Criamos
muitas falsas necessidades. Idealizamos sonhos tão altos que
sacrificamos nossa dignidade para realizá-los. Passamos toda uma vida
trabalhando em função de um padrão econômico, isto é, não sustentamos
necessariamente a nós mesmos, mas aos nossos caprichos. Quem não os têm?
Só que uns têm mais, outros têm menos caprichos ou vaidades. Há pessoas
que sacrificam até o seu bem-estar para juntar dinheiro, ao passo que
há aquelas que simplesmente sonham com uma boa casa para morar, um carro
popular, um emprego que pague bem, uma família de três filhos em
média... Agora, há outras que não abrem mão de regalias, muito luxo e
vaidade, mesmo que isso lhes custe uma consciência limpa ou antes a
própria vida, o que seria um absurdo.
Muito
me admira a capacidade que o ser humano tem de se viciar em atender às
suas vãs necessidades, melhor dizendo, futilidades, uma vez que poderiam
ser descartadas, pois não implicariam nenhum tipo de prejuízo à sua
natureza ou às suas verdadeiras necessidades. Por que temos que jogar na
mega-sena semanalmente ao ponto de sacrificar o orçamento familiar? Por
que temos necessariamente que trocar de carro todo ano? Por que temos
de comprar sempre o celular de ponta? Por que é preciso enricar,
acumulando bens que precisariam de cinco gerações para serem consumidos?
Por que nossa segurança está em todos esses valores? Por que nossa
segurança não está em Deus?
É
necessário a nós só o comer e o vestir. Se ambicionarmos por demais a
riqueza, certamente nos esqueceremos de Deus. Do mesmo modo, se ficarmos
pobres ou miseráveis, sem nada, seguramente teremos a tentação de
furtar para sobreviver. A riqueza não é tudo e a miséria não é digna de
nós. Devemos buscar o suficiente, a medida certa para sobreviver
dignamente, sem nenhum tipo de mediocridade. Às vezes, a corrupção e o
pecado entram por aí: Da não aceitação de uma vida sóbria, comedida e
prudente. Nesses tempos de alto consumismo, é urgente o apelo do
evangelho em Mt 6.25-31: “Não estejais ansiosos quanto à vossa vida,
pelo que haveis de comer, ou pelo que haveis de beber; nem, quanto ao
vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o
alimento, e o corpo mais do que o vestuário? Olhai para as aves do
céu, que não semeiam, nem ceifam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai
celestial as alimenta. Não valeis vós muito mais do que elas? Ora,
qual de vós, por mais ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado à
sua estatura? E pelo que haveis de vestir, por que andais ansiosos?
Olhai para os lírios do campo, como crescem; não trabalham nem fiam;
contudo vos digo que nem mesmo o 'Rei' em toda a sua
glória se vestiu como um deles. Pois, se Deus assim veste a erva do
campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós,
homens de pouca fé? Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que havemos
de comer? ou: Que havemos de beber? ou: Com que nos havemos de vestir? ”
Somente
Deus poderá nos saciar de toda falta. Tudo é perecível nessa vida,
mesmo a comida ou a bebida ou as vestes ou ainda a nossa própria
existência, o que prova concretamente de nossa parte que precisamos nos
abastecer de uma saciedade permanente, de uma água que não dê mais sede,
de uma comida que não dê mais fome, de vestes que não se consumam. Esse
estado de constante saciedade que não encontramos aqui com nada
perecível, só encontramos em Deus presente no Evangelho. Jesus é a água da vida que não dará mais sede, belíssimo: “Replicou-lhe
Jesus: Todo o que beber desta água tornará a ter sede; mas aquele que
beber da água que eu lhe der nunca terá sede; pelo contrário, a água que
eu lhe der se fará nele uma fonte de água que jorre para a vida
eterna. Disse-lhe a mulher: Senhor, dá-me dessa água, para que não mais
tenha sede, nem venha aqui tirá-la”(Jo 4.13-15).
Portanto,
as vaidades e os impulsos compulsivos de consumo desta vida passarão,
mas Jesus e suas palavras não passarão. A realidade econômica no Brasil
ainda é muito favorável para um consumo desnecessário da classe média,
provocando nas pessoas uma saciedade insaciável de desejos dos mais
variados, desde a compra de um computador melhor até a compra de uma TV
LCD de última ponta. Com um mundo todo voltado a mergulhar nessa onda
avassaladora de consumo, promovido por um modelo econômico mais do que
liberal, super, hiperliberal em todos os aspectos, é preciso de nossa
parte, reter as palavras do Senhor em nossos corações, acreditando sem
cessar que “O Senhor é o meu pastor; nada me faltará”(Sl 23). Nada aqui não quer dizer nada literalmente, mas a medida certa, o suficiente. O mesmo nos diz Aristóteles na sua Ética a Nicômaco, II, 5, acerca da “justa medida”. A medida certa é o equilíbrio, a virtude, nem demais, nem pouco demais, justo o que é preciso.
Prof. Jackislandy Meira de Medeiros Silva
Licenciado em Filosofia pela UERN e Especialista em Metafísica pela UFRN
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