A psicologia transpessoal tem entre seus objetos de trabalho e pesquisa os estados não ordinários de consciência que abrangem vários técnicas como a hipnose, a meditação, o relaxamento, e (no campo da pesquisa) experiência com alucinógenos (Grof, Huxley) e estados místicos das tradições religiosas mundiais. Ken Wilber, um dos seus principais teóricos, em O Espectro da Consciência propõe uma cartografia do ser que abrange do físico ao psíquico e deste ao espírito. Por isso a transpessoal tem atraído cientistas, especialmente da física, como Goswami e Rocha Filho, que fazem a conexão entre o conhecimento científico padrão e as observações e proposições transpessoais. Assim, a psicologia transpessoal abrange o ego, como as demais escolas de psicologia, e os estados além do ego (transpessoal), inclusive nas suas manifestações aparentemente materiais. No Brasil a psicoterapia transpessoal encontrou ressonância com a tradição espírita, e os fenômenos mediúnicos passaram a ser estudados no contexto dos estados alterados de consciência.
Considerando que alguns dos teóricos desta abordagem não provêm da medicina ou da psicologia, mas sim das ciências exatas ou naturais, e que alguns fenômenos estudados por esta abordagem tem excedido os limites da psicologia acadêmica oficial, pesquisadores e terapeutas contemporâneos vêm denominando-a simplesmente de Transpessoal. Essa alteração de nomenclatura representa uma ruptura da ligação exclusiva com a psicologia, permitindo que estudiosos de outras áreas do conhecimento, interessados nos estudos transpessoais, possam participar de estudos e pesquisas em situação de igualdade com os médicos e psicólogos.
Como vem acontecendo com relação à psicologia
analítica, também a transpessoal tem construído
um diálogo produtivo com a física moderna e contemporânea, especialmente
na busca da compreensão dos fenômenos que violam princípios energéticos
e temporais, e que são estudados na linha de pesquisa Física
e Psicologia. Com isso a psicologia transpessoal
amplia gradualmente seu campo de ação, e hoje pode-se encontrar educadores,
biólogos, filósofos, odontólogos e outros profissionais envolvidos em estudos
e pesquisas desta abordagem.
Psicologia Transpessoal
Não apenas é o homem parte da natureza - e esta é parte
sua - como deve ser minimamente isomórfico (semelhante a) com ela para
nela ser viável. Ela o gerou. Sua comunhão com aquilo que o transcende
não precisa ser definida, portanto, como não-natural ou sobrenatural. Pode
ser vista como uma experiência 'biológica'.
- Abraham Maslow
O Que é e Como Surgiu a Psicologia Transpessoal
Foi em meados da década de sessenta, durante o rápido desenvolvimento e
aceitação dos pressupostos básicos da psicologia humanista, com Maslow
e Rogers, que alguns psicólogos e psiquiatras começaram a discutir quais
os limites e características a que seria possível chegar o potencial da
consciência humana. Muitos pesquisadores achavam que a visão da psique
dada pela Psicanálise e pelo Behaviorismo eram, no mínimo, bastante simplificadas
e reducionistas, não explicando uma grande gama de fenômenos mentais que
escapavam - e muito - do campo de alcance de tais teorias. E a Psiquiatria
dava ainda menos clareza sobre uma ampla gama de estados de consciência
claramente chocantes e, ao mesmo tempo, fascinantes, que não podiam se
restringir unicamente à história orgânico-biográfica de alguns pacientes.
A grande maioria dos teóricos da personalidade toma por fundamento básico
a consciência em estado de vigília, ou consciência normal, como sendo a
única possibilidade saudável de nível de percepção cognitiva. As características
básicas desta consciência normal, segundo Fadiman & Frager, é que a
pessoa sabe "quem é", tem perfeita noção de si mesma como uma
individualidade, e seu sentido de identidade é estável. Ou seja, a pessoa
tem uma idéia clara de ser uma individualidade diferenciada do meio que
a cerca. Estudos vários sobre a imagem corporal e do sentido do ego concluem
que qualquer desvio desses limites é um grave sintoma psicopatológico.
Só que tal conclusão começou a ser seriamente questionada com vários relatos
e pesquisas sérias realizadas em várias partes do mundo.
