Oi David,
Obrigado pelos seus comentários.
Encontrei uma palestra do Jared Diamond no TED:
https://www.ted.com/talks/jared_diamond_why_do_societies_collapse/transcript
Palestra muito didática.
E o livro COLAPSO - COMO AS SOCIEDADES ESCOLHEM O FRACASSO,OU O SUCESSO
Está disponível para download no link:
Acredito que existem várias frentes de atuação.Gostei, Markos. Já li partes de Collapse, não posso dizer que gostei dos argumentos do caro mas concordo com algumas das suas ideias. Para ter uma transformação das cidades em vez de uma reversão total de volta para o campo ou nomadismo, no cenário de hoje, acho que ia precisar convencer uma "massa crítica" moradores a querer isto, assim tendo bastante influência para contornar o status quo das empresas construtores e outras instituições que não querem mudanças. Não sei como interessar tanta gente em algo mais saudável, como é o caso com tantos outros segmentos da vida. Mas pode ter ideias nestes livros. Vou ter que esperar até sejam mais acessíveis, daqui a 30 anos... Abraços, David
Em sábado, 29 de janeiro de 2022 17:18:00 BRT, Markos <mar...@c2o.pro.br> escreveu:
Dois novos livros oferecem perspectivas urbanas para além das grandes
cidades
Modelos alternativos de urbanização discutem mobilidade,
sustentabilidade e saúde
André Caramuru Aubert, Especial para o Estadão
29 de janeiro de 2022 | 16h00
Tem sido frequente, nos últimos meses, ouvir falar de conhecidos que
estão indo morar no campo, enquanto muita gente (como eu), tem vivido e
trabalhado quase sem sair de casa. Repensar a vida nas grandes cidades e
as questões de mobilidade, sustentabilidade e saúde é algo que já vinha
ocorrendo, mas que a Covid-19 acelerou. Embora possa ser difícil de
acreditar, não é a primeira vez que a vida urbana é colocada em xeque. E
não estou falando dos poetas românticos do século 19. Na realidade,
viver em grandes cidades jamais foi um destino inevitável para a
humanidade, e nem mesmo há qualquer garantia de que, uma vez que elas
existam, existirão “para sempre.” Dois livros, Four Lost Cities – a
Secret History of Urban Life (Quatro Cidades Desaparecidas – uma
História Secreta da Vida Urbana, em tradução livre), de Annalee Newitz,
e The Life and Death of Ancient Cities – a Natural History (A Vida e a
Morte de Cidades Antigas – uma História Natural, em tradução livre), de
Greg Woolf, ajudam a iluminar a questão.
Cidades têm vantagens inegáveis. Ao concentrar pessoas, permitem a
especialização do trabalho, fazendo com que um dentista possa ser apenas
dentista, sem se preocupar em caçar seu almoço, plantar seu jantar ou
ficar de guarda contra predadores, à noite, na porta de sua casa. Há
tempo para a arte, espaços para escolas e museus... Por outro lado, as
grandes cidades não são, por definição, autossuficientes. Para
caçadores-coletores, se as coisas ficam ruins, basta fazer as malas e
migrar para algum lugar mais promissor. Mas as metrópoles são fixas e
incapazes de produzir em regime de subsistência. Se as condições se
degradam, poderão vir fome, sede, conflitos e revoluções. As grandes
cidades, não obstante todas as suas vantagens, são ecossistemas frágeis,
pesadamente dependentes de recursos externos. No best-seller Colapso, de
2005, Jared Diamond usou exemplos de extinções catastróficas de antigas
civilizações para nos alertar sobre os riscos que corremos, hoje, quando
adotamos políticas ambientais não-sustentáveis. E agora, longe de
minimizar as consequências de decisões humanas ecologicamente
equivocadas, Newitz e Woolf abordam o tema sob uma outra perspectiva, na
qual mudança não significa, necessariamente, colapso.
Dos dois autores, Annalee Newitz, jornalista de ciência com PhD em
Berkeley que escreve para algumas das principais publicações
norte-americanas, como a Nature e a The New Yorker, é a mais
explicitamente anti-Diamond. Neste livro ela se debruça sobre quatro
cidades desaparecidas: Çatalhoiük, Pompeia, Angkor Wat e Cahokia. A
primeira, que existiu entre 7.100 e 5.700 a.C, na atual Turquia, é uma
das mais antigas experiências urbanas conhecidas. A segunda, joia do
Império Romano, teve o fim decretado por uma violenta erupção do vulcão
Vesúvio no ano 79 d.C. A terceira, mítica cidade de pedra no meio da
selva cambojana, surgiu no século 12 e floresceu por mais de trezentos
anos antes de ser abandonada. Na última, finalmente, uma metrópole em
pleno vale do Mississippi que começou a ser erguida antes do ano 1.000,
já não havia ninguém há mais de dois séculos quando os primeiros
europeus chegaram.
