Automação e Design Gráfico

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Felipe Kaizer

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Mar 26, 2016, 2:46:41 PM3/26/16
to Projeto Comum
Caras e caros,

uma série de três links me levou a sugerir esse tópico; nenhum deles fala especificamente em design ou design gráfico, mas imagino que alguns de vocês já tenham referências para o assunto "automação". Quase tocamos nesse assunto algumas vezes. Lembro quando mencionei o DesignMantic – exemplo ainda muito tosco (e talvez incorreto) de automação.

Os três links são: o útlimo episódio do programa do meu xará Max Keiser (no Russia Today), que me levou a um artigo do NYT sobre Kensho (do Daniel Nadler), que por sua vez me levou a um paper de um sujeito chamado Carl Benedikt Frey.

O paper especula sobre a probabilidade de 702 ocupações serem automatizadas e lista um ranking de empregos do menos ao mais "computadorizável". Ao contrário do que eu imaginava,  "graphic designers" está na 161ª posição, o que não é tão mau. Perde, no entanto, para todos os outros designers listados: set and exhibit designers, fashion designers, interior designers, commercial and industrial designers e floral designers. Achei representativo.

De toda a gama de projetistas, os gráficos geralmente estão entre os mais subestimados, não? Por quê? A saída para muitos não tem sido a programação?

Abraços,

Rafael de Azevedo

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Mar 28, 2016, 10:55:29 AM3/28/16
to Felipe Kaizer, Projeto Comum
Eu, que não é de hoje tenho cogitado essa saída, fui pesquisar um pouco e encontrei medos parecidos do outro lado: segundo alguns estudos sobre o futuro das relações de trabalho, as ocupações diretamente relacionadas à TI — hoje entre as mais demandadas e bem pagas — poderão estar entre as primeiras a serem eliminadas por soluções baseadas em inteligência artificial (https://news.slashdot.org/story/16/03/08/2347236/1-in-3-developers-fear-ai-will-replace-them). O conselho dado é, a médio prazo, aprender a usar as habilidades de manipular algoritmos e estruturar códigos como suporte a alguma outra atividade como, por exemplo, design gráfico.

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Rafael de Azevedo

Roman Iar

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Mar 28, 2016, 9:51:17 PM3/28/16
to Projeto Comum
Caramba, quanta coisa massa. Acho automação do caralho e aponta pra um futuro interessante, pena que nossa mentalidade em relação ao trabalho seja do século 19.

Kaizer, não sei se entendi quando você falou dos gráficos como subestimados. 
Não acho que a programação signifique automatizar o trabalho, pelo contrário, muitos vão para a programação mas com a mesma lógica do impresso. Na verdade acho que faltam bons designers dispostos a automatizar o seu trabalho, e acho que isso não acontece por uma série de coisas que já discutimos, entre elas a glamourização da profissão. A gente sabe que os designers tentam (ou almejam) operar pela lógica do talento, então a automatização deve acabar ou minimizar muito isso, só acho que agora nem se discute isso, prova são essas iniciativas como o DesignMantic e similares passarem por um julgamento de valores extremamente negativo por parte da comunidade. Dito isso, acho que o que o Rafa disse pode fazer sentido em aliar código com um novo jeito (que eu não sei) de se projetar.

Penso que é questão de tempo até a automatização acontecer (ou pelo menos começar a ser fortemente debatida) no mercado e me vem à cabeça a regulamentação e outras iniciativas de cunho formal, como um último suspiro dessa lógica do talento, do original, da obra de arte. E acho que essas operações (simbólicas) foram levadas em conta (com certa razão) no quesito 'computadorizável'.

Ainda não vi os vídeos e dei uma lida muito por cima do paper, mas curiosamente me deparei com essa frase: 
"It has even been argued that, despite the employment concerns over mechanisation, unskilled workers have been the greatest beneficiaries of the Industrial Revolution". Acho que ela ilustra um pouco quando me refiro ao último suspiro; a automatização no design pode permitir que muitos possam fazer suas coisas independente da formação acadêmica, cultural e simbólica. E acho que isso assusta um pouco os designers por medo de não se readequar ao ~mercado de trabalho~.

Lembrei também do programa que o Rafa comentou que cria fontes 'automaticamente' e se continuarmos assim em alguns anos os tipógrafos (que não achei na lista do paper) serão lenda antes dos designers gráficos.
Roman Iar Atamanczuk
http://romaniar.com.br
con...@romaniar.com.br
skype - roman.iar

Felipe Kaizer

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Mar 29, 2016, 12:21:38 PM3/29/16
to Projeto Comum
Oi Roman,

falei em designers gráficos subestimados por causa do ranking: o que ele indica, grosso modo, é que o trabalho dos gráficos tem mais chance de ser automatizado do que todos os outros designers (listados). No universo do paper isso significa que ele é mais "mecânico" que os demais, ou que tem menos aspectos "criativos" ou "subjetivos". (Tem menos "aura", para acompanhar sua crítica à dimensão simbólica). Tudo isso, naturalmente, é altamente especulativo e questionável, mas achei um dado curioso; de alguma forma parece compatível com os "desvios" que vejo acontecendo, sobretudo nas gerações de graduados depois de mim: poucos gráficos continuam gráficos; a maioria se divide entre artistas e programadores. [Obiviamente, isso é um chute, baseado numa amostragem muito limitada.]

Acho que não se tem discutido se a mecanização é boa ou ruim, desejável ou não. Parece ser um tendência; em breve, um fato. O que tem sido objeto de discussão é o impacto da mecanização, isto é, a redução do número de empregos. E isso não parece ser só um problema da "nossa mentalidade [...] do século 19".

Agora, sobre os "unskilled workers": acho que eles são um exemplo contrário ao seu argumento. O pouco que tenho lido sobre história dos séculos 17 e 18 sugere que eles não eram exatamente "unskilled"; eles era o refugo de mão-de-obra que migrou para as cidades, expulso pelo desenvolvimento das técnicas agrícolas e pelo aumento de produtividade no campo. [Vou tentar encontrar algum trecho sobre isso.] Eles tinham skills, só que agora não eram tão necessários. O destino desse excedente era então as fábricas emergentes nas cidades, que podiam empregar qualquer um (inclusive mulheres e crianças), em função do automatismo das tarefas.

É um desenho parecido com esse o que se apresenta a seguir: muita gente especializada em atividades que as máquinas podem executar. Só que dessa vez não há para onde migrar. É o impasse descrito pela Hannah Arendt (pensando em Marx): uma sociedade de trabalhadores sem trabalho.

​Abraços,​

Felipe Kaizer

Rafael de Azevedo

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Mar 29, 2016, 1:36:37 PM3/29/16
to Roman Iar, Projeto Comum
O design de tipos tem um certo destaque nesse tema já que foi uma das primeiras atividades relacionadas a design gráfico (talvez a primeira) a ser exercida, ainda que em caráter experimental, por meios digitais. Um precedente que me interessa muito é a linguagem de programação Metafont, que permite a descrição de sistemas tipográficos e uma infinidade de variações pela definição de parâmetros (https://en.wikipedia.org/wiki/Metafont). O software que o Roman mencionou é o Metapolator, que grosso modo tenta resgatar essa abordagem com o desenvolvimento de uma API e uma interface gráfica (http://metapolator.com/home/).

A vantagem do código, grosseiramente falando, está nele consistir em uma interface humano-computador maleável, na qual é possível o designer articular seus próprios processos. Há um contingente de designers buscando de algum modo trabalhar dessa maneira, como o Gustavo Ferreira, com quem aprendi o básico de Python em um workshop intensivo. Produzi como resultado esse script de Glyphs que gera automaticamente uma versão da New Alphabet do Wim Crouwel (https://github.com/rdazvd/new-alphabet-generator). Tenho interesse em repetir o mesmo gesto dentro de algum outro contexto que não envolva um software proprietário, quem sabe o próprio Metafont, e ver até onde fazer design gráfico dessa forma pode levar.

