[Logica-l] a contratação de um lógico para um Departamento de Filosofia "ideal"

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Joao Marcos

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Oct 13, 2008, 10:33:50 AM10/13/08
to Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA
PessoALL:

Suponha que vocês tivessem que constituir uma lista de tópicos a serem
cobrados no exame discursivo para a contratação de um professor
adjunto *na área de Lógica* para o Depto de Filosofia dos seus sonhos.
Que tópicos seriam esses?

Obviamente, cada departamento terá seus interesses específicos, ao
contratar um novo professor. Seria interessante contudo se fôssemos
capaz de definir uma lista básica de "habilidades" e "conhecimentos"
fundamentais mais ou menos de comum acordo dentro da comunidade de
Filosofia ---que é talvez, no Brasil, a comunidade em que há mais
trabalho ainda por se fazer no sentido de desenvolver currículos que
promovam uma formação minimamente adequada na área de Lógica para
formar profissionais que consigam acompanhar o que se tem feito por
aí. Se cada um dos colegas interessados puder sugerir 2 ou 3 tópicos
que considera fundamentais, fica fácil construir esta lista.

Como dizia Atatürk, "os educadores são os únicos salvadores das
nações" (o que me faz recordar a longa discussão recente aqui sobre
"filosofia-como-projeto-de-salvação", mas por favor ignorem a
digressão).

Saudações lógicas,
JM

Joao Marcos

unread,
Nov 2, 2008, 11:42:03 AM11/2/08
to Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA
Olás outra vez:

Há 3 semanas lancei aqui a questão sobre a lista de *competências* que
seriam consideradas desejáveis para o caso da contratação de um lógico
para um Depto de Filosofia "ideal". Recebi apenas duas respostas,
off-list, que reproduzo brevemente abaixo. Reproduzo ainda, de
maneira complementar, a lista de tópicos do recém-anunciado concurso
na UFS, para fins de comparação e completude.

Quero acreditar que o tema é relevante (ouvimos sempre gente
reclamando de que os filósofos no Brasil e em Portugal em geral não
têm recebido formação "adequada" em Lógica), e que haverá mais
*opiniões* a serem colhidas aqui nesta lista (está na hora de
realizarmos algo que possa "fazer a diferença"!). Mais alguém
sugeriria algum tópico importante? (observem que não estou inquirindo
a respeito de temas de *pesquisa* importante, mas a respeito do
conhecimento "mínimo" que desejaríamos que os nossos professores
tivessem para fins de *ensino*) A questão também parece ser do
interesse de outros campos de estudo, dado que os departamentos de
Filosofia frequentemente "prestam serviço" para outros cursos
oferecendo disciplinas sobre tópicos como "lógica", "raciocínio
crítico", "retórica e argumentação" e "metodologia da ciência".
Estarão os nossos professores adequadamente preparados para a tarefa?
Em caso contrário, o que lhes falta?

Observem ainda que o objetivo não é levantar um "debate" interminável
sobre o assunto, mas simplesmente a construção de uma lista mais ou
menos extensa a partir da qual os departamentos possam em teoria
selecionar pontos de interesse *atual* para os seus eventuais
concursos.

E então, alguém mais teria algo a acrescentar?

jm

PS: Quando esta lista completou 1 ano uma enquete foi realizada sobre
os interesses e campos de atuação dos seus membros
(http://www.dimap.ufrn.br/pipermail/logica-l/2007-April/001143.html).
A se manterem os percentuais daquela época, teríamos hoje mais de 100
membros cujo trabalho/estudo se encaixa na grande área "Filosofia"...

* * *

Resposta do membro 01:

. Introdução ao Cálculo Proposicional
. Introdução ao Cálculo de Predicados de Primeira Ordem
. Metalógica: correção, completude e principais corolários
. Métodos de Inferência Não-Dedutivos
. Lógica e Epistemologia: o conceito de verdade
. Lógica e Metafísica: o conceito de necessidade

* * *

Resposta do membro 02:

eu cobraria que ele soubesse fazer provas limpinhas em ZF (incluindo o
axioma do infinito, se possível) e em Dedução Natural (pelo menos no
fragmento contendo "e", "implica" e "verdadeiro")

* * *

Concurso da UFS - outubro de 2008

PONTOS:
1. A silogística aristotélica: conversão de proposições, as regras dos
silogismo, dedução direta e indireta (redução do absurdo), a lógica
aristotélica como um sistema natural de dedução.
2. A lógica estóica: o estudo das condicionais, a lógica estóica e sua
relação com a lógica aristotélica na antiguidade e no Medievo.
3. Aristotélica e o estudo dos sofismas: espécies, definições e exemplos
4. Da importância das linguagens artificiais para a filosofia em geral.
5. o Cálculo de predicados de primeira ordem.
6. Tabelas de verdade e a noção de conseqüências semântica
7. Lógica Modal Alética: O sistema S5.
8. Verdade e o Paradoxo do Mentiroso
9. Lógica Clássica X Lógica Heterodoxas
10. O Ensino da Lógica.

* * *

2008/10/13 Joao Marcos <jma...@dimap.ufrn.br>:

Joao Marcos

unread,
Nov 9, 2008, 5:05:22 PM11/9/08
to Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA
Olás, divulgo a resposta abaixo na lista com a autorização da autora.

JM


---------- Forwarded message ----------
From: Andrea Loparic <alop...@gmail.com>
Date: 2008/11/6
Subject: Re: [Logica-l] a contratação de um lógico para um
Departamento de Filosofia "ideal"
To: Joao Marcos <jma...@dimap.ufrn.br>


Olá colegas,

Encontrei o Coniglio na Anpof e ele me seduziu pra essa lista.
E estou achando legal.

