Não sei se vale a pena entrar no conteúdo da "canção"… (Tive só uma dúvida: quem surrupia? Os senadores ou os sobrinhos?) Obviamente era preciso ter o inimigo: não me surpreenderia se descobrissem que todos os sobrinhos são petistas ou corruptos.
Acho mais produtivo discutir forma e público.
Dessa vez parece que o público é o Senado. Agora que o projeto já teve uma aprovação e o baixo assinado foi assinado, dane-se "o povo". O clipe é para dar a impressão de legitimidade a uma discussão entre proponentes e membros do governo. Por isso o formato "hip-hop", para tentar fazer da regulamentação uma causa popular. O mesmo vale para os cartazetes…
Quem subiu também é um dado. Pelo que já percebemos, não é a primeira vez que a digníssima atravessa os planos. Por um amigo eu soube ano passado que o próprio abaixo assinado tinha sido precipitado e que membros das outras associações só ficaram sabendo quando já estava no ar. Talvez isso explique por que foi tão mal feito: além dos erros ortográficos, faltava o link do PL! Fosse talvez outra pessoa, outro contexto, outra abaixo-assinado, não teríamos escrito aqueles textos n'aplataforma.
A pessoa dela não me preocupa, até porque ela não parece ter base ou propriedade para puxar nenhum movimento. Imagino que nem o Penna deva participar muito das coisas que ela faz. Realmente preocupante é um cenário tão esvaziado que dá ensejo para coisas desse tipo. O problema não é que o rap e os posts são ridículos; o problema é que a discussão sobre a regulamentação está completamente parada, enquanto um projeto de lei segue seu curso para a aprovação.
A vergonha é sobre nós, que não conseguimos entabular, como pessoas diretamente afetadas pela legislação, uma conversa minimamente coerente sobre uma questão tão decisiva. Vamos todos sofrer as consequências, exceto os excelentíssimos membros do conselho federal do design. A merda já está feita. Não dá pra remediar a situação com um post aqui ou ali, nem adotar o mesmo formato "popular" para fazer frente a isso. Só uma forte organização, com muitos participantes ativos, poderia abrir espaço para discussão e talvez barrar o PL, cujo texto foi alvo de muitas críticas, inclusive de pessoas favoráveis à regulamentação. Nitidamente, estamos lidando com um pequeno grupo de interesse, que, encampando o Estado, vai dar dor de cabeça para todo mundo, "sobrinhos" e "profissionais".
Todavia, não é uma situação tão nova: o caso da regulamentação do design é mais um caso do modo como a sociedade civil brasileira lida com o Estado, e que tipo de expectativas ela tem das leis e o executivo. Os discursos de "regulamenta" tem um quê de crença no estado paternalista, que vai cuidar de nós todos, que vai resolver nossos problemas do dia para a noite etc.
Abraços,