Ou seja, Newitz aborda quatro cidades muito diferentes entre si, tanto
culturalmente quanto no tempo e no espaço. As semelhanças são, em
primeiro lugar, que todas tiveram longas trajetórias de crescimento e
sucesso, e todas, em algum momento, desapareceram. Mas, em vez de
alardear os colapsos, a autora prefere valorizar os sucessos e,
particularizando cada uma, mostrar que, mais do que extinções, o que
houve foram transformações: por uma série de motivos diferentes, chegou
um dia em que as pessoas se foram. Só que, na visão de Newitz, isso não
teria representado o fim daquelas civilizações, que se reinventaram de
outras maneiras. Cahokia, por exemplo, não foi vítima de qualquer
desastre natural, guerra ou comoção interna. As pessoas, a partir de um
certo ponto, simplesmente começaram a abandonar a vida na cidade e
regressaram ao nomadismo. Algumas das nações indígenas que habitavam as
pradarias quando os europeus chegaram, como os Sioux, eram (e são)
prováveis descendentes dos cahokianos.
Greg Woolf, em The Life and Death of Ancient Cities – a Natural History
(A vida e a morte de Cidades Antigas – uma História Natural, em tradução
livre), professor e diretor de Estudos Clássicos da Universidade de
Londres, se concentra em um universo mais restrito, o universo
greco-romano do Mediterrâneo, ainda que “passeie” também por
Mesopotâmia, Egito e alguns outros destinos. Menos ambicioso no tempo e
no espaço que Newitz, Woolf se aprofunda mais no universo que analisa.
Para ele, cidades foram experimentos sociais desenvolvidos por
diferentes povos em diferentes contextos, nos quais houve muito mais
fracassos do que os sucessos. Mas, de um jeito ou de outro, elas
sobreviveram.
Por volta do ano 400 a.C., quando eram os gregos que davam as cartas,
estima-se ter havido cerca de 850 cidades no Mediterrâneo, das quais
apenas pouco mais de vinte teriam populações de mais de dez mil
habitantes. Cerca de meio milênio depois, durante o apogeu do Império
Romano, o número de cidades teria chegado talvez a duas mil, mas as
populações da quase todas continuavam pequenas. As exceções continuavam
a ser quase as mesmas: Atenas, Siracusa, Alexandria, Cartago, uma ou
outra mais, além da nova e cintilante metrópole, Roma, a maior de todas.
E, se sustentabilidade pode ser um problema para qualquer cidade, para
as metrópoles isso é crítico. A cada dia, é gigantesco o volume de água
e de alimentos que precisa chegar, e do lixo e do esgoto que precisa
sair. Se hoje isso é complicado, imagine-se os tempos em que não havia
geladeiras e em que o transporte era puxado por animais...
No auge do império, no século 2 d.C., a cidade de Roma chegou a ter
talvez um milhão de habitantes (as estimativas variam enormemente). Mas
pouco depois a população começou a declinar e, no começo do século VI,
entrando na Idade Média, estaria na casa dos 60 mil, só voltando aos
números antigos na segunda metade do século XX. Isso, já se sabia. O que
Woolf traz de novo é a explicação: o problema não teria sido a
decadência do império em si (com as famosas invasões bárbaras), mas,
antes, a perda de territórios norte-africanos: como Roma dependia do
trigo importado de lá, quando este parou de chegar, a população urbana
simplesmente não tinha como ser alimentada. O caminho natural para muita
gente, então, seria migrar para as cidades do interior, nas quais seria
possível plantar, criar animais, produzindo-se o próprio alimento ou,
pelo menos, ficando mais perto de quem o produzia. O mesmo aconteceria,
depois, com Constantinopla, a sucessora de Roma como capital do Império
(que chegou a contar com estimados 500 mil habitantes): dependente do
trigo do Nilo, suas famosas muralhas pouco puderam fazer diante dos
invasores árabes depois que estes lhes tomaram o “celeiro” egípcio. Uma
pálida ideia do problema pôde ser sentida pelos brasileiros em 2018,
quando uma greve de caminhoneiros ameaçou interromper o abastecimento
urbano. Há mil anos ou hoje, as grandes cidades não sobrevivem a mais do
que alguns dias sem abastecimento de fora.
Angkor Wrat, Çatalhoyük e Cahokia cresceram, encolheram e desapareceram.
Roma, Atenas e Constantinopla (depois Bizâncio, hoje Istambul)
cresceram, encolheram e voltaram a crescer. O que estes dois livros
mostram é que não existem fórmulas, garantias ou destinos pré-concebidos
para o futuro das cidades. São Paulo cresce ininterruptamente desde que
foi fundada, há 467 anos, em explosão demográfica após o fim do século
XIX. Mas precisará ser sempre assim? O número cada vez maior de pessoas
que desiste de viver aqui não representará, talvez, uma mudança no
horizonte? Não sabemos. Só o que podemos dizer quanto ao destino das
grandes cidades é que, se elas encolherem, ou mesmo desaparecerem, isso
não será necessariamente ruim.
***
The Life and Death of Ancient Cities – A Natural History
Autor: Greg Woolf.
Oxford University Press,
499 páginas
Ano da edição: 2020.
$ 26,95 (capa dura) $ 17,95 (capa comum) $ 17,93 (Kindle)
*
Four Lost Cities: A Secret History of the Urban Age
Annalee Newitz
W.W. Norton
309 páginas
Ano da edição: 2021
$ 32, 95 (capa dura) $ 24,95 (capa comum) $ 14,75 (Kindle)