Às vezes, experiências correlacionadas com um declínio de uma psicopatologia
e com a restauração da saúde psíquica podem muito bem expor experiências
subjetivas que ultrapassam e muito os chamados limites normais do ego.
William James já o havia notado em fins do século passado. O resultado
de muitas destas pesquisas, muitas delas envolvendo psiquiatras e psicólogos
famosos, levantou uma séria questão: seria possível que algumas das distinções
que mantemos entre nós mesmos e o resto do mundo sejam arbitrárias e/ou
culturalmente condicionadas? Talvez a consciência humana seja um vasto
campo ou espectro, semelhante ao espectro eletromagnético, onde cada "freqüência"
expressaria um modo de percepção, muito mais que um conjunto firme de traços
ou características rigidamente definidas de expressão, já que em certas
experiências - algumas delas envolvendo psicodélicos ou drogas psicoativas
- a consciência do sujeito parece abranger elementos que não têm nenhuma
continuidade com sua identidade do ego usual e que não podem ser considerados
simples derivativos de suas experiências no mundo convencional.
Vejamos esta descrição, feita por Stanislav Grof, de experiências correlacionadas
com o declínio de uma patologia de Fadiman & Frager, 1986, página 168):
"No estado de consciência 'normal' ou usual, o indivíduo se experimenta existindo dentro dos limites de seu corpo físico (a imagem corporal), e sua percepção do meio ambiente é restringida pela extensão, fisicamente determinada, de seus órgãos de percepção externa; tanto a percepção interna quanto à percepção do meio ambiente estão confinadas dentro dos limites do espaço e do tempo (numa aceitação cultural das premissas do paradigma cartesiano, próprio da visão de mundo ocidental nos últimos 300 anos). Em experiências psicodélicas (área explorada por Grof em fins dos anos 50, na Tchecoslováquia, e nos anos 60 nos EUA) de cunho transpessoais, uma ou várias destas limitações parecem ser transcendidas (este fenômeno também se encontra, de modo esporádico, nas várias terapias psicológicas, tendo recebido nomes como "Experiências Oceânicas" em Freud, "Experiências Culminantes" em Maslow, "Consciência Cósmica", em Weil, "Experiência Mística", etc). Em alguns casos, o sujeito experiência um afrouxamento de seus limites usuais de ego e sua consciência e autopercepção parecem expandir-se para incluir e abranger outros indivíduos e elementos do mundo externo. Em outros casos, ele continua experienciando sua própria identidade, mas numa percepção de tempo diferente, num lugar diferente ou em um diferente contexto. Ainda em outros casos, o indivíduo pode experienciar uma completa perda de sua própria identidade egóica e uma total identificação com a consciência de uma 'outra' entidade. Finalmente (em similaridade com o que experiência o místico), numa categoria bastante ampla destas experiências psicodélicas transpessoais (experiências arquetípicas, união com Deus, etc.), a consciência do sujeito parece abranger elementos que não têm nenhuma continuidade com a sua identidade de ego usual e que não podem ser considerados simples derivativos de suas experiências do mundo tridimensional". |
São, pois, estas experiências culminantes que são o foco central da Psicologia
Transpessoal.
Muitos renomados psicólogos humanísticos e alguns psiquiatras insatisfeitos
com a abordagem excessivamente mecanicista e biomédica de sua disciplina
mostraram crescente interesse por áreas de estudo antes negligenciadas,
e por tópicos de psicologia próximas a estes estados-alterados de consciência,
como, por exemplo, as experiências místicas, ou de consciência de transe.
As tendências isoladas começaram a se unir graças aos trabalhos de Abraham
Maslow e Anthony Sutich, o que acabou por consolidar a chamada Quarta Força
em Psicologia (esta classificação é feita com base em características próprias
de cada escola, não pelo contexto histórico. Assim, a Primeira seria o
Behaviorismo, a Segunda a Psicanálise e a Terceira o Humanismo). Foi assim
que nasceu a Psicologia Transpessoal, como disciplina autônoma, no final
dos anos sessenta, mas as tendências desse movimento já existiam há muito
tempo. Por exemplo, Carl Gustav Jung, Roberto Assagioli e o próprio Maslow
já haviam lançado as bases para o movimento transpessoal (Grof, 1988).
Outros psicólogos, como Carl Rogers, acabaram, na evolução de seu trabalho
e de sua prática clínica, por se encontrarem com dimensões transcendentes
trazidos à tona por clientes e grupos terapêuticos.
