- Adorei a Veja desta semana. É que junto com ela veio o guia "Comer
e Beber em SP", que é a melhor coisa associada à marca. Tá certo que ele
veio com propaganda política paga, o que a Abril tinha que explicar, porque
aceita, de quem é etc...E com isso, agora, pelo próximo ano, quando eu for
procurar um bar, vou ter que aguentar a cara do José Aníbal com o slogan
"Porque o Brasil exige respeito".
- Caros, desculpem a demora no Veja Q desta semana. Além de eu preferir
a calma e reflexão à correria; tive muito trabalho nas minhas frentes remuneradas.
Já bateram bastante na Veja desta semana, inclusive um longo texto
de Walter Pomar, dirigente do PT, que claro, é uma peça militante, de auto
defesa do partido, cheia de ilações e também sem contraditório, mas que diz
algumas verdades, como que Veja já faz tempo, passou dos limites,
mesmo do jornalismo de direita.
- A crise do "dossiêgate" é grave mesmo. E próxima de Lula também, que tem
várias posturas péssimas. Caiu no colo da revista o que ela procurava e até
armava (dólares de Cuba e da Farc e o inacreditável dossiê feito por Daniel
Dantas), faz tempo. Pena que nessas ela perdeu tanto da sua credibilidade.
E pena que ela força a barra para criar um clima de histeria, e abole todo
e qualquer contraditório ou memória que esteja no caminho da caricatura que
desenha de Lula, do momento político e do PT. É impressionante, neste sentido,
a pressa e a ansiedade em gerar um fato consumado de impedimento ou reviravolta
na campanha. Alguém dúvida que a redação de Veja trabalha com o objetivo
da derrota de Lula, ou ao menos da sua não vitória em primeiro turno? Isso
é bom jornalismo? Mesmo assim não daria para ignorar e manipular passagens
como as que serão mostradas adiante. Veja se acha a parte da "grave crise
política, moral e ética", que assolaria o país. Faz parte dela.
- Como caiu o valor de mercado de Luiz Antonio Vedoin... De "Vedoin e a
verdade" enquanto por meses não citou o nome de tucanos, nem a revista, as
denúncias contra tucanos que "não valem um centavo". De fato, não há nada
ainda que mostre o envolvimento de Serra com a máfia dos sanguessugas, embora
está claro que elas atuaram sobre sua gestão. Mas o vídeo que mostra a então
bancada do PSDB de Mato Grosso, núcleo duro do escândalo, com o Serra, em
uma cerimônia organizada pelos Vedoin no galpão da Planam, é no mínimo constrangedor.
E Veja não dedica nem uma página, só adjetivos como "falso" e "fajuto", para
investigar o caminho dos cheques que teriam sido entregues para Abel Pereira,
empresário de Piracicaba ligado à Barjas Negri, hoje prefeito da cidade, e
que sucedeu Serra no ministério da Saúde. Nem para mostrar que Serra é inocente.
Este dossiê era comprado, armado por pessoas sem credibilidade? Sim, mas
não entendo o manual do "novíissimo jornalismo" de Veja, que por seis meses
tentou esquentar um dossiê de alguém sem nenhuma credibilidade (Daniel Dantas),
e que sem conseguir, publicou mesmo assim "porque se não provamos que era
verdade, não provamos que era falso". Viste o "dois dossiês, duas medidas"?
Viste como a crise ética e o vale tudo são mais amplos do que os círculos
estritamente políticos? Viste como a postura de "virgem no bordel" que já
era ruim quando o PT era oposição, veste pior ainda em Tasso Jeiressati,
Borhaunsen, e na direção da Veja?
- Sobre a matéria "A PF finge que investiga" que comparou a busca
da origem do dinheiro com o que foi achado na conta do caseiro Francenildo,
Veja sabe que é uma comparação forçada, já que é mais fácil achar
dinheiro de forma irregular em uma conta, do que de forma legal encontrar
origem de dinheiro vivo. Mas engenhosa, como jornalismo que cutuca. Foi a
Polícia Federal que detonou um caso contra o próprio governo (e ainda bem).
