Veja Q Porcaria n. 19/20 - 2006

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José Chrispiniano

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May 23, 2006, 1:44:35 PM5/23/06
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- Por sorte ou azar, justo na semana em que fui tirar férias, Veja publicou sua matéria “sobre” Daniel Dantas, a mais controversa da revista no ano, que causou fortes declarações de Lula sobre a revista. Houve a paralisação de São Paulo por conta do PCC. Além disso, a edição passada da Veja teve matéria mentirosa sobre software livre e hiper-grosseira sobre a continuação da disputa entre o governo Evo Morales e o brasileiro por conta do gás boliviano.

- Não dá para o assunto principal do boletim não ser a matéria “sobre” Daniel Dantas. Justamente pelas minhas férias, acabei lendo primeiro a edição desta semana (nº 1957) que traz as explicações de Veja e a repercussão do caso, e só depois a da edição da semana passada. Acabou sendo interessante. Ao ler as 9 páginas, mais editorial e coluna de Mainardi que tratam das seis páginas da semana passada, já dá para notar que há algo errado quando é necessário mais espaço para explicar e justificar uma matéria. Quando a revista e o jornalista que a assina tornam-se os principais personagens, nos papéis simultâneos de promotores, juízes e “vítimas”. Pior ainda, ao ler primeiro a matéria desta semana, fiquei com uma impressão do que seria a da semana passada. Veja quer “reescrever-se”, dizendo que sua matéria era uma denúncia de que Dantas montara um dossiê sobre o governo. Ao ler “A guerra nos porões”, assinada por Marcio Aith, vi que era muito, mas muito pior do que imaginava. Ao encarar a cara-de-pau e a empáfia dos lados envolvidos na questão, a vontade é dar de ombros de fazer este boletim, de realmente desistir de levar estes caras da Veja minimante a sério.

- A história, para quem ainda não a conhece: semana passada, Veja publicou uma matéria que hoje ela defende como sobre o banqueiro Daniel Dantas, o dono do Opportunity envolvido na maior disputa empresarial da história do país, em torno do controle Brasil Telecom. A disputa é intrincada, envolvendo políticos, governos, fundos de pensão, empresas e autoridades judiciais de ao menos quatro países (Brasil, EUA, Itália e Ilhas Cayman) e bilhões de dólares. A principal chamada da matéria, inclusive de capa, seria uma lista nas mãos de Dantas, de contas no exterior do presidente Lula e de outros membros da cúpula do governo e do PT. A matéria registra mais que isso, como as várias contratações e o dinheiro que Dantas enviou para advogados ligados à Lula e Dirceu, patrocínio a empresa do filho de Lula, contatos com Marcos Valério (que são casos comprovados), e um alegado por Dantas em entrevista a Mainardi, pedido de propina por Delúbio (que deve ser investigado). Mas o “principal” da matéria é a lista. Veja admite que depois de usar todos os meios possíveis, não comprovou a sua veracidade. Mas a publicou. Para isso, a revista usa uma série imensa de expedientes canalhas que contrariam violentamente a ética do jornalismo (e acaba sendo um exemplo de porque estas regras existem).

- Para achar uma justificativa para a publicação dos documentos sem comprovação fornecidos por Dantas, Veja usou de alguns artifícios: primeiro, quebrou a relação de confiança com a fonte, já que Dantas repassou os documentos, através de um diretor da empresa de espionagem privada Kroll, o americano Frank Holder, com a condição de manutenção de sigilo (aliás, é hilário como Aith tenta validar como uma carreira de “investigador”, um agente picareta profissional treinado pela CIA). Na prática a grande “denúncia” da matéria de Veja é sobre ela mesma e a traição de suas relações com Dantas. Segundo, dando uma de espertinhos, a matéria saiu para “denunciar” a chantagem a que Dantas poderia submeter os integrantes do governo com o material. Ou seja, coisa de bom samaritano. Para isso, decidiram se tornar cúmplices da chantagem, difamando através de documentos sem autenticidade comprovada. Terceiro, dizendo que incapaz de comprovar a veracidade do material, o publica e repassa a responsabilidade de verificá-los ao Ministério Público. Esta talvez seja a mais impressionante das posturas. Em nota de resposta as declarações de Lula (que podem ser lidas aqui, do site Comunique-se), o diretor da Veja, Eurípedes Alcântara, assume esta posição inacreditável no item 6 de sua nota, a de manter a suspeita pela suspeita, invertendo a presunção da inocência e o ônus da prova, pela presunção da culpa e o ônus do outro provar (sem ter sido o outro sequer ouvido antes da publicação) que as contas não existem.