Carl Gustav Jung pode ser considerado o mentor máximo e o primeiro psicólogo
transpessoal. As diferenças entre a Psicanálise Freudiana e as teorias
de Jung são muito bem representativas das diferenças entre uma psicoterapia
mecanicista e biomédica e uma mais humana e holística. Ainda que Freud
e muitos dos seus discípulos tenham ido muito a fundo nas suas revisões
da psicologia ocidental, atingindo os limites do paradigma cartesiano em
Psicologia, apenas Jung questionou radicalmente seus fundamentos filosóficos:
a visão de mundo de Descartes e Newton. Jung salientou, de modo convincente,
aspectos não racionais e não lineares da psique, que inclui o misterioso,
o criativo e o espiritual como meios válidos, ou formas holísticas-intuitivas
de conhecimento.
Jung via a psique como uma interação complementar entre elementos conscientes
e inconscientes, com uma constante troca de informação e fluidez entre
ambos. O inconsciente não seria um mero depósito psicobiológico de tendências
instintivas reprimidas. Ele seria um princípio ativo inteligente, que,
em seu estrato mais profundo, ligaria o indivíduo a toda a humanidade,
à natureza e ao cosmos. Ele não seria governado apenas pelo determinismo
histórico, como postulado por Freud, mas também por uma ânsia evolutiva
com uma função projetiva e teleológica.
Estudando a dinâmica do inconsciente, Jung descobriu as unidades funcionais
que chamou de complexos e, como tais, foram adotadas por Freud. Os complexos
são constelações de elementos psíquicos - idéias, opiniões, atitudes e
convicções - associados com sensações diversas e que se juntam ao redor
de um tema nuclear. Partindo de áreas biograficamente determinadas do inconsciente,
Jung chegou aos padrões de criação dos mitos, lendas e símbolos universais,
aos quais ele deu o nome de arquétipos e que expressam, de forma simbólica,
conteúdos psíquicos de significação emocional universal, como o processo
de maturação psíquica e outros.
Jung não acreditava que o ser humano fosse uma mera máquina biológica.
O conceito de máquina é extremamente antropomórfico para ser um conceito
natural. Além disso, ele reconhecia que o processo de maturação psíquica
pode, em certos casos, transcender e muito os estreitos limites do ego
e do inconsciente individual. Por isso ele é considerado o primeiro representante
da orientação transpessoal em psicologia.
Pela sutil e cuidadosa análise de seus próprios sonhos, tal como antes
fizera Freud, bem como dos sonhos de seus pacientes e dos delírios de pacientes
psicóticos, Jung descobriu que os sonhos têm, algumas vezes, imagens e
motivos que se repetem e que podem ser encontrados não só nas diversas
partes do mundo, como também em deferentes períodos da história. Assim,
ele chegou à conclusão de que, além do inconsciente individual, há um inconsciente
coletivo ou racial, comum a toda a humanidade, manifestação da criatividade
universal. As únicas fontes de informação sobre os aspectos coletivos do
inconsciente seriam o estudo das religiões comparadas e da mitologia universal.
Para Freud, os mitos podem ser interpretados em termos de problemas e conflitos
característicos da infância e sua universalidade reflete o conjunto da
experiência humana compartilhada culturalmente. Jung rejeitou tal explicação
reducionista. Ele havia observado que os enredos mitológicos universais
ocorriam em indivíduos que não tinham, de maneira alguma, qualquer conhecimento
deles. Isso lhe sugeriu que haveria elementos estruturais formadores de
mitos na psique inconsciente. Tais elementos originariam tanto a fantasia
viva e os sonhos pessoais quanto à mitologia dos povos. Assim, os sonhos
podem ser encarados como mitos individuais e os mitos, como sonhos coletivos.
De qualquer modo, estas matrizes primárias são como a expressão instintual
do potencial psíquico que cada indivíduo terá de, em seu crescimento, desenvolver.
Freud sempre demonstrou durante toda a sua vida um apaixonante interesse
por religião e espiritualidade, mas como expressão de recalques do desenvolvimento
psicossexual do homem expresso na forma da cultura religiosa. Ele acreditava
que era possível uma compreensão do processo irracional conflitivo, que
viria das fases do desenvolvimento psicossexual, responsável pelo surgimento
da religião. Jung, ao contrário, dispunha-se a aceitar o irracional e o
paradoxal como válidos em si mesmos. Ele estava convicto da realidade da
dimensão espiritual no esquema universal das coisas. Sua suposição básica
era que o elemento espiritual é uma parte orgânica integral da psique.
