Definição de Design Livre

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Frederick van Amstel

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Oct 2, 2011, 12:56:39 PM10/2/11
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Mudando o tópico, que já fugiu bastante do original (Elementos da Experiência do Usuário e Desenvolvimento Ágil)

Hugo disse:

Fred: acho que tá passando da hora de você socializar algo mais organizado sobre o Design Livre que está em algum lugar aí :)

No momento eu não posso dar uma definição consistente sobre Design Livre porque está ainda em fase de gestação. Cada conversa sobre o assunto reconfigura seu rumo. Temos várias pessoas discutindo sobre o assunto e cada um pensa diferente. Acho bacana manter essa diversidade.

Outro dia tive um debate acalorado aqui com meus colegas da Universidade que insistiam que eu deveria fixar uma definição do que é Design Livre para começar meu trabalho de pesquisa. Mas eu acho muito cedo para uma definição. Penso que quando se define um objeto, ele morre. É o fim, não o começo. Você não consegue ver o objeto depois disso, apenas a definição que tomou pra si.

Como resposta para meus colegas, compilei uma série de propostas práticas para o Design Livre. É um documento colaborativo, aberto para quem quiser colaborar:
https://docs.google.com/document/d/1bgjW-KNSmrWhLTLJkNtFXm5ExSgBZkhPUQSiI1cVUlg/edit?hl=pt_BR

Vamos organizar uns workshops em conferências para debater o assunto. Ainda em outubro teremos um no Rio de Janeiro.

Tb estou reativando as velhas discussões do Usabilidoido:
http://www.usabilidoido.com.br/design_e_criacao_coletiva.html

E tem meu blog em inglês:
http://fredvanamstel.com/blog/the-designers-role-in-a-free-design-world
http://fredvanamstel.com/blog/open-design-and-free-design-are-not-the-same

Por enquanto, minha principal referência acadêmica para o Design Livre é a tese de doutorado do Caio Vassão (que prefere chamar de Arquitetura Livre). Ele esmiuça o Metadesign (esse lance de projetar plataformas, não produtos) e propõe a Arquitetura Livre como alternativa semi-formal, mais flexível para desenvolvimento distribuído de projetos. É um trabalho filosófico de fôlego baseado em Delleuze, Virillio e Levy, mas não ajuda muito quem quer desenvolver projetos de Design Livre na prática. Ainda falta fazer uma ponte aí.
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16134/tde-17032010-140902/pt-br.php

--
.
.{ Frederick van Amstel }.
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Faber-Ludens Interaction Design Institute
http://www.faberludens.com

Hugo Cristo

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Oct 2, 2011, 3:05:55 PM10/2/11
to desin...@googlegroups.com
Como resposta para meus colegas, compilei uma série de propostas práticas para o Design Livre. É um documento colaborativo, aberto para quem quiser colaborar:
https://docs.google.com/document/d/1bgjW-KNSmrWhLTLJkNtFXm5ExSgBZkhPUQSiI1cVUlg/edit?hl=pt_BR

Fala Fred,

Muito legal compartilhar aquele doc. Agora deu pra ter um contorno mais claro de onde você quer chegar.

Discordo de que o texto do Caio (e do Deleuze por tabela) não ajude a projetar na prática. Talvez não ajude na idéia do Design Livre, mas é uma das contribuições mais impressionantes que eu conheço da filosofia para o Design. Tem muita coisa acontecendo na parte mais computacional do design, arquitetura e artes visuais que são baseadas naquela proposta.

Enfim, algumas coisas ficaram bem mais claras pra mim:

1) Patterns x Design Livre
Vocês estão MUITO distantes da idéia das patterns do Christopher Alexander. Foi legal finalmente entender isso na proposta pois você já deve ter percebido que eu fiquei muito incomodado com essa idéia de o "Design Livre abre a caixa preta do processo de design". Eu enchi o saco do Gonzatto no Intercon do ano passado por causa dessa história, mas foi simplesmente por não entender o que vocês estão chamando de "processo" e de "abertura".

Particularmente acho que a comunidade de design de interação usa o Alexander de um jeito ruim (como práticas ao invés de conceituação) e acredito que com o foco no design knowledge, sua proposta ganha um fôlego diferente e supera essa idéia enjoada de ficar montando repositórios de tudo.

