Veja Q Porcaria n.28 - 2006

0 views
Skip to first unread message

José Chrispiniano

unread,
Jul 17, 2006, 11:12:04 AM7/17/06
to vejaqp...@googlegroups.com



 - - Primeiro, duas “auto-propagandas” rápidas do autor do boletim. Quem estiver em São Paulo no dia 22 de agosto, e quiser ver como eu sou melhor DJ que crítico da Veja, estou organizando uma festa com alguns amigos. Todas as informações (flyers, mapa, preço, lista etc...) neste endereço: http://www.tribodesign.com.br/kilo/.

- A outra propaganda é que a Conrad fez uma promoção na sua loja virtual, vendendo meu livro (o único, por enquanto...) autografado. Eu não sei a vantagem de um exemplar que traz um diagnóstico de Parkinson rabiscado, mas para quem quiser ao menos rir da minha letra (é o que eu faço), clique no link
 .

- "Em 96% dos carros você só vê uma pessoa, a que está dirigindo. Todo mundo quer ter um carro e dirigir pelas ruas feito um idiota, queimando litros e litros de combustível."
Hugo Chávez, presidente venezuelano e defensor do direito de ir e vir a pé

É, esta semana deve ter sido fraca na categoria “vamos pegar algo para falar mal do Chávez”, então eles saíram só com esta, uma coisa gratuita em cima de uma declaração banal, ainda mais para um país exportador de petróleo, e onde a gasolina é subsidiada. Melhor sorte semana que vem.

- A matéria de capa da Veja sobre o PCC rende alguns comentários: que beleza de material que foi repassado pela Secretaria de Segurança de São Paulo para a revista... E que arrogância daqueles quadros “O que pode ser feito”. É a segunda crise do PCC que Veja diz, citando sua capa “o que fazer para acabar com o terror”. A “receita” é rubricada pela revista mesmo, sem especialista sendo citado, nada. É o jornalismo da onipotência...Como se fosse simples assim.
A coluna de André Petry sobre a atuação dos tucanos de São Paulo e suas acusações junto com os pefelistas contra o PT, sem provas e sem assumir responsabilidades, por outro lado, é muito boa. E a entrevista com o Saulo Abreu, enfim, as perguntas acho que são as que deveriam ser feitas mesmo, mas as respostas do personagem...Em uma semana em que até a grande imprensa notou que encher cadeia não funciona mais, o Saulo segue com uma compreensão ultra-conservadora do problema.

- Hamilton Octavio de Souza publicou um trecho do Veja Q Porcaria na edição passada da revista Caros Amigos. Este trecho provocou esta carta enviada a revista, que agora reaparece no boletim.

"Minha carta vai para o Hamilton Octavio de Souza, da seção Entrelinhas, e o recado é o seguinte: compartilho da opinião dele sobre a revista Veja, gostaria de dizer também que sou jornaleiro, sou proprietário de uma banca de revistas em Porto Alegre e há mais ou menos um ano e meio tomei a iniciativa de não vender mais a revista Veja para os meus clientes, devido ao comportamento antiético dela, e já que em certa medida também sou responsável pela difusão da informação, aproveito minha margem de manobra – pequena, é claro – para boicotar uma revista que joga contra os interesses do povo brasileiro e não contribui em nada para solucionar os grandes problemas nacionais."
Fábio Marinho.

- A Carta ao Leitor desta semana traz um ataque a um projeto de lei patrocinado pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). Há uma desqualificação um pouco grosseira e simplista da entidade e de quem seriam os “verdadeiros” jornalistas. Eu também sou contrário ao projeto da Fenaj, e inclusive de forma mais ampla da exigência de diploma para jornalistas. Mas me irrita quando os empresários mobilizam o espaço jornalístico para defender como prioridade primeira seus interesses. Mesmo sendo, no caso, um editorial, é um abuso. Quem regula a Globo quando ele faz campanha pelo padrão de TV digital, ou a Abril quando defende decisões do Cade que interessam à TVA, o seu conceito de liberdade de empresa como imprensa, ou a desregulamentação da profissão?

- Cláudio de Moura e Castro nas páginas da Veja não é um especialista em educação. É simplesmente um defensor sistemático dos interesses das fábricas de diploma. Ele tem razão em dizer que fazer um curso superior, mesmo que não dê acesso a uma profissão, melhora a renda, a formação, e é melhor que nada. Mas segue sendo enganoso que isso não fique claro nas relações entre as faculdades privadas com suas caras mensalidades, e a maioria dos seus alunos (principalmente dos infinitos cursos de “direito” e “administração”), que tem são iludidos na formação e no currículo.


- Desculpe o longo comentário. Mas a matéria de Diogo Schelp sobre os conflitos nas fronteiras sul (Faixa de Gaza) e norte (Líbano) de Israel é de uma “bondade” com o governo israelense impressionante. É uma obra-prima de como distorcer uma situação pequeno desvio por pequeno desvio. Baseia-se naquela clássica versão de “dois lados que deveriam querer a paz, mas puuuuuxa, eles não se entendem, e estes árabes que adoram explodir coisas, não deixam Israel em paz...”. Segundo esta linha que poderia ser batizado de “Oriente Médio para crianças”, faz anos que o Estado de Israel não tem políticas estratégicas sobre o assunto, basicamente sempre só atua em “reação” a algo, o que é de uma "ingenuidade" olímpica. Para isto você trabalha ignorando várias coisas, como as condições dos dois lados – um estado rico e organizado, e do outro um território divido em dois, na sua maior parte constituído de favelas e campos de refugiados miseráveis, com uma “autoridade” sem controle sobre sua fronteira e que depende do outro estado para arrecadação financeira. Um lado tem o mais sofisticado exército do planeta. O outro, um bando de bandos – milícias, grupos terroristas, alguns “oficiais”, outros “clandestinos”. Aí você escreve no meio uma mentira dessas:

“A disputa entre judeus e árabes pela Palestina é de difícil acordo devido, em parte, ao tamanho exíguo do território reivindicado por ambos os povos.”

