Eliana Guimarães (Psicóloga)
unread,Nov 7, 2008, 7:22:20 AM11/7/08Sign in to reply to author
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to Midiateca: Eliana Guimarães (Psicóloga)
VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR E DINÂMICA FAMILIAR
NEVES, A. S.; ROMANELLI, G. A violência doméstica e os desafios da
compreensão interdisciplinar. Estudos de Psicologia, Campinas, v. 23,
n. 3, p. 299-306, 2006.
Os autores citam as histórias de Graciliano Ramos (2000)[1], escritas
no livro de memórias Infância para teorizar a família e seu modo de
organização. Neves e Romanelli (2006, p.300) postulam que
a família é o cenário das versões controversas sobre amor e agressão,
confiança e abuso, respeito e invasão, legitimadas com histórias de
vida protagonizadas por personagens oriundos das camadas populares da
sociedade ao longo das gerações.
Apoiados na leitura psicodinâmica e nos conceitos da Antropologia
propõem a compreensão da amplitude dos conceitos família e violência,
a partir da análise das organizações familiares. Eles argumentam que a
análise do ciclo de vida familiar permite acompanhar o movimento de
seus membros e suas posições sociais ocupadas neste processo.
Biasoli-Alves e Simionato-Tozo (1998)[2] apud Neves e Romanelli
(2006), ressaltam que a família apresenta alterações ao longo dos
diferentes momentos históricos e nas diversas culturas, e assim sendo,
afirmam que a ela processa elementos que são modificados e devolvidos
à sociedade, e que também os modifica. Para eles, a família é o reduto
do nascimento do relacionamento humano, “onde se encenam romances
trágicos, dramáticos, aventureiros, felizes e contraditórios”.
Os autores afirmam que pensar a violência implica em considerar o
desenvolvimento histórico que determinam suas formas assumidas na
organização das sociedades. Raggio (1992)[3] apud Neves e Romanelli
(2006), argumenta que o capitalismo reproduz a violência, reproduzindo
sujeitos ideologicamente violentos que produzem e consomem a
violência. Para os autores, a violência doméstica relaciona-se com a
violência geral presente na sociedade. May (1972)[4] apud Neves e
Romanelli (2006) postula que as atividades humanas são mescladas por
dois tipos básicos de agressão: a destrutiva e a construtiva. Ele
define violência como:
...uma organização dos poderes da pessoa a fim de provar o seu próprio
poder, a fim de estabelecer o valor do eu...mas ao unir os diferentes
elementos do eu, omite a racionalidade (MAY, 1972, p. 153).
Para os autores, a violência seria uma via para a descarga tensional
na busca de senso de significação do sujeito. Também argumentam que a
maneira como o sujeito interpreta o mundo pode ser decisiva na
disposição para rivalizar com o outro, e ainda, sugerem que a
incapacidade de comunicação entre as pessoas revela a deterioração de
seus vínculos.
Para Guerra (1998)[5] apud Neves e Romanelli (2006) a violência
doméstica consiste na violência interpessoal, com abuso do poder
disciplinador, resultando num processo de vitimização e imposição de
maus tratos, que define a síndrome do pequeno poder, ou seja, o mais
forte que exerce seu pequeno poder sobre um mais fraco. Ela apresenta
quatro tipos de violência doméstica: violência sexual, que consiste em
estimular sexualmente a criança ou adolescente para obtenção de
estimulação sexual para si ou para outrem; violência psicológica, que
consiste em ameaças e depreciações à criança ou adolescente,
resultando em sofrimento mental; negligência, que consiste na omissão
dos responsáveis pela criança ou adolescente em prover suas
satisfações físicas e emocionais, e violência física, que consiste em
abuso-vitimização física.
Bringiotti (2000)[6] apud Neves e Romanelli (2006) define maus tratos
infantis como:
Qualquer dano físico ou psicológico não acidental contra uma criança
menor de dezesseis ou dezoito anos – segundo o regime de cada país –
praticado por seus pais ou cuidadores e que ocorre como resultado de
ações físicas, sexuais ou emocionais de omissão ou comissão e que
ameaçam o desenvolvimento normal tanto físico quanto psicológico da
criança (Bringiotti, 2000 apud Fuster e Ochoa, 1993, p.35, tradução
nossa).
Os autores argumentam que a violência doméstica aparece em todas as
classes sociais e em diferentes momentos históricos, porém as camadas
altas da sociedade compram o anonimato através dos atendimentos
particulares. Quanto à interdisciplinaridade, os autores afirmam que
ela possibilita a comunicação entre os cientistas, estabelecendo uma
linguagem comum entre diferentes campos, ou seja, proporciona a
compreensão do que o outro faz e a descoberta de novas estratégias
científicas entre os campos do saber.
E por fim, Neves e Romanelli (2006) sugerem que é preciso pesquisar a
família questionando fórmulas prontas de análise e descobrindo
sutilezas dos discursos dos personagens que a compõem, além disso,
abordá-la implica repensá-la em sua ordenação do passado, presente e
futuro, sob uma perspectiva estrutural, dialeticamente efetivada na
relativização de parâmetros ditos universais.
Notas de Rodapé__________________________________
[1] RAMOS, G. Infância. São Paulo: Record, 2000.
[2] BIASOLI-ALVES, Z.M.M, & SIMIONATO-TOZO, S.M.P. O cotidiano e as
relações familiares em duas gerações. Cadernos de Psicologia e
Educação Paidéia, v. 8, p. 137-149, 1998.
[3] RAGIO, V. Concepção materialista da história, psicanálise e
violência. In R. Amoretti (Org)., Psicanálise e Violência:
metapsicologia-clínica-cultura. Petrópolis: Vozes, 1992.
[4] MAY, R. Poder e inocência: uma análise das fontes de violência.
Rio de Janeiro: Zahar, 1972.
[5] GUERRA. V.A.N. Violência de pais contra filhos: a tragédia
revisitada. São Paulo, Cortez, 1998.
[6] BRINGIOTTI, M. I. La escuela ante los niños maltratados. Buenos
Aires: Paidós, 2000. p. 15-76.
Fichamento elaborado por Mirian Lopes.