A verdadeira espiritualidade, ou a sua busca, é um aspecto pulsional do
inconsciente coletivo, independente do condicionamento da infância e da
vida do indivíduo, do ponto de vista cultural e educacional. Assim, se
a análise e a auto-exploração alcançam suficiente profundidade, os elementos
espirituais emergem espontaneamante na consciência. A maior contribuição
de Jung para a psicoterapia é seu reconhecimento das dimensões espirituais
da psique e suas descobertas nos campos transpessoais.
O que faz de Jung um gênio na psicologia moderna é sua ampla visão, que
vai bem além de sua época, e o seu método científico. O enfoque de Freud
era estritamente histórico e determinístico, bem ao gosto do paradigma
cartesiano-newtonino; ele se interessava em encontrar explicações lineares-racionais
para todos os fenômenos psíquicos, seguindo uma gênese histórico-biográfica.
Jung estava convencido de que a causalidade linear não era o único princípio
mandatário na natureza. Ele criou um termo, sincronicidade, para designar
um princípio de ligação entre eventos de forma NÃO-causal, o que explicaria
as chamadas coincidências significativas de eventos separados no tempo
e/ou no espaço. Também se interessava intensamente pelo desenvolvimento
da Física Moderna e mantinha estreito contato com seus representantes mais
proeminentes. Foi Einstein que, durante um encontro pessoal, encorajou
Jung a perseguir o conceito de sincronicidade, e Wolfgang Pauli, um dos
fundadores da teoria quântica, publicou um ensaio conjunto com Jung sobre
sincronicidade, bem como escreveu um estudo sobre os arquétipos na obra
do físico Johannes Kepler. Não deixa de ser tremendamente irônico o fato
de que, embora Freud se orgulhasse de a Psicanálise ser atrelada ao mecanicismo
newtoniano e de que os psicanalistas serem "mecanicistas incorrigíveis",
ter sido a psicologia "esotérica" de Jung a que tenha exercido
maior impacto entre os gênios da ciência moderna.
Mas o que tem a ver Física e Psicologia? Bem, os Físicos modernos têm muito
a dizer sobre a importância da consciência na definição do que seja realidade.
Eles, juntamente com os místicos genuínos, parecem estar cada vez mais
próximos uns dos outros em suas tentativas para descrever o que seja o
universo (ver os excelentes livros de Fritjof Capra e de Lawrence Leshan).
Os resultados das experiências transpessoais sugerem que a natureza da
gênese da consciência podem ser mais realisticamente descritas por místicos
e físicos modernos do que pela mais estável e aceita linha psicológica
acadêmica.
Muitos autores (Abraham Maslow, Pierre Weil, Stanislav Grof, Ken Wilber,
Walsh, Vaughan entre outros) oferecem a evidência de que os assim chamados
"estados alterados" são não só naturais, como também são necessários
para o bem-estar e a saúde do indivíduo, após atingir um certo grau de
desenvolvimento cognitivo e ter atendido as necessidades básicas mais urgentes.
Maslow acredita que, a menos que tenhamos oportunidade de mudarmos nosso
estado de consciência, podem se desenvolver sintomas emocionais graves
se impedirmos o afloramento dos níveis transcendentes da personalidade.
Da mesma forma como existe uma pulsão para a experiência sexual, também
parece haver uma pulsão para o desenvolvimento de níveis de percepção.
Roberto Assagioli
Outro autor de importância para o desenvolvimento da Psicologia Transpessoal
é Roberto Assagioli. Ele é o criador da psicossíntese, que é um tipo de
resposta ao método fragmentar da psicanálise, onde está claro a responsabilidade
do indivíduo no processo do próprio crescimento, que é um impulso constante
em todos as pessoas, apesar de relativamente tênue, embora poucas se dêem
à chance de se desenvolverem plenamente.
