Reflexões

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astroPT

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Nov 2, 2008, 7:44:36 AM11/2/08
to astr...@googlegroups.com

O membro da nossa comunidade Samuel Coelho deu-nos a conhecer este artigo do Professor Orfeu Bertolami sobre o ensino superior em geral em Portugal e em particular sobre a estagnação da astronomia portuguesa.
Na lista da comunidade, discutimos bastante este assunto nesta thread.

Pessoalmente, na lista, falei sobre a minha própria experiência no ensino superior em Portugal comparado com fora do país, referi que já há alguns livros sobre esta temática de como o modelo de ensino superior na "velha Europa" está falido, repeti o que já outros tinham dito que o que conta é as pessoas seguirem os seus sonhos da maneira que preferirem, e levantei a ponta do véu sobre o que penso que é preciso mudar em Portugal - a mentalidade das bases!

Isto faz-me voltar a um tema de há meses atrás: os Jogos Olímpicos.
Tivemos 77 representantes nacionais, mas somente 2 medalhas (Nélson de Ouro, e Vanessa de Prata; e mesmo na derrota tivemos sinais positivos do Obikwelu, da Naide, do Gustavo Lima, entre outros).

Mas o que chocou mais os portugueses foram as razões apresentadas por alguns atletas que não conseguiram bons resultados. 13 delas:

- tenho asma, não vou aos jogos;
- a poluição em Pequim prejudicou-me;
- o meu cavalo assustou-se com os ecrans gigantes;
- tive problemas gastro-intestinais durante a corrida;
- não estava a conseguir ver bem;
- fiquei intimidada com o estádio tão cheio;
- fiquei intimidada com tantas atletas a correr ao mesmo tempo;
- não sou dada a grandes competições;
- a culpa foi do árbitro;
- estava num dia mau;
- não vale a pena correr, porque as africanas vão ganhar;
- comecei a correr muito depressa, e depois as pernas não davam mais;
- de manhã não é para competir, mas para estar na caminha.

Comparem agora essas atitudes com estas:
- a nadadora Dana Torres não se desculpou com os seus 41 anos ou com a sua filha, e ganhou 3 medalhas de prata.
- o Phelps nos 200 metros mariposa teve um problema com os óculos - deixavam entrar água - o que não lhe permitia ver a parede a cada 50 metros, mas mesmo assim continuou, ganhou, e bateu o recorde do mundo.
- a Shalane Flanagan teve intoxicação alimentar o que a obrigou a ir ao hospital e a não treinar. Mas mesmo assim achou que não devia ir a Pequim "passar férias". Foi correr 10.000 metros e ganhou a medalha de bronze.

Qual é a diferença entre estas atitudes?
Não me parece que a culpa seja dos nossos atletas.
A culpa é da mentalidade portuguesa. Os portugueses têm a incrível mania, e eu já o digo há vários anos e já fui mal-interpretado várias vezes por o dizer, de arranjarem sempre desculpas para não fazerem as coisas. Enquanto noutros países a mentalidade é de fazer-se. Faz-se ou não se faz, mas não se arranja desculpas. Em Portugal há a mentalidade de "fazia-se, mas...". Há sempre razões, justificações, desculpas externas para não se fazer alguma coisa.
E posteriormente, constantes lamúrias pelo que não se fez e pela vida que levam (como diria Robert West: "Não é necessário nenhum talento, abnegação, inteligência e carácter para se estabelecer no ramo das lamúrias").

(a excepção é dos Paralímpicos que teriam todas as razões do mundo para apresentarem desculpas MUITO válidas para não fazerem... mas PREFEREM empregar o tempo a terem melhores resultados que os Olímpicos! 7 medalhas!)

É preciso arriscar, é preciso tentar, é preciso fazer!
É preciso ganhar (ou no mínimo, TENTAR o melhor) independentemente das circunstâncias, das razões, das desculpas!

