Veja q Porcaria - a volta e
o (simultâneo) fim
O Veja Q Porcaria? Aquele blog(sic) que "fala mal" da Veja? Caput.
Finito. Zéfini. Parrrtiu!
E isso já faz tempo. Aqui é só porque cabe ainda acabar o porque. E
lançar uma campanha mais urgente, um verdadeiro puxão de orelha pela
liberdade da imprensa no Brasil.
O porque do fim do VQP é porque não tem mais porque. Hoje, a
concorrência é grassa, grossa, ruge e urge por aí. Não estamos mais em
2002, e analisar a Veja como exemplo de péssimo jornalismo é tão
redundante quanto fazer pipi no rio Pinheiros. E qualquer um teria mais
a fazer do que ler, levando a sério (?!?) a “maior revista semanal do
país” (cuja tiragem equivale a 0,5% da sua população, é bom lembrar
para colocar o que parece grande na sua devida proporção). Hoje, quando
algo sai na Veja, qualquer pessoa que não seja louca vai analisar a
matéria para ver se pode ou não ser levada a sério. Nenhuma revista
sofre leitura, ou melhor ainda, não-leitura, tão crítica.
Também posso ficar sossegado por conta de duas figuras de proa e
convés, que hoje ocupam o espaço de ridicularizar a Veja de maneira
mais eficiente do que eu jamais fui capaz. Em ordem alfabética, para
não ser injusto, estou falando de Luis Nassif e Reinaldo Azevedo. O
trabalho de ambos é incrível!
Para quem tem idade para se lembrar do Nassif da Folha de S. Paulo nos
anos FHC, o Nassif do seu blog nos anos Lula é algo que merece ser
chamado de “nunca antes nesse país”. Digo isso sem sacanagem. Acho
legal. A entrevista dele na Caros Amigos deste mês é ótima, a análise
dele sobre blogs, a emergência da classe D na opinião pública, e como
idiotas cada vez mais idiotas se sucedem no comando da revista, se
nunca escrevi isso já o disse em muitos botecos. O dossiê dele sobre a
revista então, excelente. Vale a pena ler. Aliás, acho que a verdadeira
razão desse texto é avisar aos amigos de uma vez só que eu sim, estou
acompanhando-o, não precisam mandar indicá-lo mais para mim não...
Nassif tem investigado os interesses escusos da revista, além da sua
inépcia, que era mais o foco do VQP. Uma obviamente está ligada à
outra, e é isso que ele mostra. Dá um google por "Nassif" e "Veja" e
leia...
Agora, quem tem mandado bem mesmo em ridicularizar a Veja é Reinaldo
Azevedo e seu blog. Essencial. Fantástico o quanto apenas um homem
obstinado é capaz de fazer para estigmatizar um veículo de imprensa.
Claro o terreno era fértil, adubado. Mas observe, até o Mainardi ficou
pequeno após o incrível, educado, polido, roliço, democrático,
investigativo, nada conspiratório, prolixo ou egocêntrico blog do
Reinaldo Azevedo. Leitura obrigatória para aqueles que querem entender
a realidade por meio do método da psicologia reversa aplicado ao
pseudo-jornalismo. Basta usar a fórmula matemática de inverter os
sinais e dividir pela metade tudo que ele diz que você vai ter uma
opinião razoável e equilibrada sobre qualquer assunto.
Agora, respire fundo, que o período é longo, sisudo, mas vamos lá: ao
agrupar toda a natureza raivosa e alucinada do mais tosco
conservadorismo em um só lugar, e ainda agregar seguidores em torno
dele, Azevedo faz o favor de explicitar a dimensão da merda alucinada
do conservadorismo a brasileira, em tempo real, o que antes era uma
mera hipótese. Lovely!
Gente, o cara ainda é trotskista e está comendo o sistema por dentro,
não entenderam? Afinal, só pode ser como piada que alguém defenda a
guerra do Iraque e o W. Bush hoje em dia (desculpe Kamel, eu sei que
você fala sério, mas é verdade).