A cartografia de Assagioli sobre a personalidade humana tem muito em comum
com o modelo junguiano da psique, uma vez que inclui os campos espirituais
e os elementos coletivos da psique. Ele se constitui de sete constituintes
dinâmicos: o inconsciente inferior orienta as atividades psicológicas básicas,
como as pulsões sexuais e os complexos emocionais. O inconsciente médio
seria algo como o subconsciente. O campo superconsciente é o local dos
sentimentos e aptidões superiores, onde se localizam a intuição e a inspiração.
O campo da consciência inclui os pensamentos e sentimentos analisáveis.
O ponto central da psique é o self. Todos esses componentes são anexados
ao inconsciente coletivo.
O processo terapêutico fundamental da psicossíntese envolve quatro estágios
consecutivos. Primeiro, o cliente toma conhecimento dos vários elementos
(didaticamente falando) de sua personalidade, o que inclui seu ego ideal
e o seu ego real, com todos os defeitos que a pessoa gostaria de suprimir.
Depois que estiver bem familiarizado com eles, ele terá que começar a se
desidentificar com esses elementos (conhecer-se a si mesmo e perceber que
suas várias características são apenas características, não o fundamento
do ser, ou self). Depois que a pessoa descobre seu centro psicológico unificador,
é possível a realização total da psicossíntese, caracterizada pela culminância
do processo de auto-realização pela integração dos componentes da personalidade
à volta do novo centro, o self.
Abraham Maslow
Foi Abraham Maslow quem primeiro formulou, explicitamente, os princípios
da psicologia transpessoal como uma abordagem diferenciada. Uma de suas
mais importantes contribuições é seu estudo sobre pessoas que vivenciaram,
espontaneamente, as chamadas experiências místicas de "pico".
Na psicoterapia tradicional, experiências místicas de qualquer tipo são
sempre taxadas como sérias psicopatologias. Em seu muito bem-feito estudo,
Maslow demonstrou que as pessoas que tiveram experiências espontâneas de
"pico" beneficiavam-se delas e mostravam uma claríssima tendência
para a auto-realização, que é o objetivo da psicoterapia humanística. Ele
julgou estas experiências como supernormais em vez de subnormais. A partir
desse fato, ele erigiu os fundamentos da nova psicologia.
Um outro aspecto importante do trabalho de Maslow é a análise das necessidades
humanas e sua revisão geral da teoria dos instintos. Ele descobriu que
as maiores necessidades representam um aspecto importante e autêntico das
estrutura da personalidade humana e não pode ser reduzido a uma mera derivação
de instintos básicos (a idéia de instinto sugere uma busca da ligação do
comportamento humano dentro das diretrizes da ciência mecanicista convencional).
Segundo ele, as maiores necessidades têm um papel importante na doença
e na saúde mental. Valores superiores (metavalores) e os impulsos para
alcançá-los (meta motivações) são intrínsecos à natureza humana, possuindo
uma fundamentação tão biológica quanto à pulsão sexual, por exemplo.
Eis as palavras de Maslow anunciando o desenvolvimento da Psicologia Transpessoal
(Maslow, 1968, página 12):
"Devo também dizer que considero a Psicologia Humanística,
ou Terceira Força em Psicologia, apenas transitória, uma preparação para
uma Quarta Força ainda "mais elevada", transpessoal, transumana,
centrada mais na ecologia universal do que nas necessidades interesses
restritos ao ego, indo além da identidade, da individuação e congêneres...
Necessitamos de algo "maior do que somos", que seja respeitado
por nós mesmos e a que nos entreguemos num novo sentido, naturalista, empírico,
não-eclesiástico, talvez como Thoreau e Whitman, William James e John Dewey
fizeram".
Carl Rogers
Apesar de não ser incluído, pela maioria dos autores, como um psicólogo
transpessoal, mas como um dos mais significativos psicólogos humanistas,
não escapou a Carl Rogers as chamadas dimensões transcendentes ou espirituais
que freqüentemente emergiam no contexto terapêutico, especialmente em termos
de Terapia de Grupo, na qual Rogers foi grande pioneiro. E foi exatamente
a partir do revolucionário trabalho com Grandes Grupos e em Workshorps,
na última fase de sua formulação teórica, que a temática transpessoal começa
a se delinear nos escritos do criador da Abordagem Centrada na Pessoa,
e nos escritos de seus principais colaboradores. John K. Wood, por exemplo,
escreveu o seguinte comentário (Rogers, 1983b) sobre as ocorrências transpessoais
que costumam ocorrer em Grandes Grupos:
Freqüentemente as pessoas compartilham e falam de sonhos sem interpretação
ou comentário. Sonhos comuns muitas vezes ocorrem. Algumas pessoas reportam
"experiências místicas" (...). As mesmas idéias e mitos [imagens
arquetípicas] freqüentemente emergem de várias pessoas ao mesmo tempo.
