Se a sua paróquia, caro leitor, não tem ainda
condições de implementar uma Missa solene, ou uma Missa cantada em latim, com
gregoriano, ou ainda não há condições de convencer o pároco a adotar fielmente o
disposto nas rubricas, talvez seja oportuno começar "aos poucos", com cerimônias
menos elaboradas, fora da Missa, que despertem a todos para uma maior piedade e
ajudem, por sua regularidade, na renovação da liturgia em sua
igreja.
Esses ritos são todos litúrgicos, dispostos nos livros
apropriados, e, pela relativa simplicidade, afastam qualquer má vontade -
exceto, claro, se for uma grande má vontade...
Damos alguns
exemplos:
Te DeumO Te Deum
é um canto tradicional em gregoriano, com uma partitura das menos complicadas.
Pode-se, se não houver quem cante, apenas dizê-lo, em latim ou em vernáculo
mesmo. Caso a dificuldade seja mesmo grande, é melhor recitá-lo do que cantá-lo,
ao menos num primeiro momento.
Para que não seja apenas uma recitação
simples, pode-se usá-lo, cantado ou rezado, em português ou na língua da Igreja,
no contexto de uma Exposição do Santíssimo.
Faça-se, então, tudo como na
Exposição Solene: padre ou diácono om alva, cíngulo, amito e estola para expor
(ou batina, sobrepeliz e estola), e mais o pluvial para a bênção e reposição;
quando for pegar o ostensório para a benção, usa-se também, por cima do pluvial,
o umeral. Tudo na cor branca ou festiva.
Antes de dar a bênção, com o
padre ou diácono com pluvial, mas sem umeral, canta-se ou recita-se o Te Deum, e
só depois o Tantum Ergo.
Se não houver exposição, pode-se fazer a
recitação ou canto do Te Deum, ainda assim de modo solene: o padre ou diácono de
alva, cíngulo, amito, estola e pluvial (ou batina, sobrepeliz, estola e
pluvial), sempre brancos ou festivos os paramentos. O padre ou diácono,
revestido de tais paramentos chega até o presbitério, ou os degraus do mesmo,
genuflete ao tabernáculo (ou prostra-se ao altar, se não houver tabernáculo),
faz o sinal-da-cruz, acompanhado de todos, usa a saudação litúrgica costumeira
("Dominus vobiscum"), e pode pregar uma pequena homilia. Após a homilia,
canta-se ou recita-se o Te Deum, terminando com a oração conclusiva que o segue,
e uma bênção simples.
O padre ou diácono pode contar com acólitos. Se for
com Exposição, deverão existir esses acólitos.
O texto em latim do
Te Deum está aqui.
O Te
Deum é comumente celebrado como ação de graças no último dia do ano civil, e em
festas pátrias importantes: no 7 de Setembro (Dia da Pátria), por exemplo, ou no
dia 22 de Abril (Descobrimento do Brasil), ou, no caso do Rio Grande do Sul, no
20 de Setembro (Dia do Gaúcho ou Dia da Revolução Farroupilha, data magna do
Estado). Na comemoração de grandes batalhas históricas, ou em ação de graças
pelo fim de uma guerra (ou vitória em uma guerra justa), ou, então, após um
grande feito que necessitou da especial ajuda de Deus (resgate de feridos após
um terremoto, ou esses mineiros recém socorridos no Chile), também se pode
cantar ou recitar o Te Deum.
Ladainhas
solenesExistem algumas ladainhas que constam do Ritual Romano,
quer da forma ordinária, quer da extraordinária, e são atos litúrgicos, i.e.,
oficiais para o culto católico. São usadas em diferentes situações, podendo
constituir celebrações independentes.
Assim, na Solenidade do Sagrado
Coração de Jesus, ou em sua novena preparatória, ou nas primeiras sextas-feiras
do mês, ou ainda em todo o mês de junho, se poderia, por exemplo, fora da Missa,
instituir a recitação ou canto solene da Ladainha do Sagrado Coração de
Jesus.
Ou, durante o mês de julho, principalmente no dia 1º, poder-se-ia
cantar ou rezar a Ladainha do Preciosíssimo Sangue de Cristo.