E se as desculpas/razões fazem parte da mentalidade portuguesa, é natural que também se veja na astronomia.
No Blog têm havido várias críticas, como aqui e aqui, a alguns sectores da astronomia em Portugal. Na lista, têm havido muitas mais críticas, sobretudo ao nível de haver menos encontros nacionais dos que havia antigamente.
Mas vai-se a ver e há um rol enorme de desculpas para não se fazer alguma coisa - mesmo neste projecto astroPT reparamos nisso por vezes.
As razões/justificações/desculpas são variadas:
- não tenho tempo;
- tenho o meu trabalho;
- não há fundos para fazer essa actividade;
- nesse dia/fim-de-semana não posso;
- tenho que estar com a minha família;
- vou estar com a minha namorada;
- vai a pessoa X e eu não gosto dela;
- hoje não posso porque me dói o Y;
- já tenho o meu projecto individual;
- não gosto de colaborações;
- as associações não promovem;
- tou de férias;
- etc...

Longe de mim dizer que algumas das razões não são legítimas; são. Mas, tal como as de cima, não passam de justificações/desculpas para não se fazer algo.
Antes de apontar o dedo aos atletas portugueses, é preciso ver a "Big Picture" e perceber que é toda uma cultura, uma mentalidade que está em causa. É preciso olhar para dentro e perceber que nós próprios damos desculpas similares no dia a dia em diferentes projectos.
No meu entender, mais do que melhorar condições (seja para atletas, seja para a astronomia) é preciso mudar esta mentalidade de insucesso.
Em vez de se inventarem desculpas para não se fazer, em vez de nos resignarmos que não conseguimos mais; está na altura de nos unirmos, de todos puxarmos para o mesmo lado, de colaborarmos, de se passar a dizer que se faz, e de se fazerem as coisas!

Isto vê-se no desporto, na educação superior, ou na astronomia.
A mentalidade é a mesma.

Claro que não são só as bases que têm culpa. Quem está no poder, quem está numa posição de fomentar positivamente as actividades e mudanças, também deveria fazer por melhorar as condições, seja no desporto (por exemplo, nos Jogos Olímpicos, o Presidente do COP demitir-se antes de atletas portugueses competirem foi uma autêntica palhaçada), seja na educação superior, ou seja na astronomia. Mas cada qual tem os "presidentes" que merece, no sentido que se não querem, façam por mostrar porque eles são errados e tentem pôr lá alguém de maior mérito!

Novamente, o que penso é que são as bases que devem fazer pela mudança, em vez de atirarem as responsabilidades para outros. Cada um de nós deve assumir as responsabilidades e fazer mais e melhor pela educação e pela astronomia.

Ou seja, voltando ao início deste texto, concordo inteiramente com o artigo do professor Orfeu Bertolami de que é preciso modificar o ensino superior e a forma como a astronomia é tratada em Portugal. Penso que a solução para isso passa por incentivar a população, fazê-la ver as vantagens da mudança, incutir-lhe uma maior literacia científica e educacional, e a partir daí fazer as mudanças necessárias em termos estruturais no ensino superior astronómico.

Para mudar a mentalidade:
O Yoda dizia: "Do or do not. There is no try".
A Nike diria: "Stop complaining. Just do it!"
A Ellie Arroway disse: "The world is what we make of it!"
Eu digo: "Faz. Não gastes o teu tempo com desculpas para não fazeres".

http://astropt.org/blog/2008/11/02/reflexoes/

Blog do astroPT - a desbravar caminhos celestiais
(c) 2007 http://www.astropt.org/blog/

Francisco Gomes

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Nov 2, 2008, 8:54:03 AM11/2/08
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GOSTEI DE LER e estou totalmente de acordo com o seu extenso "discurso". Só podia estar.
 
Também lhe digo, se o Carlos for tão prático como teórico, a coisa vai bem pelos seus lados :)  Estou a brincar, obviamente, mas...
 
Nunca se esqueça que o Povo Português é um grande povo e quando...  o mal aperta, somos dos mais empreendedores.
 
É verdade que, actualmente, alguns de nós, falamos muito de coisas banais e trabalhamos pouco e mal mas...  a culpa não morrerá solteira :-).  Qualquer desses males, felizmente, não me ataca...  demais porque sempre  os  doseie a meias !
 
