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- Começo o boletim
desta semana com desculpas pelo atraso, e uma correção, porque semana passada
cometi o erro de generalizar. Disse que a grande imprensa escrita não tinha
dedicado espaço opinativo ao comportamento do secretário de segurança Saulo
de Castro Abreu Filho na Assembléia Legislativa. Mas o Estado de S. Paulo
e o Jornal da Tarde dedicaram editoriais ao assunto, e Maria Cristina
Fernandes, editora de política do Valor Econômico escreveu uma bela
coluna no dia 9 de junho sobre o tema. Nem semana passada, nem nesta, Veja
dedicou ao tema uma palavra. Outro erro no texto da semana passada foi que
Saulo foi nomeado por Mário Covas, não Geraldo Alckmin, embora tenha permanecido
como secretário de segurança por todo a sua gestão.
- Um trecho (com alterações) do boletim foi publicado semana passada no
site da Carta Maior. Que também publicou uma entrevista de Gilberto
Maringoni com Franklin Martins na qual este discorre sobre o preço e a
erosão de credibilidade da revista Veja. Os leitores do boletim acompanharam
em edições passadas o embate entre Martins e Mainardi, que também se desdobrou,
entre outros lugares na revista Imprensa. Segue um trecho da entrevista onde
Martins fala da revista:
“A imprensa foi longe demais e ninguém foi mais do que a “Veja”. Publicaram
coisas gravíssimas sem qualquer prova, como os casos dos dólares de Cuba ou
das contas externas de membros do governo. Depois sentaram em cima do assunto,
como se não fosse com eles. A “Veja” pagará o preço pela perda de credibilidade.
Não entendo até agora porque a “Veja” faz isso com a “Veja”. Vai levar muito
tempo para que ela recupere a credibilidade.”
- É o tema da erosão de credibilidade, e das dificuldades que ela cria,
que atravessará o boletim desta semana, onde, como é de costume, a revista
faz uma edição mais “light” depois de uma tão pesada quanto a da semana passada.
- Pegue-se a coluna Radar, assinada por Lauro Jardim. Ela dá uma nota ironizando
Daniel Dantas. Veja só começou a publicar estocadas em Dantas depois
que este não assumiu a autoria do dossiê sobre contas do governo no exterior
(que aliás, foi ironizado pelo procurador-geral da República, a quem Veja
cita constantemente como de atuação exemplar, e isso Veja não publicou...).
Antes disso Dantas não só não era notícia como passou meses em negociação
com a cúpula da revista e Mainardi em torno do dossiê, e foi chamado a ter
“coragem” para depor contra o governo. Depois chamou a redação da revista,
que decidiu publicar a lista, de burra. Aí, magoou.
- Ou a grave matéria assinada por Policarpo Junior, que acusa membros do
PT de ter espalhado a praga da vassoura-de-bruxa nas plantações de cacau do
sul da Bahia, com o objetivo (e teriam tido sucesso) de enfraquecer o poder
político dos fazendeiros locais, aproveitando-se inclusive de cargos públicos
para destruir o principal produto econômico da região. A acusação é tremenda,
e o assunto muito importante. A matéria está baseada quase que inteiramente
no depoimento de um só homem, Luiz Henrique Franco Timóteo, que é uma fonte
forte porque confessa ter participado do crime. Ele teria contado a história
para César Borges, senador, e Paulo Souto, governador. Ou seja, a história
parte do grupo político de Antonio Carlos Magalhães na Bahia (e o jornal
de ACM, o Correio da Bahia, esta semana praticamente reproduziu a
matéria da Veja). Apesar de Franco Timóteo ter confessado o crime
aos dois, eles não divulgaram o caso, segundo eles com medo da acusação de
exploração política (não lembra o caso Dantas?). Nem acionaram a polícia ou
o ministério público. Franco Timóteo ainda não foi processado e seus alegados
parceiros nos crimes (todos negam a participação) têm que ser investigados.
Como Veja não corrige seus erros (ver o comentário sobre a seção de
cartas), não repara reputações destruídas, e não conseguiu provar várias de
suas acusações – os dólares da Farc e de Cuba, as contas no exterior etc...E
também por saber que fazendeiros adoram este tipo de história conspiratória
para problemas de pragas ou doenças (no Mato Grosso do Sul, por exemplo, muita
gente fantasia que a febre aftosa veio em um lote da própria vacina contra
a doença, para o seu produtor continuar vendendo).
- A seção de cartas da Veja traz 12 missivas sobre a matéria de capa
da edição anterior. Todas
elogiando -a. Um dos leitores
chega a usar o termo “terroristas”, para os manifestantes do MLST. O curioso
é o nome dele, Amaury de Athayde Jr. (seria homenagem aos dois colunistas
sociais televisivos? E se homenagem, de quem? Do pai do sujeito ou de quem
está atrás do pseudônimo?).