Você já deve ter espiado o Nonaka. Se não, espie. Ele vai discutir esse problema da transformação do conhecimento tácito para algo coletivo, consciente e ativo, e além disso tem muita gente fazendo pontes muito legais dele com o Vygotsky e seus capangas, que são a sua praia também.

2) Termos
Não vou entrar no mérito da sua briga pelos termos (free x open), até porque eu mesmo resolvi brigar por um (design computacional) e acho que a briga faz sentido, apesar de concordar com alguns questionamentos do Massimo lá no seu blog.

3) Design Thinking
Tenho certeza de que você não precisa disso, embora as semelhanças na intenção sejam tentadoras. O DT é top-down (de nós para o mundo), enquanto a sua proposta deixa claro, pelo menos no posto do blog, que vocês acreditam que o mundo já tá fazendo isso de forma distribuída, descentralizada, rizomática, deleuziana =)... É fato, ninguém discute.

Acho sim que o pensamento projetual, na linha do que já comentaram aqui, pode ser um caminho mais promissor. O problema é que, do ponto de vista da tal "tomada de consciência" dos designers livres, fico curioso para saber se você vai precisar discutir a essência, fundamentos ou conceitos elementares do design. Digo isso porque, em certa medida, sua questão é um pouco do letramento: todo mundo sabe falar, escrever e tudo mais, só que existe uma camada de conhecimento que, quando sistematizada, transforma aquilo que já se sabe de forma tácita em algo poderoso e explícito, capaz de amplificar as competências e habilidades das pessoas para efetivamente projetar. O problema é como ajudar a pessoa a colocar os encaixes no lugar e perceber que, daquele momento pra frente, não é mais intuição pura ou tentativa e erro, mas... design livre?

4) Design Livre x Computacional
Alguns princípios que você defende estão na essência de ferramentas como o Processing, PureData, Arduino e tal.  Não pela abertura em si, mas pela oferta de ambientes e plataformas que permitem que o letramento aconteça pela ação e motivações próprias dos indivíduos e não pela educação formal. Eu encontrei dois vídeos muito legais que explicam isso no marco zero: http://www.designcomputacional.com.br/2011/10/processing-puredata-openframeworks/

Se estou entendendo direito, na sua cabeça um Arduino da vida favoreceria a emergência de um design livre, mesmo que o projeto em si não seja resultado ou não esteja alinhado com esses princípios nas intenções originais do Banzi.

Compartilhe mais, sempre que puder.

Abs :)

Gonçalo Ferraz

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Oct 2, 2011, 9:15:40 PM10/2/11
to desin...@googlegroups.com
Será que o Design não consegue se definir por estarmos num período de
imensa transição tecnológica (então socio-cultural) e ele --
design/projética -- estar acompanhando isso, mais ao lado da
tecnologia do que do profissional/humano em si, sendo talvez algo que
só vá se configurar quando a maré acalmar um pouco, até chegar na
nossa velocidade de apreensão das coisas?

--
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Sonho que se sonha só
é só um sonho que se sonha só
Mas sonho que se sonha junto
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Carlos Kramer

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Oct 2, 2011, 9:22:53 PM10/2/11
to desin...@googlegroups.com
Muito legal a iniciativa de compartilhar o doc, Fred.

Eu gosto do caminho proposto, como disse na outra discussão, eu vivo isso e vejo que em parte do processo o caminho é mesmo o de se tornar um propiciador, um mediador, pois a solução será obra de muitos. Vou apenas deixar algumas reflexões a esmo, decida se elas contribuem de alguma forma:

1 - Me parece que uma consequência do Design Livre será a de algumas empresas julgarem que não é necessário ter um designer em suas equipes. Longe de defender reservas de mercado, o que me incomoda nisso é que as empresas estariam perdendo bastante. Acho importante frisar que, se hoje o designer não contribui para mais do que criar formas, isso se deve a má formação, focada em ferramental e não em reflexão. Exemplos como os círculos do Google+ ou os Social Proxies do Tom Erickson não teriam surgido sem que alguém se debruçasse de maneira reflexiva, e ao mesmo tempo com mentalidade projetual, sobre um problema a ser resolvido. Eu não sugiro que esse alguém precise ter um diploma de Design, mas se designers de um modo geral se preocupassem mais em entender de gente, inovações como essas seriam mais frequentes. Num mundo de patterns e de designers que não se debruçam sobre problemas particulares, acho que a inovação será mais rara. E no fim, o que teremos é um grupo específico de pessoas atuando como designers da mesma forma, talvez com outro nome. De certa forma, por tabela, o que o Design Livre parece postular é que o designer não é realmente necessário para fazer o que faz hoje, e isso eu acho mais complicado. Repito, não estou falando de reserva de mercado; se quem vai atuar como designer é o dono da empresa, o programador, ou alguém com doutorado na área, isso já não é tão relevante. 


