Recentemente,
defendi minha dissertação de mestrado em Economia na UFPR. Desde que decidi que
seria um economista, propus-me que tentaria, da melhor maneira possível,
construir uma carreira na academia que realmente fizesse alguma diferença, ou
contribuísse de alguma forma com a melhora na vida das pessoas. Assim, durante
o período de meu mestrado, decidi ser bolsista de pesquisa, e entrar para os
estudos da área da Educação. Nesses dois anos pesquisando a fundo a literatura
sobre essa área do conhecimento, percebi que a Educação Infantil tem sido um
dos principais focos de estudo na fronteira de pesquisa sobre Economia
da Educação. No entanto, faltam estudos nessa área para o Brasil, o que
já se sabe é que além de influenciar nas políticas públicas, os resultados
positivos na Educação Infantil podem ajudar a mudar a consciência da sociedade,
como a de que colocar a criança desde cedo na escola é algo ruim. Pelo contrário,
a Educação Infantil se mostra um dos principais determinantes no desempenho dos
alunos mais tarde, no Ensino Fundamental, e também na escolha em continuar os
estudos, tanto no Ensino Médio, quanto no Superior.
O ensino na primeira
infância no Brasil, compreendido em duas fases, a creche (de 0 a 3 anos), e a
pré-escola (de 4 a 5 anos), tem recebido investimentos muito aquém do que seria
esperado, dada a proporção de evidências nesse campo, que mostram os altos
retornos intelectuais que essa fase produz.
Dados do IBGE mostram que pouco mais de 23% das crianças de 0 a 3 anos
frequentavam a creche em 2010, e 80% das crianças de 4 e 5 anos frequentavam a
pré-escola. Já a cobertura para o ensino básico no Brasil era de 97% das
crianças, entre 6 e 14 anos, em 2010. Mesmo que crescentes, os investimentos em
Educação Infantil ainda são muito baixos. Investimentos na primeira infância podem ser o canal
pelo qual a qualidade da educação, medida, tradicionalmente, pelo desempenho em
testes padronizados, aumentaria.
Em todos os
ciclos do ensino, habilidades geram mais habilidades. No entanto, determinadas
habilidades possuem um período sensível, em que seu desenvolvimento é muito
mais eficiente. Se a duração desse período é limitada, passa a ser chamado de
período crítico, a partir do qual a maleabilidade de aprendizado é muito
pequena. Assim, evidências mostram que a primeira infância é um período crítico
para várias habilidades importantes, como por exemplo, o desenvolvimento do
Q.I. (Cunha et. al., 2006)
Assim, na dissertação, utilizei um estimador chamado Propensity Score Matching (PSM), que tem
por objetivo, utilizando os dados da base do Prova Brasil 2011, com mais de 2
milhões de alunos, criar grupos comparáveis, ou seja, grupos com
características de renda, escolaridade dos pais, e condição socioeconômica
iguais. Porém, houve a divisão em grupos de alunos que fizeram o ensino
infantil, e outro que não teve acesso a essa forma de educação. Dessa forma,
calculando a média do desempenho de cada grupo no quinto e no nono anos,
pode-se perceber se há ou não um aumento na nota de Língua Portuguesa e
Matemática para aqueles alunos que frequentaram o ensino infantil.
Os resultados estimados mostram que o impacto de ter
frequentado o ensino infantil, na nota do aluno do 5º ano, encontrou um efeito
de 8,2 pontos na nota de Língua Portuguesa, e um efeito de 8,6 na nota de
Matemática. Para a Pré-escola os efeitos são ainda maiores, 15,4 e 16,5 pontos
para a estimativa, respectivamente, para Língua Portuguesa e Matemática. O
impacto para dados do 9º ano também resultaram positivos e altamente
significativos para a Pré-escola: 14,4 e 13,4 pontos para a Língua Portuguesa e
Matemática, respectivamente, e para o ensino infantil como um todo, o impacto
foi de 9 e 8,2 pontos, respectivamente, para as mesmas disciplinas. Um efeito
médio de 10,4 pontos na nota na escala do SAEB, significa que um indivíduo na
mediana, ultrapassaria 9% dos alunos na distribuição das notas apenas por ter
frequentado o ensino infantil.
Por último, uma análise de rendimento
econômico mostrou que, mesmo sendo uma projeção subestimada, já que os benefícios sociais da educação são muito altos, cada
real investido em Educação resulta em R$1,32 (preços referentes ao ano de
2010). Em se tratando de investimentos em Educação, medir o seu retorno pode
ser problemático, já que além dos retornos privados e econômicos, inúmeras
externalidades compensadoras podem ser geradas
em investimentos em Educação. No entanto, existem diversas evidências das altas vantagens que a Educação Infantil pode proporcionar à
sociedade, e as políticas públicas necessitam de uma reorientação em direção à
maior eficiência de seus investimentos em educação.