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- Para quem interessar
possa, foi criada uma pequena comunidade sobre o boletim no Orkut, chamada
Veja que Porcaria, criada por estudantes de jornalismo após uma palestra.
Basta dar uma busca em "comunidades", com seu título, que "aparece".
- Comparações entre atitudes e tratamento da imprensa dados à esquerda ou
à direita, ou ao PSDB e ao PT, talvez seja uma das coisas mais chatas e óbvias
do cenário político e da análise de mídia. Ainda mais quando se sabe com
quanta mediocridade, hipocrisia e oportunismo, os partidos políticos fazem
este jogo. Mas às vezes não temos como escapar disso. Semana passada viu
uma manifestação do até então desconhecido Movimento pela Libertação dos
Sem-Terra (MLST), depredar uma ante-sala do prédio do Congresso Nacional.
Os manifestantes foram presos, vários deles estão sendo processados. O governo
soltou uma nota condenando o caso, e o PT, em uma velocidade célere que não
se viu para punir membros do partido ligados ao escândalo do mensalão, prepara
a expulsão do líder do movimento, Bruno Maranhão, filiado ao partido e membro
da sua executiva nacional. Tudo isso, todos sabem.
Quando o assunto encontra a criatividade, ideologia e “boa vontade” jornalística
da equipe editorial da Veja, pessoas viram “PTbulls”. Vai a transcrição
completa do texto da capa:
“A invasão do Congresso por um destacamento do Movimento de Libertação
dos Sem-Terra (MLST) vem sendo classificada de vandalismo. É um erro. A operação
foi uma ação violenta, planejada e executada com desvelo em seu objetivo de
desmoralizar a democracia representativa. Era de esperar que, como a mais
alta figura na hierarquia política do país, o presidente Lula fosse eloqüente
na condenação do episódio. Outro erro. Sua assessoria se limitou a emitir
uma nota sem convicção.
(...)
Nem Lula nem seu partido, o PT, pareceram preocupados com a essência deletéria
do episódio sobre o frágil tecido político sobre o qual se assentam as instituições
democráticas no Brasil. Em um ano eleitoral, limitaram-se a salvar as aparências.”
Vou reproduzir abaixo, tentando comentar o mínimo possível, os “melhores
momentos” do editorial e da matéria sobre o tema. Mas já que estamos falando
de atos que atentam contra a democracia representativa e o frágil tecido
político do país, e o próprio título da matéria fala em “Insulto a democracia”,
vamos para um outro fato ocorrido na semana passada (terça-feira) que não
mereceu nenhuma palavra de Veja esta semana.
O secretário de segurança de São Paulo vai depor no parlamento local, a Assembléia
Legislativa. Enche a sala de oficiais das forças policias do estado, e a frente
do prédio da assembléia de viaturas (ou seja, em serviço, ou seja, financiados
pelo governo) e fica debochando e ironizando, com gestos e impropérios, os
deputados, dizendo que está ali perdendo tempo. Não só os do PT, o próprio
PFL ficou irritado com a atitude do secretário, que nitidamente falou e jogou
com a corporação armada do estado, a qual chefia, para se postar diante do
parlamento. Joga com ela na pior perspectiva, que é a de uma polícia sem transparência,
sem controle, corporativa, sem respeito aos “direitos humanos” e cheia de
ações sigilosas onde podem prosperar abusos e corrupção.
O secretário é filiado ao PSDB, é autoridade oficial, e foi posto no cargo
pelo candidato a presidente da República Geraldo Alckmin. É um caso regional,
mas no estado mais importante do país, e ligado aos desdobramentos dos atentados
do PCC, grande crise de poucas semanas atrás. A nossa imparcial, republicana,
moderna e lucrativa imprensa escrita, não dedicou um editorial ao fato. Veja,
nenhuma palavra. Isso com toda a preocupação que eles têm com a democracia,
com o estado de direito, com todos os colunistas e editorialistas que eles
têm para entregar indignação indignada em doses regulares, sejam diárias ou
semanais. O único a tratar do assunto foi o ex-diretor da Veja, Elio Gaspari,
na sua coluna na Folha de S. Paulo de domingo. Quem sabe foi um simples caso
de desatenção?
- Voltemos aos trechos de Veja:
“Os fatos demonstram que, quando Lula coloca o boné dos sem-terra, ele
não está sendo apenas demagogo, afagando o espectro mais radical de seu arco
de alianças – composto, reconheça-se, também de ingênuos sociais-democratas.