Claro, nada disso aponta muita alternativa à questão da eliminação de empregos em face à automação. Algo a ser relacionado e que pode servir como algum norte é o movimento do software livre e os desdobramentos culturais e políticos que podem emergir da forma de produzir e distribuir que ele engendrou.
--
Rafael de Azevedo

Felipe Kaizer

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Apr 3, 2016, 3:07:23 PM4/3/16
to Projeto Comum
Vídeo do C. G. P. Grey que resume bem a questão (Dica do Igor Machado).

***

Trechos que prometi, sobre a migração da mão-de-obra do campo para a cidade:

Hobsbawm, Eric. "The Crisis of The 17th Century – II". Past and Present 6 (1), 1954. 

We have seen that there is evidence that towards the end of the 16th and the beginning of the 17th centuries the expansion of the marketable agricultural surplus was lagging behind that of non-agricultural consumption. In the long run the vast surplus essential for the development of a modern industrial society was to be achieved primarily by technical revolution – i.e. by raising productivity and expanding the cultivated area through capitalist farming. Only thus could agriculture produce not merely the necessary food surplus for the towns – not to mention certain industrial raw materials – but also the labour for industry. – pp. 47-48

The main result of the 17th century crisis on industrial organization was to eliminate the crafts, and with them the craft-dominated towns, from large-scale production and to establish the "putting-out" system, controlled by men with capitalist horizons and operated by easily exploitable rural labour. – p. 51

Berg, Maxine. The Age of Manufactures, 1700-1820. 2ª ed. Routledge, 2005

He [Marx] argued that the destruction of the subsidiary trades of the countryside went hand in hand with the expropriation of a previously self-supporting peasantry. Only through the destruction of rural domestic industry could an adequate home market be provided for the capitalist mode of production. […] It produced 'a new class of small villagers who cultivate the soil as a subsidiary occupation, but find their chief occupation [in] industrial labour, the products of which they sell to the manufacturers directly, or through the medium of merchants.' ¶ Primitive accumulation was thus associated with manufacture. Primitive accumulation was meant to accomplish the separation of the labourer from his means of production, but did not necessarily mean removing him from the countryside. – pp. 62-63

[Depois eu continuo, se vocês quiserem]

***

Rafael,

Dei uma olhada rápida nos links; lembro de conversas com o Ferreira, e do curso dele de Python para type designers. Acho que é uma evolução gigantesca do lado de quem produz, mas eu me pergunto o quanto isso reverte em benefício para quem usa ou consome. É óbvio que coisas como o OpenType mudaram bastante a maneira de compor textos – e resgataram uma sofisticação tipográfica que tinha sido temporariamente perdida no período da fotocomposição em diante –, mas restam dúvidas quanto ao uso desses recursos por parte do grande público. Como disse a Catherine Dixon uma vez:

Às vezes me parece que os type designers estão produzindo em uma bolha, desconectados da maioria dos diretores de arte, que por sua vez não sabem usar muitas das funcionalidades disponíveis. Falta uma sintonia. *

Isso para ficar nos diretores de agências; o público "utilizador" de fontes é infinitamente maior que o consumidor ou comprador. Mas não quero entrar em questões tipográficas. Minha dúvida tem a ver com o ciclo produtivo: o desenvolvimento dessas ferramentas tem baixado os custos, aumentado as receitas, expandido o mercado? A economia de tempo de desenvolvimento é óbvia, mas um aumento proporcional no número de fontes disponíveis a cada ano corresponde a um aumento da demanda? Em suma: qual é o efeito da automação nesse ciclo de produção e consumo? Não sei de pesquisas ou estudos que toquem nessa questão.



Felipe Kaizer

Felipe Kaizer

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Apr 4, 2016, 3:46:08 PM4/4/16
to Projeto Comum
Outro vídeo, dessa vez de um sujeito chamado Michael Betancourt sobre Digital Capitalism. Ele fala de automação, gamificação, renda básica, etc. Ele tem um livro sobre o assunto: "The Critique of Digital Capitalism". Pelo que entendi, a tese central é de que, na era da automação, o capitalismo não consegue mais funcionar. Em vista da teoria do valor-trabalho (labour theory value) – da economia política –, a automação elimina os empregos, a renda e, consequentemente, a capacidade de consumir e o que se entende por "valor". O sistema, com isso, pára, e uma alternativa tende a se apresentar.

Felipe Kaizer

Roman Iar

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Apr 7, 2016, 1:45:53 PM4/7/16
to Projeto Comum
Caros,

Escrevi e reescrevi uma resposta várias vezes e nenhuma conseguiu me satisfazer, no entanto, vendo os vídeos que o Kaizer compartilhou e lendo outras coisas, percebi que minha pergunta era clara: Quem se beneficia com a automação?
Idealmente deveríamos ser nós trabalhadores que finalmente poderíamos ter o tempo livre para usarmos como entendêssemos. Infelizmente não é o que vai acontecer agora, quem realmente vai se dar bem são as empresas aumentando exponencialmente o lucro e consequentemente a concentração de renda e os ~meios de produção~.

Essas perguntas me levaram a esse ótimo texto do Ricardo Abramovay (o autor foi indicação do Kaizer) sobre economia compartilhada. Ele, com certeza consegue desenvolver o assunto melhor que eu, mas resumidamente ele dá um panorama desse novo paradigma da economia no século XXI (e que apesar de otimista, pra mim isso pertence ao sec. XXII) em que os meios digitais apontam para uma descentralização radical dos meios de produção (nisso inclui-se internet, novas fontes de energia, impressoras 3D e etc) e um desejo/demanda/fato de produzirmos coisas no meio digital sem visar um retorno financeiro (blogs, mediuns e afins). O ponto dele é que as coisas já mudaram e é difícil haver a regressão, e até certo ponto concordo com ele. Meu problema aparece quando vejo nossa condição de país subdesenvolvido e que apesar das inegáveis melhorias, estamos muito para trás. (Recomendo o texto inclusive por que ele dá uma breve resposta sobre a existência das empresas e nesse ponto recomendo o vídeo que o Kaizer postou anterioremente do profeta Michael Betancourt, que apesar de algumas ressalvas vale a pena ver).

Aqui, queria levar para três pontos:
  • Houve uma época em que realmente achei que pudéssemos ser o país do futuro, mas cada vez menos acredito nisso, e o próprio Abramovay fala um pouco disso aqui. O motivo é meio simples, ainda investimos pesado numa economia extrativista que visa pouco ~avanço tecnológico~. Não acho que nosso investimento primordial devesse ser nesse campo, mas parece que o mínimo que poderia haver, não houve. Isso significa que enquanto os países ~desenvolvidos~ continuam se desenvolvendo (sobretudo tecnologicamente), nós nunca iremos alcançá-los.
  • Mesmo se estivéssemos dispostos (politicamente) a alcançar esse padrão, nosso mundo não comportaria esse nível de produção e consumo (tem gente falando de um desastre em 50 anos!).
  • Quem vai conseguir automatizar o trabalho? Países desenvolvidos, que de acordo com esse livro (que parece muito bom) são a minoria da existência global, o que significa, que eles em algum momento vão finalmente se beneficiar de um trabalho majoritariamente automatizado, mas os países subdesenvolvidos certamente não, haverá desemprego, crise e novamente, altíssima concentração de renda na mão de poucos. 
  • (Não posso deixar de lembrar do filme Wall-E em que temos uma colônia espacial de humanos (majoritariamente homens brancos) gordos aproveitando das benesses da automatização. Pra mim eles são a classe alta americana que conseguiu fugir do planeta à beira de um colapso (que eles mesmo fizeram) deixando os habitantes pobres para a destruição e extermínio)
Então para puxar o papo para nossa condição de designer, fico pensando que antes da total automatização, já nos beneficiaríamos de um bom gerenciamento de processos (que inclusive acho o passo seguinte essencial), e não dá para deixar de mencionar o André Stolarski, junto com o próprio Kaizer que puxavam o processo de trabalho para isso. Me explico melhor:
André preferia que gastássemos tempo pesquisando como resolver automaticamente uma tarefa do que fazê-la sob demanda e na próxima vez fazer do mesmo jeito, gastando um tempo gigante. E ele sabia que se fizéssemos isso, resolveríamos determinada tarefa rapidamente adquirindo um know-how para a equipe que conseguiria fazer essa tarefa e similares em menor tempo, objetivamente, teríamos mais tempo para focar nas decisões que nenhuma máquina poderia fazer.

