A primeira coisa que tentamos explicar na mensagem anterior é que as críticas (1) e (2) são (classicamente) contraditórias.
Ou seja: não dá para sustentar as duas críticas ao mesmo tempo. A explicação é simples: o argumento apresentado para "provar" (1) pode ser aplicado, mutatis mutandis (e a prova disto segue abaixo), para "provar" a seguinte variante da sua afirmação acima:
Teorema 9.4 é equivalente ao conhecido resultado "todos os axiomas (daí todos os teoremas) de ZFC são válidos em V(B), para cada álgebra booleana completa B".
Se assumimos que os resultados do livro de Bell são corretos (acho que concordamos nesse ponto), então a crítica (2) (que afirma que o Tteorema 9.4 não vale) é falsa. Logo, (1) e (2) são inconsistentes.
[Só pra constar: como é que aplicamos os seus argumentos de (1) mutatis mutandis para PS3 e (PS3,*)? Muito simples: a conjunção e disjunção de PS3 coincidem com a de LPT0. Dado que PS3 tem bottom 0, o termo x => 0 define a negação forte ~x de LPT0. Assim, as operações das estruturas twist de PS3 para a conjunção, disjunção e negação forte são as mesmas daquelas consideradas em (1). Com relação à implicação => de PS3, diferente daquela de LPT0, quando passamos para as estruturas twist, a primeira coordenada da implicação nas twist para PS3 coincide com a primeira coordenada da implicação nas twist para LPT0 (sendo nos dois casos a implicação Booleana das respectivas primeiras coordenadas). Isso mostra que as operações consideradas no argumento em (1) para LPT0 também se aplicam para PS3. E dai para (PS3,*), dado que a negação paraconsistente * é a mesma de LPT0.]
Visto que não dá para fazer as duas críticas simultaneamente, e esperando não cansar os outros leitores desta lista com esta longa discussão, apresentaremos a seguir breves considerações para mostrar que nenhum dos argumentos dados na sua mensagem em favor de (1) e (2) procedem.
Comecemos por (2), que é mais fácil de analisar por se tratar apenas de um erro de interpretação da terminologia. O Corollary 5.2 do paper de Loewe-Tarafder diz exatamente:
COROLLARY 5.2. For any filter D, all axioms of NFF-ZF are D-valid in V(PS3).
Esclarecendo para os demais leitores, D é o conjunto de valores distinguidos para analisar os modelos. Pode ser D={1} ou D={1, 1/2}.
Por outro lado, NFF é definido na pag. 193 (pag. 2 do pdf) como sendo o conjunto de "negation-free formulas". Tecnicamente, e como consta nesse trecho do artigo, é a álgebra de fórmulas obtida das atômicas com os quantificadores universal e existencial, conjunção, disjunção, implicação e bottom. Assim, a negação clássica pode ser definida em NFF (embora o nome possa levar a enganos). O artigo esclarece isso em várias oportunidades. Por exemplo, no fim da pag. 193 (pag. 2 do pdf) é afirmado:
"if the logic we are working in allows to define negation in terms of the other connectives (as is the case, e.g., in classical logic), then every formula is equivalent to one in NFF". Ou seja: negation-free fórmulas sobre a lógica clássica tem negação clássica (embora não primitiva). Não paraconsistente ou paracompleta, mas clássica.
E o que significa então a NFF-ZF do Corollary 5.2? Obviamente é a teoria de conjuntos ZF da lógica clássica expresada na linguagem NFF. Sem negações clássicas (explícitas), mas representando elas como ~p = p -> F onde F é o símbolo do bottom. Logo, NFF-ZF coincide com ZF clásico completo, com negações clássicas (mas não paraconsistentes ou paracompletas), e então o Corollary 5.2 afirma, *sim*, que V(PS3) é modelo de ZF clássico, completo, sem negações paraconsistentes (mas com negações clássicas). Para constatar estas afirmações reproduzimos o final do primeiro parágrafo da pag. 197 do paper de Loewe-Tarafder (pag. 6 do pdf):
We write NFF-Separation and NFF-Replacement for the axiom schemes where we only allow the instantiation by negation-free formulas, and we write NFF-ZF− and NFF-ZF for negation-free set theory using these schemes [ZF− é ZF menos Foundation]. We emphasize once more that in settings where negation can be defined in terms of negation-free formulas (such as classical logic), this coincides (up to provable equivalence) with standard Zermelo-Fraenkel set theory.
A última frase é definitiva: NFF-ZF coincide (a menos de linguagem) com ZF completa (com negação). Logo, repetindo mais uma vez, o Corollary 5.2 prova que V(PS3) é um modelo de ZF, incluindo NFF-Separation (que é equivalente o axioma de Separação clássico, como consta na frase acima extraída do texto original).
Nós mostramos no nosso artigo que é possível generalizar PS3 (que é uma estrutura twist definida sobre a álgebra de Boole de 2 elementos) para estruturas sobre qualquer álgebra de Boole completa, e todas elas (incluindo PS3) satisfazem *também* o Axioma da Escolha (ver Teorema 9.4).
Vamos agora à crítica (1): a crítica aponta a suposta trivialidade do Theorem 8.21, que estabelece que os twist-valued models sobre LPT0 satisfazem ZFC. Isto seria obviamente deduzível do resultado provado em Bell para Boolean-valued models. Vamos ao seu argumento: