Veja Q Porcaria n.27 - 2006

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José Chrispiniano

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Jul 8, 2006, 9:57:18 PM7/8/06
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 - Semana passada, entre devaneios, deixei passar um quadro chamado “O Manobrista eletrônico”, que trazia a seguinte frase, sobre um equipamento de manobra eletrônica: “Atenção, madame, a engenhoca ainda não foi testada em ladeiras.” Duas leitoras tiveram suas justas cartas publicadas nesta edição. É uma a mais para uma compilação de exemplos de machismo na revista que estou fazendo.


- Post de Juca Kfouri, em seu blog (http://blogdojuca.blog.uol.com.br)

“Veja a " Veja"

Faz mau jornalismo quem tira frases do contexto.

Eu, de fato, disse que os dois gols de Ronaldo contra o Japão era o que poderia acontecer de pior para a Seleção Brasileira.

Porque forçaria o Parreira a escalá-lo mais vezes e fomentaria uma ilusão.

Como ficou claro no jogo contra a França, aliás.


Já o Guia de "Veja" sobre a Copa do Mundo tem essa pérola, destacada do contexto: Zidane é um problema para a França porque ao resolver voltar para a seleção atrapalhou o trabalho de renovação que seu técnico estava tentando fazer.


Brilhante! Zidane é um problema!


Mas, no contexto, para ser honesto, explica-se.


Pouco antes o texto diz que ele era solução (pois ajudou a classificação francesa) e problema, por atrapalhar a renovação.


O problema de "Veja" é só este: não ser honesta.”

  Caso queira ler os 408 comentários sobre esta nota do Kfouri, entre na página do Blog de Juca e depois, cole o link abaixo no lugar do endereço do blog:

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- Na coluna Radar desta semana, Veja publica esta longa frase:

A Receita Federal acaba de identificar operações que totalizam 70.000 dólares em nome de Eric Kurzweil, irmão e sócio de Roberto na LocaBlin, a locadora que alugou o carro usado para transportar os dólares cubanos do PT.

A frase deveria ser assim:

“A Receita Federal acaba de identificar operações que totalizam 70.000 dólares em nome de Eric Kurzweil, irmão e sócio de Roberto na LocaBlin, a locadora que alugou o carro supostamente usado, segundo a revista Veja, para transportar uma caixa que supostamente conteria dólares cubanos para o PT.”

Bem, talvez a frase ficasse melhor ainda sem os dois supostamente...A revista já transformou em fato histórico o que ninguém comprovou, a história dos dólares cubanos.

- "Não à pax americana. Não ao Super-Homem. Não ao império americano. Não ao modo de viver americano. Não. Esse é o caminho para o inferno."
Hugo Chávez, presidente venezuelano, cada vez mais doidão

E olha agora esta nota, reproduzida integralmente texto e foto (copyrights da editora Abril e foto da AFP) com apenas uma última frase como “caco”, de autoria deste escriba, sobre o aniversário de George W. Bush:

“Bem, camisa florida ele já vestiu. Quem sabe comece a ir dormir depois do horário habitual (21h30), talvez até a tomar um uisquinho... Canceriano de 6 de julho, George W. Bush comemorou os 60 anos com uma festinha-"surpresa" na Casa Branca envergando a tal camisa ofuscante (ó céus, com calça social e cinto), mas a idéia de que ele comece a relaxar, como é comum entre cavalheiros à beira da terceira idade, é apenas expressão de desejos. "Sessenta não é tão velho assim", brincou ele com uma platéia de jovens. Mas e o físico de atleta? "Os joelhos já se foram. Logo, logo serão as pernas." Mesmo assim, lançando mão das metáforas esportivas tão caras a presidentes, ele diz que planeja, nos dois anos e meio de governo que lhe restam, "disparar na reta final" e alcançar "grandes realizações". Uisquinho, nem pensar. É Bush, ao 60 anos, cada vez mais doidão.

Pronto. Assim, em um passe de mágica, reequilibrei a imparcialidade de Veja, que agora não pode mais ser acusada de síndrome de "Marquinhos". O talk-show  de David Letterman (que é ótimo) usa o seguinte slogan para se referir ao presidente norte-americano: “29% e caindo”. Este é o índice de popularidade de Bush, o mais baixo de um presidente dos Estados Unidos desde que inventaram esta medição...

Na seção de Datas, Veja anuncia entre os mortos da semana, o Mercosul, pela entrada da Venezuela no grupo econômico. Que coisa mais imparcial, mais madura, que exemplo de jornalismo sóbrio...A revista marxista britânica New Left Review publicou uma longa resenha de Richard Gott sobre a biografia de Pablo Bachelet Gustavo Cisneros:um empresário global, sobre o poderoso barão da mídia venezuelana. Intitulada Venezuela´s Murdoch, é uma excelente leitura sobre as relações e ideário dos empresários da mídia não só na Venezuela, mas na América Latina em geral. Muito ali pode ser “transplantado” para o Brasil (novelas da Globo e revistas da Abril). Quem quiser o artigo, é só pedir que envio por e-mail.


