Repair Culture

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Kuja

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Mar 12, 2015, 11:40:34 AM3/12/15
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Olás!

Primeiro, queria indicar com veemência a leitura do último petardo de Felipe Fonseca, Repair Culture, texto em que ele desbanca de forma implacável a cooptação da cultura maker e aponta para alguns caminhos alternativos.

Segundo, queria levantar nessa lista (meio parada ultimamente) quem está envolvido com um tipo de cultura maker que, ao invés de celebrar um futuro cor-de-rosa, considera a possibilidade de a humanidade estar se afundando em sua sanha tecno-lógica. Essa tecno-utopia mascara um otimismo contra-producente, um otimismo que oculta a negação em seus três sabores: literal, interpretativa e implicativa. Mas, por outro lado, não devemos descartar a esperança, não aquela do Obama ou das igrejas, mas uma esperança fruto do aprendizado. Tenho certeza de que a humanidade está fadada à um destino trágico, mas isso não impede que ela aprenda com seus erros. (Sobre isso, vale ler o maravilhoso conto The Machine Stops, de E. M. Forster, publicado no mesmo período que os contos de H.G. Wells que tanto saúdam (de forma não saudável) o progresso...)

Invisto em um tipo de crítica que procura Ilustrar o quanto as tralhas "tecnológicas" atuais não passam de próteses inúteis. Os deslumbrados pela realidade virtual, por exemplo, são como aqueles deslumbrados pelas próteses de membros, que optam por amputar a perna apenas para terem uma prótese high-tech.  

A esperança da qual falo é uma opção em vista das enormes possibilidades a que estamos submetidos hoje. O futuro é trágico, milhares (talvez bilhares) morrerão no processo. Até a elite não está blindada (não acredito em coisas como redutos do tipo Elysium, simplesmente pelo fato de que estamos em um mundo sistêmico). Apesar da morte de bilhões, alguns sobreviverão e esses alguns é que terão a chance de perpetrar novas opções que levem em consideração uma ética de continuidade e uma responsabilidade ambiental. 

Estou levantando um "corpus" de pesquisa que acople estética e ética. A base é colocar em foco a noção de resiliência, seja ela material e espiritual. Em termos materiais, não estou focando a resiliência no que se refere a alimentos, transportes e saúde, mas a resiliência dos sistemas de informação e comunicação. 

Grosso modo, procuro pessoas que estão pesquisando e trabalhando com três tipos de resiliência:

1. Resiliência de infraestruturas de comunicação (processos, micro-grids, etc.)

2. Resiliência computacional (computação não convencional, etc.)

3. Resiliência energética (biológica, física, etc.)

Tecnoxamanismo, gambiarras e cultura maker não-vendida... Já andei sondando companheiros como Bruno Vianna e Glerm, mas sei que há outros. 

A meta é criar uma nova narrativa que ajude as pessoas a encarar os catastróficos eventos do porvir.

Abraços,

Guilherme Kujawski





bruno vianna

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Mar 13, 2015, 8:40:02 AM3/13/15
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olá Kujawski, valeu pela citação.

Os tipos de resiliência que você cita parece que saíram de um manual da Nuvem. A Nuvem é um laboratório rural gestionado por mim e Cinthia Mendonça, que trabalha exatamente com essa questão do fazer apontado para a autonomia, tentando evitar o cor-de-rosa e a cooptação dessa cultura.

Na nossa wiki (e o fato de documentarmos numa wiki já indica uma expectativa de compartilhamento de conhecimentos) você encontra diversos projetos ligados a essas resiliências, por exemplo:

Resiliência de redes
- http://nuvem.tk/wiki/index.php/Redes_Aut%C3%B4nomas_(Felipe_Fonseca_e_Vincenzo_Tozzi-Brasil) (do próprio efefe e vince)
- http://nuvem.tk/wiki/index.php/Interactivos%3F%2713_Nuvem#Redes_de_Telecomunicaciones_Libres.2C_Abiertas_y_Neutrales_-_.C3.81l_.28Europa_do_sul.29

Resiliência computacional
- o guia anti-vigilância http://temboinalinha.org , realizado no encontro ContraLAB, de projetos para ativismo  e resistência.
- o encontro tecnomagia (http://nuvem.tk/wiki/index.php/Tecnomagia), que rendeu um livro que acaba de ser publicado.



E tem muitos outros. Desde o começo em 2011, temos conseguido que todas as atividades tenham sido  gratuitas - existem projetos fantástiscos de ensino de bioconstrução, mas ao custo de mil reais, não vejo como podem se propor a disseminar uma prática. Esse funcionamento acessível se deveu muito ao empurrão do vivolab em 2012 e 2013, graças à visão do Bambozzi, Bastos e Minell, que garantiram o patrocínio sem nos atirar aos leões do marketing.

Ano passado já foi mais duro - não conseguimos passar em nenhum edital - mas exatamente por inventar práticas autônomas é que pudemos realizar a residência de verão, o encontro ContraLAB e o encontro EncontrADA prescindindo de qualquer apoio além do dos próprios participantes.

