Caros professores e alunos,
Segue, abaixo, o resumo da palestra que será proferida pela Professora Doutora Debora M. Befi-Lopes no dia 8 de maio, às 14h, na sala 261. Em anexo, vocês encontram o cartaz de divulgação, com uma versão adaptada do resumo.
Esperamos todos lá!
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DEL: caracterização, diagnóstico e pesquisas na perspectiva da
Fonoaudiologia
Profa. Dra. Debora M. Befi-Lopes
Curso de Fonoaudiologia – Faculdade de Medicina da USP
O termo Distúrbio Específico de Linguagem (DEL) designa quadros que compõem o espectro das Alterações do Desenvolvimento da Linguagem, que é um termo genérico.
Os primeiros estudos contemporâneos sobre os DEL datam da década de 60 e a identificação e diagnóstico vêm sendo feitos muito mais por critérios de exclusão, isto é, a criança deve apresentar a alteração de linguagem na ausência de: perda auditiva, alterações no desenvolvimento cognitivo, comprometimentos no desenvolvimento motor da fala, distúrbios abrangentes do desenvolvimento, síndromes e alterações neurosensoriais, lesões neurológicas adquiridas.
Os critérios de inclusão, a partir de desempenho em testes de QI e de linguagem são: QI mínimo de 85, além de linguagem receptiva abaixo, em pelo menos seis meses e linguagem expressiva abaixo, em pelo menos 12 meses, em relação à idade cronológica ou mental.
Essa população apresenta manifestações de linguagem heterogêneas, que ocorrem num continuum, podendo variar, inclusive, na mesma criança, isto é, o mesmo sujeito pode apresentar ausência de oralidade aos dois anos, atraso significativo no desenvolvimento lexical aos quatro, distúrbio fonológico muito grave aos cinco anos, importante alteração na aquisição da morfossintaxe entre seis e oito anos, que levarão a inabilidade discursiva e grande dificuldade na aprendizagem escolar. Novos contextos lingüísticos serão difíceis para esta população mesmo na idade adulta, após processo de reabilitação.
Em relação aos componentes lingüísticos, as crianças com este tipo de alteração, poderiam ser caracterizadas como apresentando alterações fonológicas, tornando seu discurso ininteligível. A partir dos três anos, demonstram alterações relacionadas aos aspectos morfológicos e sintáticos, como menor complexidade das sentenças e uso limitado de subordinação, omissão ou uso inadequado de elementos gramaticais obrigatórios como artigos, pronomes e plural dos morfemas. Os casos de DEL envolvem ainda déficits relacionados ao significado das palavras, das regras e estruturas gramaticais e/ou uso sócio-funcional inadequado da linguagem.
Estudos mostrando pequenas variações estruturais associadas com DEL, geneticamente determinadas, levantam questões a respeito de quais mecanismos levariam a um desenvolvimento cerebral atípico, retomando então os achados de Galaburda, sobre anormalidades pré natais no processo de migração neuronal, causando distorções na organização da estrutura cortical, de forma que tais crianças nasceriam com cérebros não preparados para adquirir linguagem.
Existem também estudos que propõem o inverso, isto é, os cérebros atípicos dos DEL desenvolvem-se de forma inadequada em decorrência de dificuldades cognitivas geneticamente determinadas. De toda forma, a questão da atipicidade cerebral dos DEL é o primeiro marcador biológico encontrado e, que de alguma forma justifica a não superação do quadro de linguagem ao longo da vida, mesmo após intervenção por longos períodos.
Entretanto, mesmo esses achados, com significância estatística, estão distantes da perfeição, uma vez que muitas crianças com DEL não apresentam atipicidades cerebrais e muitas crianças normais sim. Parece então, que tais atipicidades cerebrais devem ser consideradas como fatores de risco para o desenvolvimento do distúrbio, mas sua natureza, severidade e persistência dependem, provavelmente, de fatores não biológicos, o que reforça a importância da descrição fenotípica como fator fundamental para a tentativa de se procurar o genótipo de tais quadros, nesse sentido, a memória operacional fonológica, tem sido sugerida por alguns autores como um dos melhores marcadores, uma vez que a competência nesse aspecto não deriva de fatores ambientais que interferem diretamente no desenvolvimento da linguagem.