2 - Considerando o que escrevi acima, de que forma o design livre contribuiria para melhorar a qualidade dos produtos? E de que forma contribuiria para um design mais "human centered"? Entendendo aí "human centered" não como UCD, ou como técnicas de pesquisa com usuários, mas sim como design focado em melhorar a vida humana, design que presta serviço ao ser humano. Isso é relevante?


3 - [modo provocação: on] Li o texto do usabilidoido que linkou. Me estranha muito esse teu namoro com o materialismo dialético :) Tenho a impressão de que não há nada mais distante do materialismo dialético do que o Design Livre. Como defender na prática uma nova forma de exercer uma atividade humana baseada na liberdade com uma teoria determinista que subordina o pensamento humano à seus limites materiais? O Design Livre nega na prática a teoria marxista. E o marxismo, do ponto de vista das ciências sociais, está empiricamente refutado (vide a pluralidade de culturas compartilhando um mesmo modo de produção). Aliás, o materialismo histórico nega-se a si mesmo no momento exato em que é formulado. Só não jogaram a pá de cal sobre o marxismo por motivos puramente político-ideológicos: ele serve para que alguns partidos ao redor do mundo manipulem a raiva das massas na hora que convém. Enfim, queria entender melhor de que forma essas coisas combinam.

4 - A dialética, no sentido clássico (proposição X antítese = síntese), essa sim poderia servir ao design livre.


Abraços!


Carlos Krämer





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Andrei Gurgel

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Oct 2, 2011, 9:28:25 PM10/2/11
to desin...@googlegroups.com

Eu adoro o que disse Paul Rand, que aqui também nos cabe:

"... Design é um termo infeliz, mas apesar de tudo
é a palavra que nos coube, da qual não podemos nos livrar."

Conversas com Paul Rand, pag 55

Andrei Gurgel



2011/10/2 Gonçalo Ferraz <goncal...@gmail.com>

Hugo Cristo

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Oct 2, 2011, 9:29:54 PM10/2/11
to desin...@googlegroups.com
 De certa forma, por tabela, o que o Design Livre parece postular é que o designer não é realmente necessário para fazer o que faz hoje, e isso eu acho mais complicado [...]

Carlos,

IMHO, essa é a principal contribuição do Design Livre e das demais ontologias que tentam deslocar o foco do design dos produtos para os procesos (Bonsiepe, Alexander etc).

Talvez o único espaço onde essa argumentação pode e deve surgir é o acadêmico, justamente para repensarmos que diabo de profissional inútil é esse que estamos formando.

Abs :)

Carlos Kramer

unread,
Oct 2, 2011, 9:31:12 PM10/2/11
to desin...@googlegroups.com
Uma outra coisa:

Como atividade de concepção o design já é livre. Como atividade operacional, produtiva, ainda não é tão livre. Quando vejo você comentando sobre design livre, principalmente quando fala de patterns, DIY kits e etc, me soa como se estivesse dizendo que o foco é tornar livre esse aspecto mais operacional do design, não tanto a atividade conceptiva, aquela em que o designer pensa e projeta o novo conceito. E essa impressão me causa estranheza justamente por que eu acredito que na prática é essa atividade mais macro que é cada vez mais livre. 


Abraços!

Carlos Krämer

+55 (21) 9803.2408




Gonçalo Ferraz

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Oct 2, 2011, 9:58:56 PM10/2/11
to desin...@googlegroups.com
Me veio algo aqui: Essa discussão, em busca de uma definição, não
havendo qualquer citação, uma vez que lido o conhecimento é seu, seria
Design Livre.