(...)
Se não, vejamos. O Ministério do Desenvolvimento Agrário e o Incra foram
entregues a agitadores comprometidos até a medula com o MST, de cuja costela
nasceu o MLST. O financiamento governamental a ambos os grupos radicais cresceu
exponencialmente durante a administração petista. Somente o MST recebeu mais
de 25 milhões de reais entre 2003 e 2005. O atual governo simplesmente ignorou
a medida provisória, com força de lei, que proíbe a desapropriação, para fins
de reforma agrária, de terras invadidas. Com o empurrão do Planalto, as invasões
triplicaram ao longo do mandato de Lula. O chefão do MLST é Bruno Maranhão.
Ele é um dos integrantes da Executiva Nacional do PT e secretário do partido
encarregado dos movimentos sociais. O termo é um eufemismo. Ele designa as
organizações que, a pretexto de defender causas justas, sentem-se livres
para cometer crimes e adiantar sua declarada agenda revolucionária marxista.
Está passando da hora de essa gente ser informada de que está no século errado.”
Textualmente, isso é a chamada “criminalização dos movimentos sociais”.
Uma tremenda simplificação, para dizer o mínimo. Quanto ao problema da “declarada
agenda revolucionária marxista”, e a hora que está passando, é uma clara
demonstração de que a “paciência” de certos democratas com a liberdade de
manifestação política está "se esgotando". Devem estar a beira de ter um
piti.
Na matéria, assinanda por Julia Dualibi e Otávio Cabral, além do “PTbulls”,
Veja pode sacar outra da sua gaveta criativa: o “mal de Marxzheimer”
que seria uma “doença social que produz miséria física e mental”.
Não vou nem comentar isso.
Vai um trechão da matéria:
“Por que os sem-terra atacaram o Congresso? Porque a reforma agrária não
avança, os assentamentos estão parados? Porque são marginalizados, ninguém
os ouve, não têm acesso aos parlamentares, ao presidente da República, ao
Palácio do Planalto? Nada disso. Eles têm representantes no Congresso, recebem
verbas públicas e são recebidos pelo presidente Lula no Palácio do Planalto.
O petista Bruno Costa de Albuquerque Maranhão, o líder do MLST e do quebra-quebra
da semana passada, foi recebido duas vezes por Lula no Palácio do Planalto,
uma em julho de 2004 e outra em novembro do ano passado. Portanto, a resposta
é outra: os sem-terra promoveram a baderna contra o alvo determinado porque
em sua cartilha e em sua visão de mundo não existe lugar para o Congresso.
Também não existe lugar para a liberdade de expressão, para universidades
livres, para laboratórios de pesquisa ou para progresso científico.”
Observe o “jornalismo sério e competente”, como diz o Marco Bianchi do Rock&Gol
da MTV. Eles foram lá para “destruir” o Congresso? Não havia nenhuma reivindicação
ao menos prévia ao quebra-quebra (pela matéria, não sabemos)? Por mais injustificável
que seja o ato como acabou, e o é, não está sendo investigada a dinâmica
do que ocorreu, se já chegaram depredando ou foi algo que se desenrolou,
se as lideranças tentaram conter ou estimularam ainda mais, etc...Se para
eles não existe lugar para Congresso, porque foram até lá entregar alguma
reivindicação?
Veja depois divide os movimentos sociais em dois: os transparentes e saudáveis,
e os do “século passado” (que sempre gosto de lembrar os editores, acabou
faz só cinco anos...) que tem a velha idéia de servirem de instrumento de
mudança revolucionária.
Outra coisa curiosa da matéria de Veja, é que das poucas aspas que têm,
duas são para editoriais de outros veículos da imprensa. Uma do Estado
de S. Paulo, outra para o O Globo.
Tem muito, muito mais, mas talvez valha a pena parar só com o fim da matéria,
que desenha um cenário histérico e irreal:
“E as instituições – as leis, os contratos, a Justiça, os partidos, o
Parlamento etc. – são obras de construção lenta. São a síntese da história
de um povo, um resultado de suas crenças, de sua visão de mundo, de suas
tradições e experiências. É por isso que são diferentes ao redor do mundo.
É por isso que não se erguem instituições de um dia para outro – mas se pode
destruí-las rapidamente. É o que querem o MLST e seus cúmplices. O governo
se aproveita disso para chantagear os adversários e a sociedade, como Tarso
Genro mostrou com clareza. Quem nos defende?”
