Veja Q Porcaria n.34 - 2006

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José Chrispiniano

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Aug 29, 2006, 11:22:51 AM8/29/06
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- Na Carta ao Leitor desta semana, Veja exalta sua editoria e capas de saúde. Foram 41 capas nos últimos cinco anos da revista. Pode ter certeza que nenhuma foi sobre o sistema público de saúde, abandonado pela imprensa nas duas pontas, a dos que produzem e também pelos seus leitores, assim que a renda destes permite. Assim, a editoria de saúde se concentra em novas drogas e descobertas científicas, hábitos saudáveis, dietas e botox. A Carta ao Leitor termina com este trecho:

“O rigor na seleção dos temas das reportagens – bem como na sua apuração – faz parte do metabolismo de VEJA.”

É curioso que a revista, que alerte contra os males recém descobertos do açúcar e da gordura trans para a saúde, ambos elementos mais simples e presentes na natureza, mas cuja ingestão exagerada e uso industrail fazem mal a saúde, tenha uma postura tão ideológica e preconceituosa contra os que têm receios dos possíveis efeitos ainda a serem descobertos dos alimentos transgênicos.  Também impressiona que a revista não dê a mínima para os alimentos mais saudáveis serem mais caros, e a epidemia de obesidade, estimulada pela publicidade, entre os mais pobres.

- Apesar do auto-avaliado rigor, Veja segue com sua prática de indeterminações e resistência a correção, para dizer o mínimo. Neste sentido, a matéria “A alucinação de Botucatu”  é mais um caso do “novíssimo” jornalismo de Veja, com um texto confuso e uma apuração incompleta sobre as fazendas que seriam de um testa-de-ferro de Luiz Antonio Fleury Filho, assinada por Victor Martino. Fica um troço incompreensível se é, se não é, o que no texto é ironia, qual a posição da apuração sobre o caso. E se não é, por que a revista publicou? Sem falar no ridículo da prova “cabal”, uma quadra poliespotiva com tabela de basquete, erroneamente indicada como apenas “quadra de basquete”. A matéria ficou com cara de recado, de código. Ou de total falta de noção.
A última missiva da seção de cartas é de Luís Gushiken, contestando nota da seção Radar sobre uma conta de um de jantar de 3.500 reais, que, de acordo com a revista, teria pago em dinheiro, junto com um amigo. Além da carta, Gushiken divulgou pela internet uma nota e uma carta do maitre do restaurante, que afirma que a conta foi de R$ 362,89, pagos com cartão de crédito. Isso a revista não coloca. Se foi o caso, não é difícil de ser provado se é verdade, basta a apresentação da fatura do cartão. A revista deveria ter pedido no mínimo esta prova. Fornecida, admitir o erro. Caso achasse que é o caso, reafirmar a informação. Ficou o dito pelo não dito.

- Três das interessantíssimas cartas da Veja e sua profusão de ressonância de preconceitos. As duas primeiras sobre Mainardi. A última sobre a própria seção de cartas

Tenho arraigada (mas racional) ojeriza ao Lula e mais ainda ao PT. Isso coincide, imagino, com a visão do Diogo Mainardi. Em relação ao articulista, sou ciclotímico; às vezes gosto e freqüentemente discordo. Passou dos limites na crítica "Ginecomastia, sanfoneiros, pobres". Faltou objetividade. Não entendi: deplora o presidente ou os sanfoneiros, feios e pobres em geral?
Lucio F. Pereira
São Paulo, SP

Confesso que não gostei das duas últimas colunas do Mainardi. Mas essa está ótima. Assim como o nosso presidente Lula, tem muita gente por aí que enriquece, faz plástica, põe jaqueta nos dentes, compra roupas de grife, um Rolex, faz aulas de etiqueta, contrata um personal stylist e continua com cara de pobre... Hilário! Mas o pior é a inversão de valores. Muitas dessas pessoas acreditam que ter dinheiro, status e poder é tudo. E elas podem tudo! Esquecem que o que realmente importa é ter caráter, integridade e educação.
Paula Purchio Duarte Ponz
Campinas, SP