Frederick van Amstel

unread,
Oct 3, 2011, 3:14:37 AM10/3/11
to desin...@googlegroups.com
Hugo, eu acho que o Design Livre é uma espécie de releitura do movimento Design Methods dos anos 60 e 70, citado pelo Renato. Esse pessoal fez muita pesquisa séria sobre como os designers trabalham. Alguns deles chamaram isso de Design Thinking, muito antes da IDEO transformar em conceito de marketing. Esse Design Thinking anterior não é top-down, mas é bem diferente do Design Livre.

A diferença principal é que não temos os mesmos objetivos. Enquanto naquela época se tentava atingir a essência do design, seja por princípios universais ou por reincidência de práticas, no momento o que estamos tentando é criar espaços de convivência e hibridização entre várias visões e metodologias de design. Nós queremos mesmo é profanar o design, desmistificá-lo, gerar métodos mestiços e projetos recombinantes. Enfim, comer o rizoma com vatapá.

Estou nesse momento escrevendo um artigo para um congresso de design na Itália que liga o Design Livre ao canibalismo cultural brasileiro, principamente pela influência do Gilberto Gil. Estou tentando sempre que possível buscar fundamentação para o Design Livre em nossa cultura. Acho que temos muita coisa bacana pra mostrar pros outros países.

Frederick van Amstel

unread,
Oct 3, 2011, 3:55:24 AM10/3/11
to desin...@googlegroups.com
Carlos disse:
1 - Me parece que uma consequência do Design Livre será a de algumas empresas julgarem que não é necessário ter um designer em suas equipes. Longe de defender reservas de mercado, o que me incomoda nisso é que as empresas estariam perdendo bastante.

Você está pensando no Design Livre como uma proposta para empresas, mas ele vai além. O Design Livre é uma proposta para a sociedade em geral, incluindo empresas, ONGs, indivíduos, ativistas políticos e terroristas.

A demanda por Design no mundo é muito maior do que os profissionais especializados no assunto possam dar conta. E essa demanda é variada, dinâmica e emergente. Os designers formados, como todos os profissionais especialistas, tendem à posições confortáveis onde o status quo esteja garantido. Expandir as vagas nessas posições para atender a demanda de design não é viável, pois burocratizaria o design, acabando de uma vez por todas com a inovação. Imagine um cenário onde todo e qualquer projeto tivesse que ter aprovação de um designer para ser executado?

2 - Considerando o que escrevi acima, de que forma o design livre contribuiria para melhorar a qualidade dos produtos? E de que forma contribuiria para um design mais "human centered"? Entendendo aí "human centered" não como UCD, ou como técnicas de pesquisa com usuários, mas sim como design focado em melhorar a vida humana, design que presta serviço ao ser humano. Isso é relevante?

Embora no passado eu tenha engrossado esse discurso de que o Design humaniza as tecnologias, hoje em dia tenho pensado que esse argumento é um pleonasmo. Não há nada mais humano do que a tecnologia, principalmente, em suas aplicações abstratas, ditatoriais, mortíferas e doentias. Embora algumas pessoas digam que isso é "desumano", não consigo pensar que outra espécie de vida nesse planeta seria capaz de fazer tal coisa senão o próprio ser humano.

A tecnologia, entretanto, é apenas uma das possibilidades de ser humano. Enquanto ela for celebrada como principal vetor de mudança social, estaremos perdendo a oportunidade de desenvolver outras habilidades humanas, como o amor, a arte, a espiritualidade.

A cada vez que alguém repete: "a tecnologia mudou nosso cotidiano assim e assado", não vemos outra possibilidade de novas mudanças a não ser pela própria tecnologia. Não há uma via trascendente, não há outro caminho. E o capital faz a festa, levantando recursos naturais que parecem infinitos para a produção de bugigangas que servem para solucionar problemas causados por outras bugigangas. Mas é claro que isso não vai se sustentar por muito tempo.

Acho que, de um modo geral, a tecnologia raptou a esperança de uma sociedade melhor. O Design Livre que trazer de volta essa esperança através da autonomização dos sujeitos. A tecnologia como parte do sujeito, não como entidade externa, sob seu controle pelo conhecimento e pelo sentimento.