Também gosto de trabalhar em casa e no campo mas, remar contra grandes marés ou... pequenos remoinhos, também cansa; a... idade avança e não sou de aço :)
 
Um abraço
Francisco
 

 
2008/11/2 astroPT <mar...@astropt.org>

Rui C. Barbosa

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Nov 2, 2008, 9:16:57 AM11/2/08
to astr...@googlegroups.com
Obviamente que o Carlos tem razão no que diz, mas infelizmente não diz novidade nenhuma pelo menos para os que estão atentos. E esse infelizmente é um dos grandes males da nossa sociedade: estamos atentos ao banal e ao que não interessa.
 
Como um glaucoma que vai evoluindo, a sociedade portuguesa vê-se afectada de uma falta de valores que nos leva a um beco sem saída e do qual infelizmente só iremos saire com uma revolução que mereça o nome.
 
Não penso que o problema esteja nas bases, mas também não sei dizer onde estará.
 
Temos dinamismo para organizar campeonatos europeus de futebol, mas falta-nos a percepção para concluir que nas universidades não leccionam professores. Temos a visão de grandes obras, mas falta-nos o pormenor para concluir que a nossa história se perde aos poucos. Temos a emoção das festas, mas falta-nos a delicadeza de entender o que realmente se passa entre nós.
 
No fundo, fingimos que tudo está bem quando na realidade muitos tugas lutam por uma sobrevivência porque lhes disseram que assim podia ser e que o país estaria no bom caminho. Vemos agora que não é assim. Apercebemo-nos que nos governam mal e o pior é que quando olhamos não vemos alternativas credíveis em lado nenhum.
 
Na universidade premeia-se o número do marranço e despreza-se a iniciativa, até porque o marrança na prática vai-se atrapalhar e não vai conseguir dar utilidade áquelas horas de estudo. Posso dar o meu exemplo: nunca fui um aluno brilhante ao longo do meu percurso académico. Tinha o papão da matemática a atormentar-me todas as noites até que um dia tive a sorte de, no secundário, ter uma professora que me ensinou a gostar (a estudar) da matemática. Na universidade procurava entender os mistérios da matemática e da física, e não a mecanizar. Apesar de explicar a física a muitos colegas demorei quase todo o curso a concluir as físicas do primeiro ano e era conhecido no departamento por isso... Na universidade tive um ou dois professores e foi a pulso que terminei o curso a assitir a muitas injustiças.
 
Fiz o meu estágio em Barcelona num erasmus e aproveitei ao máximo. Porém, apesar de estar em erasmus era o único tuga que não tinha uma bolsa de estudo e tive de trabalhar no Verão para poder pagar a minha estadia lá. Fiz o meu trabalho, saia todas as noites e era criticado pelas colegas tugas que estavam comigo que diziam que estavam lá para estudar e não para a borga... no final acabei por ter a melhor nota do grupo de estágio. Porquê? Porque além de gostar do que fazia lá tinha um corpo docente que apesar de saber que teria a pior média do grupo sabia também que o que interessava era o empenho no trabalho e não o valor no papel.
 
Por isso, e apesar dos idealismos que possam por aí abundar, não basta querer fazer... é preciso ter alguém em que acredite em nós e isso é muitíssimo difícil encontrar nas nossas universidades.
 
Quanto aos encontros e jantares que levemente o carlos tocou, a mim não me surpreende o que se passou (ou vai passar com o encontro / jantar da lista. Apesar do que escrevemos somos todos comodistas. Muitos de nós não vão ao jantar só por não ir, é que na realidade é uma chatice fazer centenas de quilómetros pelo jantar e depois, tal como já foi aqui referido várias vezes, os custos associados a uma deslocação acabam por influenciar na decisão.
 
Aproveito também para referir o seguinte, há uns anos atrás tive a ideia de organizar um encontro a que ponposamente dei o nome de "Primeiras Conferências Em Órbita" e que tinha o objectivo de ser um fim de semama de palestras sobre o espaço. Na altura até tinha uns nomes interessantes tanto nacionais como estrangeiros que estavam dispostos a vir a Portugal. Nunca arranjei ninguém para me ajudar a organizar (e alguns até disseram desde o início que a coisa era complicada e tal...) e a coisa morreu por aí.
 
ufa... já escrevi muito... de volta para o Em Órbita!
 