Então não adianta estarmos a frente da lista naquela pesquisa se de fato o que segura a gente como profissão (ou mera existência) é uma mentalidade retrógrada.
Não posso deixar de pensar no final dos anos 80 com o advento dos softwares gráficos, quantas profissões na área de design e comunicação não foram eliminadas. Penso em um cara como o Rico Lins aprendendo a mexer nessas coisas e deixando todo mundo que usava foto-composição puto. Os softwares já foram uma espécie de automatização, e acho que o próximo passo é fazê-los trabalhar para nós e criar novas ferramentas de trabalho (ou de eliminação de trabalho).

E Kaizer, em relação a mudança de áreas, adicionaria ainda a publicidade e sobretudo social media que trabalha extremamente sob demanda com pouco gerenciamento e nenhuma automatização.
Quanto aos uneskilled workers talvez eu tenha entendido mal mesmo, e achei ótimo seu diagnóstico, lembrando apenas que esses trabalhadores super-capacitados devem ser um número relativo pequeno, mas não na nossa área, o que aí sim é um problema, então penso no exemplo que acabei de dar dos social media que em geral são pessoas muito bem formadas fazendo um trabalho de merda.
A maioria dos textos que li apontam pra mesma solução: renda básica por parte do estado. E já adianto que isso não vai ser amplo e vamos acabar num cenário similar ao Wall-E. Aqui não conseguimos nem discutir o bolsa-família, magina o restante, precisamos mudar muito nossa mentalidade.

Rafa, tentei colocar um pouco suas questões finais aqui, seria maneiro ouvir mais de você também!
E eu e Adriano tentamos rodar o script no glyphs, e parece bem massa, o único problema é que a gente não sabe mexer direito no software e só geramos um 'a' .~

aquele abraço


Felipe Kaizer

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Apr 7, 2016, 5:26:25 PM4/7/16
to Projeto Comum
Oi Roman,

respondo parcialmente sua mensagem, só para não perder o pique.

Acho sua pergunta totalmente pertinente: "Quem se beneficia com a automação?" Cui bono? Mas eu acho que não existe uma resposta. A situação é bem complexa.

No longo prazo, todo mundo: se nós adotarmos uma posição "materialista" – talvez "positivista" –, todo desenvolvimento técnico-científico é benéfico para a ~humanidade~. Mais eficiência; mais retorno, com menos gasto.

No curto prazo, os proprietários do capital produtivo. Mas não todos: só os grandes, que conseguem implementar primeiro as novas tecnologias, e ganham nesse spread. Ganham no regime de concorrência acirrada.

No médio prazo, talvez ninguém: porque o poder de consumo ainda está umbilicamente ligado aos salários. Um aumento de desemprego (tecnológico ou não), diminui a capacidade da população absorver a produção, levando a um esfriamento da economia como um todo. É por isso que alguns desses analistas (Martin Ford, David Wood, Michael Betancourt) tem advogado por algo parecido com a renda básica.

Mas, não nos enganemos. Nessa conjuntura, a desvinculação do emprego e da renda não significa emancipação. O mais provável é que ele abra espaço para novas formas de controle.

Por isso eu acho que a crítica do David Graeber é limitada, sobretudo no contexto brasileiro (que tem uma composição da mão-de-obra bem diferente do Primeiro Mundo). O que ele descreve como "trabalho de merda" é uma forma de ordenação social prestes a ser ultrapassada: a nossa sociedade de controle vai encontrar outras maneiras, talvez mais perversas, de manter a população na linha. O trabalho pode perder seu papel central; o controle não. Nesse ponto acho que a tecnologia não liberta: ela vai ser instrumento de um controle mais "pervasive", difuso. (Acho que o Betancourt que fala do sistema de crédito governamental por check-in e perfil digital.) Eu sou cético a respeito de "descentralização radical".

Volto a escrever depois de ler o Abramovay.

Abraços,

Felipe Kaizer

Rafael de Azevedo

unread,
Apr 8, 2016, 4:25:49 PM4/8/16
to Felipe Kaizer, Projeto Comum
Kaizer,

Também não queria delimitar a discussão nesse universo da produção e do uso de tipografia. É que, como me ocupei com esse tipo de coisa durante algum tempo, foi onde abordei de alguma maneira essas questões no âmbito de alguma atividade projetiva, que expus tentando responder à sua pergunta. Deixo para um outro thread o meu comentário sobre a crítica da Catherine, que considero equivocada.

Sobre o benefício da automação no cotidiano do designer gráfico, acho que o que eu comentei no post anterior se estende em larga medida a outras contiguidades: poder dispor de uma interface mais fria porém mais maleável para o usuário familiarizado, que pode articular um vocabulário próprio, aberto, para interagir com a máquina e explorar novos meios e fins, em vez de lidar com as operações convencionadas da interface gráfica. Há aí uma questão: a suite de softwares “gráficos” são por si só uma forma de automação do trabalho do designer, já que nesse contexto aquele que preenche o cargo de “designer” não raro é essencialmente um operador de vocabulários, tanto os da interface quanto os de soluções gráficas. Essa indústria já trabalha em termos de estruturas e padrões, portanto.

Sobre a automação dentro do panorama socioeconômico, me parece que realmente não há horizonte de resolução. Até onde dá pra ver, seguiremos em algum tipo de entreterreno. Como sempre, haverá formas de controle social, assim como formas de reparação social, e haverá contingências à margem das novas dinâmicas, que certamente serão o que apontará para algum caminho mais interessante. Como disse na outra postagem vejo algo nessa direção no software livre, sobretudo nos desdobramentos culturais e políticos da maneira de produzir e consumir que se engendrou em volta dele, apesar de haver limites e lacunas. Texto muito bom sobre o assunto, que enviei para o Kaizer uns dias atrás: https://www.jacobinmag.com/2016/02/free-software-movement-richard-stallman-linux-open-source-enclosure

Roman,

Não li o Abramovay mas tem esse texto muito interessante do Evgeny Morozov, em que ele pinta os exemplos mais alegóricos de “economia compartilhada” (Uber, Airbnb e afins) como um spin das mazelas do atual sistema econômico transformadas em lifestyle contemporâneo. Tendo a concordar com ele: http://www.theguardian.com/commentisfree/2014/sep/28/sharing-economy-internet-hype-benefits-overstated-evgeny-morozov. Alguns apontamentos interessantes nesse terreno, já esticando um pouco a definição dessa qualificação “compartilhada” —e que não têm muita relação direta com automação — são as moedas alternativas e iniciativas econômicas de caráter colaborativo e solidário que têm se espalhado nos rincões periféricos do Brasil: http://g1.globo.com/economia/noticia/2014/04/numero-de-moedas-alternativas-dobra-no-pais-em-5-anos.html

Sobre o script, se vocês não estão conseguindo rodar, pode ser que se trate de algum bug. Se quiserem fazer alguma coisa com ele mas não estiverem conseguindo, ficarei feliz em ajudar.

