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- Deixa eu começar
com um assunto nada a ver com Veja, ao menos com esta edição. A edição
local de São Paulo, algumas semanas atrás, publicou um texto celebrando o
lançamento do Parque Cidade Jardim, um investimento de R$ 1,5 bi em uma espécie
de “condomínio bunker”, na frente da Daslu, com torres comerciais, residenciais
e um shopping de luxo. É, após as obras do Metrô, provavelmente o maior investimento,
privado ou público, na cidade. Retrato do que a elite projeta e como ela se
relaciona com a sociedade. Fazia tempo que eu queria escrever sobre o tema.
Ainda bem que não o fiz, porque Guilherme Wisnik, na Folha de S. Paulo, segunda-feira,
escreveu um texto excelente sobre o mesmo assunto: Cidade
Jardim ou anticidade? Por este condomínio ser a encarnação espacial de
tanta coisa que Veja representa, no fundo tem tudo a ver com este boletim.
- Esta edição de Veja não está das piores. Quer dizer, todas as obsessões,
preconceitos, campanhas ideológicas e manias da revista estão ali, mas como
não há as aberrações maiores que me ocupam, até abre uma oportunidade para
analisar a “normalidade” da revista.
- O entrevistado das páginas amarelas, por Thaís Oyama, é Geraldo Alckmin.
Enfim, é candidato à presidência, merece espaço em entrevista. Estranhei por
não localizar na entrevista a frase que é usada no seu título “Lula é cara-de-pau”.
Não foi exatamente isso que foi dito, ao menos em trecho publicado. Ele diz
que Lula foi cara-de-pau em um episódio. Mas enfim...Se esta entrevista é
tranqüila, tanto é o perfil nesta edição de outro “postulante” ao cargo, a
senadora Heloísa Helena. Dois assuntos polêmicos tem tratamento em “tom menor”:
há apenas uma menção indireta irônica em relação à Opus Dei, e não há pergunta
sobre a crise do PCC, o que é curioso já que se Veja já enterrou o assunto,
a Folha de S. Paulo faz bem em seguir analisando as raízes do problema
junto aos secretários de governo. E abre bastante espaço para Alckmin expressar
a que veio:
“Alckmin disse que, em caso de vitória, será duro com os sem-terra, acabará
com a ‘besteira’ da diplomacia Sul-Sul e não participará de acordos visando
a proteger de investigação aliados ou parentes: ‘Comigo, não tem acordo’.”
- Veja não está sozinha nesta prática, mas a leva ao extremo. Antigamente,
publicava uma ou outra carta que a criticava. Hoje acabou com isso. A seção
de cartas serve só para elogios e para passar para cartas de resposta a correção
de flagrantes incorreções da revista, que não os assume e assim finge cometer
menos erros do que comete, para não afetar a “credibilidade”, do “produto”.
Duas cartas foram publicadas sobre o caso Daniel Dantas. Uma de Arthur Virgílio,
repelindo a insinuação de que Dantas saberia “algo” sobre ele, e de que seria
de sua “bancada”, e outra de José Eduardo Martins Cardozo, rebatendo a mesma
acusação. Fica claro para o leitor que Veja errou e “reconhece” ao
publicar a carta? Não. Pior. A idéia é que não fique claro mesmo.
- Deste, “não está das piores”, Veja, em política, ataca a oposição
por fazer corpo mole e ser incompetente e fechar acordos na investigação do
governo Lula, retomando o momento de inflexão, aquele feito para salvar Eduardo
Azeredo, do PSDB, e Roberto Brant, do PFL. A revista faz revival até do “caso
Vavá”, uma de suas produções com menos Ibope. E também crítica o “vale-tudo”
eleitoral entre PT e PSDB em torno de Orestes Quércia.
- Veja celebra a vitória de Uribe como o “anti-Chávez”. O continente
decidiu reeditar a Guerra Fria, e toda a eleição da região é analisada pela
lógica do “fla-flu”. Eu ando meio paranóico diante destas matérias...em tudo
eu leio “acordo comercial com os Estados Unidos”, que se fosse só comercial...Também
é hilária a análise que o Brasil, por promover uma relação múltipla, necessariamente
“reduz o mundo” como diz Alckmin, dos Estados Unidos e Europa para o nosso
comércio. Eu entendo que satisfaça (em termos) a economia de um país do tamanho
do Chile, ou mesmo o México, que é seu vizinho, se complementar a economia
norte-americana. Mas que os setores “marquinhos” brasileiros estejam tão ansiosos
por já chegar com as calças arriadas em uma negociação destas, que parte
deles ache mesmo este o melhor caminho de inserção do Brasil no mundo atual,
ao invés de relações múltiplas com várias partes do mundo, isso eu acho impressionante...
