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Porquê todo o escutismo está nas mãos da religião?

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Ricardo Martins

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Sep 16, 1998, 3:00:00 AM9/16/98
to
Será impressão minha ou todos os grupos de escuteiros ou escutas (não sei ao
certo a denominação) está nas mão da igreja?
Estas agrupações católicas mesmo assim aceitam ateus, agnósticos ou
praticantes de outras confissões?

Fica aqui a pergunta e desde já o agradecimento por uma possível resposta.
Obrigado.

Ricardo

Jose' Carlos Monteiro

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Sep 16, 1998, 3:00:00 AM9/16/98
to
Ricardo Martins wrote in message <6tp4qm$sv7$3...@duke.telepac.pt>...

>
>Será impressão minha ou todos os grupos de escuteiros ou escutas (não sei ao
>certo a denominação) está nas mão da igreja?

O escutismo por definição é um movimento espiritual.
A Organização Mundial do Movimento Escutista (WOSM) tem assim inscrito no artigo 2 da sua Constituição:
"O Movimento Escutista baseia-se nos Príncipios seguintes:
(...) adesão a princípios espirituais, a fidelidade à Religião que exprime esses princípios e a aceitação dos deveres que dela decorrem..."

Em Portugal há duas associações escutistas:
- Corpo Nacional de Escutas (CNE)
- Associação dos Escoteiros de Portugal (AEP)

O CNE nasceu ligado à Igreja Católica Romana e assim, por regra, os seus associados são católicos (ou então preparam-se para o ser).
A AEP é mais liberal (ainda bem) e, por regra, deve aceitar nas suas "fileiras" indivíduos que professem qualquer religião (católica também). Assim sendo, os ateus e agnósticos estão à partida excluídos da prática do escutismo. Por definição!

>Estas agrupações católicas mesmo assim aceitam ateus, agnósticos ou
>praticantes de outras confissões?
>

Bem, as regras são aquelas que acabei de enunciar.
Claro que pode haver excepções num agrupamento ou outro.

É a natural haja confusões em relação ao escutismo e à sua relação com a Igreja Católica: 80% dos escuteiros do país pertencem a agrupamentos do CNE.

Saudações escutistas,
Zé Carlos


Ricardo Martins

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Sep 18, 1998, 3:00:00 AM9/18/98
to
Zé Carlos,

Muito obrigado pela resposta ao meu post e pelos esclarecimentos prestados.
Tomei a liberdade de tecer ainda alguns comentários que me pareceram
pertinentes.

>>Será impressão minha ou todos os grupos de escuteiros ou escutas (não sei
ao
>>certo a denominação) está nas mão da igreja?
>
>O escutismo por definição é um movimento espiritual.
>A Organização Mundial do Movimento Escutista (WOSM) tem assim inscrito no
artigo 2 da sua Constituição:
>"O Movimento Escutista baseia-se nos Príncipios seguintes:
>(...) adesão a princípios espirituais, a fidelidade à Religião que exprime
esses princípios e a aceitação dos deveres que dela decorrem..."


Parece-me que este princípio deriva da incompreenção de que um indivíduo sem
fé pode tem uma moral (e muitas vezes até atinge um nível moral elevado)
tendo em consideração que é alguém que questiona e reflecte sobre a
fundamentação dos valores sem acatar tacitamente os ditames religiosos.

>Em Portugal há duas associações escutistas:
>- Corpo Nacional de Escutas (CNE)
>- Associação dos Escoteiros de Portugal (AEP)
>
>O CNE nasceu ligado à Igreja Católica Romana e assim, por regra, os seus
associados são católicos (ou então preparam-se para o ser).
>A AEP é mais liberal (ainda bem) e, por regra, deve aceitar nas suas
"fileiras" indivíduos que professem qualquer religião (católica também).
Assim sendo, os ateus e agnósticos estão à partida excluídos da prática do
escutismo. Por definição!

Não levem a mal a afirmação mas esse Baden Powel era «mais papista que o
Papa»!
Parte-se então do princípio que um escuteiro é um indivíduo que professe uma
fé, quer dizer, um fundamentalista islâmico, um voodoo thaitiano, podem
fazer parte e um agnóstico e um ateu não!
Se a própria igreja católica apregoa a não discriminação e um espírito
fraterno em relação ao próximo não os excluíndo das suas acções, porque
haveira então de os escuteiros discriminá-los.

Se esta regra interna dos escutismo fosse uma lei do estado seria
imediatamente dida como anticostitucional, pois viola os princípios básicos
dos direitos do homem!