- A seção traz também duas cartas, uma de Flora Gil, outra da Assessoria
de Comunicação do Minc, que contestam uma série de números e informações que
foram publicadas no sei-lá-o-que-é-aquilo de Sérgio Martins sobre Gilberto
Gil semana passada. Diga-se de passagem, a nota original é bem mais ampla
nas correções que a publicada. Mais uma vez, a revista segue esta linha:
quando erramos, mesmo que sejam erros factuais, não admitimos o erro; publicamos
sua carta e olhe lá...
- A Carta ao Leitor de Veja desta semana é um “eu me amo” acerca
das citações feitas a partir da revista por publicações prestigiosas do exterior
(The New Yorker, Vanity Fair, Newsweek, The New York
Times, The Economist e El País). Porém, o que achei curioso
foi um detalhe de rodapé. “Teve ressonância planetária a reportagem sobre
a máfia do apito em que, sob o comando da editora Thaís Oyama, repórteres
de VEJA desbarataram no ano passado uma quadrilha que fraudava resultados
do futebol.” A matéria foi feita, e assinada, pelo jornalista André Rizek,
e sempre foi à ele atribuída. Mas como ele saiu da Veja, o que aparentemente
magoou os sentimentos do redator-chefe da revista, subitamente o feito do
furo é creditado a editora Thaís Oyama, e não mais ao repórter.
- A matéria de capa de Jaime Klintowitz sobre aquecimento global é de uma
leniência impressionante, e que Veja não tinha no passado, com as posições
do governo George W. Bush em relação ao tema e ao Protocolo de Kioto (o fato
dos EUA de Bush ter sabotado o acordo, patrocinado pelo governo Clinton, passa
batido). Setores importantes na política e economia norte-americana continuam
contestando o aquecimento global. A matéria acerta ao colocar a responsabilidade
nas maiores economias sobre o problema e sua possível solução. Mas é cega
ao fugir de ao menos levantar a lebre sobre o modelo de desenvolvimento e
sociedade que dificulta (e segundo o filósofo marxista István Mészáros, torna
impossível), acima de tudo, enfrentar o problema. As demandas e o elogio
ao desenvolvimento econômico=crescimento do PIB, a necessidade de alimentar
a ciranda financeira com a exploração irracional de cada vez mais recursos
naturais, ou o estímulo ao consumismo. A expansão da China e da Índia, tão
elogiadas, são problemas na medida em que elas adotam um modelo de crescimento
e consumo que é insustentável para toda a população global (aumento da frota
de veículos, consumo de aço e de petróleo etc...), para não falar do impacto
ambiental causado pelo consumo norte-americano (ou europeu, ou de brasileiros
de classe média etc...). Sem falar na nova "alternativa ecológica": usinas
nucleares (o mundo ainda não sabe como lidar com o lixo radioativo). Em um
quadro da matéria, Veja fala que “energia limpa pode se transformar
em um excelente negócio, sem que para isso seja preciso abrir mão das premissas
sagradas do capitalismo”. O problema é que muitas das medidas necessárias
para o meio ambiente vão contra a lógica do capital, contra o lucro privado
e a favor de um interesse público que é difuso, bem além até dos que deveriam
(e em geral não são) defendidos no âmbito dos estados nacionais. E, aí Veja?
- A matéria de capa publica um quadro com os dez maiores países poluidores
do mundo. Mas não publica a fonte dos dados do quadro. Isso não é padrão na
Veja? Porque algumas páginas depois tem uma matéria sobre AIDS que
informa a fonte dos dados. Sem a fonte dos dados
- O Veja Q Porcaria comemora o que considera uma pequena e fugaz
vitória que nunca será creditada...A revista decidiu identificar até um ex-jornalista
que trabalhou no órgão, Luís Colombini, ao resenhar/divulgar um livro que
ele publicou. Um livro de auto-ajuda, o que em tese contraria as regras da
Veja de não resenhar este tipo de livro. Não é só isso. Ao dar um quadro
para a oportuna iniciativa da Record (quem mais seria...) de reeditar os
antes fracassados livros de ficção de Diogo Mainardi, agora que ele é uma
celebridade cheia de fãs, Veja coloca a nota em um quadro intitulado
“Da nossa equipe”.
