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O tal
do jornalismo militante
Nenhum veículo da imprensa grande brasileira declarou voto nestas eleições.
Inclusive o objeto de análise deste boletim. Imagine, nenhum dos seus donos
deve ter candidato e são isentas suas linhas e políticas editoriais...
Chove uma garoa fina na noite de domingo em São Paulo, e na minha zona norte
natal, terra das senhoras de Santana e do Clube Espéria, estouram fogos de
artifício em comemoração ao segundo turno das eleições, obtido, principalmente,
pelos rumos da votação em São Paulo (que também consagrou, em um voto “ético
e consciente”, Paulo Maluf, Enéas Carneiro, Frank Aguiar, Palocci, João Paulo
Cunha, José Mentor, Waldemar Costa Neto e Clodovil...). O carro desliza pelo
asfalto liso e ruas vazias. Tomo, mais uma vez, o caminho mais longo para
ir pensando...
Semana passada já deixei vários furos na análise da Veja. A pequena
vingança encomendada a Jerônimo Teixeira sobre Paulo Coelho pela jogada da
sua antiga editora, a Rocco, no lançamento do seu último livro, quando ocuparam
as capas das três maiores semanais. Um erro ridículo da coluna do Mainardi
que já vinha corrigido na própria edição, o cargo de Mino Pedrosa, que é
ex-editor da Isto É desde 2005, e não editor atual da Isto É
(ou seja, foi publicada, apesar da Veja saber que esta informação
estava errada), e que nega ter ouvido a história que Mainardi relata como
dele, e que o colunista recebeu via PFL. A atitude de Mainardi foi sensacional.
O ídolo do proto jornalismo em declaração ao site Comunique-se não
deu a mínima para o seu erro. Também poderia comentar a não divulgação de
que, pelo andar da carruagem, é provável que não tenha havido grampo no Tribunal
Superior Eleitoral, como a revista fartamente noticiou semana passada. Mas
Veja não tem a preocupação de corrigir informações erradas.
Este texto tem um tom pessoal mesmo. Porque é a explicação do seguinte: não
pretendo escrever o boletim até o início de novembro, uma ou duas semanas
após o segundo turno. Não dá. Ao contrário da Veja, e a saúdo por
isso, não tenho sangue de barata ou/e a vocação deles para o exercício do
jornalismo militante. Nunca foi o objetivo do boletim, para algumas frustrações
que achavam que ele estava aqui para “defender Lula”. Não está. A idéia era
defender uma idéia mais plural e honesta e menos ideológica e hipócrita de
jornalismo e debate. De forma muito modesta e limitada, aliás. Um hobby.
Também não sou bom em carregar imposturas ou adicionar sapos na minha dieta,
como parece ser pré-requisito para cumprir certas tarefas no jornalismo “grande”
brasileiro. Levo toda esta palhaçada excessivamente a sério. Por isso mesmo,
neste mês, não vou ter paciência, ou isenção para analisar com cuidado o
varejo das suas pequenezas. Como ainda levo-me a sério, e agora ao fim do
primeiro turno tomei uma posição que interfere com a postura do boletim,
pausa-lo-ei. Vamos, para sair de “férias”, ao atacado, o que eu poderia resumir
com a expressão: Fala sério!
Todas as cartas publicadas na Veja (ah, menos uma curtinha irrelevante...)
desta semana elogiam a revista e criticam a explosão de corrupção no governo
do PT. Todas transbordam indignação com a grave crise ética que o governo
Lula levou o Brasil. Todas. Todas. Isso só pode significar duas coisas: ou
todas as cartas, menos a exceção que confirma a regra, que a revista recebeu
tinham este conteúdo, e aí ninguém dos quase 50% da população brasileira
que não concordam com isso (e que aliás, são de várias regiões e classes
sociais do país) e votaram em Lula não mandaram carta para a revista, ou
ela simplesmente sonega representação para cartas que discordem de sua linha
editorial que, hipocritamente, não declara voto quando ele está claro. Neste
caso, o item um pode até ser conseqüência do dois. De qualquer forma o fim
é o mesmo: isso é símbolo de como na revista, um setor imenso da sociedade
brasileira vê-se negado de voz, compreensão das suas posições, de diálogo.
Linchado simbolicamente. Não é o que se espera de uma imprensa que se pretenda
maior e democrática, para dizer o mínimo.
Não sejamos bestas. Uma das sociedades mais desiguais do mundo não se segura
sem uma variedade de violências e sem fortes grupos de interesses apegados,
de diversas formas, ao status quo. E realistas. O governo Lula, nas
suas qualidades e defeitos, apenas arranha esta estrutura. Mas parece que
já é o suficiente para causar histeria em alguns.
Diogo Mainardi crê que o país não é governado por uma elite má. Eu também
não. Mas onde Mainardi vê nos problemas do Brasil algo que saiu errado, talvez
por clima, religião, indolência, latitude, miscigenação ou excesso de batucada,
eu vejo algo errado que deu, e segue dando, certo. Uma estrutura forte e
arraigada. Se todos fôssemos de fato a favor da igualdade e contra a pobreza,
se delas muitos, nós mesmos, não nos beneficiássemos de uma forma ou outra,
ela já estaria entre nós. Mesmo no empurra-empurra das culpas pela miséria
entre esquerda e direita e as discussões sobre os rumos da sua resolução,
seriam muito, mas muito diferentes se todos tivéssemos o mesmo interesse
em resolvê-las, no sistema político-econômico que fosse.
