Como sobreviver às mudanças globais?

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Jan 3, 2022, 1:04:41 PM1/3/22
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Há pontos complexos, como desacelerar investimentos em inteligência
artificial

2.jan.2022 às 20h00
Edição Impressa

Ernesto Lavina
Professor do Programa de Pós-Graduação em Geologia da Unisinos (RS)

Duas crises direcionarão a evolução da ecologia humana, ambas oriundas
de diferentes dimensões da revolução tecnológica. Uma interna, social,
decorrente da evolução exponencial dos algoritmos e da inteligência
artificial, levando bilhões de pessoas a perderem sua utilidade para o
sistema produtivo. Outra externa, planetária, causada pela imensa
alteração climática em função do aumento dos gases de efeito estufa. As
duas crises vão coincidir, atingirão seu máximo mais ou menos ao mesmo
tempo, em meados do século 21.

"Mudanças globais" vão muito além da ciência, entram em questões éticas
e morais. Segundo o historiador israelense Yuval Harari, temos de pensar
desde agora no que fazer com os bilhões de pessoas que ficarão sem
importância econômica quando máquinas passarem a projetar as máquinas do
futuro, incluindo avanços tecnológicos desenvolvidos por máquinas.
Humanos perderão relevância, a inteligência artificial trabalhará melhor
e mais rápido. E este momento coincidirá com os imensos custos sociais
do aumento da temperatura média global.

A temperatura média da Terra, de 12ºC no início da Revolução Industrial,
hoje está próxima dos 14ºC. São jogados na atmosfera, a cada ano, mais
de 40 bilhões de toneladas de CO2. Nos últimos 400 mil anos, o teor de
CO2 na atmosfera esteve sempre abaixo de 300 ppm (partes por milhão);
hoje se encontra em 417 ppm e segue avançando. As geleiras desaparecem
em todo o mundo. Recuaram entre 1 km e 1,5 km no século 20. O nível do
mar está aumentando: estudos sugerem elevação de 20 cm a 40 cm nas
próximas décadas, podendo ultrapassar o 1,1 m projetado pelo IPCC
(Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) para 2100.

O desenvolvimento tecnológico sem controle social eficiente poluiu e
destruiu ecossistemas. Humanos derrubaram florestas e ocuparam imensas
áreas com concreto e plástico. Sua população continua crescendo,
enquanto a dos animais selvagens diminui. Nos dois últimos séculos
houve, por certo, conquistas sociais imensas, como controle da fome,
antibióticos e prolongamento do tempo de vida.
Pontos marcantes na história da inteligência artificial

Nosso modelo social faz a riqueza ser gerada e disseminada pela
sociedade em escala global. Mas o modelo é muito deficiente. Produzimos
alimentos para sustentar todas as pessoas, mas não vencemos a fome. E
degradamos o ambiente em escala global. A conta está chegando, e terá
que ser paga. O planeta vai se ajustar em outro equilíbrio: mais quente,
mais árido, e com distúrbios atmosféricos intensos e frequentes.
O modelo macroeconômico privilegia ganhos cada vez maiores com cada vez
menos custos. Como consequência natural, algoritmos e inteligência
artificial evoluem de modo exponencial. Afinal, são mais eficientes na
produção de riqueza.
Alguns pontos das orientações para inteligência artificial responsável

No dia a dia, não queremos saber dessas questões, pois já temos
problemas demais. Infelizmente, como diz Harari, nesta lacuna o sistema
pensa por nós, decide o nosso futuro. E, no futuro pensado pelo sistema,
algoritmos e big data estarão mais aptos a produzir riqueza a baixo
custo. Vamos ser atropelados pelas mudanças climáticas, mas teremos
dificuldades em compreender o que está acontecendo com o planeta, pois
nossa atenção estará focada em estratégias de sobrevivência.

Seremos 10 bilhões de pessoas em 2050. Conseguiremos criar relevância
social para tantos seres?

Ações imediatas teriam de contemplar a captura de CO2 da atmosfera
(apenas reduzir as emissões não vai mais resolver), reformulação total
nos padrões de exploração dos recursos naturais e drástica redução na
emissão de poluentes industriais, pesticidas, fármacos, hormônios e
microplástico. Ao mesmo tempo, discutir questões tão complexas quanto
desaceleração nos investimentos em inteligência artificial e redução da
taxa de natalidade onde isto ainda não ocorre. Ações com tal amplitude,
envolvendo por vezes crenças e valores não negociáveis em determinados
contextos culturais, podem ser implementadas em curto prazo? Talvez já
seja tarde.

Fonte:

https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2022/01/como-sobreviver-as-mudancas-globais.shtml

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