- Estados Unidos, que, aliás, sumiu faz tempo da editoria de internacional
da Veja. Talvez porque só assim a revista pode sonegar uma série de
más notícias sobre o país, como o imenso déficit público, ou os massacres
de civis por tropas norte-americanas no Iraque (nem uma palavra...), ou ainda
a iniciativa odiosa e populista (com a direita religiosa) de George W. Bush
de propor uma emenda constitucional banindo a possibilidade dos estados legislarem
sobre qualquer tipo de casamento ou união civil entre pessoas do mesmo sexo.
Isso, com o único objetivo de ganhar votos para as eleições legislativas deste
ano no país.
- Com uma semana de atraso em relação a Carta Capital, Veja escreve
sobre o Everest, por conta daquilo que no jargão jornalístico se chama de
“gancho”, no caso a trágica morte do alpinista brasileiro Vitor Negrete. Lento.
Lento. Mais extemporânea ainda é a matéria, divertida por sinal, sobre o
mau gosto em decoração de ditadores. O texto e imagens se baseiam no livro
de Peter York, Dictator Style: Lifestyles of the World´s Most Colorful
Despots. Eu mesmo nem ligo para isso de ganchos, mas é curioso, porque
não há nada de novo, já que o livro não vai sair no Brasil, e a Folha de S.
Paulo já deu matéria sobre ele no dia em 11 de dezembro de 2005. Mais de
cinco meses atrás. Vai ver só agora a redação da Veja leu sobre ele em alguma
revista gringa.
- Matéria assinada por Giuliano Guandalini, relativiza a boa notícia do
crescimento do PIB no primeiro trimestre, por ser um período de avaliação
curto. É verdade. Na análise da Veja, esse crescimento baseia-se em gastos
estatais insustentáveis. É um pouco o padrão de desconstruir qualquer boa
notícia, mas não tenho como analisar se isso está certo ou errado. Na realidade
foram outras coisas que me chamaram a atenção na matéria.
“Na avaliação do economista José Júlio Senna, ex-diretor do Banco Central,
o país conseguiu ampliar ligeiramente, nos últimos anos, o seu potencial de
crescimento. Isso foi possível graças às privatizações, à queda da inflação,
às exportações e ao cenário externo favorável. O Brasil tem condições de crescer
hoje algo em torno de 3,5%. Mas, acima disso, ocorreria um superaquecimento
inflacionário. Foi o que se viu em 2004, quando a economia cresceu perto de
5%, a inflação despertou e o BC precisou elevar a taxa de juros.”
Para um importante setor de economistas ligados ao mercado financeiro, que
são a corrente dominante no Banco Central, o Brasil não pode nem crescer mais
do que 3,5%, nem ter taxas de juros reais menores que 10%. Não se explica
muito bem porque, mas o Brasil estaria condenado a ter uma das maiores taxa
de juros reais do mundo (que não esquecendo, faz a alegria de certas pessoas,
principalmente no mesmo mercado financeiro), e crescer menos que qualquer
emergente, mesmo os latino-americanos. Diga-se de passagem, eu acho impressionante
o Brasil conseguir ter 3,5% de crescimento com uma taxa de juros dessas. Imagina
o potencial reprimido de crescimento que há no país...Esta avaliação dos
“limites” de PIB e juros é um tanto mística e eles não gostam de chamar atenção
para seu credo, mas são de uma fé inabalável, que se auto-alimenta, porque
a única maneira de sair do purgatório, para eles, seria:
“Como sair dessa cilada? O país terá de deixar de postergar reformas
fundamentais, como a tributária, a previdenciária e a trabalhista, em vez
de torrar em obras eleitoreiras. Por isso, não se recomenda ater-se somente
aos números do PIB para certificar a saúde da economia.”
Outra coisa que salta na matéria é o crescente ódio dirigido ao programa
Bolsa Família:
“Sem falar no Bolsa Família, o grande responsável pelas altas taxas de
crescimento do comércio no Nordeste. O problema é que, embora ajudem a empurrar
a economia no curto prazo, essas políticas do governo praticamente não ajudam
o país a se tornar mais competitivo e produtivo.”
É difícil medir a verdade ou não desta afirmação, que é sobretudo ideológica.
Nem os gastos com o bolsa-família, que são pequenos perto daqueles com juros
(e quão produtivo ou "mais competitivo" é este gasto?), e que é um programa
focado, ajustado aos preceitos do Banco Mundial, quase neoliberal na sua formatação,
são suportados pelos conservadores. Ao auxiliar famílias na miséria a consumir
mais, e a manter seus filhos na escola, além da questão de princípio, é provável,
e pesquisas na periferia de São Paulo durante o governo Marta Suplicy indicam
isso, que se estimule potenciais produtivos, pequenos negócios locais adormecidos
pela falta de circulação de recursos.
- Veja dedica capa e ampla matéria ao crescimento da Índia, feita
por Carlos Graieb. O interessante é notar algumas contradições com aquilo
que Veja diz constantemente: por exemplo, a Índia é um país gigante, de crescente
importância econômica, mas Veja diz que é “besteira” (para usar o termo de
Alckmin) nossa política externa de comércio e alianças “sul-sul” que aumentaram
nossas relações com a Índia, inclusive dentro do G-20, na OMC. O outro é notar
que apesar das taxas de crescimento impressionantes, as condições de infra-estrutura
e sociais da Índia são muito piores que no Brasil, ou seja, não somos maravilha,
mas também não somos o inferno e incompetência na terra como somos retratados.
