To: "graduacao-l @ lcc. ufcg. edu. br" <
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From:
Marcus Sampaio <
sampaio...@gmail.com>
Date: 2008/6/15
Subject: Internet emburrece
To: "Jacques P. Sauvé" <
jac...@dsc.ufcg.edu.br>, "Pedro S. Nicolletti" <
pe...@pop-pb.rnp.br>
GILBERTO DIMENSTEIN
Internet emburrece?
As redes facilitaram o acesso à informação, mas também facilitaram a apropriação de reflexões dos outros
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IMAGINE 687 MIL UNIVERSITÁRIOS
ou recém-formados disputando
2.500 vagas de estágio e de programas de trainee. Isso equivale a
aproximadamente 2.800 candidatos por vaga. Só para dar uma medida de comparação: é uma proporção
25 vezes maior do que a dos vestibulares das mais disputadas faculdades brasileiras.
O que você acha que ocorreu com
tanta gente disputando tão poucos
empregos? Pergunte a algumas das
57 empresas, entre as quais a Microsoft, a Natura, a Unilever, a Braskem
e o ABN-Amro, que participaram da
seleção. Não ocorreu o óbvio.
Responsável pela aplicação dos
testes em 2007, a psicóloga Sofia Esteves constatou que algumas das
empresas não preencheram vagas
ou tiveram de se contentar com a repescagem, obrigadas a diminuir o
nível de exigência. "Há uma distância crescente entre o perfil desejado
pelas empresas e a qualidade dos
universitários", afirma.
Além das óbvias questões educacionais, relembradas na semana
passada, com a divulgação de um índice de qualidade do ensino (Ideb), a
psicóloga levanta mais uma hipótese: excesso de internet.
Seria essa mais uma das retrógradas reações típicas de quem tem fobia tecnológica?
Sofia conta que alguns exames foram abrandados ou até eliminados.
Numa prova de língua portuguesa,
apenas um entre 1.800 candidatos
foi aprovado. Decidiu-se então abolir esse requisito -o candidato passou a ser eliminado apenas quando
comete, na redação, um erro do tipo
escrever experiência com "ç".
Na seleção, porém, a dificuldade
tem sido menos a de escrever segundo as normas gramaticais (o que já é
grave) do que a de expor criativamente uma idéia -um critério relevante porque as empresas querem
funcionários capazes de enfrentar
desafios com autonomia.
E aí, na visão da psicóloga, entraria
a ação nociva da internet.
É verdade que as redes digitais facilitaram, como nunca, o acesso a
qualquer tipo de informação, mas também é fato que facilitaram a
apropriação de reflexões dos outros. É sabido que muitos alunos, na
hora de fazer as lições, montam uma colagem de textos encontrados na
internet. "Estão perdendo o hábito de ler um livro inteiro e fazer um
resumo."
Pula-se velozmente de galho em
galho digital, numa interatividade
hiperativa. A hipótese é que, por
isso, sairia prejudicada a busca de
profundidade.
A combinação de excesso de informação com hiperatividade foi um
dos fatores que motivaram Mark
Bauerlein, professor da Universidade Emory, em Atlanta (EUA), a escrever um livro intitulado "A Mais
Burra das Gerações: Como a Era Digital Está Emburrecendo os Jovens
Americanos e Ameaçando Nosso
Futuro". Burrice seria, na sua visão,
52% dos adolescentes americanos
terem respondido em uma prova
que a Alemanha foi aliada dos
Estados Unidos na Segunda
Guerra Mundial.
Sua tese central é a de que as
tecnologias digitais permitiram que
os jovens passassem ainda mais
horas do dia trocando informações
com seus pares, mas, ao mesmo
tempo, diminuiu o tempo de intermediação dos adultos nos processos
de aprendizado.
Diante daquela avalanche de dados em tempo real, ficaria então
mais difícil para os jovens aprender
a selecionar e expor o que é relevante no conhecimento tudo isso acaba
prejudicando a liderança e a capacidade de trabalhar em grupo.
A avalanche digital não teria maiores problemas se o jovem não fosse
obrigado a buscar um emprego que
exigisse criatividade e autonomia
para solucionar desafios o que requer necessariamente a capacidade
de síntese e a habilidade de selecionar uma informação relevante.
Justamente uma das razões, entre
várias, para que aqueles 687 mil universitários brasileiros não conseguissem preencher 2.500 vagas.
PS- Como trabalho simultaneamente com comunicação e educação, tenho observado que, embora adore a
abundância de informação, reverencie a possibilidade de escolhas e
aprecie ainda mais a possibilidade
de interagir, coisas que vieram mesmo para ficar (e é bom que fiquem),
o jovem se sente confuso e demanda
cada vez mais a intermediação de
gente em quem possa confiar para
ajudar na seleção das informações.
Ele vê com desconfiança os meios de
comunicação tradicionais como a
escola, por suspeitar que eles não
conseguem traduzir o que é relevante para sua vida. Por esse ângulo, nós
é que somos emburrecidos. Tanto a
escola como o jornal do futuro
vão estar assentados na solução
desse desafio ou vão ficar estacionados no passado.
gdi...@uol.com.br
--
Marcus Costa Sampaio
Universidade Federal de Campina Grande
Departamento de Sistemas e Computação
Tels: 83 8811 2139
83 3310 1122 / 2216