Janela Econômica - Em Defesa da Wikipedia.com

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Prof. Hugo E. Meza Pinto

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Aug 19, 2013, 12:43:15 PM8/19/13
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CHAPANSKI, G.; PINTO, H. E. M. Em defesa da wikipedia.com. Janela Econômica, Curitiba: ano 8, nº 9, ago. 2013.


Em Defesa da Wikipedia.com



Gissele Chapanski e Hugo Eduardo Meza Pinto



Há um ranço acadêmico que paira no ar quando se fala da Wikipedia. A desqualificação mais comum é que essa enciclopédia virtual não reúne esforços meritórios de pesquisa, nem de apuração científica dos conceitos que se propõe a descrever. Esse pensamento é limitado.

A Wikipedia tem mais de um milhão de verbetes. Eles estão disponíveis em quase três centenas de línguas, são acessados mundialmente todos os dias - e de graça.  Doze anos depois de sua fundação, a Wikipedia, maior enciclopédia livre da internet, talvez represente a materialização do sonho iluminista da universalização do conhecimento - ou o mais próximo que, historicamente, chegamos dele.

Ao prepararem a Encyclopédie de 1772, os iluministas Diderot e D´Alembert estabeleceram o formato da compilação de conhecimentos diversos que a história posterior conheceria como enciclopédia. Esse grande dicionário, com verbetes destinados a elucidar o atual estado do conhecimento humano em múltiplas áreas nasce sob um ideal universalizante: era preciso levar os ventos da razão, do saber elaborado, ilustrado, filosófico a todos os homens. E nada melhor do que uma magna edição, congregadora de saberes diversos, para fazê-lo.

Em termos estritamente práticos, pode-se dizer que o ideal dos pais da enciclopédia se viu, à época, abalado por polêmicas intelectuais, barreiras linguísticas, dificuldades logísticas de toda ordem, inclusive de impressão.  Como projeto editorial em si, a Encyclopédie pode não ter alcançado um número impressionante de leitores, mas, sem dúvida, lançou para a história a ideia da prática enciclopedista como a conhecemos hoje.

Incontáveis são as iniciativas posteriores que se propuseram a organizar dados e conceitos enciclopedicamente. Esses “dicionários de todas as coisas” atravessaram o século XIX como referência intelectual e ingressaram no XX como parte da vida escolar dos indivíduos. Bem o sabem aqueles que já contam os quarenta anos, ou até um pouco menos. Barsa, Delta Larrouse, Einaudi, dentre outras, na tradição brasileira foram bases de bibliotecas institucionais, e mesmo domésticas, não faz muito tempo.

Hoje, contudo, as rotinas escolares não reconhecem, nessas enciclopédias, material cotidiano. Para multidões de jovens alunos, a internet é a primeira fonte e o maior recurso. Embora muitas das enciclopédias tradicionais continuem existindo – em versões digitais, ao menos, - custam caro. Seus artigos são elaborados por notórios acadêmicos, passados de uma língua à outra por tradutores experientes. Grandes nomes que demandam remunerações proporcionalmente grandes.

A WikiIpedia, ao contrário, é gratuita.  Pudera. Não são grandes scholars que pautam a escolha dos conceitos transformados em verbetes, ou ditam como esses serão desenvolvidos. São usuários.  Interessados, a um só tempo, em difundir e angariar informações por meio dessa enciclopédia virtual, eles gerenciam o conhecimento de maneira aberta, constante, online. Assim, a gratuidade, uma das razões primeiras do número de acessos diários é também fruto do modelo de acesso que o usuário tem a essa enciclopédia. Um modelo retroalimentado.

Na Wikipedia, os verbetes podem ser indefinidamente editados, controlados, remodelados. Advertências sobre incompletudes, imprecisões, mal uso de direitos autorais são alocáveis aos artigos. E o são, com frequência. Apesar de democrática, a elaboração de artigos nessa enciclopédia online conta com alguma hierarquia. Temas polêmicos, por exemplo, são reservados a colaboradores fieis. Ainda assim, a confiança advinda da prática se sobressai sobre qualquer tipo de reconhecimento meramente acadêmico.