A tese do “braço armado” é que os movimentos sociais seriam usados pelo PT
como ameaça contra a “sociedade indefesa” caso saiam do poder, como em um
cenário pré-ditadura. Para isso, desenha-se uma situação histérica, onde tiram
do contexto uma declaração de Tarso Genro sobre um possível impeachment, para
dar sustentação a isso,que hoje é total alucinação. Tem que ser muito louco
e/ou mal intencionado para achar que o Brasil, em pleno processo eleitoral
e de liberdade de expressão normal, passa por algo assim.
- A matéria acompanha uma retranca feita por Leonardo Coutinho onde uma
ex-militante do MST diz ter sido torturada ao tentar denunciar crimes em
um assentamento. É um longo depoimento, todo em aspas, que não ouve o outro
lado e expõe a própria depoente, porque ao invés de se basear em uma reportagem
que reforce o caso, usa apenas o seu forte relato, que é uma denúncia importante
a ser investigada, inclusive antes de ser publicada. De boa fé, creio que
a história foi checada pelo jornalista, que os citados foram ouvidos, e que
o relato de abusos em assentamentos, não só nesse como qualquer um, devem
ser apurados. De novo, porque Veja nunca cobre também relatos de torturas
e abusos cometidos, por exemplo, nas muitas fazendas do Pará onde se encontra
trabalho escravo? Ou o assassinato de trabalhadores rurais? Ou assentamentos
que deram certo? Porque nunca publicou o depoimento dramático de uma mulher
de líder rural assassinado? Porque só foi pautar este tipo de morte no campo,
quando a vítima é norte-americana, no caso, Dorothy Stang? Sempre gosto
de repetir e lembrar, até porque há gente na redação da Marginal Pinheiros
que lê este boletim, que no interior do país o discurso unilateral, ideológico
e preconceituoso da Veja reforça as crenças de gente que, no limite,
contrata os matadores contra líderes que organizam o lado mais frágil da nossa
sociedade. E que a repressão e morte trágica de muitos deles também tem sido
parte da “síntese da história de um povo”, e da “construção lenta”
de nossas instituições.
- Veja voltou ao Iraque. Dois pesos, duas medidas. O título da matéria
é “O fim do açougueiro do Iraque” sobre o assassinato do terrorista
Abu Musab al-Zaqawi. Abre assim o texto de José Eduardo Barella: “Na sina
ingrata da guerra no Iraque, o governo e o Exército americano merecem aplausos
pelas bombas que mataram Abu Mussab al-Zarqawi.” Zarqawi foi um terrorista
sanguinário, que não se importava em matar civis no meio do caminho, ou fomentar
conflitos para atingir seus objetivos. A morte de Zarqawi consolida a adoção
pelos Estados Unidos, sem maiores discussões, da controversa tática israelense
de assassinatos “seletivos”, execuções sumárias por meio de bombas, e nesse
caso não mostraram nem interesse em dar prioridade a captura e julgamento
do inimigo. É como se do “procura-se vivo ou morto” eliminassem a primeira
opção. As bombas que “merecem aplauso” (que trecho bárbaro e desnecessário,
vergonhoso) mataram também uma mulher e uma criança. O massacre de 24 civis
iraquianos por tropas norte-americanas, talvez mais importante para a percepção
sobre a guerra dentro dos Estados Unidos, é citado apenas no último parágrafo
da matéria e classificados como “abusos”, após não terem sido sequer noticiados
semana passada. A matéria reconhece de forma “ingênua”, o óbvio: o governo
norte-americano está usando a morte de Zarqawi para contrabalançar o impacto
negativo da notícia do massacre de Haditha, e do lamaçal que se tornou a
ocupação. Barella e Veja usam dois pesos e duas medidas bem diferentes
(açogueiro X abusos) para tratar de líderes que não se importam com a morte
de civis no caminho ou de fomentar conflitos para atingir seus objetivos.
- Além de citar o massacre de Haditha, Veja noticia discretamente,
uma semana após este boletim que a analisa citar o caso, que não passou no
senado norte-americano a proposta de banimento do casamento gay (permitido
em alguns estados) feita por George W. Bush, e os mesquinhos fins eleitorais
da medida.
