Design e Negócio

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Felipe Kaizer

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Nov 11, 2015, 5:27:15 PM11/11/15
to Projeto Comum
Vamos lá: não ficou claro para mim se a consultora de marketing de fato desenhou o sistema de identidade visual. Vocês acham que sim? Se não, quanto dos R$ 30.000 vocês apostam que foi destinado ao designer ("propriamente dito")? E, em relação à segunda parte, 5.000 é pouco? Trata-se de um projeto ou só de um arranjo (com as peças já no espaço)?

Adriano Campos

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Nov 11, 2015, 8:00:15 PM11/11/15
to Projeto Comum
A Andrea é dona da www.alzahra.com.br , então vou supor que é responsável pela equipe que desenhou tudo aquilo do petshop. Ainda no chute, senti que nenhum entrevistado estava sabendo o que falar, então acho que não foi nem aquele mulher quem comprou nem aquela consultora quem vendeu o serviço.

Acho que é um projeto. E um bom projeto me permito dizer. Olhando o portifolio da agência, ela atende basicamente o entorno dela ali na Zona Leste, fala a lingua do varejo. Ela tá bem ciente do que faz e pra quem faz. O que pra mim responde a pergunta do muito ou pouco. Ela está ganhando no varejo, não no atacado. Ganha na quantidade, no boca a boca do bairro e não com projetões que pagam muito. (me parece)

Mas a matéria tem um ar engraçado. Me permito até um preconceito inocente e bobo (como todo), mas a Andrea foge de qualquer estereótipo de designer/publicitário que a gente tenha em mente.

Parafraseando Arquivo X, A verdade está lá fora.

Adriano Campos
+ 55 11 969 964 692

2015-11-11 20:27 GMT-02:00 Felipe Kaizer <felipe...@gmail.com>:
Vamos lá: não ficou claro para mim se a consultora de marketing de fato desenhou o sistema de identidade visual. Vocês acham que sim? Se não, quanto dos R$ 30.000 vocês apostam que foi destinado ao designer ("propriamente dito")? E, em relação à segunda parte, 5.000 é pouco? Trata-se de um projeto ou só de um arranjo (com as peças já no espaço)?

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Felipe Kaizer

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Nov 12, 2015, 8:20:38 AM11/12/15
to Projeto Comum
Verdade: a verdade está lá fora, na Zona Leste.

Achei curioso o livre câmbio entre termos: entre "marketing visual", "identidade visual" e "design" principalmente. Mas isso já era de se esperar.

Varejo, certamente. Mas existe design no atacado? Acho que a diferença é entre projetos grandes e pequenos. Indústria de serviço não é sempre caso a caso?

O que achei bom da matéria foi a franqueza em relação aos números. Quando pergunto se é pouco ou muito, pergunto na real se não podemos pensar em um critério um pouco mais objetivo. Não acredito que o retorno seja tão lento e intangível quanto costumam dizer. Uma maneira de estabelecer um preço poderia ser por porcentagem do retorno esperado. Se o faturamento da loja é 30.000 por mês (360.000 no ano), então uma marca (que deva durar uns 10 anos) poderia custar 1% do faturamento nesse tempo, ou seja, 36.000. Outra maneira de calcular poderia ser basear no custo geral da identidade visual, que inclui o valor de produção de todas as peças (caso um mais complicado, dado o risco de quem projeta de escolher os materiais e os processos mais caros). Outro seria porcentagem da diferença esperada na margem de lucro antes e depois da implementação do novo projeto.

Obviamente, isso tudo é especulação, mas estimativas são importantes para se ter uma ideia do valor do investimento e do retorno (tanto de quem contrata quando de quem é contratado). Novamente é uma luta pelo controle/conhecimento do orçamento.



Felipe Kaizer

felipekaizer.com
skype: felipekaizer

Adriano Campos

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Nov 12, 2015, 9:06:55 AM11/12/15
to Projeto Comum
só pra definir como pensei:
varejo: pequenos clientes em grande quantidade. Mais ou menos como trabalha o fazedor de cartão do centro
atacado: marca da Copa, Correios, Latam etc. que devem custar 6 dígitos e quem pega esses trabalhos está contente se pegar 3 por ano.

Assim como o próprio comércio criou maneiras de fugir da dicotomia atacado / varejo, outras áreas também criaram. Hoje a gente vai no Sam's Club compra atacado como varejo. But I digress...

E acho legal essa sua conta, mas vejo um problema: Se o design/marketing visual/identidade visual está ali para "agregar valor", como definir o valor inicial e o valor pós-design? Eu como designer (eu consciente coletivo) vou sempre julgar que uma marca está aquém do seu valor e que poderia agregar mais valor. Não sei se me faço entender, mas é exatamente essa falha no discurso que faz uma marca mudar de identidade a cada 3 anos.

Ontem comecei a escrever, mas desisti, mas como se chegou a conclusão que a mudança de marca e postura que aumentaram os ganhos? O quanto disso não é wishful thinking? O quanto o petshop do lado sem logo e sem sacolinha está lucrando? O quanto um negócio lucrativo não é um movimento natural do capitalismo que envolve uma certa dose de acaso?

Adriano Campos
+ 55 11 969 964 692

Roman Iar

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Nov 12, 2015, 12:01:24 PM11/12/15
to Projeto Comum
Caros,

Gostei muito do vídeo, acho que entra em questões que eu não tenho nem repertório para começar a pensar. Eu realmente não consigo desenvolver muito sobre essa questão de design como/e negócio/indústria. Sobretudo é claro por estar nessa bolha da cultura em que não há tanto a estratégia de: vender, melhorar, agregar valor, gerar lucro.... Essas coisas operam em outro sentido. Me parece que essa Andrea tem uma mentalidade muito mais próxima do Wedgwood do que a Elaine Ramos por exemplo, e essa diferença é uma diferença de repertório. Fico muito pensando por que o mercado de cultura não consegue pensar também nesses termos, claro que dá para ir pelo caminho ideológico/moral de não fortalecer uma indústria cultural e etc... mas será que alguém se interessa em prosseguir essa lógica do designer artesão? Me parece óbvio que sim, só não tenho as ferramentas necessárias para entender exatamente quem ou por que (só divagações políticas).

Não concordo com o Adriano em dizer que a Andrea foge do esteriótipo ou que nenhum entrevistado não sabia o que estava falando. Acho que eles estavam com o discurso que se espera do designer: discurso formalista de agregar valor.
Não concordo também com a divisão entre projetos atacado e varejo, essas grandes marcas que pagam bem exigem outra organização que em geral é maior, aí a grana toda vai para o designer chefe ou dono da empresa/agência/estúdio. O designer pião que varou madrugada no projeto continua ganhando mal, assim como pegar vários projetos menores caem na mesma lógica de trabalhar muito e ganhar razoavelmente bem.
Também não concordo com o movimento natural do capitalismo ser o lucro e isso envolver o acaso. Acho inegável dizer que tem empresas que se beneficiem sim da lógica formal do design aliado a confiança (repetido exaustivamente no vídeo), organização desejo e etc. Para certos extratos sociais a configuração da loja, a marca bonitinha e essas coisas influenciam muito na decisão de consumo, apple taí pra provar um pouco disso (wedgwood também). Acho que só não temos ferramentas necessárias para medir isso. 