Em todos os
dias do mês de maio, ou nas solenidades, festas e memórias da Santíssima Virgem,
ou nos sábados, a ladainha seria a de Nossa Senhora. Na memória do Santíssimo
Nome de Jesus, a ladainha própria referente a essa devoção. Já nas primeiras
quintas-feiras de cada mês ou na comemoração votiva de Nosso Senhor Jesus
Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote, a Ladainha de Nosso Senhor Jesus Cristo,
Sacerdote e Vítima, pela Santificação do Clero. Em Pentecostes e sua oitava, ou
no primeiro dia do ano, a Ladainha do Espírito Santo (seguida ou antecedida pelo
Veni Creator, se for oportuno). Nas quartas-feiras, e nas festas josefinas, a
Ladainha de São José. Nos Domingos e nas sextas-feiras ou na solenidade de Todos
os Santos, pode-se rezar a Ladainha de Todos os Santos.
Todas essas
ladainhas podem ser usadas de modo privado pelos fiéis, ou em coro na igreja ou
fora dela. Mas, para a proposta que ora apresentamos, convém fazer de seu canto
ou recitação uma autêntica cerimônia.
O padre ou diácono usa alva, amita,
cíngulo, estola e pluvial (ou batina, sobrepeliz, estola e pluvial), e faz como
no Te Deum acima descrito. Em lugar do canto do Te Deum, recita-se ou canta-se a
ladainha correspondente.
Pode-se fazer de outro modo também,
processional. Em outra igreja ou recito apartado da igreja, inicia-se com o
sinal-da-cruz e a saudação. Durante a procissão, se canta ou recita a ladainha,
e, chegando na igreja, o clérigo vai até o altar, venera-o ou adora o Santíssimo
no tabernáculo, e reza a oração conclusiva, dando a bênção.
É possível
também combinar a ladainha com a Exposição do Santíssimo Sacramento, caso em que
se a recita com o Senhor solenemente exposto, antes do Tantum Ergo, e os
paramentos serão, facultativamente, da cor correspondente à ladainha ou, então,
brancos ou festivos.
Para as ladainhas de Todos os Santos, Nossa Senhora,
Sagrado Coração de Jesus, Santíssimo Nome de Jesus e São José, usam-se
paramentos brancos ou festivos. Nas ladainhas do Espírito Santo, Preciosíssimo
Sangue de Cristo, e Nosso Senhor Jesus Cristo, Sacerdote e Vítima, paramentos
vermelhos ou festivos.
Fora da Exposição, pode haver acólitos. Com ela,
devem.
Os textos das ladainhas, em latim, estão abaixo:
Ladainha
de Todos os Santos (o texto é da forma extraordinária, com os santos
acrescentados pelo Ritual da forma ordinária entre colchetes... como a forma
ordinária permite adaptação na ladainha, pode-se usar essa mistura de
formas)
Ladainha do
Sagrado Coração de JesusLadainha do
Preciosíssimo Sangue de CristoLadainha do
Santíssimo Nome de JesusLadainha
de Nosso Senhor Jesus Cristo, Sacerdote e Vítima (em português e latim,
conforme o texto oficial da Congregação para o Clero, que a aprovou, não
constando nos livros litúrgicos, entretanto)
Ladainha
do Espírito SantoLadainha de
Nossa SenhoraLadainha
de São JoséSete Salmos
PenitenciaisÉ costume, nas sextas-feiras da Quaresma, e outras
ocasiões penitenciais, rezar ou cantar os Sete Salmos Penitenciais, dispostos no
Ritual Romano da forma extraordinária. Não são salmos para escolher: a cerimônia
é a reza dos sete, um após o outro, com a antífona e a oração própria.
Se
se quer dar maior solenidade, faz-se como descrito nas ladainhas e no Te Deum.
Após os Salmos, canta-se ou recita-se a Ladainha de Todos os Santos. Pode-se
celebrar com o Santíssimo exposto. Fora da Exposição, pode haver acólitos. Com
ela, devem.
O texto dos Sete Salmos Penitenciais, em latim, está
aqui.
Da mesma forma e com os mesmos paramentos
descritos acima, sempre da cor branca ou festiva, podendo-se, onde houver
indulto, utilizar-se o azul, canta-se ou reza-se, em latim ou vernáculo, de modo
solene, de preferência diante de uma imagem ou quadro da Bem-aventura Virgem
Maria, uma antífona conforme o tempo litúrgico:
Salve
Regina,
Regina
Coeli,
Ave Regina
Caelorum, ou
Alma Redemptoris
Mater.