PS - por falar em Em Órbita, quantas vezes não perguntei eu se haveria pessoal interessado em fazer o boletim comigo e somente obtive um ou dois interessados em escrever um ou outro artigo? Dá muito trabalho, pá e ter quase 100 páginas escritas por mês por uma pessoa só leva-me muito tempo... algm de vós estava disposto a pagar para ler o boletim??
 
 

ulis...@gmail.com

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Nov 2, 2008, 9:42:48 AM11/2/08
to astr...@googlegroups.com
O problema, se é que existe problema, é que as pessoas gostam muito de dizer mal. Diz-se mal simplesmente. Gosta-se de deitar abaixo e de dizer mal. Quando se diz mal, colocamo-nos do lado de fora. O mal existe, mas nós estamos fora. O mal não somos nós, é outra coisa qualquer. Se cada um fizer este exercício, a sociedade como um todo está condenada, pois genericamente cada um pensa que o mal são os outros e pouco mais se faz do que falar e dizer mal de tudo o que nos rodeia.
Em relação ao desporto então ainda é mais fácil dizer mal. Estamos sentados a ver os outros esforçarem-se e se as coisas correrem mal, é fácil apontar todo o tipo de criticas e razões para as coisas terem corrido mal. É muito fácil menosprezar os esforços dos outros quando não somos nós a esforçar-nos. Basicamente, antes até da competição, já sabemos qual vai ser o resultado. Este é o espírito dos vencidos já à nascença. 

Contacto com outras culturas de outros países europeus e sinceramente não vejo grande diferença. As pessoas basicamente são as mesmas. A massa, a matéria bruta é a mesma em todo o lado. 
Pode é dizer-se os outros países com os quais nos devemos comparar, ou têm mais população, ou então a sua política não teve tanto tempo estagnada como a nossa ou estão mais bem inseridos geograficamente e tem mais contacto com outras culturas mais desenvolvidas. 

Em relação à falta de iniciativa geral, é um mal que terá muito da sua origem no nosso passado político, económico e na educação, no qual pouco se incentiva o livre arbítrio e o empreendedorismo. Hoje a maioria da sociedade vive espartilhada pelas dificuldades económicas e não é fácil surgir o espírito aventureiro quando nos equilibramos de uma forma geral no dia a dia num trapézio sem rede por baixo.

Ulisses Martins



2008/11/2 Rui C. Barbosa <r...@netcabo.pt>

Carlos

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Nov 2, 2008, 10:26:15 AM11/2/08
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Rui,

Gostei bastante de ler este teu e-mail.

Ressalvo 3 coisas:
- a tua história pessoal, e o facto das notas escolares de "memorização" não determinarem o que uma pessoa sabe;
- o desprezar-se a iniciativa;
- o comodismo.


Carlos

Samuel Coelho

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Nov 2, 2008, 10:36:56 AM11/2/08
to astr...@googlegroups.com
Muito bem dito Carlos e restantes. ;)
Tenho vindo a constatar que a mentalidade portuguesa é uma mentalidade de desculpas para não fazer as coisas. Uma mentalidade de comodismo. E eu, crescendo neste tipo de cultura e fazendo um exame de consciência, vejo que também eu estou a adquirir a tal mentalidade comodista. "Ah e tal não tive tempo" ou simplesmente "Não me apetece".
Mas eu, com apenas 18 anos, sou um adulto em formação, estou agora a reunir as ideias que os meus pais me transmitiram, a adquirir outras, juntar tudo, alterar o necessário para criar a minha própria forma de estar na vida. Estou a tempo de adquirir outra mentalidade que não a típica portuguesa.
O que mais me revolta é que em miúdos nos perguntam: "O que queres ser quando fores grande?". E nos dizem que devemos estudar para fazermos o que gostamos.
E isto tudo para quê? Para chegarmos a adultos e mudarem o discurso. Porque se em crianças devemos seguir os nossos sonhos, em adultos a história já é diferente. Já é algo do género: "Faz o que der dinheiro porque senão não te safas. Ah e umas cunhas dão sempre muito jeito".
Porque não nos dão logo a conhecer este discurso desde pequenos? Assim já não se notava a diferença.
Por estas e por outras é que, por vezes, me sinto mal no meu próprio país. :S
 

2008/11/2 <ulis...@gmail.com>



--
Cumprimentos

Samuel C.