Por ora é isso, tenho algumas outras coisas mas muito abstratas e desorganizadas.
Roman Iar Atamanczuk
http://romaniar.com.br
con...@romaniar.com.br
skype - roman.iar

Roman Iar

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Nov 12, 2015, 12:15:18 PM11/12/15
to Projeto Comum
Ah sim, dentro de tudo que estamos discutindo seria interessantíssimo falarmos com essa Andrea não?

Adriano Campos

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Nov 13, 2015, 7:31:12 AM11/13/15
to Projeto Comum
Eu vejo alguns problemas na análise que fizemos do Wedgewood. Acho que acabamos endeusando ele sem motivo. E isso tem me preocupado muito. E não acho que tenha sido esse o ponto do Forty. Na minha análise, Cosac e Wedgewood são a mesma pessoa! Os dois vendem arte travestido de produto )ou produto travestido de arte)

Não existe pra mim a contradição Wedgewood x Elaine/Cosac. Wedgewood contratou uma Elaine e deu certo (Flaxmann, artista escultor, trabalhou 12 anos pra ele e foi seu colaborador mais longevo). E ele estava aplicando arte nos vasos pra vender mais (não sabemos se vendeu mais), como a Cosac e seu modernismo/construtivismo. Pra quem diz que a Cosac deu errado, os fatos: ela é uma editora, no Brasil, com mais de 10 anos, vendendo livro, sem governo envolvido, e todos nós temos pelo menos 5 exemplares deles em casa. Não posso dizer isso de outra editora além da Boitempo na minha estante! Minhas críticas a Cosac não são da sua forma, e sim do seu conteûdo errante. E lembremo-nos da informação que a Elaine ganha menos de 10mil por mês, ela é uma de nós!

Não vejo nenhuma diferença entre a reimpressão da Klaxon feita pela Cosac e a reedição do vaso Portland feito pela Etrúria. É o exato mesmo projeto: pegar algo velho, deixar com cara de velho, mas não a ponto de ser velho de verdade que não se queira comprar. A história da Cosas será contada exatamente como a do Wedgewood, tenho certeza.

Outro ponto: Wedgewood era o mal. A história é sempre contada pelos vencedores, e não são eles http://designceramico.com.br/wp-content/uploads/2011/03/Ceramic-World-Review.jpg ! E não temos como saber se o vencedor na época não é a outra cerâmica de Manchester. Talvez ela tivesse mais lucro. Talvez fosse mais humana e não demitisse seu funcionário que queria exercitar sua verve criativa! Não façamos isso, peço. Não elogiemos o capitalismo pelo que tem de mais nefasto: a diluição do valor de um trabalhador no valor do que produz.

E não julguemos as cartas poéticas entre amigos como balancetes! O próprio Forty nos adverte no texto. Ele toma todos os cuidados pra não falar do sucesso da cerâmica de luxo do Wedgewood. Reconhece que analisava um nicho e somente isso.

E acho que vocês se pegaram erroneamente no atacado e varejo: numa loja de atacado e na de varejo, e na cerâmica ou na Cosac, na Blucher ou na Bienal, o dinheiro nunca vai pro peão que virou a noite. A divisão atacado e varejo é só de modalidade e de área de comércio. Uns preferem ser de um jeito, outros de outro. Não é uma análise. Atacado é vender mais pra menos gente, varejo é vender menos pra mais gente (o lucro dos dois pode ser o mesmo, não há juizo de valor). O mercado Dia, por exemplo, faz os dois simultaneamente. Há o preço da caixa e o preço da unidade. Imagino que a Tátil nem responda email do petshop ddo Tatuapé e que a Andreia nem responda email do redesenho dos Correios.

E sobre o estereótipo, era só fisico. Ela não se parece com nenhum de nós e com nenhuma das pessoas que me formei. Era só isso. O discurso é o mesmo, nem saberia dizer. =)

Desculpe o textão, está me incomodando tomarmos o Wedgewood como exemplo, e não como fabricador de objetos de desejo.

um abraço

Roman Iar

unread,
Nov 13, 2015, 8:44:18 AM11/13/15
to Projeto Comum
Adriano,

Concordo com a maioria dos seus pontos, mas discordo em relação a endeusar o Wedgwood. Sei de toda a problemática que ele representa, mas quando eu falo dele evito esse tipo de juízo moral (inclusive por conta do que falei de não ter os instrumentos necessários para discutir design e negócio). Acho que o discurso da Cosac e do Wedgwood estão alinhados mas a empresa dele existe até hoje e todo ano que entra vem a máxima de que a Cosac vai fechar, e para mim isso acontece por conta de uma determinada estratégia aplicada ao design. E eu já não acho a Elaine igual a nós! Eu imagino que ela escolha essa posição! Ela não aceita esse pagamento por que é a última opção dela e vive uma vida mais ou menos por que ganha mal! E nesse sentido é a mesma coisa do Kiko que pode se dar ao luxo de não cobrar por um trabalho por que ele não precisa! Esse é o grande problema da nossa cultura de design, vendem a idéia de que é pra fazer design por que se ama não por que é um trabalho. Não acho que falar do Wedgwood seja elogiar o capitalismo, é só um instrumento para ajudar a compreender nossa situação atual e como lidar com essas questões que temos

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Eduardo Camillo K. Ferreira

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Nov 14, 2015, 7:14:58 AM11/14/15
to Projeto Comum
Adriano, o que tenho visto de validação de investimento para saber se deu returno ou não é mais para o mundo das startups (por causa do que meu chefe me deu pra ler), mas não creio que seja muito diferente para um PetShop ou para a revista SuperInteressante: cada um provavelmente cria sua estratégia de medição conforme o que foi feito, simples assim. Para o mundo online, o Google Analytics dá uma baita mão porque, se integrado direitinho no seu e-commerce e nas suas campanhas, etc, ele te fala de cada campanha, quando de dinheiro foi gerado nela, qual a média de pedidos, país do pedido, se foi mobile/ads/facebook... Nesse caso, é mais fácil de medir e chegar a conclusões de se valeu a pena ou não gastar 3 horas do designer da casa para ele fazer aquele email marketing. E no mundo offline, sempre tiveram aqueles formulariozinhos de "como nos conheceu?" ou a pergunta da própria veterinária pros clientes. Se o Gato no telhado fez diferença para alguém e ela consegue saber disso, embora a imprecisão seja grande, vai ser um indicador de "valeu a pena ou não". E ela poderia criar seus próprios critérios de "medição" para melhorar isso, tenho certeza.

O Petshop do lado, sem sacolinha nem logo, pode ter até maiores lucros e ganhos, mas como os critérios de avaliação são outros, a comparação é difícil. A validação se determinado investimento em design é válida ou não é apenas interna do negócio. Do outro que não investe e ganha mais, nunca saberemos se caso investisse seria mais ainda, ou se ganha mais justamente porque não tem design. Mas se a moça do Petshop medir direitinho as fontes de clientes, comparar com quanto gasta conforme cada fonte, etc, ela consegue saber para o negócio dela o quanto fez diferença aquilo ou não. Então, sim, pode ser total Wishful Thinking, ou pode também ter critérios razoavelmente claros e minimamente coerentes para avaliação do retorno, assim como pode ser totalmente o acaso de a pessoa passar na rua olhando pra direita e não para a esquerda, e por isso ela vê o gatinho no telhado, e por isso entrar. Mesmo que tenha sido isso, o gatinho estava lá para ajudar no acaso de ela olhar para a direita. É com ela então saber medir pra ver se funcionou ou não.