Abs 
--
Rafael de Azevedo

Felipe Kaizer

unread,
Apr 14, 2016, 9:38:08 AM4/14/16
to Projeto Comum
Rafa,

concordo totalmente com você: "a suite de softwares 'gráficos' são por si só uma forma de automação do trabalho do designer". De fato, ferramentas desse tipo aumentaram extraordinariamente a produtividade; mas, concomitante ao aumento da produtividade, houve um aumento extraordinário da produção (output), o que significou, ao final, mais horas de trabalho e, em muitos casos, a substituição de um regime de expediente por um regime de plantão (disponibilidade para tarefas fora dos horários e das ocasiões de trabalho, facilitada pelas tecnologias digitais; prontidão constante; ausência de condições de negociação; progressão ininterrupta de crises e "incêndios"; ausência de cronogramas e acordos prévios; enfim, a antítese do projeto).

A questão – uma delas, colocada pelo Roman – é: por que a automação não reverteu em mais "tempo livre" para os "trabalhadores"? Essa pergunta comporta muita coisa: a visão de uma tecnologia "messiânica" ou emancipatória; uma noção de proletariado, cujo tempo livre equivale somente ao tempo em que não se vende a mera força de trabalho; uma série de realidades muito heterogêneas no Centro e na Periferia do capitailsmo global (basta comparar a remuneração, condições e horas de trabalho entre os países europeus e os BRICS); uma noção de tempo livre entendida como mera negação do trabalho (o que já era alvo da Teoria Crítica, considerada a interdependência de ambos os conceitos).

(Antes de respondermos, faz-se necessária uma crítica de alguns desses pontos. Não pretendo fazer isso agora. Vamos aos poucos.)

Do mesmo modo como as primeiras revoluções industriais desestabilizaram as condições prévias de trabalho (tornando skilled workers meros operadores de maquinário), a introdução massiva dos computadores no mundo do trabalho alterou as expectativas dos dirigentes e, com isso, a própria natureza das tarefas e dos funcionários. Hoje é esperado o "efeito imediato" (tal e qual nos comerciais de remédio): não se tolera mais o tempo entre uma ordem e a sua "materialização". Assim como a máquina parece operar magicamente, espera-se que o operador da máquina resolva os todos problemas num passe de máquina. (Em poucas palavras, o baixo escalão ainda é visto como extensão das ferramentas.) Isso é fruto, entre outras coisas, de um profundo desconhecimento da natureza do trabalho: quantas vezes um problema de projeto, de planejamento ou de concepção não é empurrado ao longo do processo até "explodir" nas fases mais técnicas ou de execução? Me lembro de uma amiga arquiteta que, trabalhando como assistente nos executivos para produção, era confrontada periodicamente como problemas de estrutura dos edifícios, diante dos quais não podia fazer mais do que sugerir mudanças drásticas de desenho (como número e posição das colunas!). Para mim esse é um exemplo de como o computador teve efeitos negativos no âmbito das atividades projetivas.

Roman,

dito isso, eu acho que precisamos rever o caso Stolarski. De fato,

[o] André preferia que gastássemos tempo pesquisando como resolver automaticamente uma tarefa do que fazê-la sob demanda […]. E ele sabia que se fizéssemos isso, resolveríamos determinada tarefa rapidamente adquirindo […] know-how […] objetivamente, teríamos mais tempo para focar nas decisões que nenhuma máquina poderia fazer.

Mas isso não significa que o nosso trabalho "executório" se tornaria, no médio prazo, menor…

(Faço um parênteses: sua frase sugere, por algum motivo, que "as decisões" não são trabalho como as "tarefas" o são. Por que?)

…A despeito das mudanças administrativa ocorridas na equipe interna da Fundação Bienal de São Paulo, isso se provou verdadeiro por causa da evolução das expectativas, concomitante ao aumento da produtividade. Se hoje você é capaz de produzir X² no mesmo tempo em que ontem você produzia X, amanhã será esperado de você produza nada menos que X³. Em suma: o problema do modo como vivemos e trabalhamos está apenas parcialmente ligado ao estágio do desenvolvimento tecnológico; ele depende muito mais das relações de poder no trabalho e da manutenção das distinções de classe. Uma análise das expectativas (e do modo como a automação as transforma) revela isso.

***


PS2: Minha resposta para o Rafa no chat sobre o artigo da Jacobin: "Bem bom o texto! Gosto como o autor diferencia um ato político de uma questão tecnológica. E também como chama atenção para os riscos de se enfatizar a questão do software e do acesso à informação pelo lado do hackers e desenvolvedores: a realidade dos usuários comuns, sem expertise, é muito diferente. Nesses casos, acho que é sempre bom ver as coisas em escala: qualquer que seja a "solução" proposta, ela tem que ser massiva e implementável num espaço curto de tempo. Um uso generalizado de software livre teria que prever um rede de assistência grande e confiável o suficiente para dar conta de todos os problemas que surgem com o uso. E isso, de alguma maneira, já tende a concentração do controle; de fato, os usuários, em geral, não querem ter o controle total do que roda nos seus hardwares; eles querem que as coisas simplesmente funcionem, de acordo com as necessidades deles, mesmo que para tanto eles precisam pagar alguma quantia. A história do MP3 me faz pensar nisso: as pessoas estão dispostas a pagar para não pensar ou ter de manipular as ferramentas das quais elas dependem para realizar as tarefas. Em outra palavras: elas não querem realmente os meios de produção."

PS3: Leio os outros artigos em breve.

Abraços,

João Parenti

unread,
May 14, 2016, 10:43:31 AM5/14/16
to Felipe Kaizer, Projeto Comum, Eduardo Camillo K. Ferreira, Adriano Campos, Roman Iar


Nessa palestra ele aponta pra vários caminhos que podem ajudar na discussão.   
è muito boa, em vários aspectos.

Yanis Varoufakis: Basic Income is a Necessity


Felipe Kaizer

unread,
May 29, 2016, 11:51:56 AM5/29/16
to Projeto Comum
Valeu João,

aqui uma fala mais concentrada do Varoufakis, sobre o mesmo assunto.

Algumas coisas me chamaram a atenção – coisas que não tem necessariamente a ver com nosso assunto.

* dois pontos centrais são típicos do marxismo: a autosabotagem do capital industrial através do desenvolvimento tecnológico que ele mesmo promove – de certo modo, os perigos associados hoje à automação são a radicalização da maneira como Marx via a máquina como destruidora de valor – e a necessidade de redistribuir a riqueza entre capital e trabalho a partir do entendimento de que há uma apropriação (indevida) da riqueza produzida coletivamente. Acho curiosa essa volta ao marxismo mais ortodoxo.

* trata-se do mundo "civilizado". O Yanis fala em civilizar o capitalismo pós 2008. Isso soa diferente na margem do mundo; por exemplo: as tendências deflacionárias que ele cita, não aportaram e talvez não aportem aqui. Civilização é, grosso modo, EUA, Europa e Japão. Vivemos nas franjas. Isso leva a imaginar que forma o automatismo pode tomar nos BRICS, e nos países ainda menos desenvolvidos. Lembro de ouvir uma piada numa dessas palestras, de que, enquanto os trabalhadores europeus estavam preocupados com a chegada da automação, os chineses estavam preocupados que ela não chegasse.

bankruptcy é um termo difícil (menos de entender do que de pronunciar!). Ele precisa de algo mais catchy. Eu prefiro bankism, como ouvi pela primeira vez no programa do meu chará, em que ele entrevista Gerald Celente do Trends Journal. O tema que faz par com o fim do capitalismo é o da próxima guerra mundial. Apenas isso.

