Palminha-de-são-tomé-pra-quando-papai-vier

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Dr. Rafael Vitola Brodbeck

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Oct 25, 2010, 10:25:31 AM10/25/10
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Palminha-de-são-tomé-pra-quando-papai-vier

Rafael Vitola Brodbeck
 

Alguns nos questionam de nossa verdadeira cruzada contra as palmas na Missa.

Cabe salientar, antes de tudo, que não nos referimos às palmas como um aplauso em um momento específico de Missas determinadas. É evidente que, na posse de um pároco, pode-se aplaudi-lo; quando de um casamento, aplaudir o novo casal; etc. Mas daí a considerar correto acompanhar músicas com palmas ritmadas? Isso foge completamente à tradição litúrgica do rito romano, e tira o aspecto de sacralidade que a Missa requer. O ambiente não propicia.

Ainda que não existam, nas rubricas, disposições proibindo expressamente as palmas, elas não deixam de ser abusos litúrgicos, erros, violações. Quando as rubricas silenciam, devemos ter cuidado. Só se pode fazer o que, no silêncio das rubricas, é adequado à tradição litúrgica.

É bem verdade que não há documento legislando a respeito. Mas esperá-lo e só então obedecê-lo pode ser legalismo.

Não se deve fazer apenas “o que está na lei”, como, se enquanto não houver lei clara, o terreno fique livre para o que se quiser. É preciso adequar-se à tradição litúrgica que, embora não sendo Tradição, tem uma continuidade a dar como que a alma de nosso rito. Os diferentes discursos do Papa e dos consultores em liturgia da Santa Sé têm andando nesse sentido.

Vemos certas pessoas alegando que sentar-se em bancos separados os homens e as mulheres, e o uso de véu por parte das últimas, eram costumes, e, como tais, foram caindo em desuso. Da mesma forma, continuam, as palmas são meros costumes. Será?

Sentar-se em bancos separados não é parte de nossa herança litúrgica, e sim um costume isolado que logo foi superado. O véu apenas caiu em desuso, mas nunca foi abolido oficialmente. Não há, pois, nesses dois exemplos qualquer similitude para com as palmas ritmadas acompanhando música “alegrinha” (aliás, esse tipo de música, em si, fere a riqueza de nossa tradição e a regra de que quanto mais próxima do gregoriano for a música, melhor) e para com o Pai Nosso de mãos dadas.

Palmas ritmadas nas músicas e Pai Nosso de mãos dadas são ações, não omissões. Não são um deixar de fazer o que era tradição ou costume, mas introdução de costumes novos, e essa introdução não foi feita por quem de direito nem autorizada. Além disso, são costumes introduzidos não para expressar o caráter sacrifical da Missa, nem para valorizar algum ponto da rica tradição litúrgica romana, e sim justamente quando se perdeu o sentido do que é a Missa.

É inegável que as palmas ritmadas nas músicas são a conseqüência como que obrigatória de quem não vê a Missa como sacrifício. E elas são costumes próprios de uma época que quer romper com o passado, com a tradição litúrgica. Não se trata aqui de novos costumes embasados, todavia, em uma tradição anterior, em um desenvolvimento orgânico. Palmas ritmadas são rupturas. São inserções justamente quando não se tem presente o caráter essencial da Missa: ser a Cruz.

Impossível tais aberrações no Vaticano. E lá está nosso modelo.

Aqueles que, em nova leva, resolvem levantar a bandeira das palmas na Missa prestam um desserviço à Igreja.