- Olha outra curiosidade. Cláudio Moura e Castro escreveu na sua coluna
desta semana um texto dizendo que idolatramos o diploma e não valorizamos
a “experiência e competência”. Eu concordo. Ele cita, por exemplo, que o
conceito de liberdade de imprensa na Alemanha impede restrições de acesso
à profissão de jornalista, e que as exigências de formação burocráticas de
concurso para docentes em federais afastam talentos de ensinar em nossas
universidades. Concordo de novo. Mas olha que engraçado. Moura e Castro,
apresentado apenas como “economista”, é ligado intrinsecamente aos interesses
do sistema privado de ensino superior, o que dificulta para mim “crer”, donde
vêm o termo “credibilidade”, em seus textos. Os detalhes e o “local” de origem,
dão sutilezas e diferenças às nossas opiniões. O que eu acho que o Brasil
não valoriza, no fundo, é o conhecimento. E o que Moura Castro quer com este
texto é combater o desejo dos conselhos profissionais de fiscalizarem e restringirem
o ensino nas universidades privadas que são “fábricas de diplomas”, e que,
diga-se de passagem, são no Brasil as maiores beneficiárias da idolatria
ao diploma desvinculado de conhecimento e competência. No trecho seguinte:
“O contrato dos docentes das universidades federais impede o exercício
profissional. Se fosse respeitado, nossos futuros arquitetos aprenderiam com
quem não projeta, nossos engenheiros, com quem não constrói, nossos médicos,
com quem não clinica, nossos músicos, com quem não toca nem compõe, e nossos
advogados, com quem não freqüenta tribunais.”
Isso está incorreto, porque há contratos que permitem isso nas federais.
Só uma parte dos docentes é contratado em regime integral, que é fundamental
para a existência de pesquisa, ou seja, de universidades de verdade. No mundo
desejado por Moura e Castro e o sistema privado, a docência é um bico de profissionais
e nossos estudantes aprenderão com professores que não pesquisam, que não
geram conhecimento novo e próprio. Ele desenha um estereótipo falso sobre
as públicas (onde só haveria teoria e não prática) para defender um modelo
onde haveria prática (quando tanto), sem a teoria ou o novo.
- A matéria de Otávio Cabral sobre como Lula tem usado a máquina pública
na sua campanha para a reeleição ia indo até que bem antes de chegar a suas
duas últimas frases. Talvez achassem que faltava alguma coisa, então incluíram
isso “Incumbente não perde eleição. Alguém tem de ganhar dele – ouviu,
Geraldo Alckmin?”. Pra que um troço desses?
- Depois do sucesso do perfil sobre Heloísa Helena, Veja foi procurar
outro político da oposição com conteúdo, no caso Fernando Gabeira, para fazer
perfil. Gabeira escreveu um texto bonito em
seu blog (todo mundo tem blog hoje em dia, menos eu...) sobre a política se
tornar auditório na era em que o mercado afirma sua irrelevância. Vale a
pena citar uma elegante declaração de Gabeira precedida de uma grosseira,
e que no fundo a contradiz, de Julia Dualib, que assina o texto:
“Diz ele, com a autoridade de quem foi de esquerda quando isso ainda
fazia sentido – no século passado: ‘O ideal hoje é esquecer a esquerda e
ver se é possível encontrar pessoas interessantes, de vários horizontes’.”
- Veja faz uma matéria ironizando o plano de governo do PT, dizendo
que ter projeto econômico é um “retrocesso” e que nem Lula dá bola para ele.
Como acho que a segunda afirmação, essência da matéria, é verdadeira, vou
só focar duas mistificações da revista: “Foi esse o caminho (controle
de gastos) que Irlanda e Espanha, para citar dois exemplos, trilharam para
ingressar no time das economias modernas e prósperas.” Não tenha dúvida:
estes países tiveram e tem projeto econômico, sem falar que há um “detalhe”
chamado União Européia na jogada. “Em todos os países viáveis, o Banco
Central goza de autonomia formal ou legal”. A afirmação é tão genérica
quanto inconsistente. O que quer dizer "país viável'? Quais são eles? Qual
as diferenças de modelos de Banco Central nestes países?
- Algumas semanas atrás Veja publicou uma matéria de Diogo Schelp
sobre o México, que advogava o modelo e divulgava a intenção do país de entrar
no Mercosul. Esta intenção é vista com tremenda suspeita de que apenas visa,
sob os interesses dos Estados Unidos ser apenas uma quinta coluna para "diluir"
o caráter do Mercosul, já que há uma continuidade geográfica entre os atuais
países do bloco, e uma série de normas institucionais sobre restrição a acordos
de livre comércio, que para o México entrar no Mercosul, teriam que virar
letra morta. Para uma visão alternativa a que a editoria de internacional
da Veja propala, e que sequer é de esquerda, vale a pena ler este artigo de
Luiz Carlos Bresser Pereira, do PSDB: México
e Mercosul. Este é o olho do texto e sua tese central: "Não interessa
ao Mercosul a admissão de país que tem um acordo com os EUA que o transforma
em dependente."
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