Separei de outras conversas e pesquisas algumas referências que podem acrescentar ao tópico.

* Uma é um artigo do Evgeny Morozov sobre sharing economy. De alguma forma é uma crítica que tem em vista mais a continuidade dos problemas associados à distribuição de poder na sociedade do que a ruptura promovida pela tecnologia. Nesse sentido, a tecnologia amplifica os problemas, agravando a situação. É mais um banho de água fria na nova economia, que, no fundo, mantém todas as características do neoliberalismo: "[…] the broader problem with these optimistic, utopian tales is that they rationalise the pathologies of the current political and economic system, presenting them as our conscious lifestyle choices."

Duas fala de um sujeito chamado Andrew McAfee: <https://www.youtube.com/watch?v=QfMGyCk3XTw>, <https://www.youtube.com/watch?v=w5T0w-1OdMo>. Não tenho muito a dizer, a não ser que eu adoro o gráfico das grandes transformações na história da humanidade, onde tudo é basicamente irrelevante, exceto o surgimento a máquina a vapor.

Uma perspectiva mais ampla do Bruce Greenwald, sobre retrocessos no comércio global de commodities, fim da produção (manufacturing) e o crescimento da economia local de serviços: <https://www.youtube.com/watch?v=oCMB41bdTP0>

A intensificação de trocas locais tornada possível pelo mundo digital é também um tema do Douglas Rushkoff: <https://www.youtube.com/watch?v=1_vSMzF0Vqs>. Tenho assistido alguns vídeos dele, que passam um pouco ao largo da questão da automação. O ponto principal tem a ver com as possibilidades e os riscos da economia digital. Ele é um crítico de modelos de negócio como os do Uber, que são muito bons em extrair valor das comunidades onde penetram, mas são cada vez piores na capacidade de reinvestir esses recursos para gerar mais riqueza. Em outras palavras, as corporações no mundo digital são mais burras que os negócios tradicionais de família e os clusters de pequenas e médias empresas locais.

Mais um caso de inteligência artificial, dessa vez do Google. O Deep Mind (que venceu no go), em contraste com o Deep Blue (que venceu no xadrez), tem uma lógica de aprendizado progressivo. Procurem os vídeos dele jogando Atari.

Um experimento (mais nojento que radical) de robô: Modular Body.

Adriano Campos

unread,
May 30, 2016, 2:38:27 PM5/30/16
to Projeto Comum
Olá,
Ainda não vi os que o Kaizer postou, mas gosto muito do (video) do Yanis. Penso que a solução é mesmo o basic income. Esse regime de trabalho de 8h é tosco, baseado numa divisão estranha das horas e já tá na hora da gente perceber isso. Mas acho engraçado que o Brasil, vez ou outra, é citado nos debates dessa galera por conta das bolsas e restituições (sempre reconhecendo a diferença entra as coisas).

Mas fico com a pergunta da moça que questiona os empregos que não precisam e nem podem ser substituídos por tecnologia: Como faz com essa faixa da sociedade? E me pareceu que o Varoufakis fugiu e não soube responder a pergunta. O mundo que tem inteligência artificial do google ainda tem comunidades que não tem energia nem água potável. Isso sem falar no sem-número de gente nascida sob a tecnologia fugindo dela e se escondendo em comunidades autônomas ou tentando novas formas de vida.

E ilustrando isso tem esse texto do David Graeber. No texto ele tenta discorrer sobre o porque de não sermos os Jetsons que os anos 50 imaginou que seriamos. E que as mudanças tecnológicas dos anos 1970 pra cá foram irrisórias, basicamente de produtos de empresas privadas. Sim, temos um celular que processa como um computador, mas nada parecido com nenhuma ficção científica. Usamos as mesmas roupas de 1900, o celular é um irmão rápido do telefone do Graham Bell, nossos carros usam petróleo como a primeira locomotiva de 1700 e trabalhamos o dia todo em frente a uma máquina.

Pra concluir, essa ideia de automatização pra mim é mais publicidade de europeu que realidade. Os estudiosos do basic income deveriam se afastar dessa ideia de automatização e focar em ser um direito básico universal simples. Trabalha e produz quem quer e como quiser. Essa coisa de acreditar na tecnologia que ela (ainda) dará frutos é de uma ingenuidade sem tamanho.

abraços

Adriano Campos
+ 55 11 969 964 692

--

Rafael de Azevedo

unread,
May 31, 2016, 1:09:07 PM5/31/16
to Adriano Campos, Projeto Comum
Sobre as questões econômicas colocadas, vale frisar que por mais que a automação impulsione a discussão sobre reformas, essas não são soluções inerentes à extinção de empregos pela implementação de novas tecnologias. A própria renda básica é um assunto marginal entre governos, cientistas políticos e economistas há muitas décadas, contando com projetos de lei em diversos países (no Brasil, inclusive) e planos piloto que, à revelia do grau de automação da produção, sempre deram resultados positivos — para o embaraço dos gerentes de políticas públicas e demais administradores sociais, que nunca conseguiram bolar uma desculpa convincente para não levar o tema adiante e implementar programas dessa natureza (ver, por exemplo: http://www.huffingtonpost.ca/2014/12/23/mincome-in-dauphin-manitoba_n_6335682.html).

Cortando para o design, vejo esses dois temas — automação e dinâmicas da economia — como centrais para colocar uma discussão sobre a própria pertinência da atividade, hoje. Na União Soviética pré-Stalin e na República de Weimar, começou a se forjar a ideia de que uma atividade dedicada à concepção da forma e do sentido daquilo que é produzido (e que começa e termina inserida nos processos produtivos) seria uma das principais manifestações da cultura em uma sociedade industrial dedicada a algum tipo de desenvolvimento social. Essa é a manifestação mais radical, que também é arquetípica, do design: um fazer que direcionaria ou mesmo suplantaria a “Arte” em todas as suas acepções, com o objetivo de prover coisas úteis para todos, em vez luxo e prestígio para os mais ricos. É esse arquétipo que, diversas vezes adaptado e ressignificado, desdobrou para as diversas leituras do termo “design” com as quais tratamos hoje.

Mas hoje tanto o arquétipo da automação desloca o trabalhador do papel de sujeito da produção (mutando o cenário da luta de classes), quanto a própria produção é deslocada do fulcro central das contradições do capital, tornada muito mais efeito colateral dos movimentos do capital financeiro (vide o Brasil, em que a virada política teve como uma das causas a falência de uma política econômica de incentivo à produção). Que pertinência e força de sentido pode ter qualquer atividade tida como “design” nessa circunstância?
--
Rafael de Azevedo

Felipe Kaizer

unread,
Jun 2, 2016, 10:21:16 AM6/2/16
to Rafael de Azevedo, Projeto Comum, Adriano Campos
Ainda não consegui digerir as referências do Adriano e do Rafael, mas queria destacar mais uma vez a questão do poder e do controle, que me parece central a essa discussão.

