DE ONDE SURGIU A EXPRESSÃO MORREU MARIA PREÁ?

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Larissa Brandão

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Feb 25, 2011, 7:10:09 AM2/25/11
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MORREU MARIA PREÁ

 

A expressão acima, muito usada em boa parte da região nordestina, mas pouco conhecida no restante do país, especialmente nas grandes cidades, é empregada quando qualquer situação chega ao seu ponto final, irreversível, definitivo, e por isso não tem mais jeito, não pode ser modificado. Sendo assim, no momento em que os assuntos discutidos se esgotam por falta de maiores e melhores argumentos, ou também quando não se tem mais nada a fazer quanto a remediar ou consertar determinada situação, a frase Morreu Maria Preá, ou apenas Morreu Maria, pode servir como senha para encerrar os desencontros de opinião, de posicionamentos, de objetivos e outros mais, porque ela simplesmente quer dizer: acabou!

 

            A origem da locução, segundo se diz, está ligada a uma dessas “histórias” que circulam pelas ruas de qualquer cidade sem que saiba se são verdadeiras, de onde vieram, ou por quem foram elaboradas. Conta-se, no caso, que o vigário de determinado lugarejo interiorano foi apanhado em flagrante por seu sacristão quando transava com Maria Preá, uma paroquiana com atrativos físicos que atraíam a atenção de qualquer filho de Deus que tivesse os hormônios certos funcionando nas horas certas. Pouco importa saber como esse romance incomum começou, e mais ainda, de que forma chegou ao rola-rola, e ainda por cima na casa paroquial. O fato é que desse dia em diante o sacristão passou a fazer chantagem com o vigário, conseguindo dele tudo o que desejava. Bastava dizer em sussurro “Olha a Maria Preá!”, para que o religioso se rendesse às suas exigências, embora o fizesse muito a contragosto. Mas fazer o quê numa situação dessas? Como explicar aquela aventura amorosa aos paroquianos?

 

            Até que certo dia o vigário voltou mais cedo de uma tarefa que tinha ido realizar em sua missão pastoral. A porta da casa onde morava estava aberta, como de costume, e por isso ele entrou sem fazer alarde, como também era seu hábito. Ao passar pela porta entreaberta de um dos quartos, rumo à cozinha, e surpreender, num relance de olhar, o sacristão com o tronco curvado para frente, servindo passivamente de mulher para um garotão das redondezas, sua surpresa foi tamanha que ele não conseguiu dizer uma única palavra: só ficou ali parado, de boca aberta, olhando a cena patética. Mas logo foi percebido pelo sacristão, que “desarrolhando-se” do seu jovem parceiro tratou de ajeitar a roupa, aproximar-se do padre que ainda o observava de queixo caído, e murmurar em voz aflita: “- Seu Vigário, não conte nada pra ninguém. O senhor não viu nada, está bem? E olhe: de hoje em diante, morreu a Maria Preá!”.

 

            E foi por causa disso que a frase nasceu. Não faz muito tempo, Itanildo Medeiros, natural de Angicos, no Rio Grande do Norte, compositor, empresário de bandas de forró e secretário de Cultura em sua cidade natal, pesquisou essa mesma história, descobriu sua origem, e como o que nela se diz ter acontecido integra o riquíssimo acervo folclórico nordestino, ele não se contentou em divulgá-la, apenas, mas valeu-se de seus dotes poéticos para escrever um poema de literatura de cordel sobre o tema, cujos versos estão transcritos aí abaixo:


MORREU MARIA PREÁ

Autor: Itanildo Medeiros

  

Morreu Maria Preá!!! / Esse ditado famoso / eu comecei a pesquisar / porque fiquei curioso. / Depois de revirar tudo / descobri com muito estudo / e pergunta em banda de lata, / que um padre num interior / tinha um chamego, um amor, / um caso com uma beata.

 

Bonita e muito formosa / - Maria Preá é o seu nome -, / essa beata fogosa / do padre tirava a fome, / e sempre que ele podia / com ela ele se escondia / pra poderem se agarrar. / Mas um dia o sacristão / flagrou os dois num colchão, / o padre e Maria Preá.

 

E depois dessa orgia / o padre perdeu o sossego. / O sacristão todo dia / alegava esse chamego / e chantageava o vigário, / fazia ele de otário / ameaçando contar. / Deixava o padre com medo / que vazasse esse segredo / dele e Maria Preá.

 

Sem saber o que fizesse / com o sacristão lhe explorando / pois tudo que ele quisesse / o padre ia logo dando, / com medo que a cidade / descobrindo essa verdade / ficasse escandalizada, / pediu a Deus uma luz / pra lhe tirar dessa cruz / dessa exploração cerrada.

 

Até que um dia o vigário / viajou pra ali pertinho. / Foi rezar um novenário / num município vizinho. / Esqueceu de um documento / e notando o esquecimento / parou no meio da estrada, / deu meia volta e voltou, / mas quando em casa chegou, / Ah, que surpresa danada!!!

 

O padre entrando apressado / na casa paroquial, / viu o sacristão curvado / em decúbito dorsal, / nu da cintura pra baixo / por trás dele um outro macho / numa movimentação / que o padre, vendo, notava / que o rapaz encalcava / as fezes do sacristão.

 

Assistindo aquela cena / mas lembrando do passado, / o padre ficou com pena / e também aliviado. / Mas, mesmo com a vergonha / daquela cena medonha, / o padre gritou de lá: / Sacristão, se oriente / pois, pra nós, daqui pra frente, / morreu Maria Preá.

 


FERNANDO KITZINGER DANNEMANN




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Larissa Brandão
Estagiária Domínio Informática
Coordenadora Projeto BIOS


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