Se a própria igreja católica tem se modernizado porque é que o escutismo não
poderia reformular este princípio? Será que é o receio de que alguém que
duvide da existência de deus possa «corromper» ou «desestabilizar» a fé dos
demais? Se assim fosse então seria porque a fé era débil...

Ricardo Martins

unread,
Sep 18, 1998, 3:00:00 AM9/18/98
to
Caro Carlos Robalo,

Muito obrigado pela sua resposta esclarecedora.
E agradeço também o simpático convite que fez para fazer parte do seu grupo
em Torres Vedras, mas acontece que resido na Ilha da Madeira...

De qualquer forma gostaria de tecer ainda alguns comentários.

>>Será impressão minha ou todos os grupos de escuteiros ou escutas (não sei
>ao
>>certo a denominação) está nas mão da igreja?
>

>E' so' impressao sua. Isso nao e' verdade em nenhum lugar do Mundo.


Bem, segundo o que lí na continuação do seu post posso mesmo assim afirmar
que o escutismo (não todo, é certo) está nas mãos da igreja católica. Pois o
colega apontou para uma percentagem entre 75 e 83% de escutas (e guias) em
relação às agrupações interconfessionais.

>>Estas agrupações católicas mesmo assim aceitam ateus, agnósticos ou
>>praticantes de outras confissões?
>

>Se sao catolicos e' natural que nao aceitem outras crencas, nao e'? Eu
>tambem nao concordo, mas eles nao enganam ninguem porque dizem logo o que
>sao.


Bem, para mim não é tão natural assim uma vez que se se dizem católicos
seria suposto serem tolerantes (não discriminatórios). Ou será que ficam com
receio de acolher no seio de sua actividade um elemento de outra orientação
espiritual (ou ateu) por poderem por em causa sua religião?


-------------------------- sua menssagem -------------------
Entao vamos la' esclarecer:
O Escotismo e' um movimento independente que aceita nos seu seio pessoas de
qualquer raca ou crenca. (Ver site da Org. Mundial do Escotismo
www.scout.org )

Em Portugal existem 2 associacoes escotistas oficiais: a Associacao dos
EScoteiros de Portugal www.aep.pt (fundada em 1911, independente e
interconfessional) e o Corpo Nacional de Escutas www.ip.pt/cne (fundado em
1926 no seio da Igreja Catolica). Juntas, formam a Federacao Escotista de
Portugal, representante nacional na Org. Mundial.
Tambem existe a Associacao das Guias de Portugal com as mesmas
carcteristicas da AEP, mas so' para raparigas.
Em todo o mundo existem varias associacoes escotistas que pertencem a
determinadas confissoes religiosas, mas, em Portugal a disparidade e' maior
do que em qualquer outro: aqui existem 4 ou 5 escutas catolicos para cada
Escoteiro da AEP - sao as consequencias de meio seculo de salazarismo...
No entanto, para que o CNE ou qualquer associacao confessional seja
reconhecida pela Org. Mundial precisa de se federar com uma associacao
interconfessional. A org. mundial nao admite representacoes unicamente
confessionais.
Tambem existem em Portugal, embora nao reconhecidos oficialmente, outros
movimentos escotistas como os Escoteiros da Europa (ligados ao "cisma" do
Monsenhor Lefevre) ou a JA-Juventude Adventista (pertencente 'a Igreja com
mesmo nome).

Se eventualmente esta' interessado em participar na maior fraternidade do
Mundo - 25 milhoes de escoteiros em todos os continentes - devo referir que
a AEP-Associacao dos Escoteiros de Portugal tera' o maior gosto em
acolhe-lo. Nomeadamente, o Grupo de Torres Vedras, ao qual pertenco,
encontra-se num processo de angariacao de escoteiros de todas as idades,
dando preferencia aos adultos.

Contamos consigo
Saudacoes

Carlos Robalo
Escoteiro-Chefe indigitado do Grupo em formacao de T. Vedras
cro...@cm-tvedras.pt

Ricardo Martins

unread,
Sep 18, 1998, 3:00:00 AM9/18/98
to
Caro José Manuel Henriques,

Muito obrigado pela resposta ao meu post.
Suas palavras cuidadas revelam, quanto a mim (opinião de leigo), o
verdadeiro espírito que deveria emanar dos escutas.

>Queria só dizer-te que ser escuteiro é aceitar ser humano e portanto ser
>religioso ou seja, não se contentar com o que existe e se toca e se
conhece.
>É de alguma forma ser contestatário e querer tocar o infinito. Baden-Powell
>achava que um escuteiro devia ter uma religião.