Mas se uma pessoa quer ir para o norte e outra para o sul, alguém está sendo
enganado se elas concordam no caminho que seguirão juntas, certo?
O governo de Lula tem defeitos e qualidades. Mas eu tenho a estranha tese
de que um governo espetacular, capitalista inclusive, mas que de fato combatesse
a desigualdade social, ia ter que agüentar uma tremenda bronca neste país.
Você acha, sinceramente, que quem se acostumou, na fazenda, na fábrica, na
sua residência, a pagar uma merreca para um trabalhador quer igualdade social?
Quer escola de qualidade para todos, para que todo mundo dispute igual vaga
na Fuvest, concurso de juiz e seleção da Unilever?
Não tem Vieira Souto, Lagoa Rodrigo de Freitas, Angra dos Reis e Jardins
para todos, cumpadi! Lavar a própria pia, limpar a própria casa, estacionar
o próprio carro. Pagar multa e não gritar “você sabe com quem está falando?”.
Acho que os problemas éticos e legais do PT devem ser investigados e punidos.
Sou muito tranqüilo em relação a esta discussão específica e acho que a oposição
cumpre papel importante e benéfico nisso. Não suporto a pressão, e a farsa
da interdição da política que há por detrás disso, da intolerância e desrespeito
aos eleitores – pobres, do nordeste, ou de todas as outras regiões e classes
sociais – que optaram por votar em Lula. Porque é uma tremenda cortina de
fumaça, que revela por frestas e entrelinhas muito do que há por trás disso.
O ódio ao voto dos mais pobres. O ódio que o governo distribua alguma renda
para quem se enquadra no programa, indiscriminadamente à posição política,
por isso não é compra de votos, algo em torno de 70 reais por mês aos mais
pobres da sociedade.
A opção por uma sociedade mais desigual. Por lendas e mitos que atrasam.
Pelo muro e pela repressão.
Pelo caminho mais covarde possível como linha de política externa. Pela mera
submissão a qualquer ditame do governo norte-americano, mesmo quando esta
é ditada por fundamentalistas corruptos, mentirosos e belicistas que inventam
guerras. “Alinhamento estratégico” é o nome pomposo disso.
Pela crença de que o interesse dos ricos é o interesse da sociedade e vice-versa.
Que quanto mais o capital render para os que já são ricos, que isso por si
só será bom para a sociedade, mesmo isso sendo feito com a redução de direitos
da maioria da sociedade, que é trabalhadora, a detonação do meio ambiente,
ou violentas exclusões e expropriações.
Que o Estado não pode ter um papel, sequer marginal, de redistribuição de
renda, que é um acinte destinar recursos de impostos aos mais pobres, que
isso é “assistencialismo”, “populismo”, muito menos os pobres se organizarem
politicamente, que isso é “manipulação”, e movimentos sociais “criminosos”.
Que a única maneira de salvar os pobres é com um conceito e discurso abstrato
de “educação” (como dar educação sem o mínimo de estabilidade e nutrição
no lar, o que, aliás, o Bolsa Família sequer chega a dar?), que não contempla
aumentar salário de professores ou enfrentar os benefícios fiscais que subsidiam
a escola particular dos mais ricos (sim, a isenção do imposto de renda de
quem estuda em colégio particular...). Enquanto pagar juros obscenamente
altos aos mais ricos é uma decisão “prudente” e “técnica”, que imagina, não
movimenta nenhum tipo de lobby e grupos de interesse...Imagina.
Que não é para vivermos em uma sociedade de fato solidária que estenda direitos,
mas ao invés disso os pobres devem ser tratados não como cidadãos, mas como
objetos de uma “generosidade” pornográfica dos ricos, em humilhações publicitárias
do chamado “marketing social” ou "caridade". Que os mais pobres não têm direito
de votar de acordo com seus interesses. Que eles não sabem o que é melhor
para eles mesmos.
O governo Lula faz pouco neste, e em muitos outros sentidos. Mas faz algo,
contra uma elite malandra e arraigada, e uma classe média deslumbrada e mesquinha,
ambas mestras em se fazer de vítima (com as muitas exceções e particularidades
que não cabem no geral, sempre). Os que arrotam merda sobre o Bolsa Família,
são os mesmos que vão para a França, onde ajudas similares ao “Bolsa Família”
são de algumas centenas de euros e há uma rede de proteção social (que até
nos Estados Unidos, onde ela tem sido reduzida, é mais densa que aqui), ou
para a Inglaterra, onde os sistemas públicos funcionam bem melhor que aqui.
Esbaldam-se com a “civilização”, e depois vêm aqui defender suas fazendas
de abobrinhas. Legítimos súditos de Dom Pedro II, que por décadas foi o descolado
imperador de uma atrasada e aberrante nação escravocrata.