(Rogers, 1983b, p. 34)
O próprio Rogers se refere muitas vezes em suas últimas obras às percepções
transpessoais e fenômenos congêneres de estados sutis de consciência, e
estabelece que estes são eventos observáveis e inerentes ao trabalho bem
sucedido com Grandes Grupos e Workshops:
O outro aspecto importante do processo de formação de [Grandes Grupos]
com que tenho tido contato é a sua transcendência e espiritualidade. Há
alguns anos eu jamais empregaria estas palavras. Mas a estrema sabedoria
do grupo, a presença de uma comunicação profunda quase telepática, a sensação
de que existe "algo mais", parecem exigir tais termos (Rogers,
1983a, p. 62).
Tenho a certeza de que este tipo de fenômeno transcendente às vezes é vivido
em alguns grupos com que tenho trabalhado, provocando mudanças na vida
de alguns participantes. Um deles colocou de forma eloqüente: "Acho
que vivi uma experiência espiritual profunda, senti que havia uma comunhão
espiritual no grupo. Respiramos juntos, sentimos juntos, e até falamos
uns pelos outros. Senti o poder de força vital que anima cada um de nós,
não importa o que isso seja. Senti sua presença sem as barreiras usuais
do 'eu' e do 'você' - foi como uma experiência de meditação, quando me
sinto como um centro de consciência, como parte de uma consciência mais
ampla, universal. (Rogers, 1983a, pp. 47-48)
De certa forma, Rogers parecia estar indicando que a ACP por ele elaborada,
junto com seus colaboradores, estaria se desenvolvendo a ponto de incluir
as dimensões transpessoais em seu arcabouço teórico, mas a sua morte o
impediu de levar adiante seus insights:
Tenho a certeza de que nossas experiências terapêuticas e grupais lidam
com o transcendente, o indescritível, o espiritual. Sou levado a crer que
eu, como muitos outros, tenho subestimado a importância da dimensão espiritual
ou mística (Rogers, 1983a, p. 53).
Características de uma nova Psicologia
A nova psicologia que surge, apoiada numa concepção holística e sistêmica,
considera o organismo humano como um todo integrado que envolve padrões
físicos, mentais, sociais e espirituais. Assim, a base conceitual da Psicologia
dever ser compatível tanto com a da Biologia quanto da Sociologia, Antropologia
e Filosofia. No modelo acadêmico moderno, a estrutura voltada à especialização
do conhecimento tornou muito difícil a comunicação entre as disciplinas,
e entre biólogos e psicólogos o entendimento era muito sofrido. E pior
era a comunicação, cheia de medos e ressentimentos, entre psicólogos e
médicos. Mas a abordagem sistêmica fornece um terreno propício para a compreensão
das manifestações psicossomática do organismo na saúde e na doença, permitindo
um intercâmbio, desde que se queira, entre biomédicos e psicólogos.
O foco central da psicologia está tendendo a se transferir das estruturas
psicológicas para os processos relacionais subjacentes. A psique humana
é vista como um sistema dinâmico que envolve uma variedade de fenômenos
ligados à auto-atualização e crescimento contínuos. Assim, a psique teria
um tipo de inteligência intrínseca que a habilita a envolver-se a tal ponto
com o meio, que este processo pode levar não só a uma doença, mas também
ao processo de cura e crescimento, como a concepção de autotranscendência
da teoria dos sistemas.
O Espectro da Consciência
Um dos sistemas didáticos, em psicologia, que procura integrar os diferentes
insights das várias escolas psicoterapêuticas do ocidente entre si, e estas
com as várias abordagens orientais, é a Psicologia do Espectro, proposta
por Ken Wilber, como um modelo da compreensão transpessoal das diferenças
entre psicoterapias. Nele, cada uma das diferentes escolas é vista como
uma faixa que se dedica a um aspecto específico do total a que se pode
apresentar a consciência humana. Cada uma dessas escolas aponta para um
estado de consciência que se caracteriza por possuir um diferente senso
de identidade, indo da pequena identidade restrita ao ego até à suprema
identidade com todo o universo, que é o nível extremo da consciência transpessoal.