Penso que «não se contentar com o que existe e se toca e se conhece» leve
necessáriamente a uma resposta mística ou religiosa, há quem viva sem
necessitar de respostas místicas para questões as quais a ciência não dá uma
resposta cabal.

Não vejo como ser religioso e ter fé pode ser uma forma de contestação, vejo
mais como uma forma arbitrária de submissão logo, atrofiadora do raciocínio
moral e do cepticismo científico.

>O CNE é um movimento aberto da Igreja Católica que gostaria do teu
>contributo como elemento com a coragem de por estas questões à discussão na
>Net.

«O CNE é um movimento aberto da Igreja Católica» mas pelos vistos não tão
aberto quanto isso uma vez que não permite a integração de elementos de
outras confissões, agnósticos ou ateus. Será o receio de um pensamento
«subversivo» (herético?) no seio do grupo?

>Tenta saber mais sobre o Escutismo e sobre o CNE.
>Podes procurar em: http://www.ip.pt/cne/portugues.html

Fá-lo-ei.

Miguel Ângelo Alves

unread,
Sep 18, 1998, 3:00:00 AM9/18/98
to
Caro Ricardo Martins

Obrigado por expôr neste grupo de discussão as suas opiniões com as quais
obviamente (sou dirigente do CNE e portanto católico) não concordo. Mas
também se concordássemos sobre este assunto não valia a pena trazê-lo para
um grupo onde é suposto haver uma discussão.

Apenas queria dar-lhe alguns esclarecimentos mais precisos sobre a minha
associação (o CNE):

Em primeiro lugar, o CNE não está "nas mãos da Igreja"; o CNE é segundo os
seus estatutos um Movimento da Igreja Católica e eu entendo isto como sendo
uma associação que se afirma de evangelização na religião católica
(lembra-me uma discussão que tivemos por aqui há uns tempos sobre este
tema), como muitas que existem pelo mundo fora que assumem esse objectivo
como um rumo a seguir.

Quer isto dizer que o CNE enquanto movimento que visa a formação integral
dos jovens, o pretende fazer segundo os princípios da religião católica. É
por isso mesmo que todos os dirigentes do CNE têm de ser católicos
praticantes (daí o "obviamente" do início deste post); para que possam
transmitir aos jovens pelos quais são responsáveis, não só pelas palavras,
mas sobretudo pelo exemplo, aqueles princípios.

Conforme referiu num dos seus posts, a própria igreja católica apregoa a não


discriminação e um espírito fraterno em relação ao próximo não os excluíndo

das suas acções. Isto implica obviamente que o CNE também pratica a não
discriminação e o espírito fraterno em relação ao próximo e não exclui
ninguém das suas acções. Simplesmente temos que distinguir entre quem
pratica o Escutismo e quem é envolvido nas suas acções. Por exemplo, os
Caminheiros (último escalão etário do CNE - 17 aos 22 anos) têm um lema que
é "Servir" e praticam-no, entre outras acções, através da ajuda/serviço aos
mais necessitados, independentemente da sua religião, condição social, "côr"
política, profissão, ...

Em segundo lugar, a adesão ao CNE é voluntária. Assim, nenhum jovem que
pretenda aderir ao CNE é obrigado a ser católico praticante, deve sim é ter
o objectivo de vir a sê-lo e portanto estar predisposto a ser educado nos
princípios acima referidos. Se não estiver nestas condições, ninguém o
obriga a entrar para o CNE, simplesmente não poderá entrar.

Em terceiro lugar, num estado livre e democrático como o Português, onde é
proclamado o direito à associação, qualquer grupo de cidadãos se poderá
associar para determinado objectivo. O CNE, como movimento da Igreja
católica é exactamente isso: um grupo de cidadãos que se associaram para o
fim de educar integralmente jovens segundo a religião católica.

Para concluir, porque isto já vai longo, queria apenas dizer-lhe que embora
respeitando as suas opiniões, penso que um melhor conhecimento do CNE em
particular e do movimento escutista em geral (penso que já lhe forneceram
alguns links para sites relacionados com o escutismo) o ajudariam a
construir diferentes juízos de valor daqueles que aqui nos apresentou.

Penso ter ajudado à discussão

Uma Canhota Amiga (é assim que os escuteiros costumam exprimir a sua amizade
e respeito por quem escrevem)

Miguel Angelo Alves
(Orca Amiga)

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