Do paralelo Cosac VS Wedgewood, acho que podemos concordar que se trata apenas disso: um paralelo. Ou seja, possuem características semelhantes que funcionam sob uma mesma determinada lógica, e isso funciona até determinado ponto apenas. A lógica de ambos para seus negócios é semelhante, e muito bem definida pelo Adriano: produto travestido de arte, e isso serve para realizar o paralelo de um ponto de vista de princípio estético, de negócio e política de design da empresa/ equipe de design (tudo até certo ponto). Pode até seguir um pouco mais para se a Elaine é paralela aos artistas que deram problema pra o Wedgewood, ou se ela é o Flaxmann. Mas só. Depois disso, um é livro e outro é cerâmica. Um é modernista e o outro é neoclassicista. Um é 2015, o outro é 17(??). Daí me parece que comparações param de funcionar... A Cosac ameaça fechar todo ano é por causa disso? Ou é por problemas outros? Se for por causa disso, se em vez de modernista eles fossem neoclassicistas, funcionaria melhor? Ou por que livro e é livro de arte, nunca vai funcionar, e podia imprimir em papel de jornal na impressora de casa que dava na mesma? Ou será que só não fechou mesmo porque é modernista? 

Fica difícil conclusões de sucesso/fracasso da Cosac baseando-nos apenas no Wedgewood, eu pelo menos não tenho a quantidade de dados necessários para passar do paralelo. Tirar conclusões a partir do paralelo não me parece que levará a lugar nenhum do que um terreno pantanoso de especulações e incertezas — que podem até se mostrarem verdadeiras, mas ainda incertezas.

Adriano Campos

unread,
Nov 15, 2015, 8:57:02 PM11/15/15
to Projeto Comum
Quero deixar muito claro que, pra mim, a ameaça de fechamento da Cosac é por conta de sua editoria errante. Os livros, acho-os lindos ou não e não me passa pela cabeça criticá-los por sua forma. Sou sim, vítima dela, estou olhando pra alguns que só comprei por achar bonito e/ou pra ser cool.

Sobre medir sucesso, a internet me parece ter resolvido um tanto a questão dela com os medidores (embora você sempre possa pagar pra uma equipe de chineses dar uma ajudinha). O que me lembra de uma frase, que infelizmente não lembro o autor: Se apertar os números você tira deles a informação que precisar.

Já nesse mundo que está fora dela minha suspeita é que devagar está se resolvendo também. Explico:
Pra mim, as equipes internas de design são isso. Mas elas não se explicam pelo quanto elas ganham pra empresa. Elas estão lá e conseguem provar o quanto elas economizam. Foi nesse ponto que interpelei o Kaizer. Não há como saber, a priori, se eu na bienal estou agregando mais ou menos que a Paula Scher. Provavelmente não. Mas consigo provar que economizo mais que ela. E isso é muita coisa!

E acho que está ai a grande virada. Já não é mais sobre agregar valor. Todos fazem isso (o que significa que ninguém está fazendo). O capital então, sabedor disso, vai ver quem aperta pra economizar sem perder. E aposto minhas fichas que somos nós, os designers. Inclusive com novo enunciado: criar experiências.

Bom, mas isso é achismo, admito. E precisava trazer o achismo pra esquerda. O kaizer a levou pro neoliberalismo. =)

ps: nesse assunto de designer in-house me lembrei de uma frase desse texto: longo, bem americano e bastante Harvardiano. E apesar disso, pra mim, um ótimo texto:
https://hbr.org/2015/09/design-for-action

Of course, introducing something new is always worrisome. The hybrid [car] might fail in the marketplace. That would be costly and embarrassing. It might cause other vehicles in the portfolio to be phased out, producing angst for those who support the older models. Yet the designer usually pays little attention to such concerns. Her job is to create a truly great new car, and the knock-on effects are left to others—people in marketing or HR—to manage.

abraço



Adriano Campos
+ 55 11 969 964 692

Felipe Kaizer

unread,
Nov 16, 2015, 1:59:53 PM11/16/15
to Projeto Comum
Caros,

não consegui acompanhar a conversa nos últimos dias e me surpreendi agora (positivamente) com o volume das mensagens. Me parece que, mesmo sem o domínio das categorias da economia política, estamos pensando!

Quero retomar dois pontos que o Adriano colocou: 1. o wishful thinking do valor agregado e 2. a diferença entre a economia de custos e o aumento dos lucros.

1. Se entendi direito a crítica do Adriano, é virtualmente impossível medir a priori o valor de um produto e serviço "com design". Certo, mas essa é a dificuldade de qualquer medição em cenário complexo como o econômico. Qualquer investimento (seja um projeto de identidade visual, seja uma loja nova) lida com o risco de perdas de recursos. Na verdade, essa avaliação (prévia) de risco é naturalmente especulativa: mutatis mutandis, assume-se que se poderia cobrar mais pelos mesmos produtos e serviços após a implementação de um novo projeto de identidade visual, ou que se poderia no mínimo atrair mais clientes (o que dá no mesmo, se medirmos a receita ao ano e não a receita/pessoa ao ano). Essa incerteza quanto ao resultado de um investimento é matéria de vários estudos; e mesmo que no nosso exemplo não envolva análise formal alguma, dá pra apostar que a dona do negócio intuiu que esse investimento renderia bons frutos (a loja dela, no mínimo, acabou na TV e aumentou significamente as chances de mais vendas).

Isso me leva a um ponto colocado pelo Roman: a diferença entre (mercado de) cultura e mercado. Me lembrei de uma conversa que tive com Stolarski sobre branding cultural: quando perguntei sobre como se avaliava o sucesso de um processo de branding, ele respondeu brutalmente: pelo valor das ações, isto é, pelo valor hipotético da empresa caso ela fosse posta a venda no dia seguinte. E aí estava também o imbróglio do branding das instituições culturais (que não tem capital aberto ou fins lucrativos): não existe um medidor final de que a instituição ao final vale mais com branding. Fica claro o problema de não se ter medidores. Parafraseando o lema do management, "what (doesn't) get measured (doesn't) gets done".

2. Meu lado neoliberal ;-) me diz que, para o capitalista, não existe diferença entre ganhar e não perder (ou entre não ganhar e perder). Se o design in-house ajuda a não perder, ele pode dizer que ajuda a ganhar. E por que? Porque o retorno de um investimento em identidade visual (por exemplo) é, em primeiro lugar, a identidade visual feita. Se a Bienal investe em um projeto inhouse de id-visual que custa menos que um projeto externo, isso significa que ele tem o mesmo retorno por menos dinheiro, ou seja, que ele "ganhou". É normal pensar assim porque em geral nós aprendemos a assumir de início que tudo pode ser feito sem custo, ou seja, que podemos ter retorno sem investimento (o que é um absurdo!). Mas a coisa não pára por aí; tudo fica mais complicado quando, no regime capitalista, o único "retorno" é o acúmulo do capital por si mesmo, isto é, todo o retorno se reduz ao aumento relativo da quantidade de dinheiro (vulgo lucro). Logo, o dono do negócio que investe em id-visual não entende mais o retorno do investimento como "id pronta", mas como receita acrescida através de um aumento dos preços em função da disposição do consumidor para pagar mais pelo valor percebido (razão pela qual a renovação das identidades tende a ser constante; é um caso de obsolescência perceptiva). Aí sim começa a fazer sentido o famoso "valor agregado": a finalidade dessa agregação é o aumento da receita das vendas. (Por isso discordo do Eduardo: existe sim no capitalismo uma maneira de comparar potencialmente todos os negócios.) Nesse sentido, investir em design em um cenário competitivo – onde a qualidade dos produtos e dos serviços tende a ser a mesma e um dos critérios para conseguir a atenção dos consumidores é a construção de imagens e conceitos (como o de experiência) – não é apenas um wishful thinking: o "retorno" (isto é, o lucro) a médio e longo prazo é bem concreto.

