Famílias mudam hábitos e vão até a Justiça para salvar filhos da crise do clima

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Jan 1, 2022, 1:21:55 PM1/1/22
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Crianças dão novo senso de urgência à situação; é preciso acolher seus
medos

1º.jan.2022 às 10h00
Angela Pinho
São Paulo

Pensar em inundações, temperaturas extremas e aumento de doenças
respiratórias, entre outros cenários alarmantes da atual crise
climática, não traz tranquilidade a ninguém. Muito menos a quem acabou
de dar à luz um filho e precisa garantir que o mundo continue a ser um
lugar minimamente habitável.

Diante das evidências cada vez mais contundentes da emergência dos
problemas ambientais, famílias com crianças e adolescentes têm tomado
medidas diversas para reagir à situação. Elas vão de ações individuais a
coletivas.

Durante a COP26, a Conferência da ONU sobre mudanças climáticas
realizada em novembro, pais e mães de 44 países, incluindo o Brasil,
assinaram uma carta pedindo urgência ao fim do financiamento de todas as
novas explorações de combustíveis fósseis.

 A arquiteta Débora Diniz, de Niterói, trocou as fraldas descartáveis
pelas de pano, fez móbile de cipó, reutilizou água do banho, coloca uma
garrafa cheia na caixa da privada pra usar menos água na descarga e
ainda tem uma composteira, tudo pensando no futuro da filha de um ano -
Zo Guimaraes/Folhapress

"Ao abraçarmos nossos filhos com força, tememos por sua saúde e
bem-estar e, agora também pelo futuro que enfrentarão", diz trecho do
documento. "As crianças são o futuro, e elas merecem ter um."

Quem representou o Brasil na iniciativa foi o grupo Famílias pelo Clima,
que surgiu em 2019 e hoje reúne cerca de 40 pais e mães.

Também na semana passada eles entraram com ação contra o Governo de São
Paulo para barrar medida do Programa IncentivAuto, que oferece subsídios
ao setor automotivo.

Ações como essas são importantes para os pais mostrarem aos filhos que,
embora a crise climática seja grave, há o que fazer para enfrentá-la,
diz JP Amaral, coordenador do programa Criança e Natureza, do Instituto
Alana.

Ele ressalta que muitas crianças têm demonstrado muita apreensão e
ansiedade diante das informações sobre a situação e que é preciso
acolhê-las com conversas e ações.

"Pais são eleitores e tomam diariamente decisões sobre consumo, e ao
fazerem isso de forma consciente, eles mostram que há uma saída", afirma.

É o que pensa a produtora Clara Ramos, 42, integrante e uma das
fundadoras do Famílias pelo Clima.

"A crise traz uma angústia muito grande. Colocar-se de forma ativa te
tira de um lugar paralisante", diz.

A postura ativa pode se dar tanto com a militância ambiental quanto com
ações cotidianas.

Elas estão presentes em cada cômodo da casa da arquiteta Débora Diniz,
36, em Niterói (RJ).

Ela sempre foi atenta ao tema, por inspiração da mãe, mas a preocupação
aumentou depois de ter uma bebê, hoje com um ano e sete meses.

A lembrancinha que Débora elaborou para o chá de fralda, uma sacola
reutilizável, já trazia a mensagem de incentivo para que os adultos
pudessem entregar um mundo melhor às crianças.

O móbile foi feito com cipó, e a primeira água dos banhos da
recém-nascida era sempre reutilizada na máquina de lavar.

Quando a menina fez um ano, ganhou corpo um incômodo que Débora sentia
com todas aquelas fraldas descartáveis. Trocou por reutilizáveis.

A medida se junta a uma série de adaptações que a arquiteta fez na casa
para reduzir o desperdício: composteira, garrafa na caixa da descarga
para reduzir o uso de água, balde no chuveiro para coletar a água do banho.
"Quando a gente tem filho, aumenta a preocupação [com o meio ambiente]
porque a gente quer ser sempre um exemplo do melhor", diz. "Poder
melhorar todo dia em razão de alguém que chegou é uma baita oportunidade."

Há quem veja de outra forma, é claro. Em todo o mundo, a crise do clima
tem levado pessoas a desistir de ter filhos.
 A COP26 concluiu em Glasgow (Escócia) o livro de regras do Acordo de
Paris, após cinco edições da conferência do clima da ONU com negociações
para regulamentar o acordo climático - Julien Warnand - 24.nov.21/Pool/AFP

Pesquisa feita com jovens de dez países mostrou que os brasileiros entre
16 e 25 anos são os que mais hesitam em ter filhos por causa das
mudanças climáticas —a proporção corresponde a 48% dos entrevistados.

Para Amaral, do Instituto Alana, é uma decisão individual que deve ser
respeitada, mas ele avalia que seria uma pena um mundo sem crianças,
muitas delas hoje protagonistas da luta pelo combate às mudanças
climáticas —basta lembrar da sueca Greta Thumberg, símbolo do ativismo
ambiental.

E se ter filhos aumenta a apreensão de muitos pais em relação ao futuro
do planeta, foi o que trouxe maior tranquilidade à empresária Alice
Satin, 39.

Ela era advogada e morava na capital paulista quando engravidou do
primeiro filho, em 2014, e começou a se preparar para o parto.

Alice conta que foi uma certa surpresa para ela, que trabalhava rodeada
de planilhas, entender que seu corpo já sabia parir e, depois, nutrir o
filho com a amamentação. Era mais simples do que a vida que levava até
então fazia parecer.

"Lembro de pensar: sei elaborar todo tipo de contrato, mas se precisar
fazer minha roupa ou minha comida eu não vou conseguir."

Uma semana depois de Francisco nascer, ela e o marido se mudaram para o
interior, onde começaram a cultivar plantas medicinais em uma
propriedade rural da família.

Em sociedade com outra mãe, ela abriu a empresa Soovack, que faz
cosméticos naturais.

Ela diz que sua maior proximidade da natureza lhe deu mais tranquilidade
para enfrentar a situação.
"É possível que meus filhos não possam viajar para a Europa porque o
combustível não vai ser tão acessível, é possível que tenham acesso a
menos bens de consumo e que passem por uma crise hídrica", reconhece.

"Mas hoje tenho menos medo porque sei limpar um rio, sei fazer um
ecossistema mínimo para ter uma cultura de subsistência. A maternidade
te abre um processo de autoconhecimento enorme. Se você estiver
disponível, é potencializador."

Fonte:

https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2022/01/familias-mudam-habitos-e-vao-ate-a-justica-para-salvar-filhos-da-crise-do-clima.shtml

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