Caso real: GUERREIROS SOLITÁRIOS

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UADPD - Unidade de Atenção aos Direitos da Pessoa com Deficiência

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Mar 15, 2012, 8:20:08 AM3/15/12
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O artigo de hoje trata da luta da mãe e de Rafael, e o fator atordoante desta história é que ele consegue reunir todas as condições que o mercado diria que são desejáveis numa pessoa com deficiência visual – e mesmo assim está muito difícil de conseguir trabalho. Será que a parcela mais difícil de incluir (e a mais prevalente) que é o deficiente visual, no fim e no fundo sofre com nosso próprio medo de enfrentar um dia a cegueira?

 

GUERREIROS SOLITÁRIOS

 

 

   Meu nome é Rafael. Minha mãe sabia que o tempo trabalhava contra nós – ela começou a ler tudo sobre psicologia infantil, e começou a me ensinar as letras do alfabeto muito cedo. Levou um susto quando espontaneamente comecei a juntar as sílabas, apontando e nomeando os objetos. Lutamos contra o glaucoma para preservar minha visão até meus cinco anos, com várias cirurgias. Com três anos eu já sabia Braille. Minha mãe quis deixar em mim bem viva a percepção de que tenho os mesmos direitos de todos. Ela aprendeu Braille e traduzia todos o livros infantis para mim, assim eu podia ler quantas vezes quisesse, além de passar meus dedos no contorno das figuras, em relevo graças ao barbante que ela colava, delineando. Acertou  quando buscou matrícula em escola “normal”de meu bairro, com meus amigos e quando buscou também apoio especializado. Tive professora capaz de usar jaleco branco destacando sua presença para mim, capaz de ensinar local da fila do lanche, aonde receber o alimento e sentar. Os colegas me tratavam bem. Lógico que sofri brincadeiras sem graça de colegas ignorantes quando não havia adulto vigilante por perto. Não me adaptei bem à reglete (espécie de régua que usamos para escrever o Braille à mão). A lentidão do processo me exasperava. Aos dez anos ganhei máquina de Braille, aliviou muito. Com meus quatorze anos comecei a fazer locução e gravação para rádios. Tinha muitas dificuldades para me colocar e defender meu espaço e direitos, acabava chorando sozinho ou me refugiando no estúdio para poder gritar de forma que não me escutassem.Era alívio temporário. Meu pai foi embora de casa, incapaz de cuidar de sua família, quando eu tinha dez anos. Precisei construir dentro de mim um guerreiro. Entendi que um adulto tem que ser pai de si mesmo. E também mãe. Daí a gente enxerga que vai poder cuidar também um dia, de seus pais. Consegui terminar meu curso universitário de Publicidade em 2011.  Há seis anos conto com super-parceira, hoje noiva. Ela e sua família, com a maior naturalidade descrevem para mim as cenas de TV, ou dos filmes que assistimos juntos. Sou muito ágil para me locomover e buscar trabalho. Conserto tudo dentro de uma casa, computador inclusive. Quero construir estabilidade para chegar ao casamento. Mas é bastante complicado para um deficiente visual, mesmo com diploma universitário, boas notas no currículo, ótima capacidade de contato social e agências de emprego especializadas em pessoas com deficiência. “Não é preciso ter olhos abertos para ver o sol, nem é preciso ter ouvidos afiados para ouvir o trovão. Para ser vitorioso você precisa ver o que não está visível.” – Sun Tzu.

 

 

Abraços inclusivos,

Elizabeth Fritzsons da Silva

Psicóloga  e Diretora da Unidade de Atenção aos Direitos da Pessoa com Deficiência


Jaqueline ^.^

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Apr 26, 2012, 8:52:56 AM4/26/12
to Atenção aos Direitos da Pessoa com Deficiência - UADPD
MEU DEUS O.O... Que super mãe ele tem
Muito comovente a história dele ... sinceramente é de chorar. O final
me deixou muito feliz de saber que estava tudo bem com ele
agora,terminou seus estudos, que tem o apoio da família da sua noiva.
Muito linda... Gostei ^^

On 15 mar, 09:20, UADPD - Unidade de Atenção aos Direitos da Pessoa
> *Elizabeth Fritzsons da Silva*
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