Estação Imagem revelam o valor da fotografia em tempos de ataque ao
jornalismo
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http://www.dnoticias.pt/documents/1/0/401x267/0c0/400d225/none/11506/ALHT/image_content_649805_20170408201552.jpg]
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> Há um ano e meio que João Pina, vencedor do Prémio Estação Imagem
> 2017, não tem “base”, pelo que tem andado a fotografar pela América
> do Sul em busca de quem o publique e lhe dê guarida.
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> Venceu hoje, em Viana do Castelo, o galardão principal destes prémios de
> fotojornalismo com um trabalho em que tentou equilibrar o retrato da
> violência em torno dos grandes eventos desportivos no Rio de Janeiro,
> Brasil, com a preocupação de não banalizar imagens de brutalidade.
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> “É uma pergunta que me faço todos os dias e para a qual não tenho uma
> resposta concreta: como é que não se banaliza a violência? Continuo a
> achar que é necessário mostrar às pessoas fotos muito fortes -- e às
> vezes brutais -- contextualizando-as com outras que ajudem a que não fujam
> com o seu olhar para outro lado”, disse à Lusa, momentos depois de
> receber o prémio pela reportagem “Rio de Janeiro -- O Custo Humano dos
> Grandes Eventos Desportivos”.
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> As fotografias do repórter de 36 anos, a preto e branco, como a clivagem
> racial da sociedade carioca, como o contraste entre as festas
> futebolísticas ou olímpicas brasileiras e correspondentes pobrezas ou
> criminalidades circundantes, apelam sobretudo a um olhar para fora “da
> arena que está dirigida para a imprensa”, que contemple “o que está
> à volta disso e a violência urbana”, revelou o jornalista natural de
> Lisboa.
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> “Cada pessoa, cada leitor, tem a sua sensibilidade. Eu tenho a minha e
> tento, na posição de leitor, não me sentir desrespeitado pelo trabalho
> que faço”, acrescentou João Pina, admitindo que “há momentos em que
> é muito difícil escolher as imagens”, sobretudo quando chega a dúvida
> quanto ao “que incluir, não incluir, o que é demasiado forte”.
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> “O que quero eu dizer com isto?”, resumiu, no que para Bénédicte
> Kurzen, da agência internacional de fotografia Noor - e membro do júri
> dos oitavos prémios Estação Imagem - é a pergunta essencial em alturas
> “nada originais” de ataques políticos e populares a todas as formas de
> jornalismo.
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> Para a fotojornalista francesa, o forte sentido deontológico da profissão
> “é a sua coluna vertebral”.
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> “Temos um código que é muito claro: não mudar, não tocar, não
> fabricar, não reconstituir. É muito simples e, ao mesmo tempo, muito
> difícil. A fotografia tem sido historicamente usada para propaganda. É um
> meio que parece sempre verdadeiro, mas que tem sido usado para fins
> políticos desde que existe”, recordou, advogando que a novidade,
> atualmente, passa pelo seu “aproveitamento constante por parte de um
> político para desacreditar meios de comunicação”.
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> “Estamos em guerra”, asseverou, concluindo que parte da solução,
> também “nada original”, será “desempenhar a profissão o mais
> profissionalmente possível, para que não haja margens para ataques”.
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> Também membro do júri do Estação Imagem -- para além de multipremiado
> fotógrafo de conflitos para o New York Times - Tyler Hicks considerou à
> Lusa que “o fotojornalismo é mais importante hoje do que nunca, devido a
> todas a notícias que surgem atualmente a partir de fontes
> desconhecidas”.
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> Para o veterano da profissão, “numa altura em que todos têm o direito e
> capacidade de fotografar e gravar tudo o que os rodeia, os repórteres
> estabelecidos, que encaram a profissão como um modo de vida sério, com
> integridade” e de cuja responsabilidade em ser fiel à verdade depende o
> seu modo de vida, ganham uma nova importância.
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> “É uma importância que deve elevar a profissão a um lugar em que
> continue a possuir uma legitimidade dentro da indústria, para que as
> pessoas saibam de onde vêm as notícias autênticas, honestas e
> verdadeiras”, refletiu o fotojornalista, que louvou ainda o “caráter
> regional da fotografia portuguesa, que lhe confere uma perspetiva mais
> pessoal”.
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> No discurso de aceitação do prémio Estação Imagem 2017, João Pina
> relembrou que “na última década, foram assassinadas 45 mil pessoas no
> Rio de Janeiro”. Reiterando a sua função de contar histórias, admitiu,
> perante o público do Teatro Municipal Sá de Miranda, estar ainda a
> descobrir como desempenhar a própria profissão.
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> “Não sei. Sou engolido neste furacão e continuo a fotografar isto
> assim... a tentar encontrar respostas às minhas perguntas”, desabafou o
> ‘freelancer’, pouco antes de revelar a sua ausência de “base”.
http://www.dnoticias.pt/5-sentidos/estacao-imagem-revelam-o-valor-da-fotografia-em-tempos-de-ataque-ao-jornalismo-YB1201573
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Eduardo
Sorocaba-Brasil
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