- O jornalista Sérgio Martins produziu uma matéria de tablóide sobre a gestão
de Gilberto Gil a frente do Ministério da Cultura (Minc). O título “Ministro
em causa própria”. O olho “A gestão de Gilberto Gil é fraca. Mas deu
um belo impulso à sua carreira”. A matéria tem coisas curiosas como aspas
em off para agressão (não informação), que dessa forma se torna covarde,
de um empresário musical. "Gil é a Xuxa do governo Lula: é só dar uma
deixa que ele põe a platéia para dançar o Ilariê", solta o off impróprio.
Saudosos tempos em que Veja inventava declarações e ao menos buscava
gente para dar o nome para assumi-la. A matéria distorce o fato do cachê
de Gil ter aumentando depois dele ter entrado no ministério. Para sustentar
sua tese, Veja esquece o contraditório e distorce outros sapos, desculpe,
fatos. Como o fato de que se “Gil ganhou visibilidade”, também emprestou
a sua, a que ele de fato tem, para divulgar o ministério e o país no exterior.
“O ministério fez muito por Gil – mas a recíproca não é verdadeira. Sua
gestão é pobre em resultados. Gil tomou medidas populistas, como priorizar
projetos no interior do país na distribuição dos incentivos, em detrimento
das grandes produções de teatro e cinema. Devotou-se ainda a empreitadas
fátuas como uma campanha para transformar o samba-de-roda do Recôncavo Baiano
em patrimônio da humanidade. A "promoção da cultura brasileira no exterior"
mereceu sua atenção especial. Somente dois eventos, o Ano do Brasil na França
e a Copa da Cultura, que se realiza agora na Alemanha, consumiram 73 milhões
de reais.”
A avaliação sobre a gestão é, no mínimo, subjetiva. No meio, leviana. No
máximo, maldosa. Mistura problemas reais, como verbas de incentivo pleiteadas
pela sua esposa, Flora Gil, com maluquices, e classificações de "populistas"
que surgem de forma stalinista (aliás, que melhor termo que "stalinista",
para definir o regime que impera na redação da Veja?). A matéria traz
um quadro, com o que Gil fez pelo Minc e o que o Minc fez por Gil. O primeiro
item o critica por tentar criar a Ancinav, que daria um “controle ditatorial
sobre o cinema e a TV”. Isso não é verdade. Mas como há um controle ditatorial
sobre a produção jornalística de um cartel de mídia na defesa dos seus interesses
financeiros, isso é retratado e refletido como “verdade”, porque este projeto
ia contra seus interesses, com taxação e combate a monopólio de produção
e salas de cinema. O segundo item tenta retratar o ano do Brasil na França
como um fracasso. “Os franceses não gostaram muito da programação”. A frase,
ridícula, é sinal de quão fraca é sua base jornalística. O ano do Brasil
na França pode ser analisado, e inclusive criticado, por vários ângulos,
mas teve muito mais repercussão dentro da França que eventos semelhantes
dedicados a outros países, gerou intercâmbio de negócios e os eventos na
França tiveram grande público. Veja defende que o dinheiro gasto daria
para sustentar a Osesp por dois anos.Olha a abrangência, dimensão e alcance
de uma coisa, e da outra, que aliás, sequer tem comparação, são alhos e bugalhos...No
quarto item, Veja diz que Gil “priorizou pequenos projetos pulverizados
pelo país, em detrimento das grandes produções. Não conseguiu, contudo, fazer
uma revisão mais ampla das leis de incentivo”. Porque esta prioridade
de distribuição de cultura é ruim e grandes produções são boas? Haveria mais,
mas podemos terminar perguntando qual era a visibilidade, e o que fez pelo
Minc a gestão do ex-petista Francisco Weffort, que foi ministro por todo
o governo Fernando Henrique Cardoso (que na Veja, o único a criticar foi
o colunista Diogo Mainardi)? Ou por que a matéria não cita o ínfimo orçamento
do Minc, como o fez Antonio Fagundes em entrevista à Ilustrada da
Folha de S. Paulo, este domingo? Por que a Unesco decretar o samba-de-roda
patrimônio da humanidade é algo ridículo? E afinal, porque Veja não
ataca de frente a questão de fundo, que realmente a incomoda na gestão de
Gilberto Gil no Minc, que é uma das suas principais bandeiras, a questão
da propriedade intelectual?
- Para quem quer uma visão diferente sobre a disputa na América do Sul, além
daquela veiculada pela Veja, vale a pena ler este texto do economista Paulo
Nogueira Batista Jr.: A ampliação
do Mercosul. Posso enviar para quem não tiver acesso.
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