Veja Q Porcaria n. 16 - 2006

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José Chrispiniano

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Apr 26, 2006, 11:47:58 AM4/26/06
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- Veja é extremamente repetitiva, e eu também, e isso acaba refletido no boletim. Na mesma edição, os mantras da sua agenda política (sim, é um órgão de imprensa com uma agenda programática mais detalhada que a maioria dos partidos políticos brasileiros), se repetem.

1)    Pregação política

Na Carta ao Leitor:

“O que falta?(Para cair mais o risco-país) Falta aprovar leis trabalhistas que incentivem a contratação. Falta cortar gastos dos governos para, com isso, permitir ao Banco Central baixar os juros e abrir caminho para investimentos produtivos e maior crescimento. Falta levar a sério o Orçamento da União.”

Na abertura das páginas amarelas

“Num tempo em que o país vive uma fase pessimista por causa dos escândalos de corrupção, o economista indiano Vinod Thomas lançou um livro luminoso: O Brasil Visto por Dentro.”

E na boca do entrevistado (o que não seria um problema, se não fosse só isso que seus entrevistados dizem):

“Veja – Os desafios do Brasil, na sua opinião, são mais simples?
Thomas – Pelo menos não há nenhuma revolução envolvida, apenas quatro ou cinco áreas de reforma. A boa notícia é que são mudanças que se retroalimentam, criando um círculo virtuoso. A primeira seria resolver a questão fiscal do governo, centrando nas questões tributária e previdenciária. A segunda seria melhorar a qualidade dos gastos públicos e investimentos. A terceira seria otimizar os recursos destinados às áreas de educação e saúde. Uma quarta questão seria formular uma política inteligente para a exploração de recursos naturais de uma forma sustentável. Claro que, para viabilizar tudo isso, o Brasil teria de fazer uma reforma política.”


E na matéria sobre o orçamento:

“Melhorar a qualidade do Orçamento no Brasil não é tarefa simples. Outro passo seria reduzir o volume das despesas obrigatórias, o que implica corte de gastos e desvinculação de receitas – duas medidas que enfrentam grande resistência política.”

“Enquanto o Congresso e o governo brasileiros insistirem no jogo de faz-de-conta, há pouca esperança de cortar gastos, reduzir impostos, aumentar os investimentos e se transformar em um país normal.”

E no finzinho da matéria de capa, que traz a volta do velho conhecido, Maílson da Nóbrega:

“É preciso estar atento. O melhor cenário depende de algumas variáveis. A principal é que o Brasil invista nas condições necessárias para o crescimento e a geração de empregos, e isso inclui uma pauta de reformas já mais do que conhecida, com mudanças nas estruturas trabalhista, previdenciária e tributária do país. A boa notícia é que existem condições privilegiadas para que isso ocorra.”

- Veja poderia até fazer uma matéria contra o MST, de direita, batendo na tese de que eles recebem recursos públicos etc...Tudo isso sem babar, cometer atentados contra o jornalismo, a verdade e a boa educação. A matéria sobre o MST “Eles invadem. O governo apóia” ainda traz a curiosidade de ser assinada por Marcelo Carneiro e Juliana Linhares. Se Linhares mostrou semana passada ponderação ao tratar de ré confessa do assassinato premeditado dos próprios pais, dizendo que ela era vítima de um “linchamento moral”, e que era uma injustiça condená-la antes dela ser julgada, por que cabe escrever, no melhor estilo linchamento coletivo, que “os facínoras chefiados por João Pedro Stédile continuam a ser adubados com patrocínio estatal.” Ou usar o termo “bandidagem” (que não deveria ser usado em jornalismo nem para falar de criminosos). Qual a diferença, entre os sem-terra e a menina? Talvez se entenda em uma frase atribuída a repórter, no editorial da edição onde Suzanne foi capa: "Fiquei chocada com a notícia de que aquela menina de classe média, com cara de anjo, poderia ser a mandante do crime." Os sem-terra são, como mostrados nas fotos da matéria, hordas sem cara de anjo, morenos, de foice, saqueando caminhões, ou em caixões de madeira. A matéria vem por conta dos protestos do MST em relação aos 10 anos do massacre de Eldorado de Carajás, onde dezenove membros do movimento foram assassinados. Veja cita rapidamente os “policiais impunes”, mas enquanto faz quadro com o número de processos dos líderes do MST, não acha relevante sequer citar o nome dos tais policiais, como do coronel Maria Colares Patoja, que chefiou a operação, ou informar sobre como anda o processo. A revista tem um repórter na região Norte que não se moveu uma vírgula para isso, nem participa do texto. Matar sem-terra impunemente não é notícia. Ao contrário do que diz a matéria, os sem-terra estão longe de estar tão acima da lei quanto Patoja, e os demais policiais que participaram da ação, e que sequer puderam ser identificados. 19 dos sem-terra há dez anos estão é embaixo da única terra que a sociedade brasileira lhes concedeu.