-
Vou perguntar ao Diogo Schelp a próxima vez que nos encontrarmos, porque não sei como a Ruth Costas ou a Gabriela Carelli que assinam a matéria sobre a eleição mexicana, conseguiram, a distância, atestar a idoneidade do Instituto Federal Eleitoral do México, em uma eleição onde o candidato do governo Felipe Calderón ganhou do “populista” (já é toda uma categoria, acho que “esquerda” não deve soar sujo o suficiente...) López Obrador, por 0,58%, 240 mil votos em 41 milhões. “A votação da semana passada foi uma das mais limpas da história do México” -  atesta a revista. Vamos dizer que foi a mais limpa e só roubaram 0,59%. Como fica? Será que se fosse o inverso, diriam o mesmo (e em geral, quando a oposição ganha por pouco, tem mais chance de ser limpo do que quando os governistas ganham por pouco, por razões óbvias)? Eu preciso aprender estas super técnicas de apuração jornalística...

- Para defender a maior taxa de juros do mundo e a atuação do Banco Central, Veja escreve uma matéria de duas páginas, ilustradas por um bonito elefante, sobre como o fim da inflação ajuda a distribuir renda. Sim é verdade, mas Veja interdita e desqualifica um debate (entre economistas e empresários, nem tem muita gente de esquerda mesmo na parada) colocando que não se pode falar sequer da gradação destes juros da "estabilidade" (que mesmo caindo 3 pontos percentuais, ainda estariam entre os maiores do mundo, ou seja, todo mundo tem mais estabilidade/confiabilidade que a gente). E será que a maior taxa de juros do planeta, ao transferir recursos do governo e de quem consome à prestação
para quem tem capital acumulado, também não ajuda a concentrar renda? Enfim, daqueles assuntos que eles insistem de lá, pisando como um elefante, e eu sigo daqui, neste trabalho de formiguinha.

- Veja publica uma lista dos 94 parlamentares federais investigados pelo Ministério Público ou denunciados ao Supremo Tribunal Federal. Legal. Também uma sobre a situação insustentável do Centro de Detenção de Araraquara, e a continuidade do embate entre o governo do estado de São Paulo e o PCC. E, me surpreende ao ignorar na seção de frases a apelativa declaração do ex-secretário de Administração Penitenciária de São Paulo Nagashi Furukawa, de que os ataques do PCC visavam desestabilizar a  candidatura de Geraldo Alckmin. São os “meus parabéns” desta edição.

- A oposição ao estatuto da igualdade racial e as cotas raciais unem dois tipos bem diferentes de pessoa, às vezes com os mesmos argumentos. Conservadores que se opõem a qualquer medida prática de combate ao racismo, e pessoas de esquerda, muitas delas socialistas, que são contra medidas raciais que mudam o princípio do próprio conceito de nacionalidade, ou as consideram migalhas paliativas. É curioso ver Veja usar artimanhas e seu jornalismo problemático para algo em que eu concordo com a revista, e ver do outro lado pessoas como o escritor Ferréz. Melhor, para entender o que gente melhor quer dizer quando é contra se ter raça definida em documentos oficiais (Ferréz seria negro ou branco?), é ler o artigo de Demétrio Magnoli sobre a polêmica entre o zagueiro da seleção francesa Thuram e o político de ultra-direita Jean-Marie le Pen  - Thuram, Le Pen e nós(posso mandar por e-mail para quem não tem UOL) Uma inteligente maneira de explicar os conceitos diferentes, entre França e Estados Unidos, em relação a nacionalidade. Ainda que sejam apenas conceitos e que na prática na França, nos EUA ou aqui, as coisas funcionem longe destes ideais, sou antiquado o suficiente para achar importante manter e perseguir também o conceito.


- A capa da Veja sobre evangélicos, é um exemplo de uma saudável retração na imprensa do preconceito associado a esta vertente do cristianismo. Creio que esta tem menos a ver com mudanças nas práticas neopentecostais (que entre as classes mais baixas continuam sem tantas alterações) e mais a percepção do crescimento da porcentagem da classe média ligada a igrejas protestantes, além de um papel “disciplinador”, “gregário” e “poupador” destas religiões (valha-me Max Weber). No meio do caminho, o lado positivo é o sumiço de termos pejorativos como “crente” e reconhecer as diferenças entre as denominações protestantes tradicionais (Batistas, Metodistas, Presbiterianos etc...) e os neopentecostais. O caldo comum da uma cultura individualista e da religião entendida como “prestação de serviço” ajuda, como mostra a Carta ao leitor da revista:” Entre nós, os pastores de diferentes denominações duelam para ver quem atende melhor às carências espirituais, emocionais e materiais de seu rebanho.” Neste outro trecho : “A concorrência na pescaria de almas é feita no Brasil, em contraste com diversas partes do mundo, em clima de coexistência pacífica.” De fato, aqui o clima é bem mais arejado do que na maior parte do mundo, mas Veja só se esquece do preconceito e repressão, muitas vezes violenta, e
nunca noticiados por ela, fomentada por denominações neopentecostais contra o candomblé e a umbanda. Mas isso acontece naquele parte pobre do Brasil que não existe, a não ser como turba indistinta e mão-de-obra já não mais tão barata (olha a China aí), para Veja.


- Acabou de ficar provado que eu consigo fazer o Veja Q Porcaria (ler a revista inteira e escrever e revisar o texto) em menos de 6 horas (assitindo um jogo da Copa no meio desse período). Nossa, como eu sou "bom"...Os erros de revisão desta edição se explicam por que eu não sou "tão" bom.

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