- Nesta semana, Veja relata o processo de “apuração exemplar” da matéria. Seria exemplar mesmo. Para, comprovada a não validade dos documentos, destiná-los para a gaveta ou à história. Tanto os jornalistas de Veja sabem disso, que por meses ali a mantiveram. Ou mesmo, em uma hipótese intermediária entre o certo e o tamanho do erro que fizeram, dar uma chance aos acusados de provar que não têm estas contas. Mas teve um momento que não resistiram a tentação de jogar a ilação de que Lula possui estas contas no exterior, assim, como se fosse nada.
Veja tornou-se porta-voz irresponsável de boatos, através do artifício “não comprovamos que existem. Mas não comprovamos que não existem, então publicamos”. Aguardem matérias sobre a existência do monstro do Lago Ness, o Pé Grande e a volta do "Boimate", baseadas no mesmo princípio “jornalístico”. Só da maneira que foi editada a capa destas duas semanas, Veja espalhou para quem apenas a olha na banca, que Lula deve ter contas no exterior. A matéria não informa, ao contrário, desinforma, que não é a primeira, nem a segunda vez que Dantas é acusado de forjar documentos. Também não explica quem é Dantas, e como funciona e obteve este tal controle dele sobre a Brasil Telecom. Talvez porque isso implique em citar como este sujeito prosperou no governo FHC, no meio da privatização das telecomunicações, suas reuniões privadas com o ex-presidente, e o uso indevido dos recursos dos fundos de pensão de estatais. Como Veja não dá atenção para este assunto faz anos, levaria muito tempo para atualizar os leitores sobre ele.

- Nesta segunda matéria sobre o caso, Veja, usa repetidamente a expressão “jornalistas ingênuos”, para se proteger do asco que sua matéria causou. De fato, acho que a maior parte da classe jornalística não deve ter a malandragem dos políticos e empresários envolvidos no caso, ou dos jornalistas Mario Sabino, Marcio Aith e Eurípedes Alcântara e do parajornalista Diogo Mainardi. Que no fim da sua primeira peça conjunta, pedem “Coragem, Dantas!”, para que este saia das trevas e derrube o governo Lula, em uma “ótima contribuição ao país”. Não há santos nesta história, e certamente se houvessem não seriam Lula, Gushiken, Delúbio, Dirceu e companhia.  Veja acha que “fez o seu trabalho”. Que o governo atacou o “mensageiro” (Veja) e não o “conteúdo da mensagem” (Dantas). É uma admissão involuntária de como foram office-boys, rebeldes, mas office-boys, de Dantas. O que a atual direção da revista parece incapaz de compreender é quanto ela saiu da arena do jornalismo. Mesmo que se comprovem estas contas, a revista ao atuar fazendo discurso para derrubar x e y (até chegar a Lula), e poupando um lado da história (inclusive Dantas) para traçar a caveira do outro, perdeu a credibilidade. A atual direção da Veja parece incapaz de notar a diferença entre uma matéria impecável da própria revista, como a dos empréstimos de bancos ao PT que tinham a assinatura de José Genoino e Delúbio, e que derrubaram na hora a direção do PT, deste imbróglio que eles produziram nesta parceria da qual Dantas, modestamente, recusa o crédito. Tem sua graça ver a revista passar a perna no sujeito? Mais ou menos tem, até porque no andar da carruagem, cada dia que passa mais todos os envolvidos no caso (inclusive FHC, que tantas vezes protegeu os interesses de Dantas durante sua presidência, sem sabermos muito "por que?") se merecem, além dos processos judiciais que cabem a cada um. Mas sabe aquela decadência da política, da função pública, da postura republicana que a imprensa tanto gosta de falar? Esta matéria é isto também. Até para os padrões de Veja, eles conseguiram descer um pouco mais na lama.

