Breve pausa nas férias do VQP

1 view
Skip to first unread message

José Chrispiniano

unread,
Oct 27, 2006, 6:20:31 AM10/27/06
to vejaqp...@googlegroups.com
O tal do jornalismo militante – parte 2


Bem, o objetivo deste boletim, tentar analisar a Veja levando a revista a sério, já “faliu” faz muito tempo. Ou, melhor dizendo, esgotou-se como sucesso e supérfluo Basta visitar o site da revista e se deparar com a sua dupla de “luminares” do jornalismo: Coringa e Pingüim, ops, Diogo Mainardi e Reinaldo Azevedo. Um se auto-declara golpista e considera irrelevante erros factuais, o outro trata o presidente por apedeuta, e as pessoas que defendem posições de esquerda ou votam em Lula por “petralhas” (cada vez mais Reinaldo Azevedo me lembra aquele radialista de “Hotel Ruanda”). É um tremendo sinal da decadência e autismo intelectual da revista que estes dois tenham sido promovidos a categoria de livre-pensadores modelo sobre o Brasil, a escrita e o jornalismo. Como as coisas chegaram a este ponto? Bem, as duas fases do boletim (2002-2006) mostraram a crescente decadência e radicalização da revista. Um processo não comentado foi quantos talentos foram fazer algo melhor e menos prejudicial para a saúde... Uma hora a premiação da estupidez daria os resultados óbvios. Chegou. Veja hoje é pouco competente até no trabalho sujo ao qual se presta.

No breve tempo de pausa do VQP, impressiona, até para quem já a tinha previsto, a incessante e esforçada agenda militante (ao extremo) das 3 edições da revista e os casos em torno dela: primeiro, a capa “O desafiante”, com uma bela foto, e dentro um “book” (como um amigo bem definiu) em preto-e-branco de Alckmin. A diferença de tratamento, de texto e fotográfico dada aos dois candidatos foi gritante. Mas o pior foram os outdoors da revista, alvos de uma ação do PT, considerada procedente pelo Tribunal Superior Eleitoral. Foram taxados pelo tribunal de propaganda e sua retirada da ruas foi decretada. Sobre o mico de seus outdoors, que basicamente são a sua capa, terem sido consideradas propaganda política, Veja não dedicou até agora, nem nas suas páginas, nem quando foi procurada por outros órgãos de imprensa, sequer uma palavra. Restou a soberba, o pouco caso ao prestar contas, à função de informar. Sobra seu papel militante.

Segunda semana. Nova capa. Veja traz uma tábua de salvação e extensão do impacto do escândalo da compra do dossiê dos Vedoin pelos “aloprados” do PT. Uma meta-denúncia. Segue classificando o dossiê de “fajuto”, aliás “fajutíssimo”, e não vai atrás do que Abel Pereira fazia em Cuiabá, personagem ainda não citado pela revista. Ela vai atrás de Freud Godoy, que é o elo mais próximo entre o dossiê e Lula, acusando um encontro clandestino com Gedimar Passos na carceragem da PF, para tirar sua citação do caso, e assim afastá-lo do presidente. É a meta-denúncia. E um furo solitário de Veja, baseado apenas na declaração anônima de 3 policias federais, e na crença de que a negação do único delegado que é ouvido em on, Severino Alexandre, não é negação, mas que ele não admitiu por medo.  Carlos Sampaio, do PSDB-SP, ao ouvir Alexandre pessoalmente, achou que era negação mesmo. Detalhe: Sampaio é o sub-relator, e homem do PSDB na CPI dos Sanguessugas, escalado para pressionar o governo: http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u85264.shtml. Bem, não importa muito. O episódio um tanto lateral na campanha foi jogado ao centro, com repercussão, mas sustentado "de fato" apenas por Veja. Serviu de fiapo onde se agarrou firmemente a oposição, e rendeu desdobramentos em outras mídias e na movimentação política-midiática de Tasso Jereissati e Jorge Bornhausen pelo TSE, justiça e CPI´s. Foi o único fôlego em uma semana onde a candidatura Lula abriu 20 pontos nas pesquisas eleitorais e onde o presidente participou de duas pesadas entrevistas com jornalistas (o Roda Viva e a sabatina da Folha de S. Paulo).

