Durante
a maior parte dos últimos dois milênios, na Igreja Latina, a Santa Missa foi
celebrada estando o sacerdote voltado para o oriente, seja o oriente real ou
litúrgico. É a chamada celebração
ad
orientem.
O
oriente é, para nós da Igreja Latina, a direção em que se localiza Jerusalém, a
cidade que é modelo do paraíso (chamado de Nova Jerusalém) e onde Nosso Salvador
foi morto no madeiro da cruz. Também no oriente nasce o Sol e Jesus Cristo é o
verdadeiro Sol pois é a luz do mundo. As igrejas, no passado, eram construídas
voltadas para o oriente. As basílicas romanas, contudo, eram voltadas para o
ocidente. Nelas, e em algumas outras, o sacerdote voltava-se para a congregação
(
versus populum) para celebrar. Na foto
abaixo, vemos o Papa Pio XII celebrando a missa tradicional voltado para a
congregação.
O
oriente passou a ser antes o oriente litúrgico que o oriente real. Estando o
sacrário, em geral, no fundo dos presbitérios, o sacerdote celebrava voltado
para ele, volvendo-se para a congregação nas admonições e para a homilia,
independentemente da arquitetura da igreja. Desde então, a maior parte das
igrejas foi construída tendo o altar grudado a um retábulo, ambos no fundo da
nave ou no fim do presbitério.
Depois
do Concílio Vaticano II, essa forma de construção passou a ser proibida. Os
novos altares deveriam estar no centro do presbitério e não mais grudados à
parede. Não se sabe muito bem a razão, isso foi mal entendido. Belíssimos
retábulos foram destruídos, tornados pó. Missas e mais missas passaram a ser
celebradas com o padre voltado para a congregação, muitas vezes ficando de
costas para o sacrário, onde se encontra Nosso Senhor sob as espécies
consagradas.
Raríssimo altar pós-conciliar preparado para celebração
ad orientem.
É importante ressaltar que houve uma
mudança na norma de construção das novas igrejas, e jamais uma ordem para mudar
o que já estava construído e,
muito
menos, uma indicação que os sacerdotes deveriam celebrar "voltados para o povo".
Um pseudo-progressismo quer fazer entender que é mais adequado ao povo que o
padre a eles esteja voltado. Ora, me parece muito mais igualitário que todos
estejam voltados para o mesmo lado, que é o que geralmente ocorre na celebração
ad orientem (ao oriente), também chamada
coram Deo (na frente de Deus) ou
versus Deum (voltado para Deus), em
contraposição ao
versus populum (voltado
para o povo).
Papa celebrando coram Deo na Capela
Sistina.
Infelizmente essa mudança se disseminou, e não
há coisa mais difícil de se achar que missas segundo o missal de Paulo VI com
orientação coram Deo. Essa tradição plena de significado (a união dos orantes
voltados para o seu Deus, entre os outros já citados) se perdeu, remanescendo
apenas nas celebrações da missa segundo o missal tridentino, o que concorre para
grande confusão. Tanto a forma ordinária quanto a extraordinária do rito romano
aceitam ambas as
configurações -- versus Deum ou versus populum. O Papa Bento
XVI celebra
coram Deo quando na Capela
Sistina, a última missa de São Pio de Pietrelcina foi celebrada
versus populum.
O Papa, para tentar
retomar o sentido do oriente litúrgico, sem causar grandes reboliços, aventou
uma forma nova de preparar o altar, chamada, em sua homenagem, de "arranjo
beneditino", que consiste em colocar, na frente do altar, quando da celebração
versus populum, seis candelabros com velas (sete, quando é o ordinário local) e
uma cruz no centro, voltada para o celebrante. O celebrante, então, volta-se
para o Crucificado enquanto oficia a Missa, sendo assim
versus Deum. Ao mesmo tempo o povo o vê por
trás da cruz, sendo assim também
versus
populum.
Esse
arranjo é possível em todas as paróquias, e é recomendável que o
adotem.