(desculpem pelo tom messiânico)
 

Hugo Cristo

unread,
Oct 3, 2011, 12:17:01 PM10/3/11
to desin...@googlegroups.com
Hugo, eu acho que o Design Livre é uma espécie de releitura do movimento Design Methods dos anos 60 e 70, citado pelo Renato. Esse pessoal fez muita pesquisa séria sobre como os designers trabalham. Alguns deles chamaram isso de Design Thinking, muito antes da IDEO transformar em conceito de marketing. Esse Design Thinking anterior não é top-down, mas é bem diferente do Design Livre.

Pra mim a releitura do Design Methods isso está clara, realmente com outras motivações. Só que aquela visão dos anos 50-70 sequer é a de um tipo de pensamento que é "de design". O Simon, que pra mim é o grande precursor da bagunça toda, entendia que qualquer atividade econômica era design, então... Difícil dizer o que estava fora do pacote e ainda mais difícil ligar aquilo com o DT de hoje.
 
A diferença principal é que não temos os mesmos objetivos. Enquanto naquela época se tentava atingir a essência do design, seja por princípios universais ou por reincidência de práticas, no momento o que estamos tentando é criar espaços de convivência e hibridização entre várias visões e metodologias de design. Nós queremos mesmo é profanar o design, desmistificá-lo, gerar métodos mestiços e projetos recombinantes. Enfim, comer o rizoma com vatapá.

Mas se o foco é gerar métodos, por mais canibalizante que seja a estratégia e por mais que a intenção seja profanar o design, seu problema continua na sistematização dos processos, não?

Quando falo em sistematizar fica parecendo chato e acadêmico e não é isso que estou dizendo. Estou falando que, para o Design Livre entrar no dia-a-dia das pessoas (seja por onde for), vocês terão que passar pelos mesmos problemas do povo do Design Methods e dizer como a coisa flui, ainda que haja uma pluraridade de caminhos.

Aí é que está a contradição: o rizoma cresce 'entre' as coisas e 'apesar' dos esforços a favor ou contra seu crescimento. A consistência da produção de sentido se dá por agencimentos (jogos de força) e não por sistematizações. Em outros termos, uma metodologia efetivamente rizomática é a da deriva, não a do programa. Todo o modernismo do Design Methods não consegue dividir um vatapá com os Situacionistas.

Mesmo assim a briga é boa e quero ver onde vai dar :)

Abs

Frederick van Amstel

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Oct 3, 2011, 3:13:10 PM10/3/11
to desin...@googlegroups.com
Hugo:
Mas se o foco é gerar métodos, por mais canibalizante que seja a estratégia e por mais que a intenção seja profanar o design, seu problema continua na sistematização dos processos, não?

Acho que meu problema principal é a autonomia. A sistematização vem depois disso, ou seja, ela é criada pelo próprio sujeito. Rabisquei algumas idéias ontem no meio dessa conversa que talvez ajude a entender melhor:
http://www.showme.com/sh/?i=51375

Aí é que está a contradição: o rizoma cresce 'entre' as coisas e 'apesar' dos esforços a favor ou contra seu crescimento. A consistência da produção de sentido se dá por agencimentos (jogos de força) e não por sistematizações. Em outros termos, uma metodologia efetivamente rizomática é a da deriva, não a do programa. Todo o modernismo do Design Methods não consegue dividir um vatapá com os Situacionistas.

A propósito, a "versão corporativa" do Design Livre do Faber-Ludens se chama DRIFT ;)
http://www.faberludens.com.br/pt-br/node/5862

Hugo Cristo

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Oct 3, 2011, 4:30:54 PM10/3/11
to desin...@googlegroups.com
A propósito, a "versão corporativa" do Design Livre do Faber-Ludens se chama DRIFT ;)
http://www.faberludens.com.br/pt-br/node/5862

Aí eu não entendi. Tem que ter versão corporate?

Abs
-- 
Prof. Hugo Cristo, Msc.
Doutorando em Psicologia - PPGP / UFES
Professor Assistente - Departamento de Desenho Industrial / UFES
Coordenador do Núcleo de Interfaces Computacionais / UFES
www.hugocristo.com.br | www.nicvix.com | www.twitter.com/hugocristo

Conheça a Teoria do Design Computacional: www.designcomputacional.com

Frederick van Amstel

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Oct 3, 2011, 5:12:55 PM10/3/11
to desin...@googlegroups.com
O DRIFT é basicamente uma aplicação de alguns (não todos) os conceitos do Design Livre para organizações. A gente vai até onde dá, mas as corporações em geral são sistemas bastante fechados.