Carlos

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Nov 2, 2008, 10:42:26 AM11/2/08
to astr...@googlegroups.com
Ulisses,

A crítica não é sinónimo de dizer mal. Dizer mal por dizer é uma coisa; já a crítica, que pode ser positiva ou negativa, é outra coisa distinta.
A crítica, mesmo a negativa, pode ser entendida como uma forma de chamar a atenção de forma a mudar-se, e melhorar-se o trabalho.
O Francisco também me parece que tocou neste ponto, como se o criticar-se parte da mentalidade portuguesa é o mesmo que dizer mal de Portugal - não é! Eu adoro Portugal!
Mas a estagnação leva à morte!
A crítica pode levar à mudança e a uma melhoria de condições.

O não perceber-se que "dizer mal" e "criticar" são coisas diferentes, faz alguns portugueses chegar aos EUA e até à Inglaterra e darem-se mal com algumas críticas a determinada parte do trabalho, e até chorarem à frente de audiências como eu já vi!
Lá está, problemas de mentalidade. O nao se entender que nem tudo é perfeito, e que pode sempre haver lugar para a mudança, e para melhorar.

Da mesma forma que em Portugal se tem problemas em dar e receber elogios.
Noutros países (EUA incluído) é natural dar-se elogios quando as coisas estão bem! Dar-se elogios aos outros e a nós próprios. É normal.

Ou seja, avalia-se.
E elogia-se no que se deve, e critica-se no que se deve.

O espírito dos vencidos falei precisamente no post.
Irem para a competição (seja desportiva ou não) já com uma carrada de desculpas às costas para não terem que vencer.

Sim, concordo com o facto da mentalidade não ser só portuguesa, mas sim da "velha Europa", como referi no post.
Em várias partes da Inglaterra (a "nova Europa" segundo Bush) respira-se melhor.

Quanto à iniciativa, concordo que vem do modelo educacional.
Mas também vem das famílias.
Em Portugal, o míudo só é chamado à atenção quando faz alguma coisa mal, e mesmo quando faz bem é-lhe dito que a coisa não está perfeita; aqui o risco é apreciado - se a pessoa fez mal, ao menos tentou, e já está mais conhecedora, já sabe uma razão de como não fazer.
Ou seja, aqui priviligia-se o risco. E daí que se pode errar 20 vezes que a ideia é que da próxima vez é ke vai dar.
Em Portugal, dá-se na cabeça em quem erra, de modo a ele não arriscar mais, porque poderá errar de novo.


Carlos ;-)

Samuel Coelho

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Nov 2, 2008, 10:49:18 AM11/2/08
to astr...@googlegroups.com
Quanto ao sistema de ensino... É mesmo um sistema de memorização. Quanto mais decorarmos melhor. Mesmo que depois de dada essa matéria já não nos lembremos de nada. Onde está a iniciativa dos alunos?
Quantas mais horas de estudo melhor. Isso mostra o que realmente nós sabemos?
Tal como o Rui, nunca fui um aluno brilhante.
Bom exemplo de sistema de ensino de memorização serão as disciplinas de matemática e física e química. Ninguém se preocupa em decorar formulas. O que dizem os professores? "Ah e tal vocês podem pôr tudo na máquina". Dão-nos as fórmulas e quase que não nos explicam como se chegou àquelas fórmulas.
Outro exemplo pode ser a disciplina de História. Lembro-me de no 9º ano ter tido óptimas notas a essa disciplina. Era raro ter menos de 90 nos testes. Acham que isso se deveu ao facto de eu saber muito de história? Claro que não! A stôra, antes dos testes, escrevia umas 10 perguntas no quadro, que seriam os objectivos para o teste. Respondiamos àquelas perguntas e no teste, lá estavam as mesmas perguntas, com uma ou outra diferença. Na véspera do teste, respondia às perguntas e lia umas 10 vezes e no teste tinha tudo fresco na memória. Hoje se me perguntarem o que sei de história? Só tenho a dizer que sou um grande ignorante. De que me valeram aqueles 90s nos testes?
Mas é o sistema de ensino que temos em Portugal. Estudem muito tempo, decorem o máximo possível, mesmo que depois, não se lembrem de nada. Os números é que são importantes.