Terceira semana, “última chance”, e vem a capa cuidadosamente calculada para atingir ao máximo a candidatura Lula, com termos populares como “Ronaldinho”, acertando o filho do presidente em uma matéria requentada, com acusações de negócios que são de fato estranhos, mas que até agora moram no mundo das possibilidades, das ilações e insinuações e com uma dificuldade patente de demonstrar que alguma ilegalidade de fato ocorreu fora do mundo de Minority Report (aconteceria um projeto de lei, que beneficiaria a Telemar, mas que não ocorreu...). É óbvio que ao contrário do que disse Lula, ajuda, e não atrapalha, ser filho do presidente no mundo dos negócios. Mas já faz mais de ano que a oposição tenta achar algo de concreto para pegar o presidente nesta conexão Lulinha-Telemar. E conseguiu pouco até agora. Inclusive, foi isso que ele falou em coletivas e calou os jornalistas na sua frente. Mas que Veja para produzir um estrago na figura do presidente-candidato, precisava suprimir. Também é difícil a mão pesada, melhor dizendo, de dois pesos, da Veja nesta história. Nos anos 90, a revista mandou um repórter fazer uma história divertida sobre a vida de Paulo Henrique Cardoso, filho do então presidente FHC, em Trancoso (BA). O repórter voltou de lá com descobertas bem menos “frívolas” que a pauta original. Veja engavetou, censurou, escondeu a história. Publicou a frivolidade. No segundo caso, requenta mais uma vez a história da Gamecorp (que de resto é uma empresa que não só existe e ocupa um nicho de mercado de fato, como é concorrente da MTV, do grupo Abril, no setor de mídia segmentada), na sua capa, uma semana antes das eleições. Já que mostra que requenta temas, e está falando de parentes, Veja também poderia abrir ao menos um boxezinho, uma retranquinha para as diligências da filha de Alckmin junto à secretaria da Fazenda do estado de São Paulo, para que a Daslu tivesse benefícios fiscais, o que configura um pouco mais que o simples papel de “empregada” da empresa conferido por André Petry na edição anterior da revista, em coluna que abriu caminho para esta capa. Como a Daslu tem sido investigada pela Polícia Federal, taí um assunto que também seria de interesse jornalístico nesta eleição, por estes critérios.

Este boletim não é nada necessário. Carta Capital dedicou uma série de textos polêmicos sobre a atuação da mídia na eleições, particularmente Globo e Veja. Blogs como os de Luís Nassif, Paulo Henrique Amorim, e o site Observatório da Imprensa, analisaram o material com mais experiência e afinco do que eu sou capaz, principalmente nas corridas últimas semanas. Zé Simão com a liberdade do humor de apontar verdades, escreveu que os petistas andam dizendo que Veja significa “Vote Em Jeraldo Alckmin”.  E Xico Sá publicou a seguinte nota no seu blog no nominimo:


“Edição revista e ampliada
A direção do PSDB de SP decidiu, segundo nos soprou um funcionário tucano, que vai reproduzir pelo menos 1 milhão de cópias da capa e do texto da revista “Veja” sobre os negócios de Lulinha, o filho do presidente. É material para ser distribuído até o dia da eleição. A idéia é incentivar todos diretórios regionais a fazer o mesmo no país inteiro. Dependendo do assunto da próxima capa, o partido pretende fazer o mesmo com a edição do sábado, na véspera da decisão.”

Certamente há muito mais o que se falar destas edições, mas enfim, isso é só uma visita ao “trabalho” durante minhas “férias”. E a constatação do desastre, do ridículo, que foi o papel assumido por Veja neste processo eleitoral. Porque é patético para uma publicação jornalística que a avaliação da sua cobertura possa ser resumida da seguinte forma: seu candidato, por quem tanto trabalharam, perdeu. Fracassaram. Se serve de consolo, deixaram a impressão que fizeram o seu melhor (pior), o possível pela causa. Aparentemente, não deu.

PS: Veja segue, ao menos até hoje, véspera de sua última capa antes do segundo turno, sem ter assumido oficialmente apoiar um candidato nesta eleição.


AVISOS
Esta crítica da Veja é completamente independente, não estando associada a nenhum grupo ou empresa.
Correções, críticas, sugestões e comentários em geral são bem vindos.
É livre o repasse desta mensagem, desde que constem os créditos da fonte e do autor, e o e-mail para recebimento do boletim.
A publicação de trechos ou mesmo do Veja Q Porcaria inteiro é permitida, desde que discutida antes com o autor.
Avisem-me acima de tudo se NÃO QUISEREM mais receber ou se souberem de alguém que queira.
No caso de ter recebido essa mensagem em um forward e quiser receber
o "Veja Que Porcaria" semanalmente, mande um e-mail para vejaqp...@yahoo.com


Reply all
Reply to author
Forward
0 new messages