Este espectro pode ser entendido a partir de quatro níveis: o do ego, o
biossocial, o existencial e o transpessoal.
No nível do ego, a pessoa não se identifica, a rigor, com o seu organismo,
mas com uma representação mental, ou com um conceito do mesmo, como uma
auto-imagem construída, ou egóica. É, pois, um problema de identificação
com um modelo que a pessoa aceita, num investimento, como sendo seu "eu".
Existe - para ela - um "eu" que é diferente e independente de
tudo e de todos. A pessoa não se interessa muito em cultivar relações interpessoas
sem que haja uma vantagem específica para o ego, e muito menos se preocupa
com aspectos ecológicos ou sociais.
O nível biossocial já envolve a consciência e a preocupação com o nível
e com os aspectos do ambiente social da pessoa. A influência preponderante
é a de padrões culturais e sociais. A pessoa sente como fazendo parte -
e tendo alguma responsabilidade - pelo seu meio-ambiente social e natural.
O Nível existencial é o nível do organismo total, caracterizado por um
senso de identidade corpo/mente auto-organizador. É o nível dos ideais
humanistas e do pensamento mais sofisticado, em termos de filosofia de
vida. Emoção e razão estão mais ou menos associadas para o crescimento
e o desenvolvimento das potencialidades do homem, desde que os meios sejam
razoavelmente propícios. Quando não, ainda assim a pessoa luta para se
auto-atualizar e a ajudar seus semelhantes. Alto grau de desenvolvimento
moral é freqüentemente associado a este estágio.
O nível transpessoal é o nível da expansão da consciência para além das
fronteiras do ego, correspondendo a um senso de identidade mais amplo.
Elas podem envolver percepções do meio ambiente, onde tudo está, de uma
forma sutil, mas muito presente, ligado - de forma NÃO LINEAR - a tudo.
É o nível do inconsciente coletivo e dos fenômenos que lhe estão associados,
tal como descritos por Jung e seguidores. É também neste nível de percepção
que podem - mas não necessariamente ocorrem ou são regra geral próprias
de uma percepção transpessoal - surgir, como eventos secundários, certos
fenômenos parapsicológicos, como telepatia, precognição ou - o que não
tipifica um fenômeno parapsicológico, mas sim psicológico - lembranças
de vidas passadas. É uma forma extremamente sofisticada e não ordinária
de consciência em que a pessoa não aceita mais a crença uma separação rígida
entre ela e todo o universo, a não ser como uma forma de atuar praticamente
sobre o meio em que vive com outras pessoas. Essa forma de consciência
transcende,e muito, o raciocínio lógico convencional, e aproxima-se das
assim chamadas experiências místicas. E é este estado que é objeto mais
íntimo de estudo da Psicologia Transpessoal.
Enfim, para terminar, é preciso definir o relacionamento entre a prática
da psicologia transpessoal e os enfoques tradicionais de psicoterapia.
O que caracteriza um terapeuta transpessoal não é o seu conteúdo, mas o
contexto. O conteúdo é determinado pela relação terapêutica em si, entre
cliente e terapeuta, como bem o estabeleceu Carl Rogers. Um terapeuta transpessoal
lida com os problemas que emergem durante o processo terapêutico, incluindo
acontecimentos mundanos, fatos biográficos e problemas existenciais. O
que realmente define a orientação transpessoal é um modelo da psique humana
que reconhece a importância das dimensões espirituais e o potencial para
a evolução da consciência. O terapeuta transpessoal deve ser consciente
do espectro total e deve sempre acompanhar o cliente a novos campos experiências,
quando há oportunidade, não importando qual o nível que o processo terapêutico
esteja focalizando.
Compilado por Maria de Fátima Estimado Corga – Psicóloga
- CRP 13521/06, Terapeuta do Instituto Luz
Zinildo Ginú Monteiro
Divisão Comercial Oeste
Departamento de Relacionamento com Clientes e Medição Oeste
Central de Atendimento Telefônico: 0800 643 7575
Fone 45 3220-2186 Fax 45 3220-2301
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E_mail: zinildo...@copel.com