E aí concordo com o Adriano: independente dos jobs no varejo ou no atacado, o sistema de produção (de propriedade privada e voltado para o mercado) mantém intacta a exploração da mão-de-obra e o regime do mais-valor. A chave para entender o papel determinante do gosto/arte/estética/design nesse sistema de produção-distribuição está no padrão de consumo; é o consumo que puxa a produção. Consumo que é medido no momento da troca (de dinheiro e mercadorias).

Esse assunto está rendendo; continuemos!

Abraços,

Felipe Kaizer

felipekaizer.com
skype: felipekaizer

Adriano Campos

unread,
Nov 17, 2015, 8:22:51 AM11/17/15
to Projeto Comum
Chegamos a alguns impasses, me parece: (não?)
- como medir consumo
- como medir o design(er) na estrutura de uma empresa

Ai ontem depois de ler a resposta fiquei pensando em alternativas, se é que a queremos:

Existe uma área super tranquila(!) com sua precificação. Não importa se o funcionário é bom ou ruim, não importa se começou hoje ou há 30 anos, recebem o mesmo por hora: os taxistas. Muito embora não sejam "funcionários", já que prestam serviço, são pra fim de análise, proletariado como nós.

O valor da bandeira é definido pelo governo, imagino que aconteçam toda sorte de conversas e aquilo que vemos no taxi é um valor médio entre a proposta dos taxistas e a do governo. Não importa se o taxista é bom ou ruim, se dirige bem ou mal, se usa o estilo de direção modernista ou neoclássico, ele é pago exatamente igual. E isso está definido antes de se entrar no taxi. Pra fim de piada, o Uber seria o micreiro, não é profissional e cobra mais barato. Pra fim de piada 2: alguem me contou que no Rio os taxistas estão deixando de conversar com os passageiros (como os motoristas de Uber). E essa pessoa relatou que ouvindo no rádio alguma noticia do Flamengo, fez algum comentário sobre futebol que foi respondido: -- Eu só preciso saber pra onde você vai.
ps: claro que o taxista do aeroporto ganha mais que o do bairro, mas isso é política e as forças do capitalismo se regulando.

E me pus a pensar como seria isso aplicado ao mundo do design (in ou out-house). Um valor por hora, definido por alguém acima, que unificasse Trench, eu e o menino da gráfica. Como a gente se sentiria com isso?
(Não respondam tão rápido, um preço governamental seria, como todo, uma média, portanto, baixo)

Enfim, é só um chiste de quem ainda está pensando no assunto,

um abraço

Adriano Campos
+ 55 11 969 964 692

Beatriz Freindorfer Azevedo

unread,
Nov 17, 2015, 10:52:30 AM11/17/15
to Adriano Campos, Projeto Comum
Oi Adriano!

Primeira vez que respondo uma mensagem aqui e infelizmente não tenho disponibilidade para acompanhar e contribuir de forma tão próxima. Só gostaria de oferecer um insight e um caminho das pedras possível para você continuar:

  1. Nas empresas grandes o designer é um analista de negócio e não um artista. Essa mudança de mindset é importante, tanto para atuar dentro das empresas quanto para buscar informações sobre como funciona. Não está nos textos acadêmicos, e sim nos MBAs. Não está na comunicação/branding/marca, e sim no desenvolvimento de produtos (o que quer que isso significa na área de atuação da empresa).

  2. Por conta disso, a avaliação de performance deste designer é multifatorial e nem sempre o mais criativo é o melhor avaliado. Quem entrega melhor a tangibilização da estratégia da empresa é o melhor. (isto não signifa não desempenhar as atividades habituais de design de desenho etc.)

  3. Empresas que não tratam os designers como analistas de negócio (ex. as agências e empresas que entendem design como comunicação e não como estratégia) não desenvolvem processos maduros para avaliar a contribuição do design no negócio. Nestes modelos de gestão empresarial, o design/mkt/comunicação (you name it) é tratado como custo. E o problema de ser custo é que o único ganho de negócio previsto por modelos (como BSC por ex) é o da redução: que quadro, de infraestrutura, de recursos...

  4. Para empresas que querem integrar o design à estratégia hoje, não é tão desafiador assim medir a contribuição do design(er) em grandes empresas. Muitas empresas (inclusive a que eu trabalho) já estão maturando métodos e processos há alguns anos.

  5. Procure por empresas no exterior para fazer benchmark. No Brasil esse modelo de trabalho é recente e pouco disseminado. Olhe as startups digitais - AirBnb, Spotify, Facebook, Google, Enjoei -- mas também olhe empresas consolidadas como IBM, as montadoras japonesas,  Amazon, Wallmart, Whrilpool... Compara empresas "de filosofia contemporânea" com as "ultrapassadas" que eu acredito que ficará super tangível entender a diferença.

Boa sorte e precisando de mais insumos, fique à vontade para me escrever


Bjs

Bia


Roman Iar

unread,
Nov 17, 2015, 11:20:02 AM11/17/15
to Projeto Comum
Caros,

Ainda não sei o que responder exatamente.

Li essa entrevista de um dos diretores da McKinsey com o John Maeda e gostei bastante (ainda não vi o vídeo), não que concorde exatamente. Mas eles falam de muitas coisas que arranhamos neste e em outros tópicos. Spoiler, para eles também é difícil medir o resultado do design mas eles apontam uma coisa que a gente já tinha visto na entrevista com a Bia, o mobile consegue medir e se adaptar muito mais dinamicamente, talvez seja por esse caminho que devemos ir se quisermos nos aprofundar nessa questão de métricas, inclusive fico pensando num exercício de fazer uma id. pro projeto comum e mudar algumas vezes e ver o resultado das visitas via google analytics (viajei um pouco aqui, mas não acho um exercício complexo ou distante).

Adriano Campos

unread,
Nov 30, 2015, 11:40:51 AM11/30/15
to Projeto Comum
Olá Beatriz,
primeiro: muito obrigado pela resposta! Fico, e acho que falo por todos, muito feliz com ela.
Em segundo lugar, desculpe a demora na resposta. Ela se deve também a correria, mas principalmente por que tive que pensar um bocado no que escreveu.

Entendo que setores do mundo corporativo se meçam e estejam fazendo um bom trabalho nisso. Mas entendo também que existam muitos mundos possíveis: o Itaú, o petshop do bairro, a empresa de cartão de visita, a grande agência, a tok & stok, a marcenaria familiar, etc. Todos estão confiando no designer pra alguma tarefa (seja ela a de artista ou analista, mão de obra barata ou especializada, oficial de fábrica ou artesão). Minha questão talvez seja como medir todos esses juntos (e se eles ainda devem ser medidos juntos).

Pra mim é claro o salto que existe entre o analista e o designer artista, inclusive ferramental. E mais importante, educacional. Alguns designers hoje falam em M.B.A., outros vão falar em manejar bem o pacote Adobe. Talvez esteja querendo criar um ponte muito grande entre eles e medi-los juntos, como categoria profissional que são (ainda mais estando na premência de sermos regulamentados como tal), e isso seja impossível.

E devo dizer que o item número 3 sempre aparece em nossas discussões e não poderia concordar mais!