É tradicional que se o faça fora da Exposição ao Santíssimo,
podendo-se cantar ou rezar depois da reposição no tabernáculo, mas sempre como
último ato litúrgico da noite. Como rito originário, é parte do Ofício das
Completas, sem a oração que segue a antífona, mas quem não recita a Liturgia das
Horas pode usar a cerimônia de modo independente e com a oração própria. Uma
paróquia pode fazer celebrar essa antífona como uma oração da noite nos sábados,
em tempo relativamente afastado da Missa, convocando-se o povo com o
sino.
Bênçãos
solenesOutros ritos que podem ser facilmente implementados em uma
paróquia são as bênçãos dadas de modo solene, com paramentos. Se bem que todo
sacerdote e diácono possa e deva impartir a bênção de modo simples e espontâneo
sobre coisas, pessoas e lugares, é bastante conveniente que use o texto
liturgicamente disposto nos livros.
Mais ainda: aproveitar a ocasião e
colocar uma estola com sobrepeliz, se estiver usando veste talar, ou, na falta
dela, uma alva, amito, cíngulo e estola. Um pluvial também pode ser
usado.
O Ritual Romano, quer da forma ordinária, quer da extraordinária,
traz inúmeros textos para bênçãos de infindáveis situações de vida, locais,
objetos, famílias, indivíduos. Se bem que o Ritual da forma extraordinária seja
mais generoso na apresentação das variadas bênçãos, uma para cada situação, e
sempre com um versículo ou salmo, o da forma ordinária é melhor disposto para
que a bênção seja uma autêntica celebração, incluindo leituras da Palavra de
Deus, ladainhas, preces e a oração conclusiva. Todavia, é bom que se frise, o
Ritual novo elimina, na prática, a distinção entre as bênçãos invocativas e
constitutivas, sendo pobre na própria bênção, c
onforme
o Pe. John Zuhlsdorf, pelo que recomendamos, se for usar o texto em latim,
faça-o com o Ritual antigo.
Procissões solenesUma outra dica é
solenizar as procissões, fazendo-as como manda a tradição litúrgica da Igreja.
Use o padre ou o diácono uma batina com sobrepeliz, estola e pluvial, ou alva,
amito, cíngulo, estola e pluvial.
Para procissões do padroeiro ou titular
da igreja, a cor correspondente. Para procissões do Senhor Morto, na noite de
Sexta-feira Santa, a cor da estola e do pluvial é o preto. Para o Senhor dos
Passos, na Semana Santa, o roxo ou o preto. Para procissões penitenciais
(pedindo o fim de uma guerra ou por ocasião de uma calamida pública ou uma
doença, ou perdão dos pecados públicos), o roxo. Pode-se ter as procissões -
constantes do Ritual Romano de ambas as formas - para pedir chuva, para repelir
tempestades, para abençoar as colheitas ou o plantio, de ação de graças. Ou,
então, para transladar relíquias (que, no caso dos mártires, pedirá a cor
vermelha). Procissões no Tempo Comum sem caráter penitencial e sem envolver uma
festa específica pedirão a cor verde dos paramentos.
A procissão não é
apenas um amontoado de gente caminhando. Deve haver certa solenidade. Vários
acólitos, em alva e cíngulo, ou em batina e sobrepeliz. Tocheiros. Turiferário e
navetário, com incenso. Cruciferário ladeado de ceroferários. Diáconos com
dalmáticas ou pluviais. O sacerdote, se oportuno, usando o seu barrete, ou o
Bispo com sua mitra (simples nas penitenciais, exequiais e quaresmais, ornada
nas demais). Haja uma ordem também: confrarias, associações de fiéis, institutos
religiosos.
Se uma relíquia for transladada, pode ser usado um baldaquino
para cobri-la, e um véu umeral da cor adequada por quem a transportar. Uma
imagem deve ser carregada de modo solene também.
Junto a cânticos
populares, entoem-se hinos gregorianos, ladainhas, e use-se o rito disposto no
Ritual. Na forma extraordinária, esse rito tem algumas características e
antífonas.