Veja Q Porcaria n.37 - 2006

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José Chrispiniano

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Sep 26, 2006, 12:39:06 PM9/26/06
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- Adorei a Veja desta semana. É que junto com ela veio o guia "Comer e Beber em SP", que é a melhor coisa associada à marca. Tá certo que ele veio com propaganda política paga, o que a Abril tinha que explicar, porque aceita, de quem é etc...E com isso, agora, pelo próximo ano, quando eu for procurar um bar, vou ter que aguentar a cara do José Aníbal com o slogan "Porque o Brasil exige respeito".


 - Caros, desculpem a demora no Veja Q desta semana. Além de eu preferir a calma e reflexão à correria; tive muito trabalho nas minhas frentes remuneradas.  Já bateram bastante na Veja desta semana, inclusive um longo texto de Walter Pomar, dirigente do PT, que claro, é uma peça militante, de auto defesa do partido, cheia de ilações e também sem contraditório, mas que diz algumas verdades, como que Veja já faz tempo, passou dos limites, mesmo do jornalismo de direita.


- A crise do "dossiêgate" é grave mesmo. E próxima de Lula também, que tem várias posturas péssimas. Caiu no colo da revista o que ela procurava e até armava (dólares de Cuba e da Farc e o inacreditável dossiê feito por Daniel Dantas), faz tempo. Pena que nessas ela perdeu tanto da sua credibilidade. E pena que ela força a barra para criar um clima de histeria, e abole todo e qualquer contraditório ou memória que esteja no caminho da caricatura que desenha de Lula, do momento político e do PT. É impressionante, neste sentido, a pressa e a ansiedade em gerar um fato consumado de impedimento ou reviravolta na campanha. Alguém dúvida que a redação de Veja trabalha com o objetivo da derrota de Lula, ou ao menos da sua não vitória em primeiro turno? Isso é bom jornalismo? Mesmo assim não daria para ignorar e manipular passagens como as que serão mostradas adiante. Veja se acha a parte da "grave crise política, moral e ética", que assolaria o país. Faz parte dela.

- Como caiu o valor de mercado de Luiz Antonio Vedoin... De "Vedoin e a verdade" enquanto por meses não citou o nome de tucanos, nem a revista, as denúncias contra tucanos que "não valem um centavo". De fato, não há nada ainda que mostre o envolvimento de Serra com a máfia dos sanguessugas, embora está claro que elas atuaram sobre sua gestão. Mas o vídeo que mostra a então bancada do PSDB de Mato Grosso, núcleo duro do escândalo, com o Serra, em uma cerimônia organizada pelos Vedoin no galpão da Planam,  é no mínimo constrangedor. E Veja não dedica nem uma página, só adjetivos como "falso" e "fajuto", para investigar o caminho dos cheques que teriam sido entregues para Abel Pereira, empresário de Piracicaba ligado à Barjas Negri, hoje prefeito da cidade, e que sucedeu Serra no ministério da Saúde. Nem para mostrar que Serra é inocente.  Este dossiê era comprado, armado por pessoas sem credibilidade? Sim, mas não entendo o manual do "novíissimo jornalismo" de Veja, que por seis meses tentou esquentar um dossiê de alguém sem nenhuma credibilidade (Daniel Dantas), e que sem conseguir, publicou mesmo assim "porque se não provamos que era verdade, não provamos que era falso". Viste o "dois dossiês, duas medidas"? Viste como a crise ética e o vale tudo são mais amplos do que os círculos estritamente políticos? Viste como a postura de "virgem no bordel" que já era ruim quando o PT era oposição, veste pior ainda em Tasso Jeiressati, Borhaunsen, e na direção da Veja?

- Sobre a matéria "A PF finge que investiga" que comparou a busca da origem do dinheiro com o que foi achado na conta do caseiro Francenildo, Veja sabe que é uma comparação forçada, já que é mais fácil achar dinheiro de forma irregular em uma conta, do que de forma legal encontrar origem de dinheiro vivo. Mas engenhosa, como jornalismo que cutuca. Foi a Polícia Federal que detonou um caso contra o próprio governo (e ainda bem). Neste sentido, por que quando José Serra usou a Polícia Federal (segundo Bornhausen e José Sarney) para matar a candidatura Roseane Sarney, porque isso não lançou o país em uma "grave crise política"? Ou quando haviam arapongas empregados no ministério da Saúde? A imprensa está puta porque desta vez não teve a "foto do dinheiro" que houve no caso Roseane.  Neste tema específico, da foto do dinheiro, a impressão nítida é que ninguém tem razão...

- Tudo isso significa que o caso do PT não é grave? Não, claro que ele é gravíssimo. Mas Veja tinha que ter investigado o dossiê nem que fosse para desmontá-lo e provar sua imparcialidade e a inocência dos tucanos. Outros veículos estão no mínimo verificando estas pistas. Demonstrar ao menos um décimo da celeridade, memória para desencavar fatos antigos e criatividade em infográficos (contei seis contruídos para montar relação entre os envolvidos no episódio e Lula).  Ao pular fora, a imprensa mantém um clima de que pode ter caroço debaixo deste angu.