Pena que Azevedo jamais terá o reconhecimento que de fato merece. A
vida tem dessas mesmo. A direita brasileira jamais vai agradecer a
esquerda por essa ter impedido que a paridade do real com o dólar fosse
parar na Constituição, como na Argentina, o que faria ainda mais
desastrosa a crise de 1999. Ou a privatização completa da Petrobras, o
que faria a descoberta de Tupi quase indiferente para o país. E Lula
jamais vai agradecer a imprensa que derrubou (na realidade, eles se
derrubaram...) Antonio Palocci, José Dirceu e Luiz Gushiken. Com a
substituição deles, o governo melhorou muito. É, as vezes ajudamos
alguém ao tentar prejudicá-lo e vice-versa.
Mas já estou desviando do assunto, e ainda tem um relacionado a Veja
que me incomoda. Desde que soube disso, ocupa a minha cabeça...Uma
questão importante, não abordada e fundamental para a liberdade do
exercício do jornalismo no Brasil contemporâneo.
O problema é sério. OS JORNALISTAS DA VEJA
NÃO PODEM USAR BRINCOS NA REDAÇÃO.
Verdade. Estamos no século XXI, os valores ocidentais da liberdade em
permanente ameaça jihadista, e os jornalistas homens da Veja estão
privados de se expressarem na redação pendurando adereços decorativos
nas suas orelhas, mesmo que discretos, .
Incompreensível. Observe, eu entenderia, sem concordar, que não
permitissem o uso de brincos ou algo aberrante durante uma entrevista
com um chefe de estado conservador, ou em um país onde não fosse
costume, mas proibir o uso da jóia no ambiente próprio da redação? Quem
liga para isso?
É uma hipocrisia. Fala-se de liberalismo e ataca-se a obrigatoriedade
do véu, e não liberam um mero brinquinho...
É uma injustiça. Defende-se a guerra do Iraque, publicam baboseiras e
não se pede desculpas, quer para o Brasil a política externa e
comercial do México, de tratados de livre comércio com os Estados
Unidos. Esta fracassa e a brazuca dá certo e não se dá uma nota. Diz
que o final de Fidel Castro é decadente (sem dizer o mesmo do Bush) só
porque ele enfim, ficou velho, doente e vai morrer como absolutamente
qualquer um (pensando bem, acho que era um elogio, pensavam que era
imortal?). Inventam um furo mundial de 40 anos com a tese de que Che
Guevara era apenas um psicopata. E nenhuma gratidão?
É isso gente, os jornalistas da Veja, que tantas fazem quando tantas
fezes, apesar de tudo são obrigados a tirarem seus brincos no hall do
edifício Abril. Será que nada vale aquela noite em que, corajosamente,
após todas as redações evacuarem o prédio, fecharam a revista sob o
risco de caírem no buracão das obras do Metrô?
Fezes, evacuarem, buracão...este meu texto está um pouco gráfico
demais...Mas é impossível não pensar na importância da iniciativa
privada ao falar da Veja. E claro, também da descarga.
O que será que existe em um brinco, talvez dois, de tão subversivo?
Seria algo simbólico de uma coisa maior? Que neste gesto se encerra
algo a mais sobre liberdade de escolha, de opções? Hoje um brinco, quem
sabe amanhã pensam e escrevem por si mesmo, tomam outros rumos nas suas
vidas ou até questionam as virtudes literárias e jornalísticas do Mario
Sabino, e empresariais do doutor Roberto e seus Civita?
Assim não pode continuar!
Por isso, o VQP parte definitivamente dessa para muito melhor, deixando
esta importante campanha: liberdade para as orelhas dos jornalistas da
Veja! Porque liberdade de expressão já é pedir demais...
Grato pela atenção dispensada em todas as encarnações do boletim,
José Chrispiniano