Digníssimos escribas iluminados de uma imprensa livre, que por obra de imensa
coincidência, conhece pouquíssima dissidência e diversidade nas suas páginas.
Todas as cartas, amigos, batendo em Lula. Claro, afinal todos que votam nele
não são analfabetos? Logo, como escreveriam cartas ou e-mails?
Os jornalistas da imprensa grande brasileira, que são um verdadeiro google
para detectar e rebater qualquer análise não histérica sobre Cuba ou Venezuela,
passam batido por coisas como “macacos hispânicos” proferida pelo guru da
"lógica" Arnaldo Jabor falando de Chávez e Morales, com todo o carinho e
educação. Ou pegam um livro como Não somos racistas de Ali Kamel,
diretor de jornalismo da Rede Globo, e passam batido pelos seus simpáticos
resenhistas, inclusive o da Veja, e aí cabe agradecer especificamente ao
Marcelo Leite que escreveu excelente resenha no caderno Mais!, uma passagem
do livro como essa:
"A verdade é que a escravidão não assentava sua legitimidade em bases
raciais, pois era grande a mobilidade social dos escravos. (...) Ou seja,
uma vez alforriados, a cor não era impedimento para que os negros fossem
aceitos como iguais pelos brancos".
Como aponta Leite, dizer que a escravidão não assentava sua “legitimidade”
(o maior sic do mundo) em bases raciais é um absurdo inacreditável, pelo
simples motivo que negros não poderiam ter brancos como escravos. Onde eles
poderiam ser iguais? Onde isso não se baseava em raça? Kamel deve ter assistido
muita “Sinhá Moça”. O mínimo era admitir "caguei nesta passagem" e ajoelhar
no milho....
Fala sério. Todo o jornalista sabe o que pega bem e o que pega mal demonstrar
ideologicamente para ascender nas redações de Veja, Folha de S.
Paulo, Estado de S. Paulo e afins. Todo mundo no meio sabe o que
é “Operação Portugal” ou pedidos estranhos. Muitos mantêm a integridade com
muito esforço dentro destas condições. Outros fazem por convicção. Alguns
inclusive sobem na carreira mesmo sendo de esquerda, corretos ou independentes,
por tremendos méritos. Mas todos, todos sabem dos latifúndios autoritários
que dizem representar a “liberdade de imprensa”. Como se barra a investigação
de determinados escândalos, entrevistas, opiniões de determinadas correntes
acadêmicas.
O principal problema para a real liberdade de imprensa hoje é a auto-censura
dentro das grandes empresas de mídia. Taí um único e belíssimo motivo para
votar no Lula. A liberdade e fiscalização da imprensa sobre seu governo será
muito melhor do que a sobre Alckmin.
Não se trata aqui de manipulação, de armação, de conspiração. Mas de supressão
e desqualificação das diferenças políticas, como se estas fossem apenas um
caso de polícia, e já investigado, transitado e julgado em última instância.
E como se discordando a realidade do impresso, errada está a realidade, que
não sabe ler. E claro, deve estar recebendo algum mensalão...
Este mês vai ser fogo. Tenho muito trabalho, para as muitas continhas pagar.
Uma matéria imensa para fazer. A editora em que eu trabalho organizará 3
grandes debates/lançamentos, um já na quinta no Memorial, um dia 10 na FAU-Maranhão,
outro dia 18 no Sesc Vila Mariana. Também vou fazer no mínimo uma festa (espetacular)
como DJ dia 21. E pretendo, no tempo que for possível, exercer meu direito
de defender minha opinião política como cidadão, não contra, mas com seu
local a parte da gritaria de frases-feitas do moralismo de ocasião, que enfim,
cada um tem o direito de escolher que roupa vestir. Dialogar, expor opinião,
ouvir, argumentar. Porque acho que é meu direito. Porque acho o momento importante.
Porque esta histeria fabricada, estes preconceitos de classe que afloram,
anti-republicanos e anti-democráticos, estes valores regressivos, egoístas
e inconseqüentes me deram nos nervos.
Assim, que o Veja Q Porcaria volte depois da eleição quando eu estarei tranqüilo
e feliz independente do resultado, respeitando a escolha de voto e o rumo,
se norte ou sul, escolhido pela maioria e pela minoria, para analisar os
abusos cometidos pela revista, que são muitos, além e aquém do seu direito
de ter um ponto de vista e uma opinião.
Porque, ao contrário da Veja, este boletim não é, para o bem ou para o mal,
jornalismo militante ou a serviço de uma candidatura.
Grande abraço, obrigado pela atenção dispensada, e inté breve.
AVISOS
Esta crítica da
Veja é completamente independente, não estando associada
a nenhum grupo ou empresa.
Correções, críticas,
sugestões e comentários em geral são bem vindos.
É livre o repasse
desta mensagem, desde que constem os créditos da
fonte e do autor, e o e-mail para recebimento do boletim.
A publicação de
trechos ou mesmo do Veja Q Porcaria inteiro é permitida,
desde que discutida antes com o autor.
Avisem-me acima
de tudo se NÃO QUISEREM mais receber ou se souberem
de alguém que queira.
No caso de ter recebido
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