O Faber-Ludens não é só uma comunidade virtual, nem só uma escola, mas também um escritório de consultoria.


--
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Hugo Cristo

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Oct 4, 2011, 12:45:07 AM10/4/11
to desin...@googlegroups.com
Fred,

Só pra comentar sua explicação (http://www.showme.com/sh/?i=51375): não entendi muita coisa no contexto da nossa discussão aqui. No final você diz que o design tático é o modus operandi do design livre e a coisa acaba ali.

A oposição que você faz entre design tático e estratégico é nova pra mim. Entendo essas abordagens como diferentes níveis na gestão do design e não como oposições ou jeitos distintos de projetar.

[ capitão nascimento mode = on ] A estratégia (a perder de vista) se realiza nas ações táticas (do aqui e agora, todos os dias).
 
O DRIFT é basicamente uma aplicação de alguns (não todos) os conceitos do Design Livre para organizações. A gente vai até onde dá, mas as corporações em geral são sistemas bastante fechados.

É... Se o design livre tá em gestação, o drift tá com uns dez anos e andando de bicicleta. O processo tá inteiro ali, do lé ao cré com direito a buzzwords e tudo mais. Tem cara de consultoria mesmo, mas vejo pouca diferença do que já se faz por aí, vide consultores em design do Sebrae e tal. Não estou diminuindo o serviço nem menosprezando os resultados, apenas ponderando que a versão corporate nem de longe realiza o tom messiânico da mensagem anterior :)
 
O Faber-Ludens não é só uma comunidade virtual, nem só uma escola, mas também um escritório de consultoria.

 Isso quer dizer que o design livre tem que gerar dinheiro? Melhor ainda, gerar dinheiro pra vocês? É uma pergunta sincera.

Abs

Frederick van Amstel

unread,
Oct 4, 2011, 8:44:06 AM10/4/11
to desin...@googlegroups.com
Hugo:
A oposição que você faz entre design tático e estratégico é nova pra mim. Entendo essas abordagens como diferentes níveis na gestão do design e não como oposições ou jeitos distintos de projetar.

Esse design tático que eu falo não é o operacional, não é o desdobramento, execução da estratégia. O tático que eu falo é o design de guerrilha. É o design das pequenas empresas tentando resistir as multi-nacionais. É o redesign do usuário. É uma visão que teria que elaborar mais, mas a inspiração vem do De Certeau.

 Isso quer dizer que o design livre tem que gerar dinheiro? Melhor ainda, gerar dinheiro pra vocês? É uma pergunta sincera.

Com certeza o Design Livre tem que gerar dinheiro não só pro Faber-Ludens, mas para qualquer outra organização que deseje desenvolvê-lo. Viabilidade financeira é um dos pontos fundamentais para introduzir mudanças no sistema social em que vivemos.

Mas essa é uma questão que ainda pode ser muito melhor desenvolvida. Precisamos experimentar novos modelos de negócios, pois o que tem sustentado os experimentos do Faber-Ludens hoje em dia é o tradicional modelo de consultoria: compartilha conhecimento, ganha visibilidade, ganha clientes.

Também temos que pensar como compartilhar resultados financeiros de projetos de Design Livre. No Corais agora a gente está contabilizando pontos de participação que no futuro talvez possam ser trocados por produtos e cursos do Faber-Ludens.

Carlos Kramer

unread,
Oct 4, 2011, 5:32:17 PM10/4/11
to desin...@googlegroups.com
Fred disse:
Imagine um cenário onde todo e qualquer projeto tivesse que ter aprovação de um designer para ser executado?

Trevas! Concordo que seria péssimo, por isso às vezes até me exalto defendendo a não regulamentação da profissão. Mas tem algo que ainda me incomoda na proposta do design livre, se é que entendi direito. E essa questão também vai para o Hugo, com relação a resposta que me deu: parece que vocês estão sugerindo que para fazer bom design não é necessária a existência de um bom designer. O conhecimento sobre design, tanto quanto o sobre carpintaria, já é livre, basta comprar livros ou pesquisar no Google. Iniciativas como o Corais são excelentes por facilitarem o acesso a esse conhecimento. Mas o Design não é uma ciência exata em que basta aplicar fórmulas para ter um resultado. O talento para desenvolver soluções e a experiência acumulada do indivíduo é fundamental para fazer bom design.  Quando os vejo falando de design livre ou de tirar o foco do produto e colocar no processo (caso do Hugo), tenho a impressão que concebem o Design mais ou menos como um receita de bolo ou uma fórmula: dado o problema X, aplique a técnica e o processo Y e obtenha o resultado Z. 

