News - Observador - Manifesto para o Optimismo em Portugal

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Jorge Mayer

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4:10 AM (13 hours ago) 4:10 AM
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Apelo, assim, aos diretores de informação e editores dos media, em particular da TVI, SICN e RTP. Meçam o tempo do telejornal dedicado às tragédias. Revejam os alinhamentos. Vão ficar muito admirados.

22 dez. 2025, 00:16 

À Clara Pinto Correia
(1960-2025)

A Clara Pinto Correia, foi um cometa, cheio de criatividade, inteligência e energia que passou rápido demais, numa algo turbulenta, mas rica viagem, por este nosso pequenino Portugal.

Mão amiga fez-me chegar este seu “Manifesto para o Optimismo em Portugal” publicado a 15 de Dezembro de 1999, desconhecido certamente para a esmagadora maioria dos leitores. Partilho, com uma reflexão final.

“A nossa alma é sempre um pântano. Isso é bom, porque o solo dos pântanos é o mais fértil de todos. O que precisamos é de drenar o pântano primeiro, e depois podemos lançar-lhe todas as sementes do mundo. Quantas vezes começamos a tarefa cheios de entusiasmo. Mas o pântano estava cheio de jacarés. Ficamos tão ocupados a lutar com os jacarés, durante tanto tempo que, por fim, até nos esquecemos que o nosso projeto inicial não era lutar contra os jacarés mas sim drenar o pântano – para depois semear.

Uma em cada cinco pessoas no ocidente toma anti-depressivos, ou ansiolíticos, ou uma qualquer outra variedade de comprimido para a boa disposição. Todos os dias, várias vezes por dia, todos nós dizemos que não estamos a sentir-nos nada bem; e mais, dizemos que a culpa é desta vida que a gente tem, como se a vida alguma vez tivesse sido fácil e aprazível para qualquer uma das gerações que vieram antes de nós. Centramos cada vez mais as nossas relações na exploração minuciosa dos seus problemas, e medimos cada vez mais a qualidade da nossa vida pela análise exaustiva de tudo o que ela não tem.

Qualquer copo está sempre meio cheio ou meio vazio, conforme escolhemos olhar para ele. Os nossos copos estão sempre cada vez mais sempre vazios. Andamos a avaliar-nos pela negativa.

A isso chama-se pessimismo. O pessimismo transforma-se no eixo de coordenadas da nossa cultura. E isto faz-nos mal.

Se continuarmos a viver assim, nunca deixaremos de estar, ainda, a atravessar o deserto. E, no fim desse deserto, começará sempre um novo deserto. O nosso mundo é muito grande e muito complexo, e sempre funcionou como uma espantosa nascente de problemas. Se alguma coisa tivemos que aprender nas últimas décadas é que não há nenhuma fórmula que possa resolver tudo e salvar-nos de tudo. Mas agora falta aprendermos o que ainda nem aceitámos começar a aprender: que, se não pudermos mudar grande coisa por fora, podemos e devemos mudar tudo por dentro.

A isto chama-se optimismo.

O optimismo é a capacidade de transformar os insucessos em aprendizagens e os problemas em desafios. É a arte de termos sempre presente aquilo que, em cada momento da nossa vida, está mesmo bem e é mesmo bom. É a disciplina de não perdermos o norte no meio da floresta, e de sermos capazes de ver, para lá de todos os bichos maus que estão emboscados no nosso caminho. O que é que queríamos ser quando fossemos grandes. É verdade que somos nós a espécie que inventou a tortura, mas também somos nós a espécie que nunca deixou de inventar os milagres que fazem florir o deserto. O optimismo é ouvir a música que está do outro lado do ruído de fundo. É a última grande revolução que nos falta.

Hoje, energizados pela necessidade e inevitabilidade dessa revolução – e para que por dentro se deem e haja espaço de manobra para exercitar um novo olhar sobre a vida – é imperioso que todos os portugueses tenham direito a:

Rir mais
Ser menos prisioneiros dos seus problemas
Ter sempre coisas boas na vida
Ter tempo para olhar para dentro
Experimentar prazer e bem-estar
Sonhar e acreditar no sonho
Deixar de ser reféns do passado
Saber que os outros continuam a acreditar em si mesmos quando falham
Ouvir menos queixumes e lamentações
Escutar coisas boas, bonitas, positivas sobre eles e sobre o mundo
Pensar segundo aquilo que acreditam sem condicionalismos e influências
Chegar um dia a ser “o que queriam ser quando fossem grandes. ”
Este manifesto, terá a leitura pessoal que cada um lhe queira dar, mas tem uma dimensão coletiva que vale a pena sublinhar, sobretudo para quem tem a responsabilidade social de informar.

Como é possível “Escutar coisas boas, bonitas, positivas (…) sobre o mundo” se quem tem a responsabilidade de informar, numa insana e pouco criativa luta pelas audiências, só nos traz as tragédias nacionais e do mundo?

Apelo, assim, aos diretores de informação e editores dos media, em particular da TVI, SIC notícias e RTP (a televisão de serviço público financiada por todos nós). Meçam o tempo do telejornal, em horário nobre, dedicado às tragédias nacionais e do mundo nas últimas duas semanas. Revejam o alinhamento dos noticiários. Vão ficar, certamente, muito admirados com os resultados.

Sim, todos sabemos a lógica económica e comercial subjacente a esta race to the bottom noticiosa. O trágico é mais impactante que as boas notícias e há a concorrência com a CmTV. Porém, o original é sempre melhor que uma má cópia.

Abram uma plataforma para que os espetadores possam enviar notícias que ajudem a promover o optimismo. Sejam ousados, criativos e promovam a diferença. Façam que nos seja possível “ouvir a música que está do outro lado do ruído de fundo.”
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