Bem, a questão que põe o João Marcos é bem relevante. E a resposta que
me parece correta é a mais acaciana: um professor de lógica ideal para um
departamento de uma das áreas onde são dados cursos de lógica devia
preencher dois requisitos fundamentais:

1) Ser um profissional graduado na área em questão (penso aqui nas áreas:
de Filosofia, Matemática ou Computação);

2) a) Dominar plenamente os temas básicos da Lógica Contemporânea Clássica,
incluindo necessariamente o Cálculo Proposicional e o Cálculo de Predicados
com e sem Identidade, vistos numa versão semântica e em várias versões
dedutivas,

b) Ter alguma formação e boa informação sobre temas mais avançados da Lógica
Contemporânea Clássica (teoria dos modelos, teoria dos conjuntos,
teoria da prova, metamatemática, computabilidade)

c) Ser bem informado sobre temas afins, incluindo:
- história da lógica
- lógicas não clássicas
- questões básicas concernentes a fundamentos das ciências formais
- questões básicas da filosofia da linguagem

d) Acompanhar o que está sendo pesquisado atualmente na área

Esse perfil é difícil de encontrar? Sim. Mas deveríamos cuidar de
formar e estimular
o surgimento de alunos que ao menos visassem ter essa formação. Acredito que o
item 1) é muito importante. Afinal, um professor de lógica não pode tornar-se um
estranho no ninho. Ele deve poder dialogar com os colegas sobre
questões concernentes
à sua área. Um professor de Lógica na Matemática deve ser um matemático que faz
Lógica; na filosofia, um filósofo que faz Lógica. E assim por diante.
Quando esse
princípio é observado, muito se evita em brigas, confusões e trapalhadas.

É o que penso, João Marcos.

Um abraço,

Andréa Loparic

Carlos Gonzalez

unread,
Nov 9, 2008, 8:47:34 PM11/9/08
to Joao Marcos, Carlos González, Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA
Olá João Marcos,

Eu tenho muitas dúvidas com uma questão já discutida nesta lista com
relação aos concursos:

-> 1) Ser um profissional graduado na área em questão (penso aqui nas áreas:
-> de Filosofia, Matemática ou Computação);

1) Em primeiro lugar, eu não sou favorável a valorizar a graduação se
tem um doutorado ou antecedentes de pesquisa original na área. Se uma
pessoa tem título de doutor, então tem resultados relevantes
interessantes de pesquisa. Mas, se ele criou um conhecimento relevante
não deve ter dificuldade em estudar sozinho, com bons livros como hoje
podem ser encontrados.

2) Lamentavelmente, mas muito lamentavelmente, o MEC relaxou e uma
graduação hoje é garantia de muito pouco. Assim como tem aquelas boas
graduações, tem por ai algumas outras nos quais entre os formados pode
encontrar pouco mais que analfabetos funcionais. Não sei se Andrea
está sabendo desses cursos que esta tendo por ai.

3) A lógica é uma disciplina que está entre várias áreas, mas as
universidades contratam um profissional para atuar numa área
específica, quase sempre. Por exemplo, um matemático faz uma tese de
doutorado sobre teoria de conjuntos, álgebras de Heyting, etc., sem
nenhuma formação em questões filosóficas, epistemológicas nem de
história ou filosofia da matemática. Pode não ser proveitoso para um
departamento de filosofia contratar um docente dessas características.
Mas se a graduação não garante nada: o que fazer? Similarmente para
outras misturas de áreas. Tem que ter cuidado de não esquematizar,
pois as vezes é analisado um curriculum com muitos antecedentes em
filosofia da matemática e cria-se o preconceito de que essa pessoa não
vai ser muito boa ensinando álgebra.

4) A única garantia de contratar um bom professor e uma banca de alto
nível, capaz de avaliar pesquisas na área com critérios científicos.
Eu acho que o melhor não é colocar graduações ou antecedentes
limitantes, mas deixar claro no edital do concurso que a banca vai a
avaliar conhecimentos necessários. E que a banca seja exigente. Que
leia e entenda as pesquisas realizadas pelos candidatos. Que saiba o
nível e o pretígio das publicações periódicas na área (ou, ao final,
usar o qualis?)

Eu penso que a anterior deveria ser substituída por:

1) Ser um profissional com boa formação na área em questão (Filosofia,
Matemática ou Computação);

Esta formação poderia ser avaliada pela banca mediante interrogatório
direto ou provas e pela análise de antecedentes relevantes,
fundamentalmente publicações na área.

Carlos Gonzalez

2008/11/9 Joao Marcos <jma...@dimap.ufrn.br>:

> _______________________________________________
> Logica-l mailing list
> Logi...@dimap.ufrn.br
> http://www.dimap.ufrn.br/cgi-bin/mailman/listinfo/logica-l
>

Andrea Loparic

unread,
Nov 10, 2008, 8:09:45 AM11/10/08
to Carlos Gonzalez, Joao Marcos, Carlos González, Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA
Olá, Carlos,


Dependendo de como entender sua formulação:

1) Ser um profissional com boa formação na área em questão (Filosofia,
> Matemática ou Computação);

posso estar de acordo. Assim como estou de acordo que não é qualquer
diploma de graduação na área específica que satisfaz o que pretendi
com a formulação anterior. A questão é que a avaliação de uma banca
me parece formnecer uma garantia ainda menor do que estamos visando
- você e eu, acredito. Assim como você disse: uma boa banca, poderíamos
dizer: uma graduação em instituição de reconhecido nível...
Mas há um ponto que quero frisar: não acredito em formação autodidata
na área de filosofia. Ë muito mais fácil saber o que é uma formação numa
área de exatas do que na área de filosofia, que importa num tipo de maturação
muito particular.

Um abraço,

Andréa

2008/11/9 Carlos Gonzalez <gonz...@gmail.com>:
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