- Lula deveria ter lido a matéria antes de falar da Veja, como aponta o seu editorial. Mas sua declaração sobre a leviandade da revista não precisaria mudar por conta disso, talvez só ganhasse mais argumentos. Na realidade, por motivos diferentes de Veja, concordo que Lula não deveria sequer dignar-se a mencionar esta matéria. A digressão no seu editorial sobre os fundadores da democracia nos Estados Unidos, Fidel Castro e Hugo Chávez, mostra apenas como está ficando difícil para eles raciocinarem conforme os sintomas da febre rábica, como a espuma saindo da boca, evoluem. A seção de cartas comprova isso. Veja decidiu que só ouve e só fala para o setor da sociedade que compartilha sua doença. É com estes que eles vão, para citar a música, sambar até cair no chão.

- Veja esta semana publica um apanhado de denúncias antigas para demonstrar, através de sofismas e distorções em alguns deles, que sempre “ganham” das versões do PT e do governo. No caso “Lulinha” não fica claro o que exatamente teria que ser investigado, ainda mais pelo próprio Lula (e não a PF, ou o congresso).  Talvez algum beneficiamente para a Telemar. No caso Bob Marques, não foi por conta deste caso que José Dirceu foi cassado, como a revista dá a entender. No caso dos dólares cubanos, até hoje não comprovados, Veja mostra que o PT de fato agiu para mudar a versão de Vladimir Poleto, ex-assessor de Palocci. Mas segue sem comprovação do caso em si, que quando foi publicado pela revista, esta errou até o dia em que teria acontecido o vôo que carregava as caixas que teriam os tais dólares (que nenhuma das fontes admite ter visto de fato). Na maioria dos casos citados, as denúncias da Veja estavam corretas. A prepotência e postura da revista só atrapalham sua própria credibilidade.

- Esta semana a revista traz duas capas. Em São Paulo, sobre o PCC. Fora dela, uma matéria sobre sua “Idade real”.

- É um mau sinal sobre minha exposição excessiva a Veja e a opiniões fascistas (maldosas, mas de certa forma ingênuas) que circulam nas ruas e internet sobre o conflito entre a polícia e o PCC. Tirando a revista desancar as declarações de Claúdio Lembo e Lula (para Veja não basta noticiar declarações, ela as classifica de certas ou erradas...), e sequer ser citado o nome de Geraldo Alckmin na matéria, que governou durante quase todo o período entre as duas mega-rebiliões do PCC (agora essa, não se pode responsabilizar governos, de qualquer partido, por atos ou omissões porque seria “partidarizar” a questão...), exaltar as privatizações de cadeias e as prisões norte-americanas, o caga-regras da Veja desta vez até que não foi dos mais a direita, ao menos do que se poderia esperar da revista. Ela defende penas alternativas, separação de presos e combate aos celulares e superlotação, muito mais racional do que os pedidos sangrentos por “pena de morte”, contra entidades de direitos humanos ou coisas do gênero, que não tem nada a ver, e nada resolvem, o problema do PCC e da criminalidade. Justiça seja feita, o vergonhoso sumiço dos tucanos paulistas na crise de segurança em São Paulo foi tratado na coluna de André Petry, que curiosamente não foi postada ao lado da matéria, como seria lógico, mas em uma página bem distante e discreta, ao lado de um anúncio e da seção de datas da revista.

- Ontem, o Estado de S. Paulo publicou uma interessante matéria sobre investimentos estrangeiros, e não só da Venezuela, na Bolívia, para que esta exporte gás liquefeito para os Estados Unidos. Contradiz tudo que disse a direita (de que a Bolívia não teria mais investimentos externos) e é irônico perante o discurso anti-imperialista de Morales, não que do ponto de vista do país dele ele não tenha razão em diversificar as possibilidades e mercados de exportação para o gás do seu país. É, os fatos insistem em serem mais complexos que os discursos...

- Nesta semana, Veja, em texto assinado por Giuliano Guandalini, reforça seu estilo “professoral”, com o texto “5 lições para derrubar o juro e crescer mais”. O texto se baseia e divulga as idéias da ultra-liberal Casa das Garças, instituição que reúne economistas ortodoxos ligados ao mercado financeiro, principalmente da PUC-Rio. Agora, imagina se economistas da Unicamp lançassem um livro com suas idéias, se teriam duas páginas na Veja para exaltá-los...

- Na edição passada de Carta Capital, Mino Carta mostrou que o governo federal representa em torno de 25% da publicidade da revista, e que 70% é da iniciativa privada , desmentindo afirmação de Diogo Mainardi, com a inteligência de nem citar o seu nome. Mino Carta também aponta quão curioso é o negócio da Abril com o grupo Naspers, que segundo Roberto Civita investirá o dinheiro sem interferir na condução dos negócios ou na área editorial, e relembra o papel de apologia do regime de apartheid que o grupo Naspers exerceu na África do Sul.