2008/11/2 Carlos <alien_p...@yahoo.com>



--
Cumprimentos

Samuel C.

Carlos

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Nov 2, 2008, 10:50:22 AM11/2/08
to astr...@googlegroups.com
Samuel,

Daí ser dito que o melhor do mundo são as crianças!

Essas ao menos não têm medo de errar, arriscam e aprendem com os erros, têm imaginação a rodos, seguem os sonhos que têm no momento, tentam ser felizes o mais possível, etc.

Os adultos é que as estragam!
Os adultos - esses seres super-aborrecidos que seguem todos em carneiradas!


Carlos

Carlos

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Nov 2, 2008, 11:00:46 AM11/2/08
to astr...@googlegroups.com
Deixei um comentário sobre isto no Blog
http://astropt.org/blog/2008/11/02/reflexoes/

Basicamente disse que tenho estado a ler opiniões interessantes por aki, por isso se alguém kiser dar uma espreitadela a este tema por aki, é só clicarem no link da thread ;-)


ulis...@gmail.com

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Nov 2, 2008, 11:08:56 AM11/2/08
to astr...@googlegroups.com
Claro que critica é uma coisa muito boa e ajuda muito a melhorar, assim como a competição saudável ajuda a melhorar e a obter mais rapidamente resultados e a promover a inovação. Dizer mal, nada tem a ver com boa crítica. Dizer mal provoca castração das ideias e constrangimento da personalidade. 
Em Portugal, as gerações que estão no poder e que ensinam, ainda tem certamente a influência do clima político que reinou até pelo menos à 34 anos atrás e que deixou marcas muito profundas. A nossa sociedade ainda está toda "contaminada" pelos grandes acontecimentos do século passado que influenciaram os nossos avós e pais, desde a grande guerra (a primeira e a segunda, que basicamente foram uma só) até às ditaduras. A sua influência vai muito mais além de uma ou duas gerações. 
Cabe-nos a nós dar uma educação e perspectiva da vista optimista aos nossos filhos para que estes a transmitam por sua vez aos seus e por ai fora.



2008/11/2 Carlos <alien_p...@yahoo.com>

Jorge Almeida

unread,
Nov 2, 2008, 11:23:46 AM11/2/08
to astroPT


On 2 Nov, 15:49, "Samuel Coelho" <smokinaka...@gmail.com> wrote:
> Quanto ao sistema de ensino... É mesmo um sistema de memorização. Quanto


Eu dantes era a favor disto... mas agora sou contra. :) Prefiro um
sistema que priveligie: criatividade, raciocínio lógico-dedutivo e
acima de tudo crítico construtivo, O espírito crítico é fundamental
(saber interpretar para assim poder contra-argumentar algo que possa
estar errado, ou argumentar sobre algo que defende). E, outra coisa,
que seria importante: era ter desenvolver um raciocínio que pudesse
auxiliar na resolução de problemas ( um dos truques é subdividir um
problemas complexo em pequenos problemas). Eu seria a favor de exames
com problemas que fossem distintos dos chamados problemas-tipo.
Colocar verdadeiras situações realistas e tentar resolver com o que
foi dado. Isso sim, é que impelia a uma muito melhor compreensão do
que estar meramente a empinar. :S Isso nunca levou a nada. Outro
aspecto que é extremamente importante: o trabalho constante e árduo é
fundamental. As coisas não se aprendem por osmose, é preciso tempo,
dedicação e entrega total para se conseguir algo. E se não tiver
resultado, é porque não se esforçou o suficiente.
Outro grande problema é a gritante falta de gestão de tempo (na qual
eu estou, por exemplo, a tentar melhorar.) :D

O meu conselho é que façam tudo por tudo por compreender porque é que
são assim as coisas. É mais importante perceber as coisas, saber
questionar. Duvidar sempre, sem entrar em exageros (senao acaba por
ser cepticismo fundamentalista.)