Esse já  começa melhor com uma bolsa Commotion, de uma fundação americana que vai nos permitir instalar uma rede de telefonia celular autônoma e uma rede wifi mesh no vilarejo da Fumaça. E independente disso já fizemos a residência de verão, e estamos programando mais uma internacional do MSST e um EncontrADA.

O projeto é maior que isso e não quero me extender tanto no mail (a wiki já vai para mais de 300 páginas). Mas a ideia é documentar e compartilhar para que as expriências se repliquem (não num modelo fora do eixo, centralizador, mas mais no campo das ideias) e ficamos contentes de ver o uso de algumas dessas estratégias em outras iniciativas como a residência Ruralscapes desse ano.

Seguimos com a conversa!

Abraços
Bruno




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palmieri, ricardo

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Mar 13, 2015, 4:16:05 PM3/13/15
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estamos  - garagem fablab (sp) + olabi (rj) - construindo um laboratorio de biohacking diy, seguindo protocolos do pessoal do openwetlab em parceria com a fundacao waag (holanda).

se interessar, chama pra gente bater um papo.

ate ja

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Guilherme Kujawski

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Mar 14, 2015, 9:23:03 AM3/14/15
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Bruno e Palmieri,

Grato pelo feedback.

Na verdade, eu achei que minha mensagem seria ignorada, tal a carga de negatividade contida em seu conteúdo ("morte de bilhões").

Ela tem um tom apocalíptico e escatológico, quase que embebida de profecias bíblicas.

Mas a provocação é proposital. E, claro que eu não desejo a possibilidade da "morte de bilhões".

Em minha defesa, cito o filósofo alemão Hans Jonas:

"A profecia do mal é feita para evitar que ele se realize; e seria o máximo de injustiça zombar de eventuais alarmistas, pois o pior não aconteceu: ter se enganado deveria ser considerado como um mérito".

A pesquisa é para meu projeto de doutorado, que estou desenvolvendo no IAU-USP São Carlos. As pedras fundamentais são: criar o esboço de uma teoria ética para a civilização tecnológica e desenvolver um corpus sobre resiliência de sistemas de comunicação. A estética midiática amarra tudo isso.

Vai também se desdobrar em um livro de ficção científica na linha cli-fi e solarpunk.

Enfim, quero visitar o FabLab e entrar de cabeça no Wiki da Nuvem (o ideal seria participar de uma residência lá... Bruno, vai rolar uma chamada esse ano?)

Tem mais gente nessa pegada aqui nessa lista?

Sigamos!

gK

marcbraz

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Mar 14, 2015, 1:57:11 PM3/14/15
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ei, não sei se Fabi Borges tá nessa lista...mas temos [alguns poucos, diga-se de passagem] desenvolvido algo que contempla, a seu modo, os itens citados.

A partir da realização do 0 Festival Transgenero de Tecnoxamanismo em Arraial dÁJuda e preparando o 1o que também pode ser o 2o [caso vc conte do 0 ou do 1].

Vai sair um livro e vários vídeos [1 deles especialmente aos apoiadores financeiros]. E uma estação de permacultura transváriostemas [talvez mais reparo da cultura do que cultura do reparo ;)] sendo construída em Arraial.

Produções dispersas e o wormhole por aqui: http://tecnoxamanismo.metareciclagem.org/doku.php

postscript: com cco pra Regis e Fabi

m

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Georgia Nicolau

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Mar 15, 2015, 10:58:42 AM3/15/15
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olá a todos...
bons papos por aqui. sentindo falta mesmo de expandir os horizontes.... não sei se viram- sei que alguns de vcs se inscreveram- mas ano passado fizemos- MInC- e UFPE (mais especificamente Ruiz e Brazileiro) uma chamada para ocupação dos "laboratorios multimidias"de  10 centros de esportes e artes unificados- equipamentos multifuncionais do governo- voltados para tecnologia. A ideia dos LabCEUS- laboratorios de cidades sensitivas- é propor ocupacoes temporarias nos centros (Que possuem, em sua genese, uma sala chamada telecentro com 13 computadores e mais nada e que renomeamos de laboratorios) voltados para a producao compartilhada e a criatividade cidada... sem mundos cor-de rosa, o ezpectro da chamada era amplo... incluia espiritualidade, cultura alimentar e afins. http://culturadigital.br/labceus/sobre/

Enfim, é pequeno, mas é uma tentativa de politica publica que seje propositiva, sem ser cega as questoes complexas que envolvem o uso da tecnologia hoje- ao mesmo tempo que permita o laboratório em branco, as criacoes coletivas que o efe defende tanto (inclusive defendeu na consultoria que fez ao MinC ano passado- disponivel no site dele)
como gestora publica e interessada no assunto estou bastante aberta a ouvir e trocar, com vistas a fortalecer uma multiplicidade e diversidade real de possibilidades, pensando em escala, mas tambem em reflexao e critica. 

abs 

Felipe Fonseca

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Mar 15, 2015, 3:12:33 PM3/15/15
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Alô Kuja, valeu pela menção.

Tamos aí, tentando encontrar oxigênio no meio de tanta ideia fixa.