Ok, mas existem resoluções claras sobre o que deveria ser o estado Palestino. Sobre as quais Israel passa por cima desde 1967, redesenhando a fronteira de acordo com sua convenção. Mas isso você não informa. E outra como essa.

“A retirada israelense de Gaza pressupunha a existência de algum tipo de racionalidade entre a liderança palestina. Sem a opressão diária da ocupação, os palestinos teriam a oportunidade de levar vida normal e de cimentar os alicerces de um Estado autônomo.”

Lógico, a opressão diária da ocupação tinha acabado (sic), e aí estes árabes não se entendem...Lógico que os palestinos são pródigos em divisões, bravateiros e ações injustificadas contra civis israelenses. Mas qual era a perspectiva oferecida por Israel, que era o lado que tinha algo a oferecer, por ser o ocupante, ao palestinos, ao longo de todo este processo, para a formação de um estado autônomo? Basta dizer, o que Veja não diz, que este “estado” tem dois territórios separados e a ida de um para outro é controlada por Israel...Como Israel sabotou a atuação moderada de Arafat, sabia que estava plantando a vitória do Hamas. Já na época da retirada de Gaza havia pouquíssima viabilidade em uma autoridade palestina digna desta palavra. Israel vêm, desde os fracassos do Acordo de Oslo, plantando o caos para colher avanços territoriais, reforçadas pela desqualificação total da luta nacional palestina como “terrorismo”, com aval dos Estados Unidos. O que destruir aeroportos no Líbano e jogar nas cordas um governo libanês pró-ocidente tem a ver com uma retaliação contra uma guerrilha, o Hezbollah, que atacou a fronteira israelense? Se Morales ofendeu o Brasil ao invadir a Petrobras com tropas do Exército “sem avisar”, imagina o que o governo Libanês deveria sentir quando o vizinho destrói seus aeroportos civis e mata crianças.
Veja também sonega na matéria que pela trocentésima vez os norte-americanos vetaram resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas condenando as ações do governo Israelense. Na era Bush, os norte-americanos perderam qualquer legitimidade, e imobilizaram a comunidade internacional em torno da resolução desta questão.

“Por força de uma geografia perversa e de sua história peculiar, Israel é forçado a conviver olho no olho com inimigos que o superam em número, mas não em tecnologia e eficácia militar.”

O ponto da matéria é que certas crises são “sem solução”. Não devem ter mesmo solução a curto prazo, mas não são acidentes natureza, fruto da “história” e da “geografia”. Ano que vem fará 40 anos que Israel resolveu sentar em cima dos territórios palestinos conquistados em uma guerra onde contra-atacou uma agressão. De lá para cá teve oportunidades, principalmente nos anos 90, de tentar resolver a situação por cima, particularmente em relação a essência do seu problema com todos os países árabes, os palestinos, justamente os mais próximos e muitas vezes no passado os mais propensos a aceitar o estado de Israel (bastaria Israel aceitar o deles...). Muito mais rica e poderosa militarmente que seus inimigos, infelizmente o país é dividido entre desejos de expansão territorial e opressão econômica contra os palestinos, a tentação de ser um estado racista excluindo os não judeus que vivem em suas fronteiras, políticos oportunistas (Ariel Sharon...) que atuam em cima do terrorismo, o domínio da agenda pelo aparato militar, e aliados como Bush. É uma pena, principalmente pelo fomento do anti-semitismo causado pelo conflito. Esta percepção de que é “inevitável” agir assim, pode ser uma ótima cobertura de curto-prazo, mas no fundo é uma ofensa em como poderia agir Israel, de quem se espera mais, e não o mesmo padrão de atuação, do Hezbollah. Eu tenho a opinião que o país poderia fazer muito melhor do que matar civis e executar punições coletivas. Por último, é um desrespeito a menção mínima aos quatro cidadãos brasileiros de origem libanesa, mortos em Beirute pela aviação israelense enquanto passavam férias. Dois deles eram crianças. Não mereceram fotos, sequer citação de seus nomes. Imagina se tivessem morrido em um tsunami, ou em atentados cometidos pela Al-Qaeda.


AVISOS
Esta crítica da Veja é completamente independente, não estando associada a nenhum grupo ou empresa.
Correções, críticas, sugestões e comentários em geral são bem vindos.
É livre o repasse desta mensagem, desde que constem os créditos da fonte e do autor, e o e-mail para recebimento do boletim.
A publicação de trechos ou mesmo do Veja Q Porcaria inteiro é permitida, desde que discutida antes com o autor.
Avisem-me acima de tudo se NÃO QUISEREM mais receber ou se souberem de alguém que queira.
No caso de ter recebido essa mensagem em um forward e quiser receber
o "Veja Que Porcaria" semanalmente, mande um e-mail para vejaqp...@yahoo.com

Reply all
Reply to author
Forward
0 new messages