.com/

Joao Marcos

unread,
Dec 15, 2022, 10:42:55 AM12/15/22
to Marcos Silva, Daniel Durante, LOGICA-L, Cassiano Terra Rodrigues, aldofigallo, joaov...@gmail.com, João Daniel Dantas, jmstern
> Obrigado pela discussão, JM!

Agradeço ao João Ferrari por levantar a bola! Claramente há muitas
questões irresolvidas aqui.

Isso já avançou muito, mas talvez valha a pena abrir outra thread para
discussões mais gerais sobre o tema, que não dizem respeito nem foram
motivadas pela específica exigência de GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA no
edital da UnB.

Joao Marcos

Hermógenes Oliveira

unread,
Dec 15, 2022, 11:58:34 AM12/15/22
to Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA
João Marcos <boto...@gmail.com> escreveu:

> De resto, considero válido, sim, discutir OUTROS argumentos
> importantes apresentados aqui, envolvendo a formação pedagógica, a
> escolha cuidadosa dos temas a serem cobrados no concurso, a escolha
> cuidadosa da banca e a implementação de políticas públicas
> afirmativas, dentre outros.

Proponho focar a questão por uma perspectiva prática. Poderíamos discutir qual seria o formato ideal para contratações no magistério superior federal, mas, na realidade, já existem regras gerais sobre o formato dos concursos a nível nacional e, eventualmente, regras mais específicas também a nível da instituição.

Sobre esta perspectiva prática, a primeira coisa a se observar é que a preocupação primordial em contratações para o magistério superior é o interesse público, conforme emanado da finalidade e missão da autarquia. Não se trata de uma questão de distribuição equitativa de cabides de emprego de acordo com o mérito de indivíduos, não importa qual métrica seja adotada para o mérito (na minha humilde opinião, "meritocracia" é um conceito que já nasceu falido, mas, enfim, tentarei me manter no tópico[1]).

O perfil mais alinhado com a missão pública atrelada ao departamento pode variar de acordo com a situação do mesmo, não obstante o mérito percebido em favor deste ou daquele candidato, ainda que a ideia de mérito empregada aqui esteja diretamente relacionada com a área de conhecimento do concurso.

Por exemplo, numa certa IES, os programas de pós-graduação na área podem ser mais ou menos desenvolvidos. Portanto, a expectativa de atuação do(a) contratado(a) na graduação em filosofia pode ser maior ou menor. Em certas IESs, a lógica está presente na grade de vários cursos de graduação. Em outras, a lógica, como componente curricular ministrada pelo departamento de filosofia, está presente apenas no curso de filosofia. De acordo com a situação, o contratado terá a expectativa de lecionar exclusivamente lógica ou, eventualmente, outras temáticas afins para o curso de filosofia, ainda que predominantemente focado na lógica. Enfim, existem diversos fatores inerentes ao contexto específico da IES e/ou departamento que justifiquem a preferência pela contratação de professor especialista em lógica, porém com formação razoavelmente ampla e sólida em filosofia. Isto do ponto de vista do interesse público.

Agora, dados os parâmetros legais para contratação, qual seria a maneira de tentar aumentar a probabilidade de contratação de um profissional com o perfil mais alinhado? Garantias cabais não podem ser obtidas, e creio que isto seja pacífico.

Uma sugestão apresentada foi incluir pontos filosóficos nas temáticas do concurso. Os pontos são sorteados, contudo. O que significa que a averiguação de competência em temas filosóficos ficaria ao sabor da sorte. Por outro lado, se todos temas são filosóficos, não se averigua competência em tópicos avançados de lógica.

Existem várias outras opções de incluir a averiguação de ampla competência filosófica dentro das etapas do concurso. Por exemplo, seria concebível incluir na prova de títulos uma pontuação generosa para quem já tem experiência docente em filosofia (embora suponho que isto não agradaria nem a gregos nem a troianos, e também esbarra no fato deste tipo de pontuação normalmente já estar determinada a nível da IES). Poderia também ser o caso de calibrar o sorteio dos pontos, introduzir algumas novidades na prova didática, e por aí vai.

Contudo, quem já participou de bancas de concurso sabe que estas medidas são convites irresistíveis a recursos e toda sorte de imbróglios jurídicos. Exigir graduação em filosofia, por outro lado, é uma maneira mais segura, ainda que falível, de aumentar a probabilidade de contratação de uma pessoa com ampla formação em filosofia e, concomitantemente, competente em temas avançados de lógica. É uma garantia? Não, obviamente. É razoável exigir alguma garantia neste processo? Não creio. É um processo justo, do ponto de vista de quem supostamente "merece" uma posição no serviço público pela sua dedicação e conquistas acadêmicas na área? Também não creio. Pode ser razoavelmente justificada do ponto de vista do interesse público? Possivelmente sim.

