Quer dizer que, a partir de agora,
quem quiser assistir à TV em Brasília ou em outros nove municípios do
entorno, só conseguirá usando um aparelho com sinal digital. Precisa
explicar logo porque, nesses nossos dias, falar em “apagão em Brasília”
pode virar uma grande confusão. O termo apagão foi quase um palavrão que
inventaram em 2001, quando o Governo Fernando Henrique anunciou que a
energia elétrica produzida no país não era suficiente para atender a
todos. Uma desmoralização que pode ter sido decisiva na eleição do ano
seguinte, vencida pela oposição, com Lula.
O apagão de agora, ao contrário da
concepção inicial do termo, é uma coisa boa. Significa que a população
daquela região do Brasil tem o melhor sistema de TV aberta do mundo. E
que, as frequências ocupadas por sinais analógicos de TV vão servir para
a expansão da telefonia móvel.
Fica a dica para os adeptos do
“turismo de protesto”. Quem for a Brasília, numa dessas excursões que
acaba em acampamento em frente a prédios públicos, nem adianta levar
aqueles televisores com tela 3 x 4, de 5 polegadas, porque não vai pegar
nada. Em alguns anos, corre o risco de entrar na frequência de alguma
operadora. Não vai decodificar nada. Mas já pensou se confundem com um
grampo?
O apagão em Brasília encerrou o
sinal analógico de TV que chegava a 1,26 milhão de domicílios naquela
região. O sinal das 13 geradoras locais, que é distribuído por 25
canais, agora só vai ao ar com a tecnologia digital.
UM SIGNIFICADO ESPECIAL
Essa mudança, ao acontecer em
Brasília, tem sim uma força simbólica. Principalmente nesse momento da
História nacional, em que a programação da TV inclui prisões de
ex-governadores. O sinal digital representa mais um passo em direção a
uma grande mudança que vai acontecer no país todo e que tem poucas
chances de um escândalo envolvendo dinheiro público. Porque, além da
nova tecnologia que vai para o ar, no Brasil a TV digital trouxe também
uma nova tecnologia de gestão.
A principal característica desse
novo modelo de gestão foi a posição de mobilizador que coube ao Governo
Federal. As ações ficaram por conta de agentes privados de toda a cadeia
de geração de valor, articulados entre si. Emissoras, fabricantes de
televisores, de equipamentos de transmissão, produtores de softwares e
o mundo acadêmico participaram ativamente de todo o processo. Hoje está
confirmado que a escolha do padrão japonês, otimizado com tecnologia
brasileira, foi um grande acerto. Aliás, foi o primeiro entre muitos
acertos. A criação do Fórum SBTVD, onde os agentes dos vários segmentos
se encaram para discutir todas as questões, deu transparência ao
processo. Cada representante sabe que vai ter que defender seus pontos
de vista diante de todos os outros interessados. E que vai ser difícil
ignorar os argumentos técnicos.
Tudo bem, houve vários atrasos nas
fases de implantação e vai haver outros. Tentou-se voltar atrás em
algumas decisões. Mas o principal é que as coisas acabam acontecendo do
jeito que tem que ser. A possibilidade de algum escândalo com dinheiro
público é pequena por falta de alguns requisitos chave. Afinal, as
decisões são transparentes e o dinheiro público quase não entrou nessa
transição. A liberação das antigas faixas de frequência para as
operadoras móveis é um caso emblemático. O modelo para antecipação,
então apresentado pelo Governo, fez com que as compensações para as
famílias de baixa renda acontecessem diretamente das empresas para os
beneficiários, sem interferência do Poder Público.
MAIS ACERTOS DO QUE ERROS
Dentre as falhas a serem citadas no
caso de Brasília, ainda não foram entregues 63 mil conversores digitais
para famílias de baixa renda. Mas a boa notícia é que mais de 310 mil já
chegaram aos inscritos em programas sociais. A promessa é atender os
quase 400 mil beneficiários até o final do ano.
Uma forma bem sucedida, para uma
finalidade muito vantajosa. Ao final desse processo de transição, a
tecnologia digital de TV vai disponibilizar som e imagem de alta
definição, sem interferências, para a grande maioria dos brasileiros.
Para aqueles que moram em regiões mais isoladas, o upgrade da TV vai depender de outras mudanças.
Enquanto isso, a maior parte do
Brasil vai contar ainda com uma plataforma de comunicação muito
eficiente, integrada ao mesmo sistema de transmissão do sinal de TV. É a
plataforma Ginga, capaz de distribuir serviços públicos e privados
gratuitamente, ou sob demanda, através de qualquer televisor comum. O
telespectador vai poder interagir, manifestar opiniões e tomar decisões,
tudo através do controle remoto do televisor. No Brasil, este será o
grande diferencial da TV digital, com potencial de exportação para
muitos outros países, que adotaram o sistema nipo-brasileiro.