- Para reforçar preconceitos, Veja distorce a realidade sobre a questão agrária. Sua reforma seria “uma causa da segunda metade do século passado que já não faz mais sentido na realidade brasileira.” Além da formatação pomposa do texto disfarçar que o período citado teria “terminado” faz apenas pouco mais de 5 anos, não é verdade. O latifúndio improdutivo, a grilagem, a concentração de terras e poder, a fome e o desemprego no campo existem ainda hoje (ou seja, não acabaram em 5 anos...). O que se quer dizer para as pessoas que sofrem as conseqüências disso? Para irem pilotar avião na China e na Índia, como fizeram aos pilotos da Varig? “Na prática, (o recurso repassado pelo o governo) vem sendo usado para a única atividade comprovadamente desenvolvida pelos militantes: a invasão e a destruição da propriedade alheia.” E não há outras atividades comprovadas? Assentamentos que produzem, escolas neles, pessoas que tiveram sua vida melhorada pelo MST? Há, existe sim o contraditório, que Veja prefere esconder. Concorde-se ou não com o MST e ocupações de propriedade, sabe que tipo de gente Veja apóia com este discurso e jornalismo? Terça-feira, a Folha de S. Paulo deu a seguinte notícia: Pistoleiros ferem criança em invasão do MST  Não vai ser notícia na Veja da semana que vem.


- “O MST também se beneficia de uma ingenuidade: o ideário politicamente correto que, espargido entre a classe média por professores universitários esquerdistas, camufla perante uma parte da opinião pública a sua verdadeira essência – a de organização criminosa – com a aparência de um movimento que defende a justiça social.” Esta é a cereja do bolo. Todos que discordam da Veja,  mesmo que não apoiem o MST, mas simplesmente não o considerem uma organização criminosa, são “ingênuos”. Sou de classe média, tive professores “esquerdistas” na faculdade. Acontece também de eu ser fazendeiro, conhecer um pouco a situação e mentalidade do interior do país. Não concordo com tudo que o MST pensa e faz. Mas é inegável a importância e respeito ao seu papel na organização de pessoas para a reivindicação dos seus direitos, e na luta por uma vida melhor, contra grileiros, latifundiários e elites mais que arcaicas, ou pretensamente modernas, do interior do país.  Não reconhecer o contraditório que envolve o MST, é mais do que fazer jornalismo com viés ideológico, é dar apoio e servir de propaganda dos preconceitos e violências cometidos por gente que mesmo com cara de “anjo”, ministra barbaridades.

- “A oposição erra o alvo” é a chamada do índice para a matéria de Otávio Cabral sobre o contexto político.

“Na semana passada, a CPI dos Bingos, o principal bunker da oposição, não conseguiu sequer votar um novo pedido de quebra do sigilo bancário de Paulo Okamotto, o amigo de Lula que se diverte pagando contas do presidente e de seus familiares. Tampouco votou a convocação de Lurian, filha do presidente, que também teve uma dívida, de 26.000 reais, saldada por Okamotto.”

