Inspirada no romance homônimo de Milton Hatoum, Dois Irmãos é uma minissérie de 10 capítulos, escrita por Maria Camargo e dirigida por Luiz Fernando Carvalho, exibida pela TV Globo, de 9 a 20 de janeiro de 2017.
A mesma conta a história de uma família de imigrantes libaneses na Amazônia do início século 20 e tem como conflito central a difícil relação entre dois irmãos gêmeos, Omar e Yakub (Enrico Rocha/ Lorenzo Rocha/ Matheus Abreu/ Cauã Reymond). Na trama, os dois são diferenciados pela própria mãe Zana (Gabriella Mustafá/ Juliana Paes/ Eliane Giardini) uma mulher controladora que dita as regras da casa e determina as atitudes do marido Halim (Bruno Anacleto/ Antonio Calloni/ Antonio Fagundes).
Como no livro, o relato é de Nael (Theo Kalper/ Rian Cesar/ Irandhir Santos), o filho da empregada indígena da casa, Domingas (Sandra Paramirim/ Zahy/ Silvia Nobre). Testemunha e observador, agregado e membro renegado da família, ele tece uma colcha de retalhos toda costurada por memórias. Tenta compreender os acontecimentos que levam aquele clã singular à ruína no mesmo ritmo em que Manaus se deixa descaracterizar completamente, desde o declínio do comércio da borracha à criação da Zona Franca.
No pano de fundo do drama da família de Halim (Bruno Anacleto/ Antonio Calloni/ Antonio Fagundes), ‘Dois Irmãos’ repassa as transformações profundas sofridas por Manaus no período, entre as décadas de 1920 e 1980. As entrelinhas do romance são transformadas em imagens vívidas, que reforçam o realismo da obra. “O recorte é protagonizado por imigrantes libaneses, mas essa mesma história poderia estar sendo contada numa família de japoneses, espanóis, italianos ou portugueses, aqui e agora, em qualquer uma das culturas formadoras do nosso país. É a chegada de uma cultura de 8 mil anos, num país ainda criança como o nosso", observa Luiz Fernando Carvalho.
Engenheiro, calculista e espartano, Yaqub tem a firme decisão de viver em São Paulo. É filho que vai deixar Manaus em busca da personificação dos ideais desenvolvimentistas de ordem e progresso que tomam conta do país naquela época. Bon vivant que jamais consegue se firmar num trabalho, errante, passional e dionisíaco, Omar é o que ficará em Manaus e sofrerá as consequências da incapacidade de deixar de vez a casa, o útero de Zana. É o filho que não cresceu, o bebê que não cortou o cordão umbilical. Aquele que não se tornou homem e adulto.
Com certa dificuldade respiratória, Omar (Lorenzo Rocha/ Matheus Abreu/ Cauã Reymond) é o segundo a nascer e por isso apelidado de Caçula. Preocupada com a suposta fragilidade dele, Zana desenvolve um carinho desmedido, que a faz mimar um filho sem perceber que planta o rancor no coração do outro, Yaqub (Lorenzo Enrico/ Matheus Abreu/ Cauã Reymond). É apenas a primeira de uma série de escolhas que a mãe faz para diferenciar os filhos, embora goste de repetir, como numa espécie de autonegação, que eles são idênticos.
Ao mesmo tempo, Rânia (Raphaela Miguel/ Letícia Almeida/ Bruna Caram) cresce à sombra da mãe, que não admite outra figura feminina a brilhar dentro da casa. Na adolescência, após perder um pretendente por causa do rigor de Zana, ela se torna uma figura lunar e para quem somente a mistura das personalidades de Omar e Yaqub poderia resultar no homemideal.