O Rafael tem toda razão quando diz que a discussão sobre a renda básica tem outra origem, e está na praça a mais tempo. Curioso é, contudo, que ela seja reabilitada, e esteja agora na boca de gente "séria", a medida que as questões relativas à automação se aproximam do mundo civilizado…

(Como sugeri na mensagem anterior, a forma que a automação ganhará na periferia do mundo é totalmente incerta. Uma imagem que para mim sintetiza essa questão são carros do Google levando passageiros desavisadamente para dentro dos morros do Rio de Janeiro. Que tipo de subemprego pode surgir para resolver esse novo problema? Haverá um flanelinha de Google Car? Que novas formas de exploração podem surgir? Discordo do Adriano, porém, de que se trata de mera "publicidade": a automação já eliminou empregos – pensem por um instante em caixas eletrônicos e nas gravações por telefone –, e mesmo a automação do centro do mundo pode ter drásticas consequências aqui no Brasil.)

…Isso aponta para aquilo que já sabemos: que o problema da renda básica não é econômico. Em outras palavras, o que incomoda nesses experimentos não é o dinheiro gasto (todo economista está em paz com isso), mas o afrouxamento do controle: "no strings attached", diz um dos textos.

Isso fere o coração do sistema sociopolítico: em teoria, você pode dar o quanto quiser para quem quiser, desde que as pessoas se comportem apropriadamente. O problema nunca foi de dinheiro, mas de controle. Por isso o Varoufakis tem razão ao dizer que precisamos superar o problema moral que se criou em torno dessa questão. Meu ponto, porém, é de que essa moralidade tem um fundamento mais profundo. (Na esperança de que algum anarquista retome esse ponto, paro por aqui.)

O outro ponto tem a ver com a nossa relação com o que é trabalho.

De ínicio, é preciso identificar a confusão que fazemos em torno da palavra. "Trabalho" significa atividade laboral, atividade produtiva/construtiva, e o produto dessa produção. Em termos etimológicos "partido dos trabalhadores" é algo levemente diferente de "labor party". Não quero me estender muito – tenho em mente a tripartição básica da Hannah Arendt n'A condição humana –, mas indicar com isso que expressões como "end of work" ou "postwork civilization" utilizadas pelo Graeber podem sugeridas algo que considero equivocado. Se vocês já perceberam onde quero chegar, pergunto: que raio de expectativa é essa de não trabalhar mais? Ou mesmo: por que não devemos mais trabalhar oito horas? Que conceito de trabalho está implicado aqui?

Por mais idealista e problemático que pareça a primeira vista, acho que, para voltar a pensar sobre o assunto, deveríamos contrapor à "workless utopia" o "joy in labor" defendido pelo Arts & Crafts. O termo do Morris também não é bom, porque o que está implicado nessa noção de trabalho é um joy in doing the work, e, fundamentalmente, um joy in the work done. À época, o Morris e o Ruskin se debatem não tanto contra o hard work (ou industria, em latim), mas contra a alienação (do trabalhor do seu trabalho), indispensável à indústria capitalista (que é a única indústria que até hoje conhecemos, se tivermos em mente que a União Soviética chegou apenas a ter um capitalismo de estado).

Nesse sentido, quero reler os trechos do Graeber. Acho que as expectativas da geração dele estão mal colocadas; talvez ainda sejam infantis.

Sobre a questão colocada pelo Rafael, a respeito do "arquétipo" do design modernista – de cunho social –, friso apenas que se trata de uma vertente do design moderno, a saber, aquela gestada da Alemanha para o leste, do construtivismo russo à Bauhaus. Até onde entendo, a ideia de um socialismo intrínseco à prática projetual está ausente dos modelos inglês e americano, o que não é pouca coisa.

Continuemos,

Abraços, 

Felipe Kaizer

unread,
Jan 19, 2017, 1:17:50 PM1/19/17
to Projeto Comum
Sabendo dos planos do Roman para gravar uma próxima conversa sobre o assunto, aproveito para enviar mais algumas referências que ficaram no meu rascunho.

Em primeiro lugar, um trecho curto do Deleuze falando sobre sociedade de controle. Acho que não me fiz entender totalmente sobre esse ponto. Penso no controle não só em sentido estrito, mas também naquilo que Foucault e Deleuze conceberam como a passagem da sociedade de disciplina para a sociedade de controle. Não sou um experto no assunto, por isso me apoio em descrições como essa abaixo. Comparando com os regimes disciplinares – em que há uma normatividade impositiva sobre o que fazer e o que não fazer em um espaço e um tempo determinados –, o controle é mais difuso, mas não menos eficiente. 

The conception of a control mechanism, giving the position of any element within an open environment at any given instant (whether animal in a reserve or human in a corporation, as with an electronic collar), is not necessarily one of science fiction. Félix Guattari has imagined a city where one would be able to leave one's apartment, one's street, one's neighborhood, thanks to one's (dividual) eletronic card that raises a given barrier; but the card could just as easily be rejected on a given day or between certain hours; what counts is not the barrier but the computer that tracks each person's position – licit or illicit – and effects a universal modulation.

Esse argumento à la Black Mirror é de 1992 ("Postscript on the Societies of Control". October, vol. 59, p. 7).

Outras referências:

Assim como Wiliam Burroughs, Marcel Duchamp e Brian Eno fizeram uso de pequenos sistemas e regras de criação, agora os computadores conseguem escrever nonsense: <http://arstechnica.com/the-multiverse/2016/06/an-ai-wrote-this-movie-and-its-strangely-moving/>.

Problemas de raça nos algoritmos. Perspectiva de um novo tipo de apartheid: <http://www.nytimes.com/2016/06/26/opinion/sunday/artificial-intelligences-white-guy-problem.html>. 

Sobre Interactive Machine Learning: <https://medium.com/@atduskgreg/power-to-the-people-how-one-unknown-group-of-researchers-holds-the-key-to-using-ai-to-solve-real-cc9e75b1f334#.yzxzrrn4k>. Enfatiza os problemas de interface humana: "[…] the specifics of any given algorithm that temporarily holds the title of best performance on some metric or benchmark will fade in importance. What will stay important are the principles for designing systems that let humans use these learning systems to do things they care about."

Entrevista do Charlie Rose com Lucy Suchman, Zeynep Tufekci e Nathaniel Popper: <https://charlierose.com/videos/28424>

Vídeo explicando o princípio de otimização do tráfico embutido nos carros automáticos: <https://www.youtube.com/watch?v=iHzzSao6ypE>


Dois exemplos de robôs com preços relativamente acessíveis.<https://www.youtube.com/channel/UCgGlyaPWWxKtjHeI-khbHWg> & <https://www.youtube.com/user/RethinkRobotics>.

Abraços,
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Eduardo Camillo K. Ferreira

unread,
Jan 19, 2017, 2:03:36 PM1/19/17
to Felipe Kaizer, Projeto Comum
Legal, esse tema vai demandar um estudo razoável mesmo!
Ainda nao tenho contribuições, vou primeiro ler e depois na nossa pré-conversa, se eu tiver algo, falou, ou mando aqui, tanto faz.
Obrigado pelos links!

Felipe Kaizer

unread,
Jan 26, 2017, 2:25:47 PM1/26/17
to Eduardo Camillo K. Ferreira, Projeto Comum
Seguinte:

mais 3 referências e eu termino.

Duas tratam da mecanização até o entre-guerras. É um antecedente importante das questões de automação.

Sigfried Giedion. Mechanization Takes Command. Nesse momento, a parte mais pertinente me parece ser a III: "Means of Mechanization (pp. 45-127). No universo da pesquisa em design, é um dos principais livros sobre história da tecnologia, junto com o Technics and Civilization do Lewis Mumford.  Nesse capítulo ele fala sobre a diferença entre a máquina e mão humana (e ferramenta). Nesse quesito, a tese dele é de que a máquina substitui com um movimento rotacional o movimento de-trás-pra-frente da mão. Ele ignora a princípio o problema da fonte de energia. Além disso, ele retraça os primórdios da mecanização até a administração científica, passando pela linha de montagem.