Justo agora em que o povo católico, principalmente os internautas, começa a respirar novos ares de liturgia, a aceitar o rito tridentino, a assistir o rito moderno bem celebrado (até mesmo em latim e versus Deum), a ter o gregoriano e a polifonia mais presentes em suas Missas, a ter consciência dos abusos litúrgicos, a estar plenamente convencido de que o Pai Nosso de mãos dadas e as palmas ritmadas nas músicas são aberrações em nosso rito, a esperar a “reforma da reforma”, a ver o Papa Bento XVI só dar a Comunhão de joelhos e na boca, a ver o mesmo Papa celebrar versus Deum… Enfim, justo agora que as coisas começam a melhorar, uma discussão como essa é um banho de água fria, quase um incentivo a que se continue com a baderna litúrgica no Brasil, uma bandeira – ainda que sem essa intenção – do relativismo litúrgico, da política – tão brasileira quanto detestável – do “não é bem assim”.

Palmas ritmadas NÃO estão em conexão com a tradição litúrgica, não são adequadas à noção de sacrifício. E isso é pacífico entre os liturgistas fiéis ao Papa.

O que passa disso é invencionice.

Ninguém aqui está dizendo que há documentos da Santa Sé proibindo as palmas. Mas esperar por tais documentos antes de classificar esses costumes como abuso, para só então dizer que o são, é legalismo. Não somos robôs, máquinas de rubricas. Precisamos interpretar as normas sistematicamente, estudar o ambiente litúrgico, o senso, a cultura. E, por tudo isso, sou enfático: palminhas ritmadas e dar as mãos no Pai Nosso são ABUSOS LITÚRGICOS. Não foram expressamente proibidos, mas também, por outro lado, a Igreja também não proibiu que os fiéis assistissem Missa pelados ou plantando bananeira. É o bom senso que indica que isso está errado.

Aliás, esperar que a Igreja se pronuncie sobre tudo é fruto de uma mentalidade burocrática, nada católica, que não consegue interpretar as coisas em seu contexto, que não consegue extrair aplicações práticas dos princípios postos.

As palminhas ritmadas, outrossim, não encontram eco em nenhum momento da história litúrgica de nosso rito – nem de outros.

Compreender a Missa como sacrifício é uma excludente necessária das palminhas ritmadas e dos cantos alegrinhos.

Ficar alegre não significa bater palmas. Quem bate palminhas sempre que está alegre ou é bebê ou tem problemas mentais.

Manifesto, sim, minha alegria por ter a Cristo na Missa, mas essa manifestação é contida, sóbria, adequada ao momento. Estamos diante da Cruz, não nos esqueçamos. A alegria pela nossa salvação deve ser equilibrada pela contrição pelos nossos pecados que levaram Cristo à morte.

Nem se advogue a inculturação. A inclusão de elementos culturais dos povos na liturgia se faz com a devida autorização EXPRESSA da Santa Sé. Como não houve essa inclusão, as palmas estão proibidas. Lógico. O que não se permite, está proibido. Assim funciona a liturgia. As rubricas não possuem uma linguagem negativa, mas positiva. Não está nelas descrito tudo o que não se deve fazer, mas exposto o que se deve. E, diante do que se deve, se infere o que não se deve.

Ainda que estivéssemos em início de evangelização, os elementos culturais que se poderiam introduzir no rito dependem de Roma. Ou seja, pra bater palminha-de-são-tomé-pra-quando-papai-vier, só com o placet do Papa!

Dois erros, pois. Um, o erro de misturar países com recente evangelização e que precisam de inculturação, com o Brasil, que tem 500 anos de cristianismo. Dois, o “esquecer-se” que não se pode, a título de inculturação, introduzir elementos no rito ao bel-prazer.

