AVENTURAS NO MAR

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Olimpia

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Nov 2, 2006, 6:53:15 AM11/2/06
to PROMENADE 1
AVENTURAS NO MAR

Wanderlino Arruda

Antes de mais nada, confesso que nasci muito longe do mar, algumas
centenas de bons quilômetros de distância, separado por céus e
terras, pela Serra Geral, pelo Rio Pardo e por muitos outros acidentes
geográficos. Quem conhece sabe que a velha cidade de São João do
Paraíso está cravada num recolhido sertão entre a Bahia de
Condeúbas e o norte das Minas Gerais, longe, muito longe do mar, sem
nenhuma condição de ter filho com vocação para marinheiro. O único
mar que nós tínhamos por lá, e nos bons tempos de fartura, era o
manso e tranqüilo verde canavial, lindo e extenso, adorável vale de
maravilhas, parecia feito para as peraltices do menino ou para as
saudades do futuro adolescente sentimental.
O mar só me veio aos dezenove anos. Ou melhor, só fui a ele depois de
muitos anos de vida bem vivida, em Salinas, Mato Verde, Taiobeiras e,
principalmente, em Montes Claros. Não era um mar tão lindo como o de
Maceió, o mais lindo do mundo: o mar da Ilha do Governador, no Rio de
Janeiro, já em cinqüenta e quatro, vivia cheio de manchas de óleo,
subproduto pouco simpático da presença constante de navios e barcos
petroleiros. O de Copacabana era bonito, violento, transparente, rolado
em branquíssimas espumas, mas distante para o convívio de um mineiro
interiorano e retraído.
O mar de Niterói, das barcas da Cantareira, do aerobarco, era um mar
de vai-e-vem de início e fim de dia útil, promessa e lembrança de
trabalho. Mar da Bahia, mar de Todos os Santos, de Itaparica, aonde
fui, há muitos anos, com Olímpia, visitar um velho professor e de
onde partimos, recentemente, com a turma toda, embarcados de carro e
tudo num "ferryboat", para um bom período de férias entre a praia
e as dunas baianas.
Mar de Santa Catarina é em Camboriú ou Florianópolis, mar dos
passeios de barco pelas velhas ilhotas, cenário de vetustas
fortalezas, de construções do militarismo colonial, onde as paredes
portuguesas de pedras brasileiras ainda estão de pé, metro e meio de
largura, cobertas de musgos e espinhos, testemunhando o tempo e o
contratempo de nossa história. Mar de Torres, no Rio Grande do Sul,
revolto e atuante a esbater-se nas pedras e nos turistas. Mar de
Ilhéus, de Valença e de Olivença, mar sujo de Santos poluído e
proibido. Mar de Vila Velha, de Vitória, de Anchieta, da muito Nova
Almeida, todos no Espírito Santo, povoados de mineiros, de uma
mineirada de nunca acabar. Mar de Fortaleza, verdes mares da terra
cearense, mares de Alencar e de Iracema. Mar de Natal, de João Pessoa,
mar de Boa Viagem, em Recife. Mar de Olinda, transbordante de belezas
de sonhos.
Mas de que mar e em que mar foi mesmo a minha aventura?
No mar doce do Amazonas, onde vi o encontro das águas do Rio Negro
lado a lado com as do Rio Solimões, correndo coloridas, sem se
misturar? Foi em Leixões, berço idolatrado da raça lusitana? Foi em
Sintra, na Boca do Inferno, onde se afirma, morreu Fernando Pessoa, o
Super-Camões? Foi em São Luís, de viagem para Alcântara, quando o
barco revolto e balançando como bêbado quase se vê presa fácil dos
ventos e das águas? Não sei, não sei...
Em que mar não sei... A vida é um mar aberto, nem sempre azul, poucas
vezes sereno, muitas vezes agitado. Navegante há mais de quarenta e
quatro, muita água passou por baixo do barco e muito vento soprou de
lado e por cima.
Como dizia muito bem o bom Guimarães Rosa, viver é perigoso. A vida
em si já é um grande perigo, um mar de aventuras...

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