“Retomando a reflexão inicial de Brecht sobre o caráter nada inocente do uso de conceitos, temos escolhas a fazer aqui e agora. O conceito de “barbárie” define-se, entre outras coisas, pela oposição ao conceito de “civilização”. Se é verdade que, do ponto e vista ambiental, atingimos um ponto de não-retorno, como vêm defendendo um número crescente de cientistas, se é verdade que o fosso entre países ricos e pobres segue aumentando e se é verdade que o mundo permanece gastando muito mais em armas do que no combate à fome e à miséria, qual o conceito adequado para designar o atual estágio que estamos vivendo? Se é mais fácil imaginar o fim do mundo do que uma alternativa ao atual modelo político-econômico, então parece razoável pensar que estamos atravessando a fronteira entre esses dois conceitos. Ou, dito de outro modo, já estamos com um pé (ou talvez os dois) no território da barbárie. Pior ainda: não parecemos muito incomodados com isso. Impotentes e atomizados, vamos ficando cada vez mais fechados em nossas trincheiras, nos preparando para assistir, pela televisão, aos próximos capítulos deste espetáculo. E talvez tenhamos aí, uma nova face da barbárie: trancados em nossas casas, ficaremos imaginando como será o fim do mundo.”