Hoje fui visitar o meu sobrinho Ronaldo Coimbra Morreuw.
Ele não está mais no Sanatório Rio de Janeiro. Foi transferido para o Hospital Psiquiátrico do Engenho de Dentro. Como sempre ocorre, alguns pacientes se acercaram de nós: uns aguardando a divisão de algum lanche ou suco; outros, esperando que eu os servisse de café; mas, todos queriam que o Ronaldo lhes desse cigarro. Notei um rapaz muito bonito que eu não havia visto nas visitas anteriores. Após se apresentar e me dizer que estava com trinta e um anos, começou a perguntar sobre o Ronaldo:
- Ele é seu filho?!!!
- Não. É meu sobrinho.
- Mas, ele é vovô!
- Eu também sou vovó!
- Mas, ele é mais vovô que você!!!
Expliquei que o Ronaldo é sobrinho do meu esposo. Percebi que ele queria fazer mais perguntas, porém, limitou-se a fazer uma última pergunta: há quanto tempo o Morreuw é doente? Olhei para aquele jovem tão lindo do bairro da Tijuca, que estava ali aproximadamente quatro semanas (como ele mesmo disse); olhei para aqueles outros rostos que, sentados no chão ou na cama alheia, faziam movimentos com as mãos, com as pernas, ou com a cabeça; olhei para mim mesma, compreendendo que as psicoses deles, e as minhas neuroses (quem não as tem!) são muito mais que conceitos dados pelos estudiosos do comportamento humano, porque por trás de cada um deles há muito mais que uma esquizofrenia: há sentimentos de amor, de esperança, de fé. Fitando novamente aquele rapaz respondi: “Não há doentes aqui. Somos pessoas carregando seus fardos; e esses fardos vão se tornando menos pesados, à medida que caminhamos”. Na verdade aquela resposta não foi para ele; ela foi para mim mesma!