Neste sentido, por que quando José Serra usou a Polícia Federal (segundo
Bornhausen e José Sarney) para matar a candidatura Roseane Sarney, porque
isso não lançou o país em uma "grave crise política"? Ou quando haviam arapongas
empregados no ministério da Saúde? A imprensa está puta porque desta vez
não teve a "foto do dinheiro" que houve no caso Roseane. Neste tema específico,
da foto do dinheiro, a impressão nítida é que ninguém tem razão...
- Tudo isso significa que o caso do PT não é grave? Não, claro que ele é
gravíssimo. Mas Veja tinha que ter investigado o dossiê nem que fosse
para desmontá-lo e provar sua imparcialidade e a inocência dos tucanos. Outros
veículos estão no mínimo verificando estas pistas. Demonstrar ao menos um
décimo da celeridade, memória para desencavar fatos antigos e criatividade
em infográficos (contei seis contruídos para montar relação entre os envolvidos
no episódio e Lula). Ao pular fora, a imprensa mantém um clima de que pode
ter caroço debaixo deste angu.
- Os perfis de Jorge Lorenzetti e Freud Godoy, são duros, mas bem feitos.
Termos como "babá" e "trambiqueiro" não contribuem para o bom jornalismo,
mas enfim, é pedir demais, e ninguém manda ter biografias dessas... Acho impressionante,
e até um pouco de incompetência, que Veja não tenha expremido certos sucos
cítricos da árvore do Banco do Brasil no dossiê, já que Fernando Gabeira,
empolgado com a capa da semana passada, está louco por esta história. Devem
estar preparando esta. Agora este trecho no perfil de Hamilton Lacerda (assinado
por Victor Martino e pela irreverente Heloysa Joly), extrapola qualquer senso
de jornalismo ou mesmo básica educação:
"Questionado por VEJA sobre essa escolha, Mercadante
tentou amenizar o currículo de Lacerda dizendo que ´ele já perdeu até um
olho na militância´. Pois é, o Pirata da Perna de Pau também perdeu uma perna,
tinha um olho de vidro, mas continuou pirata."
Podíamos passar sem esta, né? Mas, de fato, vivemos tempos grosseiros.
De toda esta indignação republicana,
de toda esta "modernidade", as vezes escapa uns urros primais, um ranço lá
do fundo do ser (Freud explica...). Como Arnaldo Jabor, que em entrevista
ao caderno Aliás, do Estado de S. Paulo, em que se proclamou delirantemente
da nova esquerda e do partido da 'lógica", soltou um "macacos hispânicos"
para se referir à Evo Morales e Hugo Chávez. "Macacos hispânicos"? Isso em
estádio europeu dá cadeia. Enfim, lancemos a campanha "poderíamos passar sem
esta, já!"
- O mesmo da grave crise ética e de postura da Veja vale para dar
três páginas com manchete com declaração de Marco Aurélio Mello, presidente
do TSE, logo, quem conduz o processo eleitoral, e fingir que tanto a declaração
dele de que o caso é pior do que o Watergate, quanto que sua reunião
com Bornhausen e Tasso Jereissati não são, no mínimo, inapropriadas para sua
função. Dizer que as críticas de Marco Aurélio Garcia a postura dele foram
"momentos de histeria" é coisa de moleque, um tratamento completamente enviesado.
- Acho a capa da revista era possível de ser feita diante da notícia, não
está tão fora. E a Carta ao leitor, como espaço editorial, é um pouco caga-regras,
mas não é o pior.
- Veja fecha seu
especial com uma entrevista com o jurista Célio Borja e uma coluna de André
Petry. Veja escolher Célio Borja para a posição de "reserva moral do
país", de "sábio ancião" que é claramente onde se insere esta entrevista,
ou é piada, ou é senha, que esta reserva moral seja um conservador empedernido,
ex-ministro da justiça de Collor e deputado Udenista em 1964 (que pelo menos
ainda é chamado de golpe, daqui a pouco vão rever isto também...). "Perdemos
o sentido da civilização". Qual o sentido da civilização para o ministro da
Justiça do Collor, defensor do golpe de 64 e ex-membro da ARENA? Um sujeito
pluralista..."A mesma coisa fazia quando meus alunos, comunistas, eram levados
ao DOPS, para prestar declarações. Eu os acompanhava. Não estou dizendo
que iam apanhar, não; mas era para evitar que a tentação de bater se consumasse.