Enfim, muito obrigado pela resposta, procurarei caminhos onde indicou e fique livre pra indicar leituras. =)

abraços,

  1. Nas empresas grandes o designer é um analista de negócio e não um artista. Essa mudança de mindset é importante, tanto para atuar dentro das empresas quanto para buscar informações sobre como funciona. Não está nos textos acadêmicos, e sim nos MBAs. Não está na comunicação/branding/marca, e sim no desenvolvimento de produtos (o que quer que isso significa na área de atuação da empresa).

  2. Por conta disso, a avaliação de performance deste designer é multifatorial e nem sempre o mais criativo é o melhor avaliado. Quem entrega melhor a tangibilização da estratégia da empresa é o melhor. (isto não signifa não desempenhar as atividades habituais de design de desenho etc.)

  3. Empresas que não tratam os designers como analistas de negócio (ex. as agências e empresas que entendem design como comunicação e não como estratégia) não desenvolvem processos maduros para avaliar a contribuição do design no negócio. Nestes modelos de gestão empresarial, o design/mkt/comunicação (you name it) é tratado como custo. E o problema de ser custo é que o único ganho de negócio previsto por modelos (como BSC por ex) é o da redução: que quadro, de infraestrutura, de recursos...

  4. Para empresas que querem integrar o design à estratégia hoje, não é tão desafiador assim medir a contribuição do design(er) em grandes empresas. Muitas empresas (inclusive a que eu trabalho) já estão maturando métodos e processos há alguns anos.

  5. Procure por empresas no exterior para fazer benchmark. No Brasil esse modelo de trabalho é recente e pouco disseminado. Olhe as startups digitais - AirBnb, Spotify, Facebook, Google, Enjoei -- mas também olhe empresas consolidadas como IBM, as montadoras japonesas,  Amazon, Wallmart, Whrilpool... Compara empresas "de filosofia contemporânea" com as "ultrapassadas" que eu acredito que ficará super tangível entender a diferença.

Felipe Kaizer

unread,
Dec 17, 2015, 3:02:12 PM12/17/15
to Projeto Comum
Olá caros,

em primeiro lugar, muito obrigado Bia, por se dispor a contribuir. Fique à vontade, como sempre, para retornar.

Agora, para retomar os dois impasses que o Adriano colocou anteriormente:

- como medir consumo 
- como medir o design(er) na estrutura de uma empresa

Eu não acredito que o primeiro impasse seja real; esse ano eu tentei escrever um pouco sobre isso e acho que a resposta nesse caso é simples: a receita das vendas. Esse número pode ser matizado por uma série de outros fatores (devoluções, reclamações etc), mas, considerando a saúde financeira de qualquer empresa, é preciso reconhecer que a entrada de dinheiro é a maneira principal de compensar os custos.

O segundo impasse, contudo, permanece. Poderíamos colocar em outras palavras: como medir a contribuição do trabalho do designer à produção de uma empresa. Considerando a resolução do primeiro impasse, me parece que essa mediação tem que se dar nos termos de investimento-retorno: quanto X reais retornam do investimento de 1 real em design interno? Se X for maior ou igual a 1, é possível considerar que o design interno vale a pena. (Esse é o momento em que o Adriano bufa contra o risco de pseudo-objetividade. Esses, no entanto, são os termos do jogo do management; inclusive, sem essas estimativas, é impossível sequer reconhecer a tal produtividade marginal: aquilo que os designers, por exemplo, geram de benefício para a empresa que fogem da contabilidade dos projetos, como a organização interna que aumenta a produtividade geral.)

Nesse ponto concordo com a Bia: essas mediações (digitais ou não) estão cada vez mais em jogo a medida que as empresas crescem. A informalidade e a intuição costumam ser mais comuns em gestões menores, onde faltam recursos para investir não só em produção, mas em produtividade.

Hoje, passando por acaso por aquele documento publicado pela Apex e pelo CBD, Diagnóstico do Design Brasileiro, encontrei isso aqui (p. 24):

Neste estudo, foi utilizado como base a Escada do Design, originalmente desenvolvida pelo Centro de Design da Dinamarca e depois adaptada pelo programa Design Management Europe(DME) para a avaliação da capacidade de design das empresas. A ferramenta de avaliação chama-se Design Management Staircase, ou Escada da Gestão do Design (KOOTSTRA, 2009), que classifica o perfil de gestão de design de uma organização em quatro níveis:
  • DM1: O design é utilizado de maneira esporádica e descontinuada, com pouco conhecimento disponível para lidar com as atividades do setor. As etapas de projeto tendem a ser imprevisíveis e os resultados inconsistentes.
  • DM2: O design não é reconhecido como ferramenta para a inovação de produtos. Em vez disso, é usado como auxiliar de marketing, que agrega valor por meio do aspecto visual do produto, embalagem ou identidade visual. Há pouca ou nenhuma colaboração entre departamentos e coordenação das atividades de design.
  • DM3: Um indivíduo ou um departamento tem a responsabilidade formal de fazer a gestão de design. Ele atua como uma interface para designers e outros departamentos, bem como para gestores na empresa. A fim de encurtar os ciclos de desenvolvimento, o design é aplicado de forma proativa e é considerado uma característica permanente do desenvolvimento de novos produtos.
  • DM4: As empresas deste nível têm o design como referencial e se destacam por investirem em estratégias de diferenciação focadas em design. A alta administração e outros departamentos estão intimamente envolvidos com o design, que faz parte da estratégia de negócios da empresa.
​Naturalmente, a validade dessa mediação é q​uestionável, mas mostra – assim como a conversa do Maeda postada pelo Roman – uma preocupação constante e de todas as partes em conseguir precisar o valor do trabalho (do designer).


Mas aqui eu queria defender um ponto: qualquer mediação se apóia em categorias, e a luta inicial é para definir quais são as categorias válidas. Nesse sentido, quem controla a definição das categorias (valor, trabalho…), controla também as condições objetivas do trabalho dos demais, na medida em que pode estabelecer regimes baseados em metas. Logo, o terceiro impasse que surgiu aqui é igualmente importante: quando se trata de design, onde se traça a linha de corte entre aqueles que controlam e aqueles que são controlados? A pergunta que eu me faço nesse momento é se essa linha de corte deve se basear na dicotomia Assalariado-Autônomo ou (nas palavras da Bia) na dicotomia Analista-Artista. Não acredito que exista uma correspondência exata entre essas duas maneiras de estruturar o campo de atuação profissional do designer; e tendo a achar que o conceito de Analista, se colocado de maneira ingênua, pode servir para obscurecer os problemas advindos do designer como Assalariado. Além disso, a concepção de Autônomo é altamente problemática dentro do universo da economia política (marxista) que tenho rascunhado aqui: o autônomo é o paradoxo de um trabalhador que (supostamente) detém os meios da sua própria produção, algo completamente alheio à situação real dos freelancers.

Acho que a invocação dessas categorias faz toda a diferença na hora de propor medições. O próprio documento que citei aqui, em alguns momentos, parece eclipsar a diferença entre a prática (design) e o praticante (designer): frases como o "uso do design pela indústria" podem ser lidas como o "uso do designer diplomado pela indústria", revelando não só um interesse corporativista (que pode fazer parte da tentativa de transformar o Estado em empregador ou em garantidor do emprego), mas também trazendo para o primeiro plano problemas básicos como o da exploração e da dominação nos ambientes de trabalho.