Cabral e a Veja estão frustrados com o desempenho da oposição em pressionar Lula, então cobram “eficiência” dela. Não são os únicos entre os jornalistas políticos que estão tristes com a desaceleração da crise, como teve gente até já confessando em blog. Não importa que a CPI dos Bingos já saiu completamente da sua função legal, como mostrou matéria do site Última Instância, que estas convocações não tem nada a ver com aquilo para o qual foi aberta, e que entrou no ramo da ilegalidade e produção de factóides. Junta-se os interesses políticos da oposição, com, no mínimo, o interesse dos jornalistas em gerar notícias “bombásticas”. E sai-se dos trilhos de uma investigação séria, o que faz o governo, ao menos nas últimas semanas, nadar de braçada...

- “Malan, que saudade de você...” – Isso é título da coluna de notas Holofote, assinada por Felipe Patury. Que termina assim: “Isso é que é ex-ministro da fazenda.” Além de todas as afinidades eletivas, Malan é presidente do conselho de administração do Unibanco, para quem o grupo Abril ainda deve um bom naco de dinheiro. Se Malan é legal, Itamar é ruim. A volta dele ao cenário político é tratada a pauladas pela revista.

- Veja publicou uma matéria sobre a Guerra do Iraque, que a trata como se fosse um simples problema de ordem militar, como se os Estados Unidos não tivessem atacado com “força total”, como se fosse só o caso de deslocar mais soldados (que aliás, seriam tirados de onde?). Mais uma bobagem...Eu acho que Veja tinha que editar um livro especial com a cobertura completa da guerra do Iraque, desde quando dizia que Saddam tinha armas de destruição em massa, e ironizava a esquerda por criticar a guerra. Daria para perceber bem como o discurso foi sendo reescrito conforme as previsões e justificativas se revelavam falsas, como a revista ignorou outras fontes que não a imprensa norte-americana, chegando atrás da imprensa de esquerda e européia em tudo, e sequer se desculpou, como alguns veículos dos Estados Unidos fizeram. Seria ridículo e sensacional, coisa para adotar em todas as faculdades de jornalismo. Porque não se aprende lendo só o que é bem feito.

- A revista repetiu a matéria da capa da auto-suficiência (financeira) do petróleo, nesta semana em que ela chegou mesmo. É uma mini-matéria igual a anterior, só tem o mote um pouco diferente de que a auto-suficiência veio também porque o país cresceu pouco (é verdade). O mesmo ênfase no descolamento de Lula com a auto-suficiência (não ajudou, as também não atrapalhou...), a mesma linha de ignorar o biodiesel etc...Veja também repete outra matéria de capa, falando de novo em quatro páginas, do barateamento das TVs de plasma e LCD, que oferecem um “excitante” modelo de “interatividade” bem restrito:
“Será possível, por exemplo, escolher o personagem que será eliminado no Big Brother Brasil ou comprar produtos que aparecem nos intervalos comerciais, tudo por meio do controle remoto. Esse futuro está cada vez mais próximo.”

Uau!

- Ganhei a auto-aposta. Em uma semana, Mainardi já estava “repercutindo” suas pesadas ilações contra Franklin Martins, já que ele foi o único dos jornalistas que respondeu seu ataque anterior. Duas das cartas publicadas pela revista esta semana ainda reforçam a idéia de que Martins é leniente com o governo Lula por conta de cargos que seus parentes teriam na máquina pública. Como está colocada a denúncia, é especulação, para dizer o mínimo. Não é causa nem efeito, mas não deixa de ser simbólico das diferentes posturas entre a redação da Veja e da TV Globo com relação a crise política. Enquanto a primeira luta para criar um clima de “exceção” para a crise, a minha impressão, não acompanho regularmente seus telejornais,é que a TV Globo cobre a crise de forma mais branda, e a insere dentro da rotina do dia-a-dia...O que para Veja deve ser inaceitável, e frustra muito a oposição, porque sem a TV Globo o estrago na popularidade de Lula é bem mais difícil. Pior ainda que está chegando a Copa do Mundo...

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