> mais decorarmos melhor. Mesmo que depois de dada essa matéria já não nos
> lembremos de nada. Onde está a iniciativa dos alunos?
> Quantas mais horas de estudo melhor. Isso mostra o que realmente nós
> sabemos?
> Tal como o Rui, nunca fui um aluno brilhante.
> Bom exemplo de sistema de ensino de memorização serão as disciplinas de
> matemática e física e química. Ninguém se preocupa em decorar formulas. O
> que dizem os professores? "Ah e tal vocês podem pôr tudo na máquina".
> Dão-nos as fórmulas e quase que não nos explicam como se chegou àquelas
> fórmulas.
> Outro exemplo pode ser a disciplina de História. Lembro-me de no 9º ano ter
> tido óptimas notas a essa disciplina. Era raro ter menos de 90 nos testes.
> Acham que isso se deveu ao facto de eu saber muito de história? Claro que
> não! A stôra, antes dos testes, escrevia umas 10 perguntas no quadro, que
> seriam os objectivos para o teste. Respondiamos àquelas perguntas e no
> teste, lá estavam as mesmas perguntas, com uma ou outra diferença. Na
> véspera do teste, respondia às perguntas e lia umas 10 vezes e no teste
> tinha tudo fresco na memória. Hoje se me perguntarem o que sei de história?
> Só tenho a dizer que sou um grande ignorante. De que me valeram aqueles 90s
> nos testes?
> Mas é o sistema de ensino que temos em Portugal. Estudem muito tempo,
> decorem o máximo possível, mesmo que depois, não se lembrem de nada. Os
> números é que são importantes.


Infelizmente, a propaganda política é a menos desejável. De que serve
enganar com números se ninguém aprende? :(

Carlos

unread,
Nov 2, 2008, 11:25:37 AM11/2/08
to astr...@googlegroups.com
Sim, já no outro e-mail o Ulisses tinha referido a parte histórica/política e concordo inteiramente. Acho bastante interessante, salutar, e valiosa essa sua perspectiva histórico-política!

Não tenho grandes bases sobre isso porque sou da geração posterior à revolução, mas concordo que muitas ideias perduram. O próprio moto do antigo regime - orgulhosamente sós - castra toda e qualquer iniciativa de ser diferente, de arriscar, de ir mais longe, de "sair do sítio".
Os medos da guerra, da tecnologia, etc, também afectarão as mentes.
A mentalidade de "é melhor não mexer", "é melhor não pôr em causa", "é melhor não criar celeumas contra os poderes instalados", está sem dúvida ligada a uma mentalidade de não arriscar, de lamúrias, de dar desculpas para se conformar com ideias feitas.

Mas as novas gerações não deveriam ter esse medo de arriscar, de imaginar, de ir mais longe, de fazerem mais por elas!

Mas se as telenovelas criam estagnação e um vegetamento em frente à TV por parte de mulheres, terceira idade, e famílias!, o certo é que séries como "Morangos" e concursos da treta, provocam esse vegetamento (a falta de iniciativa) nas gerações mais jovens.
Por onde andam as séries de qualidade que levavam à imaginação e à revolta/rebeldia natural juvenil contra a conformidade - séries que até já falamos por aqui como: Era Uma Vez o Espaço, D'Artacão, etc?


Carlos

--- On Sun, 11/2/08, ulis...@gmail.com <ulis...@gmail.com> wrote:

Francisco Gomes

unread,
Nov 2, 2008, 12:33:33 PM11/2/08
to astr...@googlegroups.com
Muito bem dito.   Mais... as crianças NÂO SÃO RACISTAS nem têm outros complexos, dão-se com todos e em todo o lado.. ; são naturais. 
 