Normalmente, nos fins de semana acompanho as reportagens de VEJA, mas muitas vezes leio apenas algumas. Tenho observado na seção Cartas que algumas das matérias que não li são comentadas ali na semana seguinte. Muitas vezes elas me despertam certo interesse, fazendo com que eu pegue a revista da semana anterior e a leia. Mas o que mais tem se mostrado interessante é a diversidade de opiniões nos comentários, mesmo que muitas vezes contraditórios. Por meio deles, é possível ampliar o entendimento de determinados assuntos, pois às vezes abordam a reportagem de um ponto de vista que eu nem sequer havia pensado. Parabéns, leitores, por suas cartas. Assim, nós também somos parte da notícia!
Beatriz Antunes, 15 anos
São Paulo, SP

A Beatriz ainda é bem nova, como indica a idade.

- A seção Holofote, editada por Felipe Patury publicou uma nota sobre uma margem de 10 pontos que seria necessária para Lula garantir a eleição no primeiro turno. A avaliação é de Antonio Lavareda, da MCI. O que Patury não diz é da ligação entre Lavareda e o PSDB, e quanto desta conta é wishful thinking, como uma clássica da consultoria tendências que apontava que era fácil Serra derrotar Lula no segundo turno de 2002.

- Veja massacra, muito além da patrulha ideológica do passado, o músico Wagner Tiso, por uma declaração realmente infeliz sobre ética , mas enfim, opinião dele, dada em jantar com Lula, e está sendo reproduzida de forma distorcida, fora do contexto. Tiso aparece a seção Veja Essa, na coluna de Mainardi, na matéria principal sobre as eleições, onde é chamado de “anônimo que sobrevive com verbas públicas”, esta vinda direto do saco de grosserias da revista.

- Veja faz uma bela entrevista com Miro Teixeira, outra sobre Newton Cardoso e a vergonhosa aliança de Lula e do PT com ele, e matérias úteis, ainda com as grosserias de sempre, sobre sites como o www.politicosdobrasil.com.br e o http://perfil.transparencia.org.br que  trazem informações sobre candidatos ao legislativo. É curioso, um lapso, que Veja tenha perdido a chance de noticiar que o PT esta tentando tirar do ar o site da Transparência Brasil, o que é uma vergonha. E sobre as impugnações dos TRE´s, Veja não poderia esquecer que muitas das decisões vão além da competência técnica do tribunal e consistem em pré-julgamentos. Em casos como o de Eurico Miranda, parece estar em jogo a lógica de um erro para compensar outro, no caso a lentidão da justiça.

- O esforço de Veja para evitar a contaminação de José Serra no caso dos sanguessugas chega a emocionar.

- Artigo de Gustavo Ioschipe, sobre educação:

“Só que, diferentemente do palavrório de alguns, os trabalhadores brasileiros não ganham pouco por ser vítimas de uma elite branca e má, mas por ser pouco produtivos. São assim porque a escola falhou com eles. Enquanto ela continuar como está, tendemos a seguir sendo um país irrelevante para o mundo e desalentador para os brasileiros.”

O artigo traz uma foto com a seguinte legenda: “Trabalhadores: o salário é definido pela produtivida e esta pela ênfase na educação”.

A educação é importante, claro, assim como a questão da produtividade (o termo “técnico” que substitui o “ideológico” mais-valia). Mas produtividade, como relação financeira, também se extrai de sub-salários. O texto de Ioschipe é uma mistura de ingenuidade útil com novilíngua para justificar o status quo da desigualdade de renda brasileira. As diferenças de salários entre operários, gerentes e executivos no Brasil não encontra paralelos em outros países onde se executam exatamente as mesmas funções. Não é a educação, nem a produtividade, que explica isso.