Frank Lloyd Wright. The Art and Craft of the Machine. É de 1901! Muito antes do lema de 1923 da Bauhaus: arte e tecnologia. Tem um belo paralelo entre o livro produzido em massa e a catedral medieval, feito pelo Victor Hugo.

E uma contemporânea sobre economia.

John Quiggin. The Golden Age. Sobre progresso tecnológico, neoliberalismo, renda básica e leisure, segundo Keynes. Mais uma vez, não se tem em vista a divisão entre centro e periferia do mundo capitalista. Vi também que o Aeon tem uma tag só para "automation & robotics".

Abraços,

Roman Iar

unread,
Jan 27, 2017, 9:41:25 AM1/27/17
to Projeto Comum
Caros,

Que belo tópico! Só coisa boa!

Antes de começar, de acordo com o google, o termo correto do que estamos falando é automatização, a gente confunde as vezes, por que de acordo com o esse site, em inglês o correto é automation. Acho bom mantermos na cabeça para não falar "errado" no áudio.

Acho que não li todas as referências do tópico, mas sei que passei por quase tudo. 
Pra mim o texto do Graeber foi o melhor, muito provocativo e lúcido.
Esse da Aeon é bom também. Acho curioso como esses dois tem um tom de futuro que não se concretizou, aqui não sei dizer muito, mas qual foi o futuro do design que não se concretizou? (ou que acabou acontecendo?)
Achei os vídeos do Mcaffe muito legais, mas tenho um problema com esse otimismo do TED, acho que vamos sofrer muito até chegar numa sociedade mais igual.

De fato há um problema em não considerar centro e periferia do mundo, lendo e ouvindo a maioria dessas coisas eu me senti completamente deslocado, a diferença na discussão sobre design também é monumental...

Bom, acho que temos diversos textos bons sobre a teoria ou economia ou política do problema. Fui atrás de algumas coisa sobre design, não foi muito fácil achar, em geral são exemplos de projetos rolando, e não teoria ou economia ou política.
  • Esse foi o melhor que eu li, tenta dar conta de vários pontos, ainda sim ele se concentra em projetos e se mostra mais otimista. Consegue arriscar uma crítica à forma. Os links dentro da matéria são bacanas também, esse fala um pouco sobre ensinar o computador a olhar imagens (e tipos também).
  • Esse estava no texto de cima, achei que o título apontaria para lugares legais, mas é só uma especulação sobre o futuro dos produtos. Achei que a escolha seria relacionada ao designer não precisar mais decidir certas coisas: tipos, cores e afins. Mas fica a discussão.
  • Isso começa a arranhar nossa discussão, pena que seja um livro de 64. Não fui muito atrás ainda.
  • Esse aqui é bem simples, o ponto é que já podemos automatizar algumas coisas e ter mais tempo para focar no que nos interessa, eu gosto que ele fala de coisas realmente urgentes como adaptar banners para formatos diferentes. Aqui da periferia, fico indiferente, já discuti essas coisas em diversos lugares e nada está apontando para isso, se conseguirmos realizar as tarefas rapidamente seremos obliterados ou trabalharemos mais.
Bom, ainda tenho mais algumas coisas para mandar, mas acho que já temos bastante material, vamos nos encontrar e discutir mais ao vivo!

Nos falamos.

Felipe Kaizer

unread,
Jan 27, 2017, 11:41:25 AM1/27/17
to Roman Iar, Projeto Comum
Complementando as informações do Roman:

No inglês, segundo New Oxford American Dictionary, não há dúvida – é automation: "the use of largely automatic equipment in a system of manufacturing or other production process:". Automatization é algo relativamente diferente: "make automatic or habitual".

Em português as duas formas se referem à automation e são aceitáveis. Segundo o Houaiss:

automatização: 1 ato ou efeito de automatizar. 2 m.q. automação.

automação: sistema em que os processos operacionais em fábricas, estabelecimentos comerciais, hospitais, telecomunicações etc. são controlados e executados por meio de dispositivos mecânicos ou eletrônicos, substituindo o trabalho humano; automatização.

​Segundo os verbetes, automação é um termo mais exato, apesar de ser um aportuguesamento recente do inglês (dicionarizado em 1976, ainda de acordo com o Houaiss).

​Logo,
sugiro que continuemos a usar automação mesmo.​

***

Sobre o texto do Graeber e do Aeon. Eu curto os dois, e topo discutí-los, mas gostaria de fazer uma ressalva. Acho que a questão econômica e a questão do bem-estar social excedem (e muito) a questão da automação. Com isso quero dizer que problemas dessa magnitude exigem análises cruzadas de muitos fatores, entre eles fatores políticos e culturais. A tecnologia responde só por um pedaço. Nesse ponto, eu me afasto da visão marxista: não creio que é possível eleger um fator – como as condições de produção material e as relações de produção que ela estabelece – para explicar todos os demais. 
Por outro lado, a questão da renda básica, por exemplo, é um ponto importante, e vai surgir invariavelmente, mas
​tenho dúvida se 
é o centro da nossa discussão. 
Eu tomaria cuidado para não
​extrapolar demais
 
o campo do nosso (parco) conhecimento.

*
​**

Aiga. O texto é bom, mas me surpreendem os exemplos. Com exceção do Dreamcatcher, são todos uma questão de imagem. São computer-aided illustrations, por assim dizer. É natural: um processo automatizado precisa ter uma cara​ diferente, do contrário você não sabe que ele é fruto de um processo automatizado. Isso remete de novo a problemas de estilo, gosto e forma. A coisas do Field, por exemplo, me lembraram as coisas do Dextro de anos atrás. A automação é uma realidade produtiva no design gráfico, mas é também um trend. [PS: Que merda de olhinho piscando é esse no site da AIGA? Eu joguei no Safari e li pelo Reader.]

Sobre a identificação de um gato. 😱​ Hume tava certo. Platão tava errado.

​Achei ótimo o texto sobre Anticipatory design​. Acho que vai no ponto. Os algoritmos já fazem inúmeras escolhas por nós. Link pra quem quiser ver a referência do Barry Schwartz

O Karl Gerstner pra mim é a grande referência do assunto no design gráfico. 
​Junto com Wim Crouwel e outros da escola suíça (Frutiger, Müller-Brockmann), ele é a prova de que a ideia de programa no design gráfico antecede o surgimento do computador pessoal. (não?)​ Uma provinha.


***

Qual é a lista final de referências que vamos abordar diretamente?

Abraços,​

Roman Iar

unread,
Jan 27, 2017, 1:06:15 PM1/27/17
to Projeto Comum
antes de responder com calma, deixo uma bela imagem:
Imagem inline 1

Rafael de Azevedo

unread,
Jan 29, 2017, 10:04:42 PM1/29/17
to Roman Iar, Projeto Comum
Olá meus caros,

Esboçando um comentário como de costume retardatário, acho que talvez seja de algum interesse entrar um pouco em história da computação, sobretudo na origem da noção de “computação pessoal”.

Quem trabalha esse termo com profundidade é o Alan Kay, cientista da computação que é um dos principais arquitetos da interface gráfica como a conhecemos hoje.

Acho um pouco difícil sintetizar o que eu considero pertinente das ideias dele para a discussão, mas em linhas gerais ele foi o primeiro a afirmar expressamente que a computação, mais do que um conjunto de métodos, processos e ferramentas, é um meio em termos Mcluhanescos, que mais do que otimizar certas tarefas humanas, reformula uma série de questões culturais e políticas. Cair na discussão sobre se os próximos avanços das tecnologias da inteligência são uma questão de interface é ir de encontro com o trabalho dele.

