[cafeconsciencia] Silêncio é bom fora do corpo e d entro da mente

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FÓRUM JOÃO DE OLIVEIRA

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Aug 14, 2004, 11:32:21 AM8/14/04
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Silêncio é bom fora do corpo e dentro da mente
Profissionais de várias áreas falam da importância da quietude interna e de como as pessoas têm dificuldade de ficar em silêncio
 

GUSTAVO PRUDENTE
FREE-LANCE PARA A FOLHA - 24/06/2004

Quando o ser humano lascou a primeira pedra, começou a história do ruído,
que não parou de crescer mais até se tornar hoje uma das piores fontes de
poluição. Os cidadãos das grandes cidades que o digam. Nos fins de semana e
feriados, eles fogem para a casa de campo ou de praia, para o spa, para o
retiro ou se recolhem em casa mesmo. Tudo em busca de tranqüilidade e
silêncio. Mas nem sempre a medida surte efeito.
Existe um tipo de silêncio, além do externo, que é pouco explorado e até
mais poderoso e eficiente. É o chamado silêncio interno. Religiosos,
médicos e psicanalistas, entre outros profissionais, falam sobre essa
experiência, cada um a sua maneira. Resumindo, trata-se de um estado de
quietude da mente em que você "ouve" os seus pensamentos e sentimentos e
também escuta os barulhos externos sem se sentir perturbado. Fugir do
burburinho da cidade, literalmente ensurdecedor, só colabora para encontrar
esse silêncio interno. "Ruído tem a ver com agitação e movimento que leva
para fora. Já o silêncio externo favorece a contemplação, o que ajuda a
pessoa a se voltar para si mesma, dando-lhe tranqüilidade e segurança", diz
Gabriela Bal, terapeuta corporal que defendeu na PUC-SP uma tese de
mestrado sobre o silêncio. "As pessoas têm necessidade de se aquietarem, o
que implica pensarem sobre si mesmas, serem fiéis ao momento, mas elas não
foram educadas para isso", diz o escritor e rabino da Congregação Judaica
do Brasil Nilton Bonder. "Nós fomos adestrados para o barulho." Querendo ou
não, o cidadão tem de encarar, sem escolha, o barulho nos lugares mais
inusitados: da TV dentro do ônibus interestadual ao rádio ou à fonte de
água com motor barulhento na sala de espera do médico. Os ruídos distraem e
impedem o efeito do silêncio: descobrir e aceitar a própria singularidade.
"Vivendo numa sociedade consumista, essa experiência de ser único é
esmagada. O que acaba acontecendo é que parecemos e cheiramos como todos os
outros", escreve o monge beneditino inglês Laurence Freeman, em seu livro
"Os Olhos do Coração - a Meditação na Tradição Cristã". Na busca por
tranqüilidade e descanso, muitos dos estressados urbanos pegam a estrada,
mas levam o barulho junto -aparelho de som, TV, uma turmona de amigos. Para
o psicanalista Élcio Mascarenhas, autor de uma monografia sobre a
importância do silêncio no processo analítico, isso acontece porque,
"quando ficamos quietos, o eco que se escuta pode ser menos agradável que o
do mundo externo, então escolhemos o barulho". Aliás, do ponto de vista
psicanalítico, sujeitos tagarelas ou que adoram ambientes barulhentos podem
estar evitando o contato consigo mesmos. O medo de se ouvir existe, "mas o
silêncio não é nada estratosférico", diz Bal. Já indivíduos metódicos que
precisam de silêncio absoluto podem justamente estar sufocando um intenso
turbilhão interior. "Nesses casos, o ruído externo faz lembrar o interno,
detonando todas as emoções reprimidas", diz Mascarenhas.
Por essa perspectiva, passam a ser mais compreensíveis ações como a do
aposentado carioca que atirou contra adolescentes que faziam algazarra no
playground de seu prédio, alegando que não suportava o barulho.
Pela ótica médica, o homem está preparado para enfrentar a maior parte dos
sons da natureza. O barulho, no caso, é definido pela presença dos ruídos
artificialmente produzidos -o silêncio, por sua ausência.
"A poluição sonora começou com as ferramentas de pedra, passou pelo bronze
e pela pólvora até chegar na Revolução Industrial", diz Yotaka Fukuda,
professor de otorrinolaringologia da Unifesp. Porém, diz o médico, há
pessoas que são capazes de se adaptarem à poluição sonora e até de alcançar
momentos de silêncio, independentemente do barulho externo. O estado
psicológico é que vai determinar o quanto isso é possível..
A fonoaudióloga Claudia Cotes conta que um dos seus momentos mais criativos
ocorrem no congestionamento da cidade. "As pessoas me perguntam como
consigo cumprir tantos trabalhos e ainda escrever livros. Minhas histórias
surgem justamente quando estou no trânsito, quando fecho as janelas do
carro e fico em silêncio." Cotes é autora do livro infantil "O Som do
Silêncio", em que uma criança surda ensina para seus colegas a importância
do silêncio. Uma das idéias do livro é mostrar que o silêncio não impede a
comunicação. "É no silêncio que vêm os sentimentos que você pode então
transformar em palavras", diz a fonoaudióloga.
Mas hoje ainda impera a idéia equivocada de que silenciar equivale a se
submeter à opinião alheia. O mundo valoriza a palavra, o posicionamento e a
auto-afirmação por meio do verbo. O professor de teologia da PUC-SP
Fernando Altemeyer destrói essa idéia. "O silêncio é revolucionário, e não
reacionário, tanto que Gandhi fez uma revolução e resistiu aos
colonizadores sem atitudes barulhentas", diz ele.
Apatia, resignação ou escravidão são conceitos ligados à alienação, e não
ao silêncio. "A pessoa silenciosa é aquela que está além das palavras", diz
o teólogo, citando um ditado: "Só se deve falar quando o que se tem a dizer
é mais precioso que o silêncio".
Para quem ainda crê que para ficar na história é preciso fazer barulho,
Altemeyer conta que foi a partir do silêncio que quatro personagens
notáveis fundaram as principais religiões do mundo: Moisés, Cristo,
Muhammad e Buda. Para todos eles, os ensinamentos de suas doutrinas vieram
à tona durante períodos de silêncio. Muhammad, por exemplo, só ouviu o
Alcorão porque ele ficou quieto enquanto o arcanjo Gabriel lhe ditava dos
céus. "Jesus recolhia-se periodicamente para ouvir Deus e depois pregar",
conta Altemeyer.
Silêncio tem a ver mesmo com proximidade e intimidade. "Você pode perceber
que, quando queremos dizer algo muito íntimo, baixamos o tom de voz", diz a
monja Cohen, zen-budista.
O silêncio, em seu sentido filosófico, também tem sido pensado desde a
Antigüidade por teóricos como o grego Pitágoras, Dionísio Aeropagita,
teólogo cristão de origem incerta, e o chinês Confúcio, para quem "o
silêncio é um amigo que nunca trai".
Já o barulho pode fazer "misérias" com você.