- Os perfis de Jorge Lorenzetti e Freud Godoy, são duros, mas bem feitos. Termos como "babá" e "trambiqueiro" não contribuem para o bom jornalismo, mas enfim, é pedir demais, e ninguém manda ter biografias dessas... Acho impressionante, e até um pouco de incompetência, que Veja não tenha expremido certos sucos cítricos da árvore do Banco do Brasil no dossiê, já que Fernando Gabeira, empolgado com a capa da semana passada, está louco por esta história. Devem estar preparando esta. Agora este trecho no perfil de Hamilton Lacerda (assinado por Victor Martino e pela irreverente Heloysa Joly), extrapola qualquer senso de jornalismo ou mesmo básica educação:

"Questionado por VEJA sobre essa escolha, Mercadante tentou amenizar o currículo de Lacerda dizendo que ´ele já perdeu até um olho na militância´. Pois é, o Pirata da Perna de Pau também perdeu uma perna, tinha um olho de vidro, mas continuou pirata."


Podíamos passar sem esta, né? Mas, de fato, vivemos tempos grosseiros
. De toda esta indignação republicana, de toda esta "modernidade", as vezes escapa uns urros primais, um ranço lá do fundo do ser (Freud explica...). Como Arnaldo Jabor, que em entrevista ao caderno Aliás, do Estado de S. Paulo, em que se proclamou delirantemente da nova esquerda e do partido da 'lógica", soltou um "macacos hispânicos" para se referir à Evo Morales e Hugo Chávez. "Macacos hispânicos"? Isso em estádio europeu dá cadeia. Enfim, lancemos a campanha "poderíamos passar sem esta, já!"

- O mesmo da grave crise ética e de postura da Veja vale para dar três páginas com manchete com declaração de Marco Aurélio Mello, presidente do TSE, logo, quem conduz o processo eleitoral,  e fingir que tanto a declaração dele de que o caso é pior do que o Watergate, quanto que sua reunião com Bornhausen e Tasso Jereissati não são, no mínimo, inapropriadas para sua função. Dizer que as críticas de Marco Aurélio Garcia a postura dele foram "momentos de histeria" é coisa de moleque, um tratamento completamente enviesado.

- Acho a capa da revista era possível de ser feita diante da notícia, não está tão fora. E a Carta ao leitor, como espaço editorial, é um pouco caga-regras, mas não é o pior.



- Veja fecha seu especial com uma entrevista com o jurista Célio Borja e uma coluna de André Petry. Veja escolher Célio Borja para a posição de "reserva moral do país", de "sábio ancião" que é claramente onde se insere esta entrevista, ou é piada, ou é senha, que esta reserva moral seja um conservador empedernido, ex-ministro da justiça de Collor e deputado Udenista em 1964 (que pelo menos ainda é chamado de golpe, daqui a pouco vão rever isto também...). "Perdemos o sentido da civilização". Qual o sentido da civilização para o ministro da Justiça do Collor, defensor do golpe de 64 e ex-membro da ARENA? Um sujeito pluralista..."A mesma coisa fazia quando meus alunos, comunistas, eram levados ao DOPS, para prestar declarações. Eu os acompanhava. Não estou dizendo que iam apanhar, não; mas era para evitar que a tentação de bater se consumasse. Eu acho que é esse clima, de compreensão recíproca, de aceitação recíproca, de diálogo, de pluralismo... de verdadeiro pluralismo, que deve marcar a nossa velha faculdade, porque dele fala-se muito, mas não é pratica." - isto é um depoimento que ele deu para a faculdade de direito da UERJ. Bacana este clima de diálogo. Gente boa, Acompanhava os alunos ao DOPS para que não apanhassem...Olha, que lutador da democracia, que sujeito com pleno sentido de civilização. Afinal, poderia deixar os estudantes lá apanhando. Ou poderia se opor ao regime. Mas não, o apoiava com o espírito do pluralismo. Prenda, mas não arrebente. Bacana...Olha o ovo da serpente sendo gestado....as pessoas estão brincando com fogo. Em dado momento, fica nítido o objetivo da entrevista. Uma emenda que permita o desmonte como constituição, da carta de 1988, que "engessa" o país.

- Já elogiei várias coluna de André Petry. Mas esta em que ele compara o dossiê ao que aconteceu nas eleições da espanha é ridícula, leviana e patética. O atentado na espanha envolveu 191 vítimas fatais, e o governo Aznar manipulou as investigações e os sentimentos dos espanhóis, convocando uma manifestação contra o ETA, quando já sabia que o atentado tinha sido cometido pela Al Qaeda. Joguinho tático desesperado de Petry pedir que as pessoas não votem em Lula, que é o que ele fez, em nome de uma "concessão ao tempo e uma homenagem ao debate" (que debate eles homenageiam, se a revista até agora não publicou uma avaliação séria e isenta das políticas públicas deste governo?). Melhor ao menos fez Fernando Rodrigues que admitiu que o caso animou a cobertura das eleições. Ao dizer que se não fizer isso o Brasil será um "bordel", e não um país, o que Petry implica é que quem votar em Lula não é brasileiro, mas puta (no sentido grosseiro do termo). Não filho, mas a própria (ao menos não ofendeu a mãe). Poderíamos passar também sem essa.