Além disso, ter uma "casta" de designers dedicados a pensar processos e ao metadesign, e outra "casta" que usa o conhecimento produzido pelos primeiros para aplicar no dia-a-dia, não me parece que torna o design mais livre, e sim mais proprietário.

Não chega a ser uma crítica porque não sei se entendi corretamente, nem sei se o conceito está suficientemente evoluído para que caiba uma crítica. Mas é um preocupação.

Abraços,

Carlos Krämer

+55 (21) 9803.2408




Hugo Cristo

unread,
Oct 5, 2011, 10:17:12 PM10/5/11
to desin...@googlegroups.com
Mas o Design não é uma ciência exata em que basta aplicar fórmulas para ter um resultado. O talento para desenvolver soluções e a experiência acumulada do indivíduo é fundamental para fazer bom design. Quando os vejo falando de design livre ou de tirar o foco do produto e colocar no processo (caso do Hugo), tenho a impressão que concebem o Design mais ou menos como um receita de bolo ou uma fórmula: dado o problema X, aplique a técnica e o processo Y e obtenha o resultado Z. 

Carlos,

É óbvio que não estou falando em receitas ou fórmulas. Estou falando que, na minha opinião, o foco de interesse do ato projetual não deveria ser a coisa que sai no final, mas o processo que leva à coisa. Isso não quer dizer que a coisa no final não importa e sim que ela não explica o processo que a gerou (nem por engenharia reversa). A repetição mecânica de um processo genérico, por outro lado, também não garante que a coisa saia (senão seria uma receita), mas a reflexão sobre o processo pode sim ajudar a chegar na tal coisa.

O foco está nos produtos em toda e qualquer área que desconhece como o design realmente opera. O foco está nos processos... bem... em qualquer livro básico ou currículo de escola de design? Escolha seu chato clássico favorito: Bruno Munari, Lobach, Baxter, Ulrich, John Chris Jones... O que existe ali além de processo?

Aliás, quem é que consegue vender qualquer diferencial competitivo do design se não pelo processo? O produto final a China copia em 24h. O problema é inventar a próxima coisa sem ter condições de pensá-la.

Abs

Frederick van Amstel

unread,
Oct 6, 2011, 5:31:50 AM10/6/11
to desin...@googlegroups.com
Carlos, acho que seus questionamentos são bem pertinentes.

Realmente existe o risco do Design Livre cair num processualismo baseado em receitas de bolo. Eu acredito que enfatizando a importância da autonomia dos sujeitos (considerando todos como potenciais designers) e tomando metodologia como uma construção individual podemos prevenir isso.

Mas, em última análise, quem vai definir o que será feito do Design Livre são as organizações e os indivíduos que fizerem parte do projeto. Se eles considerarem que o conhecimento de design é generalizável, transferível e controlável, teremos um tipo de Design Livre. Se considerarem o conhecimento de design situado, tácito e incerto, teremos um outro tipo de Design Livre.

Talvez essas duas visões possam coexistir e se misturar!



Em 4 de outubro de 2011 23:32, Carlos Kramer <kramer...@gmail.com> escreveu:
Fred disse:
Imagine um cenário onde todo e qualquer projeto tivesse que ter aprovação de um designer para ser executado?

Trevas! Concordo que seria péssimo, por isso às vezes até me exalto defendendo a não regulamentação da profissão. Mas tem algo que ainda me incomoda na proposta do design livre, se é que entendi direito. E essa questão também vai para o Hugo, com relação a resposta que me deu: parece que vocês estão sugerindo que para fazer bom design não é necessária a existência de um bom designer. O conhecimento sobre design, tanto quanto o sobre carpintaria, já é livre, basta comprar livros ou pesquisar no Google. Iniciativas como o Corais são excelentes por facilitarem o acesso a esse conhecimento. Mas o Design não é uma ciência exata em que basta aplicar fórmulas para ter um resultado. O talento para desenvolver soluções e a experiência acumulada do indivíduo é fundamental para fazer bom design.  Quando os vejo falando de design livre ou de tirar o foco do produto e colocar no processo (caso do Hugo), tenho a impressão que concebem o Design mais ou menos como um receita de bolo ou uma fórmula: dado o problema X, aplique a técnica e o processo Y e obtenha o resultado Z. 