Formas simples de alcançar o silêncio interno

Descanso: viaje para locais com pouco barulho ou freqüente lugares
relaxantes, como templos religiosos, spas e retiros; o silêncio externo
convida à contemplação e ao silêncio interno.
Foco: concentre totalmente a atenção na atividade que está realizando ou em
um pensamento, sem se deixar dispersar. Focando o essencial, sua mente fica
mais tranqüila.
Meditação espontânea: desligue as fontes de barulho, como telefone, rádio e
TV, que atraem a sua atenção pelo som. Depois, procure se aquietar,
deitando-se na cama para relaxar ou tomando um banho quente, por exemplo.
Meditação orientada: há vários tipos de meditação praticados por religiões
e filosofias orientais e ocidentais, que utilizam técnicas corporais e até
sons para alcançar e manter o silêncio interno.
Música: ouça o tipo de som, não importa o gênero, que você sente que é
capaz de aquietar sua mente; a música funcionará como instrumento para você
experimentar o silêncio.
Oração: a função das preces das diferentes religiões, em princípio, é fazer
a pessoa se voltar para si e para a sua espiritualidade, o que a leva à
experiência do silêncio interno.
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Fontes: Nilton Bonder, rabino e escritor; Gabriela Bal, terapeuta corporal,
e monja Cohen