- Semana passada, Veja também publicou uma matéria sobre software livre, que causou esta resposta de Sérgio Amadeu que segue abaixo, ex-coordenador do programa de implantação do software livre no governo federal. A oposição de Veja ao software livre não encontra paralelo na imprensa nacional ou internacional. A revista finge não ver que não é coisa do PT, mas que uma série de governos de outros partidos e outros países, além de grandes empresas também estão adotando o software livre. Finge não notar que há um mercado para prestação de serviços por empresas brasileiras na área, e que a decisão de exportar urnas não foi do governo, mas do judiciário. Enfim, mente. E o jornalista que a assina simplesmente se presta a isso. Espero ao menos que lhe remunerem a contento, para pagar insalubres micos como este...


A veja não viu? É melhor não ver a Veja. A Veja é um panfleto.
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Por Sérgio Amadeu, São Paulo, 16 de maio de 2006

A revista Veja novamente divulga uma matéria mentirosa. Chamada O Grátis que sai caro, a matéria procura atacar o avanço do software livre usando releases publicitários da Microsoft, empresa monopolista que vai perdendo seus lucros monopolistas diante do avanço do modelo de software aberto.

Como o jornalista Eduardo, o Duda, tem muita experiência sabemos que seu texto não trouxe enganos, mas mentiras:

1. Somente um único Ministério, do Desenvolvimento Agrário, economizou R$ 2 milhões usando aplicações de segurança livres em sua rede. Isto sem contar a economia com suporte e com a estabilidade da rede. Apesar da campanha da Microsoft, o software livre é muito mais econômico e estável.

2. A Veja contraria as matérias da Info Exame (do mesmo grupo Abril), uma revista técnica e séria, sobre os enormes benefícios do software livre. Quem está mentindo: a Veja ou a Info Exame? A resposta é óbvia. A Veja mente.

3. Nunca se vendeu tanto computador no Brasil por causa do programa PC Conectado, devido ao financiamento e aos 26 softwares livres embarcados nos computadores. Só o Duda não viu. A venda de mais de 450 mil computadores com software livre fez até que as licenças proprietárias caíssem de preço. A Veja esqueceu que a concorrência gera melhores
produtos e a redução de custos da tecnologia da informação.

4. Veja não viu que enquanto 69,7% do mercado mundial (mais de 2/3) usa Apache, software livre para webservers, menos de 4% dos servidores do governo federal seguiam o padrão do mercado. Duda acha normal quando o uso é de programas da Microsoft, mesmo que estes produtos sejam mais caros e mais instáveis. O que o governo federal fez foi quebrar a reserva de mercado para produtos de uma única empresa. Hoje, um pouco mais de 30% do governo federal utiliza Apache. A economia mal começou. Será que algum lobista pediu para a Veja dar uma força e paralisar a redução de custos do Estado?

5. Duda esqueceu de contar o grande lobby da Microsoft sobre o governo. Ele sabia, mas omitiu que o chefe de gabinete da presidência do Serpro, maior empresa de TI do governo, saiu direto de uma empresa pública para o escritório de vendas da Microsoft em Brasília. Isto ocorreu no segundo semestre de 2004. Se fosse no mercado financeiro, a lei de quarentena proibiria tal absurdo, mas na área de TI isto não ocorre.

6. Os equívocos da matéria são tantos que não podem ser simplesmente erros. Veja chegou a dizer que quem decide pelo empréstimo de urnas eletrônicas (que usam somente software proprietário) para o Paraguai foi o governo federal. Qualquer jornalista sabe que esta decisão é do TSE, Poder Judiciário. Ela não tem nada a ver com software livre e muito
menos com o governo Lula. Duda não sabe disto? Claro que sabe, mas fez de propósito. Por quê? A serviço de quem?

7. Cada parágrafo da matéria é meticulosamente escrito para distorcer a realidade. Vou parar por aqui, mas seria necessário reestabelecer a verdade em cada linha. Apenas mais uma: Duda escreveu que o Serpro contratou 2000 funcionários para desenvolver software livre. Mentira descabida. Isto sim é que deveria ter sido feito, mas o concurso foi para técnicos em geral e até para escriturários. Mas para Veja toda informação pode ser manipulada e distorcida. Não é mesmo, Duda?


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