Como disse meu amigo Pedro Ravazzano, meu irmão de apostolado, referindo-se aos defensores das palmas e outros abusos, só porque “não estão explicitamente proibidos”:

Sinceramente, vocês não têm idéia das conseqüências desse raciocínio que defendem. Claro que creio nas boas intenções, mas, querendo ou não, tal argumentação parte de um certo relativismo litúrgico que se choca com a identidade tradicional católica. Aqui na Bahia muitos seguem essa mesma linha para justificar atabaque, pandeiro, ofertório com danças etc, tudo é inculturação, tudo é adaptável, contanto que o missal esteja ali no altar sendo falsamente seguido – afinal o missal vai além de um livro, é um espírito, uma expressão de piedade e mística. Dentro da cabeça desse povo, se não há uma diretriz que proíba a utilização de pipoca na procissão de entrada, ou o uso de temáticas africanas na aclamação do Evangelho, então é lícito. Ora, quer dizer que eu posso colocar hamsters amestrados para acender as velas do altar ou malabaristas hindus para tocar o sino na consagração só porque não há uma determinação da Santa Sé a respeito dessas irreverências?!

Quando caímos nesse papo de inculturação, de expressão popular, incindimos numa análise meramente pessoal. Para fulano bater palma é bom, assim como para sicrano, na Bahia, o uso de atabaque é emocionante. Na prática, tanto as palmas como o atabaque não são condenados pela Igreja – assim como os hamsters e os malabaristas -, mas isso seria sinal de licitude? Óbvio que não, afinal, acima das normas – quase sempre positivas – se encontra o ethos responsável pela formação e estruturação do rito.

Também D. Antonio Carlos Rossi Keller, Bispo de Frederico Westphalen, e diretor espiritual do Veritatis Splendor, nos brinda com suas palavras, tão caridosas e pastorais quanto taxativas:

Em questões de disciplina litúrgica, a opinião pessoal pouco conta. Isto não é questão de algum Bispo aprovar ou não. Ou seja, o fato de que algum Bispo aprove, não significa que as palmas ou qualquer outra mudança no Rito Sagrado sejam permitidas. Nós Bispos não somos senhores nem donos da Liturgia: somos servidores. Esta é a grande questão. Fora da Liturgia da Santa Missa e dos demais Ritos Liturgicos, os fiéis "seguidores" da RCC, bem como os que seguem outras linhas de espiritualidade, tem a liberdade de expressar seus gostos e costumes. No que tange os Ritos Sagrados aprovados pela Igreja, o critério são os livros litúrgicos oficiais. Se algum Bispo introduz costumes por gosto pessoal ou por pressão dos fiéis, ele está errado, apesar de ser Bispo. O caráter episcopal não lhe isenta de erros. A questão toda é bastante clara. De fato, chama a atençao certos costumes... Por exemplo, ontem mesmo assisti por um canal de TV uma Procissão do Santíssimo Sacramento, chamada insistentemente por quem estava no palco de "Passeio" de Jesus. O sacerdote ordenado, com suas mãos ungidas, segurava a custódia com um véu humeral. Já as demais pessoas corriam e se movimentavam para tocar a custódia com suas mãos, e com objetos (roupas, documentos, etc...). É contraditório isso tudo: de um lado, um grande zelo em custodiar o Senhor Sacramentado, de outro, uma banalização "milagreira" em relação à Eucaristia. Seria muito mais simples seguir as Normas Liturgicas, e favorecer uma fé mais adulta e menos sentimentalista em relação à Eucaristia. Muitos dizem: mas isso tudo para que discutir? Basta que o povo tenha fé... Não é verdade. Não basta que o povo tenha fé. Não basta que as pessoas se reúnam para a Missa. (...) Reafirmo o que em outras postagens disse: as palmas, como acompanhamento de cantos e outros Ritos sagrados, na Liturgia, estão erradas e não são permitidas. É sim um abuso Litúrgico, ainda que alguns Bispos as apoiem ou até as puxem... Como corrigir este abuso? Aqui em minha Diocese, onde o erro é muito pouco difundido, prefiro agir com paciência e prudência pastoral, ou seja, explicando e dando exemplo. é o caminho que penso ser o melhor.

Aos que tanta questão fazem de bater palminhas na Missa, deixo um conselho: procurem uma festinha de aniversário de criança. Dessas com bastante brigadeiro, guaraná, língua-de-sogra e balão-surpresa.

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