Quando o barulho detona o corpo

Nada de novo acontece com o corpo quando a pessoa está na quietude, mas,
quando está sob barulho, sim. "Momentos de meditação são necessários para a
saúde, senão a pessoa fica eufórica e os reflexos se tornam mais rápidos, o
que altera o metabolismo e gera estresse", diz Fernando Pimentel,
neurofisiologista da Universidade Federal de Minas Gerais.
A exposição à noite a ruídos superiores a 30 decibéis (dB) -até esse
limite, o som equivale ao de uma tranqüila noite no campo- pode levar
pessoas mais sensíveis a ter um sono superficial, gerando sonolência e
cansaço ao longo do dia. O pior tipo de ruído é o intermitente, que ocorre
por alguns segundos, como o de um alarme de carro ou de uma ambulância
passando.
Sob a ação de ruídos de 50 dB (uma conversa normal) a 85 dB (um
liqüidificador em funcionamento), o corpo começa a sentir efeitos de
estresse. Os sintomas variam de um constante estado de alerta até a
acentuação de problemas cardiovasculares e digestivos e diabetes. "Um
estudo feito em Berlim, na Alemanha, mostrou que, em locais com ruído de
fundo de 70 dB, a ocorrência de infarto de miocárdio é 20% maior", diz
Pimentel. Outros efeitos são a diminuição da resposta imunológica e da
capacidade de cicatrização dos tecidos.
Há também a liberação de endorfina, substância que gera sensação de
bem-estar e pode causar dependência. Isso explicaria, segundo alguns
especialistas, por que algumas pessoas precisam de barulho mesmo quando
deveriam preferir o silêncio -caso, por exemplo, de pessoas que só
conseguem dormir com a televisão ou o rádio ligados.
Os ruídos perturbam a capacidade de concentração e de desenvolvimento
intelectual. Há estudos que relacionam o baixo desempenho de estudantes ao
barulho do ambiente (da escola ou da sala de aula, por exemplo).
Porém, nessa faixa de som, os efeitos nefastos são relativos, porque
dependem da interpretação pessoal e do tempo de exposição ao ruído. Ou
seja, há quem fique irritado com a música do caminhão de gás, e há quem não
se importe ou até goste dela. Um exemplo a respeito do tempo de exposição:
um papo animado pode ser revigorante, mas encarar um falatório durante
horas seguidas é capaz de deixar a pessoa estafada.
A partir de 85 dB (um show de rock), não importa se o som é agradável, ele
é, necessariamente, prejudicial ao corpo, em especial à audição: as cerca
de 2.000 células da cóclea de cada ouvido começam a se degenerar. Essas
células são responsáveis por transformar as vibrações sonoras nos impulsos
elétricos que vão para o cérebro. Quando há sobrecarga de energia, elas
começam a morrer.
Para ter uma idéia, a cada 3 dB, a quantidade de energia que essas células
recebem dobra. Aumentar o volume de 90 dB para 93 dB pode ser mais grave do
que se imagina.
Quando a exposição a sons altos é curta e pouco freqüente, pode acontecer o
chamado zumbido temporário, além de uma sensação de abafamento do som. Isso
significa que as células foram afetadas, mas se regeneraram.
Quando o estilo de vida é muito barulhento, elas podem se extinguir aos
poucos, sem que a própria pessoa note. Segundo Sady Selaimen, presidente da
Sociedade Brasileira de Otologia, é comum pacientes irem aos consultórios
com queixa de zumbido e então descobrirem a perda de audição ou vice-versa.
"As duas coisas, em geral, ocorrem juntas", afirma Selaimen.
O zumbido contínuo, em geral, é um aviso antecipado da surdez e pode durar
a vida toda, mesmo quando a pessoa perdeu completamente a audição. Ambos os
problemas também podem ser causados por sons curtos e muito intensos, como
os de explosões.


Lei protege o silêncio

Se você desconfiar que o barulho externo (causado pelo vizinho ou pela rua,
por exemplo) passou do limite aceitável de decibéis, o recomendado é
procurar a Secretaria Municipal do Meio Ambiente ou a entidade
representativa no município, orienta Elisa Rosa dos Santos, técnica do
Ibama, órgão responsável pelo Programa Nacional de Educação e Controle da
Poluição Sonora (Programa Silêncio). A polícia também pode ser chamada
tanto para dar fim ao barulho quanto para fazer registros para um futuro
processo penal. As punições para os responsáveis pela poluição sonora
variam. Contravenções leves, como provocar gritaria, exercer profissão
ruidosa, abusar de instrumento sonoro ou de sons de animais, podem resultar
em multa ou de 15 dias a três meses de prisão. Para crimes ambientais, em
que a vítima é uma comunidade ou toda a sociedade, como no caso de uma
indústria que perturba um bairro inteiro, pode levar a reclusão de um a
quatro anos, mais uma gorda multa. "Em qualquer dos casos, o infrator é
sempre uma pessoa física -por exemplo, o dono da empresa", explica Waldir
Arruda Miranda, advogado e autor de um livro sobre poluição sonora. Ele
explica que, além disso, é possível abrir processos por danos físicos e
morais quando a saúde é afetada por ruído no trabalho, por exemplo. Mas os
órgãos fiscalizadores são lentos e a desinformação é grande. "Já liguei
para uma delegacia para fechar uma boate e precisei convencer o delegado de
que se tratava de caso de polícia", afirma Arruda.


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FATIMA VALENTE RIBEIRO

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Aug 14, 2004, 11:52:48 AM8/14/04
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