Abolição do homem

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Janos Biro

não lida,
30 de dez. de 2010, 00:26:5730/12/2010
para civil...@googlegroups.com
Olá a todos,

Vou citar trechos de um livro que eu recomendei, A abolição do homem, de C. S. Lewis:

"A defesa adequada contra os sentimentos falsos é inculcar os sentimentos corretos. Ao sufocar a sensibilidade dos nossos alunos, apenas conseguiremos transformá-los em presas mais fáceis para o ataque do propagandista. Pois a natureza agredida há de se vingar, e um coração duro não é uma proteção infalível contra um miolo mole."

Isto se relaciona bastante com o personagem Eustáquio, que aparece no terceiro filme das Crônicas de Nárnia: A viagem do Peregrino da Alvorada. Vale a pena ver esse filme também, que tem questões interessantes.

Sobre basear a moral no instinto:

"E ele provavelmente crerá que tais bases podem ser encontradas no Instinto. Dirá que preservação da sociedade, e mesmo da própria espécie, é finalidade que não depende do precário fio da Razão: é dada pelo Instinto. É por isso que é desnecessário discutir com aqueles que discordam. Todos nós temos um impulso instintivo de preservar a nossa própria espécie. E é por isso que os homens devem trabalhar pela posteridade. Não temos nenhum impulso instintivo de cumprir promessas ou de respeitar a vida individual: é por isso que escrúpulos de justiça e humanidade – o Tao, em outras palavras – podem ser devidamente varridos para longe quando entram em conflito com o nosso verdadeiro fim, a preservação da espécie. É por isso, novamente, que as circunstâncias modernas permitem e requerem uma nova moral sexual: os velhos tabus desempenhavam um papel importante pela preservação da espécie, mas métodos dos contraceptivos modificaram a situação, de modo que podemos agora abandonar muitos desses tabus. Pois é claro que o desejo sexual, sendo instintivo, deve ser satisfeito sempre que não estiver em conflito com a preservação da espécie. Parece, de fato, que uma ética baseada no instinto vai dar ao Inovador tudo o que ele quer e livrá-lo de tudo o que não quer."


Lewis faz uma defesa aos valores objetivos:


"Se nada é evidente por si, nada se pode provar. Da mesma forma, se nada é obrigatório por si mesmo, nada pode ser obrigatório."


Veja como ele resume bem a mentalidade da modernidade:


"Contudo, como podemos esperar que a mentalidade moderna aceite as conclusões a que chegamos? Afinal, esse Tao que, segundo parece, devemos tratar como algo absoluto é simplesmente um fenômeno como qualquer outro – o reflexo, na mentalidade dos nossos antepassados, do ritmo das suas plantações, talvez mesmo da sua fisiologia. Já conhecemos em linhas gerais como essas coisas foram produzidas, em breve poderemos conhecê-las em detalhe, e por fim seremos capazes de produzi-las à vontade. É claro que, enquanto não sabíamos como se produziam as mentalidades, aceitamos esse aparato mental simplesmente como um dado, ou até mesmo como um mestre. Mas muitas coisas da natureza que foram nossos mestres acabaram se tornando nossos servos. Por que não a mente? Por que nossas conquistas sobre a natureza devem ser interrompidas, numa reverência descabida, ante esse pedaço persistente e derradeiro da "natureza" que tem sido até aqui chamado de consciência humana? Você nos ameaça com terríveis desastres caso esse limite seja transposto, mas fomos da mesma forma ameaçados por obscurantistas em cada passo da nossa evolução, e a ameaça mostrou-se sempre falsa. Você nos diz que não nos restará nenhum valor se pisarmos fora do Tao. Muito bem: provavelmente descobriremos que podemos perfeitamente ir em frente sem valor nenhum. Consideremos todas as idéias de dever como um simples e útil método de sobrevivência: deixemos de lado tudo isso e comecemos a fazer o que bem quisermos. Decidamos por nós mesmos o que o homem deve ser e façamos com que se torne o que desejamos, não com base num valor ideal, mas apenas porque queremos que assim seja. Tendo decidido as nossas circunstâncias, sejamos agora os nossos próprios mestres e escolhamos os nossos próprios destinos."


O livro está disponível em PDF, mas infelizmente com muitos erros de OCR.


LEWIS, C. S. - A abolição do homem.pdf 


Abraços


Janos

Renato Corrêa

não lida,
3 de jan. de 2011, 21:15:5303/01/2011
para civil...@googlegroups.com
Parece interessante. Complicado defender assim a questão do instinto. Não tenho muitas referencias no assunto, mas é algo inspirador.

abs

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"Tanta gente vive em circunstâncias infelizes e, contudo, não toma a iniciativa de mudar sua situação porque está condicionada a uma vida de segurança, conformismo e conservadorismo, tudo isso que parece dar paz de espírito, mas na realidade nada é mais maléfico para um espírito aventureiro que um futuro seguro."
(Catarina Disangelista)

Coletiva_Mente

não lida,
6 de jan. de 2011, 21:18:3706/01/2011
para Civilização
Olá,

Curioso o fato desse autor te escrito o livro das Crônicas de Nárnia.
Nunca assisti esse filme. Ele é interessante? Pode-se encontrar algo
de relevante no filme?

Janos Biro

não lida,
6 de jan. de 2011, 22:42:0306/01/2011
para civil...@googlegroups.com
Olá,

Acho que, se você prestar bastante atenção nos filmes das Crônicas de Nárnia, pode perceber que Lewis estava criticando a modernidade. Acho que podemos encontrar algumas coisas relevantes, ainda que não seja algo extraordinário.

Abraços

Janos

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fernando schuck

não lida,
7 de jan. de 2011, 08:07:3307/01/2011
para civil...@googlegroups.com
Não é difícil relacionar o texto de C. S. Lewis, um autor de grande influência cristã, com a crítica à civilização e à modernida. Assim como parece não ser difícil encontrar certa identificação entre crítica à civilização e cristianismo. Isto porque a ideia de que a civilização traz consigo elementos "decadentes" é também um dos motes do cristianismo. No cristianismo está muito presente a ideia de "queda do homem" e a consequente necessidade de resgate do mesmo através da figura redentora de Cristo. É um dos preceitos fundamentais do cristianismo que aparece de forma figurativa na estória escrita por C. S. Lewis que resultou no filme.
Abraços, 
Fernando
--- Em sex, 7/1/11, Janos Biro <janosb...@gmail.com> escreveu:
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