- A denúncia de Diogo Mainardi sobre o encontro de Lula e Domingo Alzugaray da Isto É, e o acerto de 13 milhões em anúncios da Petrobrás que estariam associados à capa da revista da semana passada, e a sugestão de investigação de Wilson Santa Rosa, diretor de marketing da Petrobras, tudo isso é ótimo, a história é boa e a reputação dos envolvidos não, e de fato tem que se verificar se foi dinheiro da Petrobrás que financiou a compra do dossiê. Só tem um furo. Se o acerto da compra da Isto É foi feito duas semanas antes, diretamente pelo Lula, porque os agentes do PT tentaram antes passar a história para a Época e só desistiram quando não deu certo? Época, que para Mainardi também é "imprensa petista" (se refere indiretamente à ela ao falar de Palocci no fim da coluna). Vamos deixar claro o que é imprensa petista para Mainardi. Além da Isto É e Época, ela já inclui, entre outros, Elio Gaspari, Franklin Martins, Luís Nassif, Paulo Henrique Amorim, Mino Carta e a Carta Capital (ou seja, todas as concorrentes da Veja são imprensa lulista), Caio Túlio Costa e todo o portal do IG. É o amplo expurgão do Mainardi.

- Vale um sapo a matéria de Sérgio Martins "Venezuelanos que brilham". Fala de um maestro genial, Gustavo Dudamel, e do programa de música clássica que o fez surgir de um bairro pobre, que existia antes de Chávez e que Chávez manteve  e não se ouviu falar que pretenda acabar, então não se entende porque o programa é colocado de forma oposto à Chávez. "Financiado em parte pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), El Sistema é uma das poucas iniciativas governamentais venezuelanas que escaparam da sanha mediocrizante do ditador Hugo Chávez.
" Quais são estas? As urbanizações de favela? Alfabetização? Sistema de saúde? É uma afirmação genérica porque não tem nada o que dizer. A matéria só serve para bater em Chávez por algum canal, usando quem se dispõe à isso. A matéria traz uma inovação. Ela diz assim "ditador Hugo Chávez". Tenho a impressão que é a primeira vez que a Veja usa o termo. Como assim? É uma classificação própria, tirada de onde? Talvez de John Bolton, o embaixador dos Estados Unidos na ONU que em reposta ao discurso de Chávez na Assembléia-Geral, onde entre outras, chamou Bush de "diabo" (e que provocou risos e desconforto, como uma boa piada, ao dizer verdades veladas que certamente muitos líderes e embaixadores de muitos países pensam sobre Bush e os Estados Unidos) disse que "queria que os venezuelanos tivessem a liberdade de expressão de Chávez". O que raios isso quer dizer? Eles têm! Não há censura no país, há liberdade de imprensa, eleições, entra-se e sai do país quando quiser, e apesar de ter sofrido um golpe, não há presos políticos. Ditador, aonde? Ditador, quem? Poderoso o gogó mentiroso do Bolton. Esta figura de quinta já tinha derrubado o embaixador brasileiro José Maurício Bustani da Opaq (Organização para a Proscrição das Armas Químicas) em 2002, porque ele estava no caminho da farsa, mentira, engodo, pícaretagem, fraude sobre armas de destruição em massa que mais tarde iriam justificar a invasão do Iraque (e que Veja vividamente insuflou). Agora, um cara como Bolton define que é ditador (pior fez o O Globo, que publicou um quadro editorial dizendo que Bolton "tinha razão"). É com esse que nóis vai, Martins? Aqui não tem crise moral e ética, né? Parece que sim. Olha o fim do seu texto: "'A música salvou minha vida', disse o regente a VEJA. Espera-se, agora, que ele retribua e se mostre capaz de salvar a música da fúria predatória de Chávez." Epsera-se? Chávez, o ditador "furioso" que quer acabar com a música...que coisa mais brega e sem sentido. Tenha dó, né?

- Vamos finalizar com um momento bonito do Ovo da Serpente. Se Veja não tivesse editorializado até as cartas, isso não significaria nada. Mas como ela o faz, e esta é a única publicada sobre Ubiratan Guimarães que menciona mais explicitamente o massacre do Carandiru, lá vai:

"O coronel Ubiratan, assassinado no dia 9, é lembrado como um comandante covarde e cruel, que eliminou de uma só vez 111 marginais no presídio do Carandiru. Muita gente gostaria de ter novamente um policial enérgico e corajoso, como ele, à frente da polícia paulista para enfrentar com bravura e denodo a facção PCC, que inferniza a vida dos paulistanos e desafia o poder das autoridades.
Mario Lucio Caldeira de Faria
Por e-mail"

Detalhe bizarro: as cartas da Veja quase sempre identificam a localidade das pessoas, mesmo quando são recebidas por e-mail, caso da maioria. Esta aí não diz a cidade do sujeito. Curioso.

- Com uma semana de atraso, Veja publica duas cartas criticando a carta de FHC, que foi matéria, mas faz duas semanas atrás. Que coisa esquisita.


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