Agora, quanto ao edital do concurso em tela, não consigo sequer especular quais motivações levaram à exigência de diploma de graduação em filosofia. Se tivesse que adivinhar, diria que sequer refletiram tanto sobre a questão quanto nós aqui na lista e simplesmente fizeram o conhecido copia-cola-e-ajusta do último edital lançado.

Cordialmente,

[1] Para quem se interessa pelo tópico, recomendo a coletânea "Meritocracy and Economic Inequality" editada por Kenneth Arrow etal. como aperitivo inicial.

--
Hermógenes Oliveira

Ricardo Grande

unread,
Dec 15, 2022, 12:10:41 PM12/15/22
to Joao Marcos, Marcos Silva, Daniel Durante, LOGICA-L, Cassiano Terra Rodrigues, aldofigallo, joaov...@gmail.com, João Daniel Dantas, jmstern
Como disse o João, a discussão se estendeu bastante, mas gostaria de dar um pitaco. Quando esse edital apareceu, copiei os tópicos e comentei com amigos que dão aulas de filosofia em algumas instituições. Então, a questão foi, felizmente, bem colocada aqui

Já vi editais bem escritos e muito inclusivos, mas vi também casos estranhos como o do ex-ministro da educação, A. Weintraub - embora não seja de filosofia, claro. 

Sobre o caso da filosofia, muito foi dito já, mas deixo a matéria do UOL a respeito do Weintraub apenas a título de curiosidade.



"Selecionado para lecionar no campus de Osasco, onde o irmão e a mulher já davam aulas, Abraham Weintraub passou por um exame em três etapas: análise da experiência do candidato, prova didática e prova escrita. Único candidato à vaga, o hoje ministro foi aprovado com média 7,0, escapando por pouco de uma reprovação".

Era só isso que queria falar, Abraços, Ricardo.

--
LOGICA-L
Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de Lógica <logi...@dimap.ufrn.br>
---
Você está recebendo esta mensagem porque se inscreveu no grupo "LOGICA-L" dos Grupos do Google.

Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, envie um e-mail para logica-l+u...@dimap.ufrn.br.

Cassiano Terra Rodrigues

unread,
Dec 15, 2022, 4:11:11 PM12/15/22
to Ricardo Grande, Joao Marcos, Marcos Silva, Daniel Durante, LOGICA-L, aldofigallo, joaov...@gmail.com, João Daniel Dantas, jmstern
Camaradas, de fato, avançou. Mas todas as pontuações contribuíram.
Concurso público, neste país, é uma exigência recente, foi a Constituição de 88 q consolidou. Antes disso, era na base do Quem Indica mesmo, ou pegavam as pessoas no corredor. Que há distorções, todos sabemos, é por isso q aqui tb debatemos, mas dado q é um tema q nos diz respeito diretamente, é natural q cause reações,  ainda mais pq se relaciona com pontos sensíveis, como privilégios, direitos e carreiras públicos. Enfim. 
Peço desculpas se pareci ríspido ou agressivo com alguém, posso ser atabalhoado, mas não quero me indispor ninguém, longe disso. Há pessoas muito queridas e muito respeitadas, por mim e por todo mundo, aqui. 
Só uma coisa. Ricardo: 

Sobre o caso da filosofia, muito foi dito já, mas deixo a matéria do UOL a respeito do Weintraub apenas a título de curiosidade.



O Weintraub fez concurso pra Contábeis, é formado em economia. Já publicaram até q foi o irmão dele, do direito, q organizou a banca. 
Mas com a filosofia, qual a relação? É um exemplo de graduado numa área q virou professor em outra? 
Não entendi...


Saudações, 
cass. 


samuel

unread,
Dec 16, 2022, 6:55:14 AM12/16/22
to LOGICA-L, LOGICA-L
Caros,

Só pra confirmar a informação da UFBA que apareceu, 

Por vários anos aqui no Departamento de Matemática houve concursos por subáreas específicas,

E no caso de Lógica conseguimos (não foi fácil...) que fosse possível a inscrição de Doutores em Filosofia, desde que a tese de doutorado
fosse em Lógica Matemática (esse era o procedimento da Congregação para homologação de candidaturas).

No entanto, com o final das vagas de REUNI e etc., ultimamente os concursos aqui no Departamento de Matemática estão
sendo concursos gerais de Matemática. Em particular, os pontos para prova escrita e didática são gerais de Matemática.

Por outro lado, acho que até  por uma questão da tradição ter sido criada, o título de Doutor em Filosofia (com tese em Lógica
Matemática) continua sendo aceito na inscrição desses concursos gerais.

Até

[]s  Samuel

Joao Marcos

unread,
Dec 16, 2022, 7:04:39 AM12/16/22
to Cassiano Terra Rodrigues, LOGICA-L
> Concurso público, neste país, é uma exigência recente, foi a Constituição de 88 q consolidou.

E não foi o último passo do processo! Os concursos, nos últimos anos,
têm ficado cada vez mais complicados e longos (e, com isso,
particularmente caros para os candidatos). É o progresso.

JM
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