Ubatuba continua receptiva. Vai ter Tropixel de novo!

Agora dá licença que tô em retiro pré-paternidade.

Abs,

efe

2015-03-12 12:40 GMT-03:00 Kuja <kuja...@gmail.com>:

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Guilherme Kujawski

unread,
Mar 15, 2015, 3:35:12 PM3/15/15
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Opa Felipe! Parabéns!
Sobre Tropixel, vou nesse ano como observador :)
Valeu marcbraz e Georgia.
Encontrei a Rachel Rosalen ontem e ela disse que as inscrições para Ruralscapes foram prorrogadas :)

Saludos
opencall_ruralscapes-1_pt.jpg

Thiago Novaes

unread,
Mar 15, 2015, 9:12:39 PM3/15/15
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oi Kuja,


"A pesquisa é para meu projeto de doutorado, que estou desenvolvendo no IAU-USP São Carlos. As pedras fundamentais são: criar o esboço de uma teoria ética para a civilização tecnológica e desenvolver um corpus sobre resiliência de sistemas de comunicação. A estética midiática amarra tudo isso."

Estou nessa tb, e comento rapidim:

Comecei a pesquisa de mestrado com Jonas, mas as ferramentas conceituais de Simondon me trazem mais sentido (afinal, a guerra eh ontológica), e com elas sigo agora, ultimo ano do doutorado em antropologia (da técnica). Entre os txt que poderia te indicar estão "Les limites du progres humain", de 1959, "Technique et eschatologie: le devenir des objets techniques, resumo de 1972 e, de 1983, "Trois perspectives pour une reflexion sur l'etique et la technique". Todos estão na coletânea lançada ano passado: Simondon (2014) Sur la technique. Paris: PUF. (tenho e posso scanear se te interessar, ou a quem interessar).

Eu me inspiro muito no trabalho de pessoas que aqui se manifestaram ou foram citadas, nossos mimoseiros Palm, Ruiz, metarec efe, metasubcibertrans Fabi, e conheci de perto a Nuvem em uma residência: Bruno e Cinthia estão segurando firme a pesquisa e documentando.

E pensando neles, escrevi um txt que resume e tenta associar a "eficácia mágica primitiva" de rádios livres e metarec, onde a tecnoestética se encontra com a ética:
http://www.forumpermanente.org/revista/numero-2/textos/tecnomagia

Estou agora mergulhado na manipulação genética e no uso das técnicas de reprodução assistida, onde o discurso da saúde perfeita (Sfez 1995) oculta a eugenia: entre os problemas éticos destaco o tal "consentimento informado", pois os filhos nascidos dessa forma estão pagando um alto preço sem terem sido consultados (Blade Runner...). Mas, claro, isso não eh tudo.

abrax,

9s








 

Guilherme Kujawski

unread,
Mar 16, 2015, 9:16:37 AM3/16/15
to rede...@googlegroups.com
Opa Thiago,

Gratíssimo.

Sim, Simondon é essencial para quem quer realizar uma crítica "construtiva" à sociedade tecnológica.

Na Conclusão de L'individuation à la lumière des notions de forme et d'information ele faz um jogo interessante entre ética pura (valores) e ética prática (normas)  - e "dialetiza" os dois por via da transdução.

O texto sobre os limites do progresso humano tem uma ótima tradução do meu ex-professor Sean Cubitt: https://philosophyofinformationandcommunication.files.wordpress.com/2014/10/gilbert-simondon-the-limits-of-human-progress-a-critical-study-1959-english.pdf

Os outros textos mencionados eu não conheço, mas vou atrás.

Também lerei seu texto. Ingresso em pesquisas sobre "radio art", pois me parecem apropriadas para quem se interessa por resiliência em comunicações.

(Sobre isso, tem um trabalho ótimo do Julian Oliver aqui: http://julianoliver.com/output/the-crystal-line)

Sobre as origens da divisão entre técnica e religião, também me interessam. Antes da separação, existia o pensamento mágico, que coligava de forma inconsútil humanos e natureza.

Ou seja, tecnomagia tem tudo a ver com resiliência. Isso fica claro no ritual dos Enawenê Nawê.

Abs,

gK

--

bruno vianna

unread,
Mar 21, 2015, 4:46:13 PM3/21/15
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Kuja, conta mais para a gente sobre esse ritual dos Enawenê Nawê....

Guilherme Kujawski

unread,
Mar 22, 2015, 9:17:43 AM3/22/15
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opa Bruno!
quem me deu o insight foi o Juvenal Pereira durante o ACTAMEDIA.
se tiver um tempinho, dá uma olhada no anexo.
abs!

PS: alguém conhece alguém no Brasil que está trabalhando com computação via Physarum polycephalum?
YÃKWA -Actamedia XI.doc

fabi borges

unread,
Mar 22, 2015, 5:50:01 PM3/22/15
to marcbraz, rede...@googlegroups.com

Felipe Fonseca

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Mar 22, 2015, 8:06:24 PM3/22/15
to rede...@googlegroups.com, marcbraz
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