Um dos mais significativos produtos disso é a liberdade ideológica na formação do corpus de artigos. Os iluministas, ao compor a obra que seria a mãe intelectual da enciclopédia moderna tinham uma agenda, um conjunto de temas que eles julgavam pertinentes acima dos outros – assim como uma visão particular, própria dos objetos que abordavam. O mesmo acontece com as academias e grupos editoriais.

Uma enciclopédia cujas entradas são escolhidas por autores diversos, espalhados ao longo de vastos territórios, inscritos em diferentes tradições e com interesses distintos pode não resultar em uma liberdade total de agenda. Mas chega perto disso. E esse é um passo rumo ao que pode haver de efetivamente universal no conhecimento.

De fato, são ainda hoje, muitos os artigos na fase de esboço, inúmeros os que contam com edições a serem realizadas. À parte a inegável beleza da ideia, o triunfo da vontade sobre a técnica, epitomizado pelo amadorismo tem seus ônus.

O termo enciclopédia vem do grego clássico enkyklos paideia. Numa tradução flexível, algo como conhecimento global. Consideradas a abrangência e o modo de funcionamento da Wikipedia, pode-se afirmar mesmo que nunca uma enciclopédia esteve tão afinada com a origem etimológica do termo. A Wikipedia e seu modus operandi traduzem a prática epistemológica do conhecimento em si: global e globalizado, do modo como apenas as ferramentas contemporâneas de comunicação puderam fazê-lo.

Na enciclopédia aberta e online, há, claro, vandalismos e imprecisões. Porém, todos são editados ou editáveis por uma prática crítica constante e plural, que não emana de chancelas acadêmicas, mas da vivência do conhecimento, como ela se apresenta e é na vida cotidiana: verificável, reorganizável, passível de questionamento e – por que não?- de dúvida. Isso é, de fato, muito condizente com o conceito de conhecimento universalizado em si. O “universal” aí não compreenderia, pois, apenas a ampla difusão, mas também a franca possibilidade de manipular, organizar e até produzir o conhecimento.

Quanto ao seu uso como ferramenta acadêmica fidedigna, pode-se dizer que, à medida  que esse projeto enciclopédico é encampado por mais e mais pessoas, a sua confiabilidade cresce. Serão mais numerosos os editores e os juízes do projeto, enquanto o interesse por ele se mantiver, ao menos.

O emprego imediato da Wikipedia como fonte para a produção do conhecimento nos circuitos oficiais ainda guarda riscos. Isso é incontestável. No entanto, o projeto já conta com verbetes tão editados, embasados em material bibliográfico tão estruturado, que se torna difícil não lhe atribuir o crédito devido.

Assim como não pode haver grande mal em procurar a Wikipédia ao buscar um primeiro e genérico contato com determinado tema, também não representa ameaça empregar materiais reconhecidamente bons disponibilizados por essa enciclopédia online.  É o que comprovam professores internacionais de algumas das mais respeitadas universidades do mundo. Na plataforma, fundamentalmente gratuita de ensino online, Coursera, por exemplo, não é raro encontrar professores empregando, em suas aulas, materiais da Wikipedia.

Talvez seja um primeiro passo para fazer dessa enciclopédia de fato, uma enciclopédia de direito. Longe de ser uma ferramenta de extrema precisão, a Wikipedia tampouco vale apenas por sua contribuição à nobreza de uma utopia.

O fato é que, dados os tempos, o modelo de comunicação em que nos inserimos, cada vez mais coletiva, abrangente e em tempo, é provável que a gestão compartilhada do conhecimento instaurado nos projetos como a Wikipedia seja irreversível. Embora isso não libere ainda o uso dos artigos publicados em enciclopedias online para qualquer natureza de uso, sem dúvida, assinala a nova dimensão epistemológica em que estamos inseridos.


Portanto, sejamos menos ranzinzas com a Wikipedia!



A JANELA ECONÔMICA é um espaço de divulgação das ideias e produção científica dos professores, alunos e ex-alunos do Curso de Economia das Faculdades Integradas Santa Cruz de Curitiba.

- Cada artigo é de responsabilidade dos autores e as ideias nele inseridas, não necessariamente, refletem o pensamento do curso.

- O objetivo deste espaço é mostrar a importância da formação do economista na sociedade.


 







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