Abs.,
Douglas.
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Reforma moderada
30/01/2012 13:45 | Autor: Bernardo Esteves
Vem da Finlândia uma novidade que promete facilitar a vida de
pesquisadores, revisores e editores de revistas científicas. O
recém-criado Peerage of Science (algo como Confraria da Ciência) é uma
plataforma para o envio de artigos que oferece uma alternativa
interessante à revisão por pares, como é chamado o modelo tradicional
de avaliação dos trabalhos científicos.
Criado por três pesquisadores da Universidade de Jyväskylä e da
Universidade do Leste da Finlândia, o Peerage of Science propõe um
modelo de avaliação dos artigos que diminui o tempo e os custos
envolvidos no processo. A lentidão e os custos do processo são objetos
de críticas ao sistema de revisão por pares, amplamente adotado pelas
revistas científicas (as críticas já foram tema de posts no blog em
julho e dezembro de 2011).
Uma novidade do modelo finlandês consiste na criação de um banco comum
de revisores que pode servir a vários periódicos. Um artigo enviado ao
Peerage of Science é analisado uma única vez, por pelo menos dois
cientistas, e aquela avaliação pode ser levada em conta por todas as
revistas que integram a plataforma. Essa medida poupa tempo a todas as
partes envolvidas no processo de publicação: no sistema convencional,
a cada vez que um artigo é recusado, precisa passar por um novo
processo de revisão, num esforço redundante e desnecessário.
O novo modelo ataca também outro flanco muito criticado no sistema
convencional de revisão por pares: o fato de o trabalho dos revisores
não ser remunerado. O Peerage of Science não oferece pagamento aos
avaliadores, mas atribui valor ao seu trabalho num sistema de créditos
válidos no sistema – eles também são necessários para o envio de
artigos e outras ações.
O funcionamento da plataforma é simples: quando um grupo envia um
artigo, especialistas naquela área que sejam usuários do sistema são
notificados e podem se voluntariar para rever o artigo. Uma vez feita
a avaliação, caso seja recomendada a publicação, os periódicos
cadastrados no serviço têm a opção de fazer aos autores uma oferta de
publicação, que eles podem ou não aceitar.
O sistema é engenhoso, mas seu bom funcionamento depende de massa
crítica – se não houver um número razoável de revisores e periódicos
participando, a avaliação pode continuar tão lenta quanto no sistema
convencional. No fim de janeiro, o Peerage of Science já contava com
mais de 500 colaboradores cadastrados, vindos de trinta países. Ainda
não há pesquisadores brasileiros – o Chile é o único país
latino-americano representado. Há dois jeitos de participar do Peerage
of Science: recebendo um convite de um membro cadastrado ou submetendo
um artigo para revisão.
Um único periódico está cadastrado por enquanto – a revista Ecography.
Mas a expectativa dos criadores do serviço é que a lista aumente com o
tempo, assim como o espectro temático coberto pela plataforma, que
hoje se restringe à ecologia.
Apesar do início modesto, a novidade foi recebida com otimismo. Duas
publicações respeitadas – Nature e The Scientist – não hesitaram em
usar a palavra “revolução” (ainda que com interrogação) no título dos
textos que publicaram na internet apresentando a nova plataforma.
O que o Peerage of Science propõe não é uma ruptura radical com o
modelo atual. A nova plataforma não abole o anonimato na avaliação e
nem instaura um modelo de revisão pós-publicação, para citar duas
alternativas mais extremas às vezes citadas como solução pelos
críticos da revisão por pares. Talvez por isso mesmo o site finlandês
tenha a chance de conquistar a adesão dos cientistas e começar a mudar
a forma como se controla hoje a qualidade da ciência.
* * *
Duas boas recomendações de leitura para quem se interessa pelo
assunto. Na semana passada, o biólogo Stephen Curry, do Imperial
College, publicou um post que repercutiu bastante na web, explicando
por que recusou o convite da Elsevier, maior editora de ciência do
mundo, para fazer a revisão de um artigo. Seu relato ajuda a entender
os dilemas atuais enfrentados no mundo da publicação científica.
Da mesma forma, uma reportagem recente de Thomas Lin no New York Times
discute os questionamentos feitos à revisão por pares e aborda outros
temas que já foram objeto de posts neste blog, como o movimento pela
ciência aberta, as redes sociais de ciência e outras tendências do
movimento que ele chama de ciência 2.0
(foto: Bethany Carlson)
Leia também:
Revisão transparente
Presságio do futuro
Revisão revista
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Aqui você vai ler sobre aspectos do mundo científico que nem sempre
têm espaço na imprensa, como os bastidores dos laboratórios, o
universo da publicação científica e o cotidiano dos pesquisadores. A
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terão lugar no questões da ciência.
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