Abraços,

Felipe Kaizer

felipekaizer.com
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Felipe Kaizer

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Dec 20, 2015, 5:54:11 PM12/20/15
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Dois adendos:

1. Demonstrando mais uma vez que os números estão no centro da discussão, encontrei numa revista de avião o seguinte parágrafo, referente a uma campanha publicitária em comemoração a entrada da Avianca na Star Alliance:

Os resultados evidenciam a eficácia da campanha. Entre os meses de julho e setembro, o número de passageiros transportados aumentou 15%, as visitas ao site subiram 26%, o número de clientes que aderiram ao programa de fidelização Amigo cresceu 65%, com 1,3 milhões de views no Youtube e 700 mil views no Facebook.

Naturalmente, só uma série histórica pode pretender dizer se essa "eficácia" não se refere a outros fatores, internos e externos, simultaneamente em mutação.

2. Segundo episódio da série The Trap do Adam Curtis, sobre o desenvolvimento absurdo da lógica utilitarista e do regime de metas das novas formas de management: <https://vimeo.com/90593277

Abraços,

Felipe Kaizer

felipekaizer.com
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Felipe Kaizer

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Jan 2, 2016, 4:51:54 PM1/2/16
to Projeto Comum
No mesmo espírito da entrevista que o Roman postou com o Maeda, segue outro link: <http://blogs.wsj.com/accelerators/2014/02/21/john-maeda-three-principles-for-using-design-successfully/>. Ele parece ter abraçado essa causa, do design inseparável dos negócios.

Adriano Campos

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Jan 4, 2016, 9:40:59 AM1/4/16
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Senti um pouco que pro Maeda design é inseparável do "sentimento/experiência" e isso (nos dias de hoje) está inseparável dos negócios. Pra um negócio a resposta seria sempre lucro, custo e tempo. E ele diz, em certo ponto, que hoje escolhemos a experiência e não mais qualidade:

So we don’t yearn for the bigger, brighter or even cheaper as much anymore. We now choose based upon design – the answer to “how it feels” versus “how fast it is.”

E isso da "experiência" tem aparecido bastante. Forma e função jazem com a Europa que a criou.


E outra coisa que me chamou atenção, e é só um chiste que vem de longa data, que é como a gente representa o que um designer faz.

(...) there’s room to blur the definition of a designer as someone who can also code, and an engineer as someone who can make design decisions.

programador faz código, advogado advoga, médico cura, engenheiro constrói e designer toma decisões de design.

Mas em linhas gerais o texto me pareceu mais se vendendo pro Vale do Silício que outra coisa, não?

um abraço



 


Adriano Campos
+ 55 11 969 964 692

2016-01-02 19:51 GMT-02:00 Felipe Kaizer <felipe...@gmail.com>:
No mesmo espírito da entrevista que o Roman postou com o Maeda, segue outro link: <http://blogs.wsj.com/accelerators/2014/02/21/john-maeda-three-principles-for-using-design-successfully/>. Ele parece ter abraçado essa causa, do design inseparável dos negócios.

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Felipe Kaizer

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Jan 4, 2016, 1:49:07 PM1/4/16
to Projeto Comum
Acho que é propaganda sim. Menos de uma causa (como eu disse), do que de um "produto". E concordo com o Adriano que a ideia vaga de "decisão" obscurece a natureza da atividade. Talvez isso aconteça por uma falta de vocabulário; eu me sinto confortável em dizer que "projeto" e em alguns casos "desenho". Ao menos nesse ponto a língua latina se vinga do inglês.

O comentário do Adriano me levou a pensar quão trágico é ver um (eminente) educador falando em termos de "feeling" e "[to] 'get' design". O momento mais explícito do texto nesse quesito é quando ele fala em "human skill", porém mais a título de privação e limite (do "human") em relação à tecnologia do que em benefício do que seria um "skill" específico.

Talvez fosse mais honesto do Maeda admitir a essência capitalista da própria definição da atividade/profissão, em vez de apelar a irracionalidade da natureza humana para a qual nenhum parâmetro estabelecido pode satisfazer. Isso é má ontologia associada a um utilitarismo vulgar. Seria melhor abandonar as suposições sobre o ser do ser humano.

Agora se o Maeda, em pleno século 21, ainda faz o papel de mascate do design, é porque a posição dos designers na cadeia produtiva continua bem precária. (Isso não quer dizer que outros profissionais não estão projetando) Para mim é o sinal de que os capitães da indústria nunca se convenceram do retorno de valor dessa prática, entendida como "user-centred" ou "human-centred". Não sei dizer se eles estão enganados, até porque é deles o critério de sucesso estabelecido.

Felipe Kaizer

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Felipe Kaizer

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Jan 5, 2016, 4:51:37 PM1/5/16
to Projeto Comum
Mais uma coisa que me apareceu: 


Não li tudo. Parei no "Fusionist". Queria ouvir em especial os comentários do Adriano. (Qual dos 18 você quer ser quando crescer?) Mas retomei uma coisa que estava pensando, sobre o "funcionário iphone". É uma modalidade do faz-tudo aplicada à mão-de-obra especializada e tecnologizada. Os managers definem metas, e o sujeito se desdobra em vários para dar conta das diversas dimensões do projeto. É preciso projetar visualmente, programar, executar, apresentar, convencer, gerenciar orçamento e cronograma, bem como fornecedores. É como ter gerente, designer e estagiário "fundidos" em um só.

Essa é uma imagem extrema, mas serve para falar do modo como as expectativas em torno do designer – ou melhor, em torno da mão-de-obra – costumam ser uma extensão das expectativas em relação às ferramentas: ontem o Chaplin acompanhava mecanicamente a linha de montagem, hoje o empregado tem que ser multitarefa, tal e qual o seu smart phone. Se o tempo de processamento tende a zero, o mesmo é esperado que aconteça com o tempo de execução, e se possível com o tempo de projeto e planejamento.

Na mesma toada, o funcionário tem que estar apto a qualquer tarefa (afinal, a concorrência com os colegas de trabalho o obriga a demonstrar essa disponibilidade) e a manipular qualquer conteúdo ("between art, engineering, research, and science"). "Design" vira de novo uma senha, uma palavra mágica, para as soluções conciliatórias exigidas pelas contradições da indústria.

Felipe Kaizer

felipekaizer.com
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Adriano Campos

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Jan 6, 2016, 12:40:50 PM1/6/16
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Nossa! parece enredo de ficção científica. E tem algumas piadas mais pro fim, não sei se era a ideia do texto ser um exercício de futurologia e ter tom anedótico, mas não me pareceu um texto de analise. Foram pros "designers-chefes" e pediram pra eles dizer o que está no mais intimo dos seus corações e saiu esse Minority Report.

No fim o cara perde uma boa chance de piada (e de matar o etxto) e conta uma ruim:

Uber Driver
Nominated by Gavin Kelly, co-founder and principal, Artefact
Come the singularity and there are no more design jobs.
 
A piada correta seria: o motorista fica igual sempre só muda o carro.

Mas na realidade não consigo ver nenhum designer na lista, talvez seja minha criação modernista. Quem desenha órgão é um bioalgumacoisa, quem cuida de tráfico de drone um uma pessoa formada em logística e quem fará os códigos das maquinas do futuro podem ser os programadores (não que um designer não possa ser um bioalgumacoisa ou programador). Queria mais entender de onde vem essa vontade de se colocar em tudo que é área pra civilizar e levar bons modos pra eles. Todo designer é criado pra crer que o outro não trabalha tão bem quanto ele.