As más companhias dos adultos que, por sua vez já tinham sido mal...  educados por outros aliens, etc. etc. até D.Afons. Henriques que fugiu a...  regras "menores", instruído pelo aio   :)
 
Francisco

 
2008/11/2 Carlos <alien_p...@yahoo.com>

Francisco Gomes

unread,
Nov 2, 2008, 2:12:47 PM11/2/08
to astroPT
! :)

""">O Francisco também me parece que tocou neste ponto, como se o
criticar-se parte da mentalidade portuguesa é o mesmo que dizer mal de
>Portugal - não é! Eu adoro Portugal!"""

Desta vez eu estava atento :)

Criticar honestamente claro que não é dizer mal. Gostei muito do seu e-
mail e não o entendi como critica barata.

Francisco


Elísio de Campos e Sousa

unread,
Nov 2, 2008, 4:15:00 PM11/2/08
to astr...@googlegroups.com
Umas achas para a discussão:

Realmente somos um país de desculpas: desculpamo-nos que em Portugal as
coisas estão mal, não há condições, mentalidaes mesquinhas e em vez de
mudarmos o status quo, vamos para o estrangeiro.

Este argumento é tão válido como dizer que nos desculpamos com isto e com
aquilo para não fazermos nada.

E preciso dizer que nem tudo são desculpas para isto ou aquilo dentro do
país, há pessoas realmente ocupadas; culpabilizar o espeirito nacional de
arranjar desculpas e saltar do país em vez de o modificar com desculpas (ou
argumentos válidos- se a falta de tempo e a gfamilia e a namorada tambem o
forem), é no mínimo, hipócrita.

Em relação ao espirito do marranço no nosso país... lá está, venham
modificar isso e dar aulas diferentes no nosso país - eu neste momento faço
parte do corpo docente de uma licenciatura que está a usar o sistema PBL
(nem vou discutir se concordo ou discordo, mas que é bem doiferente do
tradicional ninguem o pode negar.

Se me esqueci de criticar alguém, as minhas desculpas, mas n tive tempo para
ler os posts todos.

Abraços

Elísio


Carlos

unread,
Nov 2, 2008, 5:41:48 PM11/2/08
to astr...@googlegroups.com
Bem, essas achas foram um pouco molhadas, o que é o mesmo que dizer que "não prestam" para uma fogueira :P

- as pessoas vão para o estrangeiro porque querem, para seguirem os seus sonhos, para seguirem o que querem. Ou seja, é uma prova de que não são comodistas nem andam com desculpas para ficarem num só sítio. Alguns ficam porque "enganam-se" com desculpas...

- então agora só se pode mudar se quem está fora voltar? Xeira-me a mais uma desculpa de quem fica e não quer mudar nada - como eu disse no post, é mais um apontar desculpas/responsabilidades para o exterior.

- o século XXI é um tempo de "setting" global.
Isto leva a que mesmo os que estão fora, é como se estivessem em Portugal.
Não só porque existe a net, onde eles podem tentar mudar as mentalidades, mas porque estão constantemente (e conheço vários ke o fazem!) a voltar a Portugal para mostrar trabalho que veio do exterior.

- o que leva a este outro ponto. Os países que se preparam para o século XXI enviam o seus jovens para fora, ou então chamam jovens de fora para dentro. Porque só com a partilha de conhecimentos, as pessoas e os países se podem desenvolver. Certamente que não se desenvolvem se estiverem voltados para dentro, na mística do "orgulhosamente sós" em que ninguém pode sair ou entrar.

- por último, quem está cá fora, além de já fazer muito pelo país estando fora em projectos portugueses, e fazer quando vai a Portugal (que me parece que o Elisio até já viu), também já tentou fazer mais coisas em Portugal e permanentes (exemplo: escola), mas tanto as mentalidades de base como as chefias são tão obtusas e têm uma mentalidade tão pequenina que como é óbvio quem está fora não está para se chatear nem perder tempo se as coisas não são para se fazer em condições. (além de que as motivações de cunhas, apesar de até as ter, não são tão elevadas como as motivações por mérito).

;-)

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