O Trauma Psicológico: Tratamentos e Superação

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Eliana Guimarães (Psicóloga)

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Feb 24, 2009, 11:57:51 AM2/24/09
to Midiateca: Eliana Guimarães (Psicóloga)
O Trauma Psicológico: Tratamentos e Superação

*Julio Peres


A maioria de nós passou ou certamente passará por situações dolorosas
de expressivo impacto psicológico, como perdas, enfermidades e
acidentes.
As pessoas, em geral, recuperam-se de uma experiência negativa sem
vivenciar psicopatologias significativas. Cerca de 10% da população
apresenta o TEPT e 30% o TEPT parcial - no qual apenas alguns sintomas
são manifestados. O processamento de nossas experiências pessoais é
bastante peculiar e, por essa razão, eventos simples ou importantes
são percebidos, codificados e processados de maneira singular. As
pessoas que lidam melhor com a tragédia atribuem significados
positivos a ela, como crescimento e superação pessoal. Os indivíduos
traumatizados também podem desenvolver esse aprendizado e a
psicoterapia, que usa as palavras como veículo do processamento
terapêutico, tem se mostrado uma boa ferramenta nesse sentido.

Traumas de infância

Os bebês e crianças são mais vulneráveis aos traumas psicológicos, às
vezes não lembrados na vida adulta. As emoções e sensações
desagradáveis podem ficar fragmentadas e sem um componente narrativo,
caracterizando uma resposta dissociativa com desdobramentos ao longo
da vida. Muitos adultos que sofreram traumas na infância chegam à
psicoterapia com embotamento emocional [dificuldade em expressar
sentimentos] e dificuldade de estabelecer vínculos.
Estudos controlados por pesquisadores em todo mundo mostram que não
existe uma "resposta universal" ao trauma. O terremoto de 1985 na
Cidade do México, o ataque terrorista às Torres Gêmeas, em 2001, e o
tsunami na Ásia, em 2005, são exemplos de eventos que mostraram
respostas independentes e particulares. Nem todas as pessoas que
passam por experiências traumáticas se tornam psicologicamente
traumatizadas. Algumas pessoas sucumbem à vitimização, ao isolamento;
outras procuram ajuda com amigos ou na literatura; há as que
desenvolvem transtornos de ansiedade, como pânico e o TEPT, ou
depressão; e, ainda, as que são resilientes.

Falar sobre traumas ajuda a superá-los

Geralmente, pessoas que passaram por algum tipo de trauma tendem a
fugir das lembranças do acontecimento. É compreensível que as pessoas
evitem falar sobre suas memórias traumáticas, tendo como objetivo
esquecer o horror experimentado. Paradoxalmente, ficar em silêncio não
impede que as lembranças e as emoções dolorosas se manifestem com toda
a sua potência e, mais grave ainda, não permite o processamento do
trauma, a reestruturação do fato pelo indivíduo e a sua superação.
Elie Wiesel, sobrevivente do Holocausto, escritor e Prêmio Nobel da
Paz em 1986, nos traz um belo exemplo, espelhando os resultados
recentes das neurociências sobre traumas psicológicos. Wiesel escreveu
e reescreveu suas experiências e certamente pôde significar e re-
significar seus traumas através de sua obra, que enfatiza: "(...) nós
devemos falar. Ainda que não consigamos expressar nossos sentimentos e
memórias da maneira mais adequada, devemos tentar. Precisamos contar
nossa história tão bem quanto pudermos".

Cada vez que contamos e recontamos uma história, estamos inserindo
novos elementos cognitivos e modificando-a. A psicoterapia direciona
essa "conversa orientada" no sentido da superação. Deve-se recorrer a
ela quando o sofrimento for expressivo a ponto de limitar a vida em
termos gerais, ou quando sintomas como memórias recorrentes do trauma,
distanciamento afetivo, pensamentos indesejáveis, insônia e irritação
perdurarem.

O tempo de recuperação é variável. Os sintomas de tristeza aguda pela
perda de entes queridos, por exemplo, são de fato similares àqueles
que observamos em pessoas com transtorno depressivo maior. Portanto,
os profissionais da saúde devem ter cautela para evitar diagnósticos
falso-positivos. O tempo em que os sintomas - como tristeza,
isolamento e falta de apetite - persistem e a intensidade dos mesmos
está entre os fatores mais importantes para um diagnóstico correto.





DICAS PARA SUPERAR TRAUMAS
Dicas que ajudam a superar o trauma
- Evite a autovitimização. O que você diz para si e para os outros
sobre o que ocorreu pode tanto aliviar como exacerbar o sofrimento. A
fixação em diálogos internos do tipo "Isso é injusto" ou "Não poderia
ter acontecido comigo" dificulta a recuperação e favorece a
continuidade da dor.

- Os sinais psicopatológicos do trauma modificam-se ao longo do tempo,
assim como a expressão de sua memória. É possível fortalecer a
confiança de que a dor será superada, seja encontrando exemplos que
sirvam de apoio, seja procurando ajuda especializada.

-Tenha confiança no bem. Quem acredita que o futuro trará conforto
vive melhor o presente. Quando se descobre a importância de seguir
adiante, o trauma perde a força.

- Busque conforto na religiosidade, respeitando suas crenças. Estudos
mostram que quem possui uma boa base religiosa consegue minimizar a
dor.

- Crie alianças positivas com a dificuldade buscando o aprendizado que
a experiência dolorosa pode trazer. Sínteses positivas predispõem e
favorecem a superação psicológica.

- Crie novos objetivos de vida. Engajar-se em um novo projeto e tornar
a própria experiência um veículo de propagação do bem pode facilitar a
superação do trauma.

-Não responda ao trauma criando outro. Não se deve responder a uma
situação de violência gerando mais violência. Exemplo: quem deseja
matar o assassino do filho pode ficar mais traumatizado com seu
próprio ato, que não aplaca a dor psicológica, mas a enfatiza.

- Fale da dor, mas de forma adequada e com as pessoas certas. É
preciso encontrar sentido para a superação do trauma. Buscar uma
narrativa que sintetize os aprendizados de vida pode diminuir as
expressões emocionais e sensoriais do trauma.

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