Eu acho que é esse clima, de compreensão recíproca, de aceitação recíproca,
de diálogo, de pluralismo... de verdadeiro pluralismo, que deve marcar
a nossa velha faculdade, porque dele fala-se muito, mas não é pratica." - isto é um depoimento que ele deu
para a faculdade de direito da UERJ. Bacana este clima de diálogo. Gente
boa, Acompanhava os alunos ao DOPS para que não apanhassem...Olha, que lutador
da democracia, que sujeito com pleno sentido de civilização. Afinal, poderia
deixar os estudantes lá apanhando. Ou poderia se opor ao regime. Mas não,
o apoiava com o espírito do pluralismo. Prenda, mas não arrebente. Bacana...Olha
o ovo da serpente sendo gestado....as pessoas estão brincando com fogo. Em
dado momento, fica nítido o objetivo da entrevista. Uma emenda que permita
o desmonte como constituição, da carta de 1988, que "engessa" o país.
- Já elogiei várias coluna de André Petry. Mas esta em que ele compara o
dossiê ao que aconteceu nas eleições da espanha é ridícula, leviana e patética.
O atentado na espanha envolveu 191 vítimas fatais, e o governo Aznar manipulou
as investigações e os sentimentos dos espanhóis, convocando uma manifestação
contra o ETA, quando já sabia que o atentado tinha sido cometido pela Al Qaeda.
Joguinho tático desesperado de Petry pedir que as pessoas não votem em Lula,
que é o que ele fez, em nome de uma "concessão ao tempo e uma homenagem ao
debate" (que debate eles homenageiam, se a revista até agora não publicou
uma avaliação séria e isenta das políticas públicas deste governo?). Melhor
ao menos fez Fernando Rodrigues que admitiu que o caso animou a cobertura
das eleições. Ao dizer que se não fizer isso o Brasil será um "bordel", e
não um país, o que Petry implica é que quem votar em Lula não é brasileiro,
mas puta (no sentido grosseiro do termo). Não filho, mas a própria (ao menos
não ofendeu a mãe). Poderíamos passar também sem essa.
- A denúncia de Diogo Mainardi
sobre o encontro de Lula e Domingo Alzugaray da Isto É, e o acerto
de 13 milhões em anúncios da Petrobrás que estariam associados à capa da revista
da semana passada, e a sugestão de investigação de Wilson Santa Rosa, diretor
de marketing da Petrobras, tudo isso é ótimo, a história é boa e a reputação
dos envolvidos não, e de fato tem que se verificar se foi dinheiro da Petrobrás
que financiou a compra do dossiê. Só tem um furo. Se o acerto da compra da
Isto É foi feito duas semanas antes, diretamente pelo Lula, porque
os agentes do PT tentaram antes passar a história para a Época e só
desistiram quando não deu certo? Época, que para Mainardi também é
"imprensa petista" (se refere indiretamente à ela ao falar de Palocci no fim
da coluna). Vamos deixar claro o que é imprensa petista para Mainardi. Além
da Isto É e Época, ela já inclui, entre outros, Elio Gaspari, Franklin
Martins, Luís Nassif, Paulo Henrique Amorim, Mino Carta e a Carta Capital
(ou seja, todas as concorrentes da Veja são imprensa lulista), Caio Túlio
Costa e todo o portal do IG. É o amplo expurgão do Mainardi.