E os chefões designers e educadores de designers precisam marcar uma reunião pra fechar algumas questões:

Maeda
(...) Design is a human skill that, for now, even Google can’t automate.

Alguém do Google
(...) machine learning will enable computers to make the kinds of aesthetic choices that humans make today--

E aqui no mundo real, ontem li isso em algum lugar http://canaldoensino.com.br/blog/5-profissoes-promissoras-para-2016 . Não é um bom texto nem nada. É só um site de ensino falando de carreiras que prometem em 2016. E a discrepância é risível! Mas tem algo que essa lista aponta que a do fastco não (e que concordo muito mais): as profissões estão saindo de um campo prático (enfermagem é a única da lista) e indo pra esse novo local; o da análise, relação e do planejamento. Talvez o futuro seja humanos planejando, analisando e supervisionando e máquinas fazendo.

E o texto da fastco é bem chato, chega um momento que fica impossível de ser lido sem grande esforço.

Felipe Kaizer

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Jan 6, 2016, 2:21:57 PM1/6/16
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De fato: o texto é deveras chato. Até agora não li tudo, nem pretendo.

Agora, pra mim, "essa vontade de se colocar em tudo que é área pra civilizar e levar bons modos" tem a ver com uma frustração ou um senso de inferioridade (ou ambos). Acho que a propensão a enxergar design em tudo surge de uma grande insegurança: no fundo muitos designers só gostariam de ter o assentimento dos pais. Imagino um vanguardista passando o Natal com a família, e tendo que comparar a própria profissão com a dos primos na hora da ceia. Lendo textos mais antigos (de Morris até aqui) eu tenho a impressão de que o incômodo que sentimos hoje não é nenhuma novidade.

E qual vai ser a pauta dessa "reunião", pra alinhar as expectativas? Automação com certeza; singularidade, não sei. Eu lembro de ler esse diagnóstico na Hannah Arendt, em um livro de 1958: uma sociedade de trabalhadores sem trabalho. Marx, obviamente, previu isso com antecedência muito maior. A teoria afirma, ao contrário do senso comum, que o maquinário não cria valor, mas dilui. Se você gasta um milhão de reais para criar um sistema que produz copos automaticamente, o custo diluído na produção de um milhão de unidades determina um preço inicial de um real; se a produção é de um bilhão (o que é fácil de acontecer) o preço inicial é zero, porque a máquina já se pagou. Qualquer valor cobrado é lucro (descontados, obviamente, os custos de manutenção etc). Em suma: tecnologia destrói o valor (do ponto de vista da teoria do valor-trabalho).

A mesma teoria prevê, em alguns momentos, a ascensão do general intellect (conhecimento científico e produtivo acumulado sistematicamente pela humanidade) como principal fator produtivo. Mas isso ainda é muito nebuloso: é como se se dissesse que não é o tempo de trabalho socialmente útil gasto que cria valor, mas a mera reorganização das forças produtivas. Penso nisso em função do que o Adriano falou, das profissões mais promissoras como sendo basicamente de análise e gerência. Também faz sentido com o que a Bia trouxe; o designer que se coloca como analista tem mais chances no futuro de encontrar um espaço no mercado de trabalho restante.

O ponto que críticos como o Žižek tem levantado é que esse general intellect está cada vez mais cerceado, privatizado. Pensemos por um instante na transformação das práticas e usos na Internet. Já declararam a morte da web a anos. O que aparece como único modelo de negócio possível é aquele baseado no acesso: você cobra das pessoas que precisam simplesmente chegar à informação. É como se o único modo de produção de valor fosse aquele baseado em uma forma de exclusivismo, ie, de monopólio.

Abs,




Felipe Kaizer

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Roman Iar

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Jan 7, 2016, 9:05:40 AM1/7/16
to Projeto Comum
Caros, que belíssima discussão, senti um prazer enorme de ler tudo isso e confesso que acho que não tenho muito o que adicionar. 

Gostaria apenas de estender um ponto que o Kaizer fala sobre quem controla e quem é controlado: me parece que nós como designers nunca vamos dominar qualquer meio de produção, pelo menos não de acordo com o paradigma pós segunda revolução industrial, mas, talvez nossos antecessores quiseram construir um outro tipo de narrativa que me parece ser: dominar o meio de produção do gosto. E agora temos que lidar com esse vácuo cognitivo tentando justificar sempre a nossa existência, tentando mostrar que não somos descartáveis; a vontade é tanta que queremos nos enfiar em todas as outras áreas, como mostra brevemente o artigo da fastco. Então a consequência desse desencontro (entre outras) é o funcionário Iphone: já que não sei o que faço, faço tudo. Aliando isso com um projeto de precarização do trabalho, bingo, os empresários piram.

Dito isso, me parece que a programação e o gerenciamento é uma tentativa de tomar conta de algum tipo de meio de produção mais contemporâneo. Ainda sim acho um movimento frágil.
Automação é a resposta? Os futuros designers serão supervisores dos projetos que as máquinas vão executar? (Será que isso já não acontece? Não supervisionamos projetos que máquinas-cliente executam?)

Adriano Campos

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Jan 21, 2016, 12:24:14 PM1/21/16
to Projeto Comum
Com o bom vídeo que o Kaizer compartilhou nas redes e me lembrei desse texto, que de alguma maneira tangencia a questão discutida aqui. O texto é da revista jacobin. (com os parênteses de ser uma revista com viés político e de linha editorial bem definida), e fala de como o lema "Trabalhe com o que ama" é perverso. E toca na questão de que uma classe está fazendo o que ama e trabalhando em carreiras de gerência e outra classe fica com os trabalhos manuais/mecânicos/chatos/..., algo citado pelo Richard Sennett (boa novidade) no vídeo de maneira um pouco diferente.

Apesar de citar um designer gráfico médio como mau exemplo, infelizmente o texto não tem pretensão de entrar na nossa questão mais seriamente. Apesar disso tudo, é um bom texto.

um abraço

Adriano Campos
+ 55 11 969 964 692

Felipe Kaizer

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Jan 23, 2016, 3:54:56 PM1/23/16
to Projeto Comum
Adriano,

que bom que você inseriu esse vídeo na conversa. O compartilhamento é meu, mas a dica é do Edu ;-)

Independente do fato de que ele foi aluno Hannah Arendt – ouço um pouco dela quando ele fala em "public realm" –, o Sennett é um autor "útil" para os designers. Um dos seus livros principais – The Crafstman – trata disso que você chamou de "boa novidade".

Duas questões nessa entrevista me deixaram pensando:

* Structure/Cooperation/Organisation. Ele remete essa questão diretamente à demanda por produtividade, e, consequentemente, por lucro. Mantém assim intacta as contradições do modo de produção capitalista, o que para ele não parece ser um problema. Pelo que pesquisei, este é o livro dele sobre o assunto. Tentei abordar a questão da organização num texto ano passado, mas ainda não consegui. A mera organização, para mim, constitui uma força neutra, que pode operar em vários sentidos.

* Oposição entre artes mecânicas e artes liberais. Ele não coloca nesses termos, mas é como a coisa aparece já na antiguidade. O ponto central é sobre a ambiguidade da ideia de "trabalho". Por que um trabalho manual é considerado menos digno, menos valioso? É só uma questão de distinção social? Por outro lado, dá pra chamar de trabalho uma atividade que não gera nada além de postos de trabalho? (Volta o problema Marx-Arendt: a mecanização e uma sociedade de trabalhadores sem trabalho.)