Um Google no Alan Kay aponta para muitas referências interessantes, das quais destaco um artigo para a Scientific American de 1977, uma apresentação de TED na qual ele apresenta alguns projetos mais atuais (com ênfase no OLPC) e este artigo (uma síntese deste), que é um dos textos mais digestos que encontrei onde ele mesmo resume grosseiramente a própria visão. Uma referência mais extensa e indigesta é esse texto sobre a história do Smalltalk, uma linguagem de programação historicamente importante que ele desenvolveu.

Outro que eu indicaria como referência pertinente é o Ted Nelson, outra testemunha presencial de eventos importantes nesse campo. Considero a série de vídeos no Youtube dele Computers for Cynics indispensável para qualquer um que queira entender o que são computadores para além da dimensão estritamente técnica. O capítulo 0 sozinho já é bastante pano pra manga.

Abs

On Fri, Jan 27, 2017 at 4:06 PM Roman Iar <roma...@gmail.com> wrote:
antes de responder com calma, deixo uma bela imagem:
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Adriano Campos

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Feb 4, 2017, 8:59:04 AM2/4/17
to Projeto Comum
olá queridos,

ainda lendo os textos, mas hoje me apareceu isso. é meio piada, meio sério, mas eu gostei.
http://www.bbc.com/news/technology-34066941?SThisFB

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Adriano Campos
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Adriano Campos

unread,
Feb 8, 2017, 9:44:05 AM2/8/17
to Projeto Comum
Queridos,
lendo os textos cheguei numa confusão quanto aos termos que estamos utilizado e do que os textos compartilhados tratam (ou me corrijam se eu estiver errado).

automação é aquilo que eu projetista faço para poupar meu trabalho ou recurso (programação, automators, etc) ou é aquilo que fazem por mim à minha revelia as vezes pelo mesmo motivo (robôs nas industrias). E minha dúvida é simples pois o primeiro ainda precisa de mim, portanto não é um problema e o segundo é o oposto.

No primeiro existe a transformação designer > programador e no segundo designer > desempregado.

Se for o primeiro a gente vai acabar caindo na discussão de sempre, quem faz e como faz, que ferramentas usamos (não é meu interesse). E se for o segundo caso, somos elite e não acho que o mundo atual esteja empenhado em destruir nossa querida profissão.

estou muito enganado?

abraços



Adriano Campos
+ 55 11 969 964 692

Felipe Kaizer

unread,
Feb 8, 2017, 1:33:48 PM2/8/17
to Adriano Campos, Projeto Comum
Oi Adriano,

é confuso mesmo.

Automação tem os dois sentidos aos quais você se refere. E automatização também!

Só que automatização é uma palavra um pouco mais antiga, que deriva diretamente de automatizar, que surge no português no começo do século XX.

Automação é bem mais recente. É um aportuguesamento do termo do automation. Consta no Houaiss que o inglês é de c. 1948 e o português de 1976. Isso me leva a pensar que automação está mais correto para designar o processo socio-econômico que vem ocorrendo depois da segunda guerra, com o advento do computador.

A automação é também mais precisa a respeito da substituição do trabalho humano por dispositivo mecânico ou eletrônico. A automatização pode significar isso, mas também o ato mais genérico de automatizar, como alguém automatiza um gesto, ou se automatiza um processo (mesmo que ainda dependente de pessoas).

A confusão permanece porque, se você procurar um verbo para a automação, pode acabar caindo no automatizar, que é a raiz da automatização.

Porém, existe o verbo automatar. Ele é sinônimo de automatizar, mas é consideravelmente mais recente: 1952. Do mesmo modo, por ser mais recente, parece mais adequado para tratar do seu segundo sentido.

Na sua lógica, o designer pode automatizar aspectos do seu trabalho sem deixar de ser designer:

designer > (automatização) > designer

Agora, hipoteticamente, alguém pode automatar o trabalho do designer, bem como de outros profissionais:

designer > (automação) > desempregado

designer > (automatização) > programador > (automação) > desempregado

Generalizando,

x > (automatização) > x'

x > (automação) > y

Onde x é o profissional, x' é um novo profissional e y é o desempregado.

Abraços,

Felipe Kaizer

unread,
Feb 9, 2017, 2:39:22 PM2/9/17
to Adriano Campos, Projeto Comum
Referência de última hora: Will automation take away all our jobs? – David Autor. O argumento é bom: a eliminação dos empregos na economia não é homogênea, e não impede o surgimento de novos empregos. O que tem ocorrido é uma polarização entre high-skilled e low-skilled jobs, com a eliminação de muitos jobs intermediários. Contém por fim uma crítica às previsões catastróficas.

Roman Iar

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Feb 13, 2017, 5:34:58 PM2/13/17
to Felipe Kaizer, Adriano Campos, Projeto Comum
Caríssimos,

Uma referência de última hora: um texto com algumas falas do Andrew Mcafee (que o Kaizer postou a um tempo), The AI Threat Isn’t Skynet. It’s the End of the Middle Class.

Me assusta alguns pontos:
  • Mcafee: “Several of the rock stars in this field came up to me and said: ‘I think you’re low-balling this one. I think you are underestimating the rate of change,'” — Isso vai de encontro com o que eu falei do otimismo dele na fala do TED.
  • Essa é péssima, sobre basic income: "But McAfee believes this would only make the problem worse, because it would eliminate the incentive for entrepreneurship and other activity that could create new jobs as the old ones fade away." — a gente tem que eliminar a ideia de que o trabalhao como existe é dignificante e necessário na sociedade, senão de fato não adianta dar renda básica ou deixar todo mundo desempregado.
Continuo achando que o Design (gráfico especificamente), vai sofrer muito impacto, sobretudo na ponta mais fraca (estagiários e assistentes) e no meio (designers jrs, plenos, diagramadores e etc), vai ganhar quem souber vender o peixe autoral.

abraços

Felipe Kaizer

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Feb 13, 2017, 9:57:16 PM2/13/17
to Roman Iar, Adriano Campos, Projeto Comum
Só mais uma referência de última hora :-)

Ainda do Barry Schwartz – The way we think about work is broken. Sobre idea technology, que me parece ser fundamental. O problema é, como sempre, distinguir entre false and true ideas. Longe de mim querer defender a posição do Smith que ele critica, mas as ideias têm sua própria lógica e não são sobrepujadas com meros argumentos de objetividade. Ele faz uma crítica da ideologia, mas fica a meio do caminho. O desafio é compreender o paradoxo de uma sociedade que gera ao mesmo tempo abundância e escassez. A utopia de um postwork or post-scarcity society (nas palavras do Graeber e do Quiggin) produz em certa medida o seu contrário.

Roman Iar

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Feb 14, 2017, 9:10:16 PM2/14/17
to Felipe Kaizer, Adriano Campos, Projeto Comum
Acho que essa devia ser a capa no soundcloud

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(tirei daqui, que parece um bom relatório, acho que fala bastante dos ~países em desenvolvimento~)

Felipe Kaizer

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Dec 1, 2017, 6:53:36 AM12/1/17
to Roman Iar, Adriano Campos, Projeto Comum
Adriano, essa é pra você. Escolhe um!

(Walker/Talker, talvez?)


Adriano Campos

unread,
Dec 1, 2017, 12:34:00 PM12/1/17
to Felipe Kaizer, Roman Iar, Projeto Comum
meu deus! isso é muito errado, mas muito errado mesmo!!!!1

pra continuar no mesmo quadrante do meu espectro político, vou escolher Data detective

que no fim será um stalker pago. já faço de graça mesmo né =)

Adriano Campos
+ 55 11 969 964 692

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