- A nova camapnha publicitária de Veja, que traz montagens sobre fotos reais, como a de um soldado israelense ou norte-americano lendo a revista entre tanques, é de um mau-gosto e mau-caratismo apropriado ao da revista. O slogan é “Quem lê entende”.


- A matéria de Bel Moherdaui sobre os figurinos do filme O diabo veste Prada, é muito, muito ideológica, com passagens extremamente adjetivadas.

- Sinceramente, este foi um fim-de-semana muito deprimente do jornalismo.  Cada vez mais os jornalistas parecem cães-de-guarda bem amestrados, prontos para destilar ironias e grosserias contra os inimigos do patrão e reescrever a história dos amigos. Donos de uma "coragem" muito seletiva. Da resenha ridícula que o Estado de S. Paulo publicou sobre o livro de Dennis Rosenfield, até a capa abobrinha da Ilustrada com o display do Chico Buarque, passando por um editorial da Rede Globo, sem este nome, onde Alexandre Garcia foi “intérprete” da indignação no Bom Dia Brasil de segunda. Baseado em uma denúncia real e importante (usando câmera escondida e armação política) contra um candidato de um partido nanico de Goiás, a Globo atingiu seu verdadeiro alvo: o horário eleitoral gratuito. Não há quem regule a pose superior da mídia e seu despudor na defesa dos seus próprios interesses. Tudo isso, diante da resenha de Marcio Aith sobre o livro de Gustavo Franco “Crônicas da convergência”. Intitulada “As razões da razão”, que pelo estilo, o título deve ter vindo da lavra do “novo Machado de Assis”, que trabalha como redator-chefe da Veja. Citando FHC, Aith começa reabilitando Franco:

“Quiseram o destino e a conveniência de alguns que sua imagem ficasse mais atrelada às circunstâncias da tumultuada desvalorização da moeda, em 1999, que à sua contribuição efetiva para o avanço institucional brasileiro.”

Isso é uma falsificação grosseria, um revisionismo de quinta. Franco foi um maluco de hospício, um Taliban neoliberal na condução do Banco Central e na manutenção do real valorizado sobre bases irreais. Causou prejuízos de bilhões ao país, arrasou empregos e praticou populismo cambial para reeleger FHC. Ainda bem que o país não seguiu propostas suas como parar de produzir pesquisa (importar conhecimento seria “mais barato”) ou estabelecer a paridade do real com o dólar.

Assim termina o elenco da Operação Portuga conduzida por Aith:

“Felizmente, como registra Franco, a economia real é construída todos os dias não por idiotas, mas por gente que pensa, faz contas e lê.”

Lição amarga para os jovens jornalistas “se darem bem”. Leiam bastante Veja, entre outros veículos de destaque, e incorporem estes preconceitos e grosserias e os arrotem por aí. Parafraseando a filósofa Tati Quebra-Barraco, é feio, mas tá na moda.

- Um leitor me chamou atenção para duas notas do Radar da semana passada sobre pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, que indicam que a taxa de miséria nas seis maiores regiões metropolitanas caiu. Mereceu só duas notas, e a pesquisa já estava disponível quando Veja fez a capa criticando o Bolsa Família, entre outras coisas, por não tirar pessoas da miséria. A miséria caiu 22% em Belo Horizonte (onde caiu mais) e 5% em Porto Alegre (onde caiu menos). O impressionismo enviesado da reportagem de Veja vale uma capa. Uma pesquisa da FGV, duas notas.

- Quero indicar três textos que saíram na Folha de S. Paulo, mas não são de jornalistas, bem interessantes. Um de Otaviano Helene sobre cotas, outros dois de Paulo Nogueira Batista Jr. (um é continuação do outro) sobre os bancos.

Otaviano Helene: Há espaço para ações afirmativas no país?

Paulo Nogueira Batista Jr.

O poder dos bancos no Brasil


Os reis da bufunfa


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