Dito isso, acho que é preciso complementar essa crítica na Jacobin com algum daqueles textos do David Graeber sobre bullshit jobs. Desconsiderado o problema da precarização do trabalho, uma coisa é a contraparte da outra; nada nos impede de imaginar que o discurso apelativo em torno do trabalho é proporcional ao seu grau de superfluidade. Um trabalho inegavelmente útil e talvez pouco lovable– como limpar banheiros – está simplesmente fora da discussão.

(O ponto em comum para mim – que ainda não apareceu aqui – é que tanto a criação de bullshit jobs quanto a exploração por meio do DWYL dependem de um consumo permanentemente estimulado.)

Abraços,

Felipe Kaizer

felipekaizer.com
skype: felipekaizer

Felipe Kaizer

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Jan 27, 2016, 3:00:44 PM1/27/16
to Projeto Comum
Caros,

uma referência sobre os prós e contras do design in-house: Insourcing design – Christian Bason. Destaque para os três pontos ressaltados pelo autor:

1. Control and capacity
2. Time and money
3. Growing design supply

Em suma – guardadas as devidas proporções –, se aproxima muito das nossas conclusões, com a diferença de que olha para a questão do ponto de vista do empregador (dono do negócio), enquanto nós costumamos adotar o ponto de vista da mão-de-obra. Isso talvez nos faça ler a seguinte frase com outros olhos: "[…] a growing number of skilled designers prefer an in-house position […] being employed in an internal design unit has become more attractive".

Por que esses empregos tem atraído os designers senão pela dificuldade crescente de permanecer nos antigos? A movimentação da mão-de-obra dificilmente pode ser explicada em termos de atração pessoal; o mais provável é que haja uma briga entre essas grandes empresas e os prestadores de serviço de design, e os últimos estão perdendo.

Abs,

Eduardo Camillo K. Ferreira

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Jan 28, 2016, 10:32:45 AM1/28/16
to Projeto Comum
A Beatriz me mandou esse texto faz uns dias:

E compartilhou esse no facebook:

(desculpem não comentar os links, vai fazer parte da minha revisão geral nesse topico nos próximos dias). 

--

Felipe Kaizer

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Jan 28, 2016, 1:30:28 PM1/28/16
to Projeto Comum
Na esteira do Eduardo, deixo também um link sem comentário: o twitter de um colega de doutorado que se interessa por assuntos correlatos.

Felipe Kaizer

Felipe Kaizer

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Feb 6, 2016, 4:08:31 PM2/6/16
to Projeto Comum
Mais um que me apareceu:


O discurso dele é bem fanfarrão e contém impressões bizarras – como "Industrial design was born by cross-pollinating graphics, fashion and even window display with the demands of product marketing" –, mas o tom central gira em torno da tese de que "Design Thinking is the new Management Methodology."

O curioso é que a nomenclatura parece ser algo decisivo para a sobrevivência de um profissional (ou melhor, de uma atividade) no meio corporativo. "Innovation, design, technology—I just call it all a banana." Inovação é claramente a palavra mágica do momento, a qual todo profissional na cadeia produtiva tem de tentar se associar o mais diretamente possível. Pouca gente, no entanto, tem o mínimo entendimento.

Outras coisas me apareçam como contradições flagrantes:

* "[the] breakthroughs that do count today are not about speed and performance but about collaboration, conversation and co-creation. […] The commoditization of knowledge and tools around the world is leading to a Do It Yourself culture." – Como assim: colaboração e DYI circunscritos ao regime das mercadorias? Ele está falando de "co-creation" dentro do Facebook? Tudo que as empresas querem hoje é cercear a Internet e evitar a livre circulação de informação (vide SOPA e The Pirate Bay).

* "Design is so popular today mostly because business sees design as connecting it to the consumer populace in a deep, fundamental and honest way. An honest way. If you are in the myth-making business, you don’t need design. You need a great ad agency. But if you are in the authenticity and integrity business then you have to think design." – Obviamente, esse é o mito: de que se trata de usuário ou pessoas e não de meros consumidores em primeiro lugar; mito passado de geração para geração pelos designers. Os negócios não pensam no usuário senão como alguém que pode realizar ou viabilizar uma troca monetária. É desonesto não admitir.

* "Sustainability will be a prime driver of economic growth in the years ahead. Green will move from the realm of corporate responsibility to the space of revenue expansion and profit generation." – Delírio, não? O imperativo de sustentabilidade é justamente o que questiona o crescimento econômico indefinido. A transformação da sustentabilidade num "drive" é uma tentativa de negar que ela seja, na verdade, um freio. Outra palavra mágica.

* "With Web 2.0 technology and blogs […] People are increasingly designing their own shoes and clothes, their own screen pages, their own interfaces, their own homes." Externalização do projeto. No final, é a lógica do Spoletto: você paga não só pelos ingredientes e pelo serviço prestado, mas também pelo serviço que você prestou a você mesmo! (E se ficar uma bosta, você não tem de quem reclamar senão de si mesmo.)

Em suma, o discurso desse "believer in Design Thinking" é puramente propagandístico; não aumenta um vírgula de compreensão sobre o que está implicado nos conceitos utilizados. É uma palestra motivacional. Design aqui é visto como trend – como costuma ser –, mais especificamente como um business trend ou management trend. Uma resposta simples para as contradições das estruturas produtivas. (Contradição que ele deixa entrever ao admitir que a qualidade e o custo há muito já saíram do controle das grandes empresas, depois de um outsourcing geral (de 1990 a 2000?). No duro é mesma fábrica/montadora na China, por exemplo, que fornece os produtos acabados para empresas concorrentes entre si no resto do mundo.)

Abraços,

Felipe Kaizer

Felipe Kaizer

unread,
Feb 23, 2016, 3:20:07 PM2/23/16
to Projeto Comum
Mais um. Dessa vez mais interessante:


Achei um bom resumo da questão, com vários exemplos e alguns apontamentos para o futuro. Algumas coisas me chamaram mais a atenção:

* Há uma ênfase da figura profissional, em detrimento da própria atividade. Fala-se de uma classe especial de pessoas, que ocupam cada vez mais cargos estratégicos e espaços de tomada de decisão em grande estruturas.

* Afirma-se o "thinking" sobre o "making". Pergunta: e agora quem faz? Isso é o efeito da automação crescente, ou trata-se de uma nova classe profissional que destaca lentamente da classe tradicional dos "makers"?

* Confirma-se a hipótese – ao menos no caso da Coca-Cola – de que o valor agregado ou gerado pelo design se mede (como tudo o mais) pela receita (e pelo valor das ações):

“It's great that when David [Butler] speaks, he doesn't speak in the language of design. … [Instead, he says] here's what I'm going to do to help you sell more stuff.” ¶ According to Butler, the word “design” is not important to the top echelons of the company if it cannot show results at the point of sale. In corporate terms, if design cannot deliver more sales, then it has no value.

* Também se confirma o fato de que não há muita novidade em jogo quando se trata do funcionamento das empresas; os designers podem ter sua parcela nos processos de inovação e de desenvolvimento de produtos e serviços, mas isso não quer dizer que eles tenham suplantado o modo businessman de agir ou o modo business de operar:

However, it should be noted that these designers have been promoted to executive roles not simply because they are designers, but because of their ability to align design with business interests, and to communicate—in business terms—how design can add value.

​Abraços,​


Felipe Kaizer

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