- Vale um sapo a matéria de Sérgio Martins "Venezuelanos que brilham". Fala
de um maestro genial, Gustavo Dudamel, e do programa de música clássica que
o fez surgir de um bairro pobre, que existia antes de Chávez e que Chávez
manteve e não se ouviu falar que pretenda acabar, então não se entende porque
o programa é colocado de forma oposto à Chávez. "Financiado
em parte pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID),
El Sistema é uma das poucas iniciativas governamentais venezuelanas
que escaparam da sanha mediocrizante do ditador Hugo Chávez." Quais são estas? As urbanizações
de favela? Alfabetização? Sistema de saúde? É uma afirmação genérica porque
não tem nada o que dizer. A matéria só serve para bater em Chávez por algum
canal, usando quem se dispõe à isso. A matéria traz uma inovação. Ela diz
assim "ditador Hugo Chávez". Tenho a impressão que é a primeira vez que a
Veja usa o termo. Como assim? É uma classificação própria, tirada de onde?
Talvez de John Bolton, o embaixador dos Estados Unidos na ONU que em reposta
ao discurso de Chávez na Assembléia-Geral, onde entre outras, chamou Bush
de "diabo" (e que provocou risos e desconforto, como uma boa piada, ao dizer
verdades veladas que certamente muitos líderes e embaixadores de muitos países
pensam sobre Bush e os Estados Unidos) disse que "queria que os venezuelanos
tivessem a liberdade de expressão de Chávez". O que raios isso quer dizer?
Eles têm! Não há censura no país, há liberdade de imprensa, eleições, entra-se
e sai do país quando quiser, e apesar de ter sofrido um golpe, não há presos
políticos. Ditador, aonde? Ditador, quem? Poderoso o gogó mentiroso do Bolton.
Esta figura de quinta já tinha derrubado o embaixador brasileiro José Maurício
Bustani da Opaq (Organização para a Proscrição das Armas Químicas) em 2002,
porque ele estava no caminho da farsa, mentira, engodo, pícaretagem, fraude
sobre armas de destruição em massa que mais tarde iriam justificar a invasão
do Iraque (e que Veja vividamente insuflou). Agora, um cara como Bolton
define que é ditador (pior fez o O Globo, que publicou um quadro editorial
dizendo que Bolton "tinha razão"). É com esse que nóis vai, Martins? Aqui
não tem crise moral e ética, né? Parece que sim. Olha o fim do seu texto:
"'A música salvou minha vida', disse
o regente a VEJA. Espera-se, agora, que ele retribua e se
mostre capaz de salvar a música da fúria predatória de Chávez."
Epsera-se? Chávez, o ditador "furioso"
que quer acabar com a música...que coisa mais brega e sem sentido. Tenha
dó, né?
- Vamos finalizar com um momento bonito do Ovo da Serpente. Se Veja
não tivesse editorializado até as cartas, isso não significaria nada. Mas
como ela o faz, e esta é a única publicada sobre Ubiratan Guimarães que menciona
mais explicitamente o massacre do Carandiru, lá vai:
"O coronel Ubiratan, assassinado no dia 9, é lembrado como
um comandante covarde e cruel, que eliminou de uma só vez 111 marginais
no presídio do Carandiru. Muita gente gostaria de ter novamente um policial
enérgico e corajoso, como ele, à frente da polícia paulista para enfrentar
com bravura e denodo a facção PCC, que inferniza a vida dos paulistanos
e desafia o poder das autoridades.
Mario Lucio Caldeira de Faria
Por e-mail"
Detalhe bizarro: as cartas da Veja
quase sempre identificam a localidade das pessoas, mesmo quando são recebidas
por e-mail, caso da maioria. Esta aí não diz a cidade do sujeito. Curioso.
- Com uma semana de atraso, Veja publica duas cartas criticando a carta de
FHC, que foi matéria, mas faz duas semanas atrás. Que coisa esquisita.
AVISOS
Esta crítica da Veja
é completamente independente, não estando associada
a nenhum grupo ou empresa.
Correções, críticas, sugestões
e comentários em geral são bem vindos.
É livre o repasse
desta mensagem, desde que constem os créditos da fonte
e do autor, e o e-mail para recebimento do boletim.
A publicação de trechos
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