Além disso, ter uma "casta" de designers dedicados a pensar processos e ao metadesign, e outra "casta" que usa o conhecimento produzido pelos primeiros para aplicar no dia-a-dia, não me parece que torna o design mais livre, e sim mais proprietário.

Não chega a ser uma crítica porque não sei se entendi corretamente, nem sei se o conceito está suficientemente evoluído para que caiba uma crítica. Mas é um preocupação.

Abraços,


Gonçalo Ferraz

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Oct 8, 2011, 9:03:31 AM10/8/11
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Oi, sobre "castas": é que as imaginamos em divisões horizontais, uma
sobre a outra, em classes mais altas e mais baixas. Se imaginarmos
castas vizinhas na vertical, ainda num movimento virtuoso, para cima,
teremos papeis ao invés de classes.

Em vez de imaginar tijolos um sobre o outro, imagine tijolos um ao
lado do outro. :) #filosofiaprática

Frederick van Amstel

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Oct 8, 2011, 11:20:14 AM10/8/11
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Bom ponto, Gonçalo. Eu acrescentaria que esses papéis são dinâmicos, dependendo muito da situação. Um dia você é o usuário, o outro dia você é o designer.

Acredito que essa alternância irá se acelerar tanto num futuro próximo, que nem fará mais sentido utilizar tais categorias de diferenciação. As categorias serão outras, mais relacionadas com o domínio de projeto. Exemplo: ao invés de um designer genérico que atua em várias áreas, vejo um futuro mais promissor para pessoas que consigam fazer a conexão entre pensamento projetual e educação, saúde, ambiente, construção e etc.

Rodrigo Gonzatto

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Oct 17, 2011, 11:32:41 AM10/17/11
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Chego meio atrasado no tópico, mas vamos lá.

Entendo Design Livre de duas maneiras.

A específica (em uma visão pragmatista) que é a aplicação do Design Livre como uma legitimação da aproximação da comunidade de Design junto ao Software Livre. Encontrar maneiras do design "ser feito" tal qual o software livre e trazer pro design o espírito do software livre. O que, claro, emerge dificuldades, mas também um olhar novo e possíveis contribuições para nossa área: como trabalhar em equipe, decidir em conjunto, documentar bem e rapidamente, projetar socialmente, etc. de uma maneira que não daria conta apenas utilizando bases de Design tradicional ou mesmo do Design Participativo.

A partir dessa, a outra - mais abrangente - é a do Design Livre enquanto quebra de dois paradigmas: daquele que diz que o design é feito só por (quem tem o título de) designer, e para alguém. Seguindo uma lógica de que todo homem projeta (pensamento projetual), é tanto possível (quanto benéfico) que o desenvolvimento de artefatos possa contar com a manifestação e decisão de diversos interessados. Pensando politicamente, é um caminho para uma participação mais democrática em decisões de design.

Neste sentido, para exemplificar, interessa como o Design Livre pode auxiliar uma relação de produção e consumo de mídias/interfaces: um professor decide montar um blog para extender suas aulas, expor ideias e auxiliar alunos. Ele entende como pode se apropriar da ferramenta para possibilitar aprendizagem? Pode facilmente ter informações para decidir se o projeto da ferramenta está alinhado ao que ele pretende (e aqui o "professor" citado é designer, pois ele vai tomar as decisões de design que por fim impactarão como seu blog). Isso evitaria a noção de que fazer um blog, simplesmente, é = sinônimo de educação. Acredito que com Design Livre (e aqui também não tenho ao certo COMO ele deve ser feito) poderíamos facilitar a utilização de ferramentas/interfaces como meios E, principalmente, participar com o que ele tiver para contribuir para o desenvolvimento deste artefato, não limitando sua participação apenas a código. Este professor poderia fazer parte de uma comunidade maior, levando seus apontamentos práticos de como o design do blog seria melhor para determinados fins, como os dele.
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