Inclusive, estas altas taxas de crescimento não deixam de ter relação com
o fato de que se parte de uma base per capita muito baixa. Por último, a
reportagem fica fascinada e coloca como essenciais no desenvolvimento indiano
os ITT, os Institutos Indianos de Tecnologia, basicamente, instituições públicas
de ensino e pesquisa, ou seja, o que aqui ela combate e abomina...Se ali
ela pode louvar o crescimento dos setores de tecnologia de informação e farmacêutico,
um jornalista estrangeiro interessado neste “BRIC” aqui (BRIC é a sigla que
representa o que alguns analistas consideram as potências emergentes do capitalismo,
países com grande potencial de crescimento pelo tamanho de suas nações, recursos
e papel regional: Brasil, Rússia, Índia e China), poderia fazer uma matéria
sobre a Unicamp e o desenvolvimento de uma indústria de tecnologia em Campinas,
sobre a Coppe-UFRJ e o Cenpes (centro de pesquisa da estatal Petrobrás, com
a maioria dos seus membros originários em universidades públicas) e a exploração
de petróleo em águas profundas, a Fapesp e a pesquisa em genética, o IPT
e o programa de combustíveis alternativos, ou a Embrapa e a adaptação da
soja ao cerrado brasileiro etc...Enfim, primeiro não somos de todo vira-latas,
e segundo, o sistema de pesquisa brasileiro, abandonado coitado, com poucos
recursos, e as universidades que a imprensa adora malhar são estratégicos
para desenvolver soluções próprias e gerar vocações econômicas. Lembro aí
de Gustavo Franco, que dizia e ainda deve dizer, que sai “mais barato” para
um país como o Brasil comprar pesquisa de fora, do que desenvolver internamente,
e que foi colunista da revista por anos a fio. Veja já abordou todos
estes assuntos citados fazendo questão de reduzir o papel do financiamento
público em pesquisa em todos eles. Parece fazer questão de se manter ignorante
sobre as razões de sua ignorância.
- Veja entrevista em duas páginas o descobridor do uso do Botox para
fins estéticos como se estivessem entrevistando Albert Einstein. O título
da matéria: “O melhor amigo da mulher”. Isso, mulher é isso...
- Semana passada, comi duas, quer dizer, três, bolas: A primeira foi esquecer
de escrever sobre duas notas bizarras da seção Radar. Uma falava de um julgamento
do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) sobre a liberação dos
canais de esportes da Globosat, que detém as transmissões do estratégico futebol,
para todas as operadoras de TV por assinatura. Dizia a nota da coluna de
Felipe Patury ser este um assunto que interessava a “todos os brasileiros”.
Mas certamente muito mais aos Civita, por ajudar a nivelar a competição no
mercado em que atua a TVA, do grupo Abril. Esta semana saiu matéria sobre
a decisão, favorável, aliás corretamente, a TVA e demais empresas. Também
corretamente, Veja informa que esta pertence ao mesmo grupo que a publica.
Note, porém, que noticiar o caso não deixa de ser uma forma de propaganda,
de que agora a TVA também terá os canais Sport TV. Isso serve para mostrar
o tamanho do conflito de interesses em jogo. A outra nota bizarra era uma
que informava que Kaká terá um blog na Copa, dentro do site do Guaraná Antártica.
Porque é bizarra? Porque um monte de jogadores da seleção terão blogs durante
a Copa. Porque a nota só fala do feito por Kaká, hospedado em um site da Ambev,
citando, assim, gratuitamente, o nome do produto? A terceira bola segue abaixo.
- Um leitor me apontou e acho importante citar, que há problemas sim, na
matéria da Veja semana passada sobre as relações entre José Dirceu
e o russo Boris Berezovsky afim deste comprar a Varig. Os dois personagens
negam o encontro, e a matéria é inteira baseada em off. Ate aí, pode-se
confiar que não há outra forma de se apurar algo assim, que nunca iriam assumir
mesmo, mas esta é a base de toda a matéria. Mas há outros problemas: porque
Veja não informou que a legislação limita em 20% a posse de uma companhia
aérea para um estrangeiro? Por que Veja incluiu Paulo Pimenta como ligado
à Zé Dirceu, se não são nem da mesma tendência dentro do PT? Por que tal notícia,
espetacular, surgiu da editoria de política, e na Veja, ou seja, dos corredores
do congresso, quando Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, Globo e Valor
Econômico, entre outros, tem repórteres especializados cobrindo a venda da
Varig diariamente? A Folha e o Estado, por exemplo, não publicaram nada disso,
nem antes, nem depois da Veja. Seria mais um furo do “novíssimo jornalismo”?
AVISOS
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Correções, críticas, sugestões e comentários
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