Dó móvel ou dó fixo?

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Jose Brasil de Matos Filho

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Nov 22, 2010, 4:48:47 PM11/22/10
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Reasso para reflexao e discussão.
José Brasil Filho     

Dó móvel ou dó fixo?

Um método de ensino é um conjunto de regras e princípios que orientam a prática pedagógica, devendo ser entendido como o meio através do qual atingimos um fim. Existem vários métodos dirigidos para o ensino do solfejo.

No solfejo fixo, as sílabas especificam o nome das notas, independente da função. Muitos estudiosos argumentam que o método é excelente para o desenvolvimento do ouvido absoluto, o que ainda é matéria controversa. No solfejo fixo, a notação musical é a referência, e as notas são sempre designadas pelo mesmo nome: sol, solb ou sol#, por exemplo, será “sol”; já o intervalo dó–mi, dó#–mi, dó–mib ou dó#–mib será “dó-mi”. Alguns professores focalizam a atenção no ensino dos intervalos, isolando-os do contexto musical. Este método parece ser útil quando o regente precisa resolver problemas de afinação específicos, nas passagens mais difíceis do repertório.

Quanto ao solfejo relativo, os nomes das notas são referências que ajudam a estabelecer a distância entre os graus da escala, uma vez que a atribuição dos nomes das notas é feita com base na análise harmônica e não apenas na notação musical. O solfejo é funcional, e a transposição é a essência do método. Para qualquer tom no modo maior, o modelo é sempre a escala de dó, enquanto no modo menor a referência é a escala de lá. As notas alteradas podem receber diferentes nomenclaturas, dependendo do contexto no qual se inserem. Tomando dó como ponto de partida, temos a seguinte escala cromática ascendente: dó, di, ré, ri, mi, fá, fi, sol, si, lá, li, ti. Em sentido descendente, temos: dó, ti, te, lá, le, sol, se, fá, mi, me, ré, ra, dó. O método móvel, que tem suas origens associadas ao sistema hexacordal desenvolvido por Guido D’Arezzo, ganhou força e projeção com o trabalho de Zoltán Kodály, na Hungria, na primeira metade do século XX. Alguns educadores, ao invés de sílabas, utilizam números no ensino do solfejo relativo. Os números especificam os graus da escala, e o primeiro grau é sempre a tônica. O uso dos gestos (manossolfa) também contribui para a aprendizagem, facilitando a internalização das relações entre as diversas alturas, exigindo mais atenção do aluno.

Cada método apresenta vantagens e desvantagens. Cabe ao regente avaliá-las e escolher aquele que atende às suas necessidades, pois mais importante que o método é a forma como o professor o utiliza. Além disso, se o educador domina o método, o resultado será refletido no trabalho dos alunos. Assim, a nossa prática coral, ainda baseada na memorização do repertório através do exaustivo e insignificante processo de repetição, adquirirá novo sentido e, finalmente, colheremos os frutos de uma ação planejada, objetiva e sistemática.

Vladimir Silva (silvl...@gmail.com)

 

Estevão Moreira

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Nov 23, 2010, 10:59:12 PM11/23/10
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Olá José!

Já que vc trouxe este tema pra discussão, vamos lá! Não sou especialista em métodos de solfejo e portanto o que vou dizer refere-se tão-somente à minha prática e as razões pelas quais a utilizo.

Em 2008 fiz o curso dO Passo (de Lucas Ciavatta) e conheci o solfejo por números. Depois vim a saber que esta abordagem das "notas musicais" através de números também era uma parte do método de Gazzi de Sá. Da genealogia do método, sei pouco. De qualquer modo, em suma, esta abordagem dos números consiste em cantar os graus da escala.

Na minha prática de ensino, utilizo-me dos números para abordar as notas musicais também. Porém, não é meu propósito --- em primeiro momento --- que os alunos cantem os graus com consciência de "saber" que são, de fato, graus e funções de uma escala. Minha proposta é bem outra: escolho os números simplesmente pela possibilidade de aproveitar as informações que um sistema númerico pode oferecer e que são bem anteriores a uma teoria musical funcional. É simples: como saber que nota música vem antes ou depois de "bate-pronto"? Já com os números há uma direcionalidade que pode auxiliar, inclusive, na explicação de questões como "grave e agudo" e também "oitava".

Com relação à fixação ou mobilidade, inicio números "absoluto" (1 sempre será dó, 2 será ré etc) para que o aluno possa se habituar na leitura da partitura sem variar a todo momento. Posteriormente, após estabelecer uma familiaridade e consciência dos acidentes, começo a falar das funções harmônicas, adaptando o "1 móvel" a cada tom. Parto do princípio que ensinar a decodificar uma partitura é importante, uma vez que se trata de um sistema amplamente difundido, com muito material disponível. Por outro lado, não se trata de uma reificação da partitura, mas de parte do jogo. De qualquer modo, o mais importante da partitura é que ela ajude e não atrapalhe, até porque, há outras grafias como tablatura e cifras, ou mesmo os números por extenso que podem ser mais objetivas e práticas.

Outras coisas importantes: 
- com os números consigo rapidamente ensinar os alunos a lerem as alturas de uma partitura, trabalhando o ritmo gradativamente. Costumo dizer que com "2 minutos" consigo ensiná-los a ler (acredite, funciona). 

- uma criança muito pequena já sabe contar ao menos até 8! E para qualquer pessoa (em geral) é mais fácil falar os números na ordem crescente ou decrescente do que as notas.

É isso. O que escrevi é somente uma partilha de minha prática.

abs


-- 
Estevão Moreira
Mestrando em Música e Educação - UNIRIO
estevaomoreira.wordpress.com
@estevaomoreira


 

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